A frase que acompanhava alguns cartazes do show de Paul Di’Anno em Itapira podia soar muito pretensiosa para alguns desavisados. Mas dizer “Itapira, a cidade do Rock” não é exagero para quem já tocou por lá (como aconteceu com este redator há cerca de dois meses) ou mesmo para quem simplesmente assiste a algum show por lá. A cidade de 70 mil habitantes e localizada a 60 quilômetros de Campinas definitivamente tem uma das galeras mais animadas e furiosas (no bom sentido…) quando o assunto é Rock. E nem venham com essa conversa de “tribos”! Naquele show em questão, na verdade um festival com cinco bandas, covers de Metallica, Guns N’Roses e Rolling Stones dividiram o palco e foram recebidas com a mesma euforia pelo público.
Assim, não espanta que no último sábado cerca de 800 pessoas praticamente lotassem um espaço que deve receber no máximo mil pessoas para receber o vocalista Paul Di’Anno pela primeira vez na cidade.
Fisicamente, o cantor não é mais o mesmo. Di’Anno hoje anda com o auxílio de uma bengala por conta de um problema nas costas (através do qual ele tentou fraudar o serviço de previdência britânico e acabou sendo condenado no início desse ano) e o barrigão já se tornou indisfarçável. O que não o impediu de brincar de ‘rockstar’, reclamando do hotel em que estava hospedado e atrasar consideravelmente o início do show, apesar de o palco estar pronto desde a hora marcada para o começo da apresentação – mérito, aliás, de uma afinadíssima equipe de roadies, algo raro de se ver por aqui.
Porém, uma vez resolvido a começar o trabalho, Paul se transforma. Antes de subir ao palco, deu um afetuoso abraço em cada músico da banda que o acompanha (novamente, o competentíssimo grupo gaúcho Scelerata, que já havia trabalhado com o cantor em sua última passagem por aqui, no ano passado) e subiu no palco com o jogo ganho, debaixo de gritos de “Paul, Paul!” vindos da plateia, que se acotovelava na beira do palco.
Sua condição física não lhe permite grandes arroubos cênicos, mas a voz de Di’Anno continua em forma. Se o alcance não é mais o mesmo, o sustain e a garra nas interpretações continuam intactos. Conforme ele mesmo já havia anunciado, o repertório – como sempre acontece, aliás – foi calcado nos seu tempo de Iron Maiden, começando por The Ides Of March, que abriu o show. Porém, logo em seguida lembrou algo de seu projeto com músicos brasileiros intitulado Nomad ao interpretar Mad Man In The Attic.
O lugar lotado e o dia quente transformavam o Centrão numa espécie de forno crematório. Suando em bicas, o vocalista disparou em português um “caraio, muito calor!”, mostrando que suas constantes visitas ao Brasil têm aumentado seu vocabulário…
Em cena, Magnus Wichmann (guitarra), Renato Osório (guitarra), Gustavo Strapazon (baixo) e Francis Cassol (bateria) compensavam a postura estática de Di’Anno com muita movimentação – e aí vale mais um registro para o cantor, que se mostrou extremamente simpático com a banda, rasgando merecidos elogios ao Scelerata.
Prowler, Murders In The Rue Morgue, Purgatory, Strange World e Remember Tomorrow vieram na sequência, intercaladas por temas de suas bandas solo Killers (Marshall Lockjaw e The Beast Arises) e Battlezone (Children Of Madness), num show coeso e muitíssimo bem ensaiado. A galera, sem diminuir o frisson em momento sequer, reagia cantando junto com Paul e agitando de forma incessante, levando o vocalista a dizer que aquele era uma das melhores plateias para quem já havia tocado. Dispensável dizer que o lugar quase veio abaixo…
Mais temas do Iron, como Wrathchild, Drifter e Killers, voltaram a levantar a galera, atingindo o auge em Phantom Of The Opera, que foi acompanhada por um coro de 800 vozes.
De repente, Di’Anno chamou um dos roadies, se apoiou no seu ombro e saiu de cena quase se arrastando. Todos ficaram esperando pelo bis que não veio: as condições físicas do vocalista o impediram de voltar à cena e tocar as músicas que faltavam. A galera aparentemente entendeu e aplaudiu.
O show ainda continuaria com o Rising Power, AC;DC cover de Campinas – antes de Di’Anno, se apresentaram várias bandas da região, com destaque para o Executer, de Amparo, que voltou a apresentar seu competente Thrash Metal após quatro anos de inatividades.
Realizado pela Festa Rock Produções e com apoio do Portal Megaphone, o show foi um sucesso sob praticamente todos os aspectos – o som um pouco abafado das guitarras talvez seja o único ponto negativo a se ressaltar, mas muito pouco em se tratando de um evento desse porte. E serviu para mostrar que às vezes é bom desviar as atenções dos grandes centros e perceber que cidades menores podem ficar enormes quando o assunto é Rock.
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