Apesar de os anos 90 terem sido desafiadores para as bandas de hard rock e metal, que se viram distantes dos holofotes dourados que tanto as iluminaram na década anterior, muita coisa boa foi lançada por elas, principalmente no início daquele novo período. O problema é que até hoje muita gente insiste em não enxergar o lado positivo e só pensar em mainstream. Embora a grande mídia mundial tenha, de fato, virado as costas para os gêneros mencionados e abraçado o efervescente movimento grunge, que colocou Seattle no centro das atenções (tendo vários destaques positivos, sim), muita coisa ainda seguia acontecendo em paralelo nos outros estilos musicais. Vejamos…
Diversos gêneros e subgêneros que ainda engatinhavam nos anos 80 ganharam força no início dos anos 90. O death metal, que deu seus primeiros passos nos anos 80, se estabeleceu de vez com a chegada da nova década; o mesmo pode ser dito sobre o funk o’ metal (gênero praticamente extinto nos dias atuais), que se fundiu ao hard e ao metal e explodiu nos anos 90, fazendo muita gente balançar o esqueleto ao som de Love/Hate, Scatterbrain, Extreme, Ugly Kid Joe, Ignorance, Living Colour, Bang Tango, do projeto Infectious Grooves e do veterano Red Hot Chili Peppers, entre várias outras bandas também vindas ou não dos mágicos anos 80. No Brasil, Yo Ho Delic, Anjo dos Becos, Jazzzumbi e alguns outros nomes nos representavam nesse estilo.
Além disso, o groove metal chegou com força com a explosão do Pantera, que estava se reinventando musicalmente e se tornando referência para uma nova geração de bandas; o metal industrial, o sludge, o doom e o gothic metal são outros exemplos de gêneros que também se fortaleceram. Comercialmente ou não, teve também muitas bandas que já haviam alcançado sucesso nos anos anteriores e que continuaram sendo relevantes, mesmo que várias delas, sonoramente, estivessem se adaptando aos novos tempos.
No quesito videoclipes, eles desempenharam um papel importante na década de 90. Ao mesmo tempo em que nos apresentavam as novas tendências musicais, eles também mostravam o que continuava sendo produzido por bandas que seguiam ou surgiam nos gêneros já conhecidos de longa data. E para ilustrar esse assunto, selecionamos 15 grandes videoclipes que destacam bem o quanto os anos 90 tiveram muitas produções interessantes tanto no hard rock e no metal, quanto no próprio movimento grunge. Relembre, conheça e divirta-se!
SEPULTURA – “Territory”
O Sepultura lançou o álbum Chaos A.D. após o sucesso de Arise em 1991. Com uma nova sonoridade que misturava elementos brasileiros, metal industrial e percussão, a banda se destacou no cenário do heavy metal. O videoclipe de Territory, dirigido por Paul Rachman, apresentava imagens impactantes de favelas, do Mar Morto, de Israel e do território palestino.
MEGADETH – “Holy Wars… The Punishment Due”
Composta por Dave Mustaine na Irlanda do Norte durante a turnê do álbum anterior, So Far, So Good… So What! (1988), Holy Wars… The Punishment Due, música de abertura da obra-prima Rust in Peace, teve videoclipe gravado em agosto de 1990, na época da Guerra do Golfo. O vídeo traz imagens que ilustram os terrores da guerra no Oriente Médio e de Mustaine saltando de paraquedas.
ALICE IN CHAINS – “Man in the Box”
O Alice in Chains teve sua estreia fonográfica em 1990 com o bem-sucedido Facelift. Carro-chefe do disco, o single Man in the Box se tornou um hino dos anos 90. Impulsionada por seu videoclipe que foi exibido à exaustão pela MTV, a música tratou de garantir a banda entre os maiores e mais influentes nomes do movimento grunge ao lado de Nirvana, Soundgarden e Pearl Jam, além de mostrar que Layne Staley, Jerry Cantrell, Mike Starr e Sean Kinney tinham uma proposta sonora mais pesada que a de seus colegas de Seattle.
