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-(16)-: SLUDGE METAL À MODA CALIFORNIANA

Por Valtemir Amler

Dentre os quase incontáveis subgêneros surgidos à partir do heavy metal, é quase inevitável pensar que o sludge é uma espécie de ‘patinho feio’, o irmão bastardo dos demais. Afinal de contas, apesar de ter ligações fortes com a fórmula musical de algumas bandas bem populares (como o Mastodon, por exemplo), o sludge nunca gozou de real popularidade, nunca foi a tendência do momento, e sempre repousou solene em sua alcova permanente no underground. Tratando-se do veterano -(16)-, esse ‘patinho’ não é apenas feio, ele também é sujo, podre, desbocado, debochado e encrenqueiro, e é justamente por isso que eles alcançaram o status de lenda no underground. Nascida em 1991 em Los Angeles, a banda bebeu de tudo aquilo que a prolífica cena musical californiana poderia oferecer, e logo de cara chamaram a atenção dos fãs de música pesada. Primeiro com o EP Doorprize (1992) e depois com o álbum Curves That Kick (1993), eles conseguiram na época popularidade suficiente até para bancar uma pequena turnê pelo Japão, mas o fato é que nunca foram muito além disso. O quanto disso vem do fato deles não fazerem parte do tradicionalíssimo cenário da Louisiana (que deu ao mundo nomes como Eyehategod, Crowbar e Acid Bath, entre outros ases do sludge) é difícil dizer, e também não causa preocupação ao nosso entrevistado, o fundador, guitarrista e vocalista Bobby Ferry.

Olá, Bobby, é um prazer finalmente falar com você. Vamos mergulhar no seu passado para começar essa conversa. Você lembra qual foi a sua primeira paixão quando garoto?

Bobby Ferry: É bom falar com você também, obrigado pela persistência. Bem, posso dizer com segurança que a minha primeira grande paixão foi o skate. Eu adorava tudo relacionado ao skate, ainda adoro. Gostava de ver os outros caras andando de skate, curtia as manobras, o estilo das roupas e as músicas que eles ouviam, tudo se tornou uma grande referência na minha vida. Costumo dizer que eu via os skatistas como os caras mais durões que existiam por aí, pois ser capaz de sair no soco com alguém não é nada comparado a rolar de uma escadaria (risos gerais).

Sendo da Califórnia, imagino que você esteve muito exposto a essa cultura.

Bobby: Ah sim, desde o começo da minha vida, eu acho. Acredito que, neste sentido, os garotos estão no melhor lugar do mundo para se viver, aqui na Califórnia. Existe muita oferta de esportes por aqui, você tem ótimos lugares para praticar skate, surf, motocross, mountain-bike, e até mesmo futebol americano, baseball e todo o resto. É um ótimo lugar para a prática de esportes ao ar livre, o clima parece incentivar isso.

É bom saber que existem lugares apropriados para a prática do skate, afinal, esse já é um esporte olímpico.

Bobby: Sim, existem lugares para praticar várias modalidades, lugares específicos, mas, quando era garoto, o que queríamos mesmo era andar de skate nos lugares inapropriados e onde não éramos bem-vindos, como nas piscinas das mansões dos outros (risos gerais). Era parte da nossa cultura, éramos apenas moleques tentando se divertir, os tempos mudaram e nós também. Mas, não posso negar que aquilo era bem divertido.

Você já curtia música naqueles dias?

Bobby: Ah sim, muito! Mas, a minha história é meio diferente da dos outros caras, eu sei que muitos músicos falam sobre como chegaram nesse universo e descobriam bandas, e tudo neles tem a ver com a influência dos amigos, circuito de trocas de fitas e coisas do tipo, mas comigo não foi assim. Como disse, sempre fui apaixonado pelo skate, então lia muito a revista Thrasher, que era a publicação mais importante sobre skate. Então, basicamente qualquer coisa que era abordada lá, qualquer banda que entrasse na pauta daquela revista, era boa o suficiente para levar o meu dinheiro (risos). Eu confiava no gosto daqueles redatores, pois basicamente amávamos as mesmas coisas. Então, cresci ouvindo uma mistura perigosa de metal e punk, que era basicamente o que a revista cobria em termos de música.

Você recorda quais eram as suas bandas favoritas?

Bobby: Sim, porque basicamente qualquer banda que tivesse algum tipo de conexão com a cultura do skate estava no meu radar. Então, dos lados do metal, minhas primeiras grandes obsessões foram Metallica e Slayer, eu era definitivamente ligado em thrash metal, aquelas eram ótimas músicas para andar de skate! Dos lados do punk e hardcore, ninguém poderia superar Black Flag, Bad Brains e Samhain. Claro que, como eu não fazia distinção entre punk e metal, não demorou para que bandas crossover ganhassem toda a minha atenção, então gente como D.R.I., Suicidal Tendencies, Corrosion Of Conformity, todos esses caras passaram a frequentar minhas audições.

Bem, com tudo isso, é fácil perceber que o skate e a música se tornaram suas principais fontes de diversão na juventude.

Bobby: Sim, absolutamente. Nós estávamos sempre procurando por algum bom lugar para andar de skate, eu e Cris Jerue (N.R: vocalista) estávamos o tempo todo juntos, dirigindo de um lugar para o outro em busca de qualquer lugar que valesse a pena andar de skate. Podia ser qualquer lugar numa área de uns cem quilômetros, você poderia ter certeza que apareceríamos por lá com nossos skates (risos). Quanto a música, nós adorávamos frequentar shows, então muito cedo descolei uma identidade falsa, que usava para entrar nos shows com restrição de idade. É como disse antes, éramos garotos, não pensávamos muito em nada, não pensávamos em consequências, apenas queríamos nos divertir, ainda estávamos há anos do rock se tornar esse convento de pessoas certinhas (risos).

E quanto ao 16, quando foi formado?

Bobby: Embora já tivéssemos tocado