TYPE O NEGATIVE – “Black No. 1”
Com uma sonoridade nada convencional para aqueles tempos, o Type O Negative só foi ganhar reconhecimento mundial a partir de seu terceiro álbum, Bloody Kisses, de 1993. Com o sucesso do single Black No. 1 (Little Miss Scare-All), principalmente através de seu videoclipe (em versão bastante editada), com imagens de apelo sexual e baseado na letra ousada que menciona Jesus Cristo, Halloween, Nosferatu e Lily Munster, o grandalhão Peter Steele e sua trupe conquistaram milhares de novos adeptos com sua mistura de gothic rock, heavy e doom metal.
JUDAS PRIEST – “Painkiller”
Qual não foi o headbanger que não ficou de boca aberta quando viu o Judas Priest entrar na década de 1990 soando muito mais pesado em Painkiller? Com uma introdução de bateria do estreante Scott Travis que entrou para a história como uma das mais marcantes de todos os tempos, riffs e solos avassaladores dos guitarristas Glenn Tipton e K.K. Downing e vocais mais poderosos do que nunca de Rob Halford, a faixa-título do disco provou ao mundo que o Priest estava pronto e renovado para os novos tempos do heavy metal.
ANTHRAX – “Only”
Sem Joey Belladonna, o Anthrax lançou em 1993 o seu primeiro álbum com o novo vocalista, o então ex-Armored Saint John Bush. Apesar de dividir opiniões entre os fãs da banda, de modo geral Sound of White Noise foi bem aceito, principalmente por causa do single Only, que rapidamente se tornou um dos hinos da música pesada dos anos 90.
QUEENSRÿCHE – “Silent Lucidity”
Oriundo de Seattle, os veteranos do Queensrÿche que nada tinham a ver com o movimento grunge – apesar de terem flertado com o gênero em alguns álbuns posteriores -, conseguiram se dar bem no início dos anos 90 mantendo o alto nível do conceitual Operation: Mindcrime (1988) no ótimo Empire (1990). Um dos grandes nomes do que se convencionou chamar a partir dos anos 90 de prog metal, o Queensrÿche ganhou ainda mais notoriedade com o lançamento do single Silent Lucidity, que até hoje é considerada uma das mais belas canções da história do rock e do heavy metal.
PARADISE LOST – “The Last Time”
Da Inglaterra para o mundo, o Paradise Lost foi uma grata surpresa para os anos 90. Considerado um dos pioneiros em mesclar death e doom metal, ali mesmo naquela década o grupo de Halifax foi se envolvendo cada vez mais com o gothic metal. Já adaptado à sua nova roupagem sonora, o Paradise Lost ganhou o mundo em 1995 com seu quinto álbum, Draconian Times. A beleza sonora mostrada pela banda no disco foi bastante comparada por críticos e fãs como um blend entre The Sisters of Mercy e Metallica – essa última principalmente pelo vocal de Nick Holmes que lembrava o de James Hetfield. Tire suas conclusões pelo clipe de The Last Time:
SLAYER – “Seasons in the Abyss”
Independente de modismos e mantendo-se fiel ao thrash metal, o Slayer permaneceu sendo irretocavelmente relevante nos anos 90. Com a chegada daquela década, a banda lançou um de seus álbuns mais aclamados, Seasons in the Abyss. Outrora avesso a clipes, dessa vez o Slayer se rendia ao formato e embarcava para o Egito para filmar no Planalto de Gizé o seu primeiro vídeo, feito para a instigante faixa-título do disco. A recepção para o álbum foi bastante satisfatória e o clipe de Seasons in the Abyss até hoje é um dos mais lembrados da década de 90 pelos headbangers.
PANTERA – “Mouth For War”
Falando especificamente de Brasil, Vulgar Display of Power, de 1992, foi o álbum responsável por tornar o Pantera bastante querido no país, embora muitos já conheciam a banda do disco anterior, Cowboys From Hell. Sem internet para nos informarmos melhor, até que o Pantera ganhasse espaço nas revistas especializadas da época muita gente achava que esses eram os dois primeiros álbuns do grupo texano. Lançados respectivamente em 1990 e 1992, ambos soavam muito mais pesados do que o heavy/glam dos quatro primeiros discos. O Pantera se consagrou nos anos 90 e com o novo modelo de thrash metal mostrado naquele período, se tornou a maior referência para o que hoje chamamos de groove metal. A banda não abriu mão de lançar videoclipes e Mouth For War certamente é um dos que mais ajudou a impulsionar o nome do Pantera no cenário metálico.
BIOHAZARD – “Punishment”
Indigesto para uns, fundamental para outros, o Biohazard ganhou notoriedade no início dos anos 90 com sua fusão de hardcore, metal e rap. Através de singles, Anthrax e Aerosmith já haviam quebrado a barreira que distanciava headbangers de rappers, mas para o Biohazard essa irmandade era um estilo de vida, como mostra o clipe de Punishment, música do segundo álbum do grupo, Urban Discipline (1992). Esse talvez seja o mais importante e assistido entre todos os clipes de bandas do mesmo gênero. Prova disso é que no YouTube, onde está hospedado há 13 anos, o clipe de Punishment tem hoje 6,5 milhões de visualizações.
TESTAMENT – “Electric Crown”
Devido à sonoridade mais densa e por vezes arrastada, a maioria dos fãs não costuma apontar The Ritual como um de seus álbuns prediletos do Testament. O fato é que, assim como alguns de seus concorrentes, o grupo americano viu que o thrash metal convencional dos anos 80 já não era tão relevante para a indústria musical e nem para muitos de seus consumidores. Ainda assim, The Ritual dispõe de bons momentos e a principal lembrança desse disco é a faixa Electric Crown. A decisão de torná-la o carro-chefe do álbum foi certeira, já que se trata de uma música bastante empolgante, com uma ótima linha vocal, um refrão altamente contagiante e um dos melhores solos já gravados pelo talentoso Alex Skolnick.
DEATH – “Lack of Comprehension”
O death metal foi altamente produtivo naquele início de década de 90. Estados Unidos, Suécia, Brasil e Inglaterra, entre alguns outros países, eram celeiros de ótimas bandas do estilo. Na Flórida, a cena era efervescente e uma das bandas pioneiras, o Death, seguiu sendo um dos principais representantes do metal da morte. O quarto álbum da criação de Chuck Schuldiner, Human, mantinha a agressividade intacta e soava ainda mais técnico do que os três primeiros discos. Uma amostra da evolução da banda nesse disco pode ser conferida através do videoclipe de Lack of Comprehension, que foi o primeiro da carreira do Death.
MINISTRY – “Jesus Built My Hotrod”
O metal industrial causou um impacto considerável nos primeiros anos da década de 90. O próprio Kreator bebeu dessa fonte para compor o controverso Renewal, de 1992. Por sua vez, Max Cavalera pirou ainda mais e, em paralelo ao Sepultura, se juntou de Alex Newport do Fudge Tunnel e criou o projeto Nailbomb. Sempre citado como uma das bandas de industrial mais influentes, o Ministry ganhou Disco de Platina e foi nomeado ao Grammy de 1992 com seu álbum Psalm 69: The Way to Succeed and the Way to Suck Eggs, que teve como carro-chefe e videoclipe a insana Jesus Built My Hotrod.
SOUNDGARDEN – “Outshined”
Outro grande nome do movimento grunge de Seattle, o Soundgarden alcançou um tremendo sucesso comercial com seu terceiro álbum de estúdio, Badmotorfinger, de 1991. Em termos individuais, com a explosão de hits como Outshined, Chris Cornell não só passou a ser considerado um dos grandes talentos daquele novo cenário musical, como um dos maiores vocalistas de rock de todos os tempos. Ele ganhou a admiração até de outras bandas, como, por exemplo, o Mötley Crüe, que com a saída de Vince Neil foi atrás de um cantor que tivesse características vocais similares à de Cornell. As encontrou no então desconhecido John Corabi.
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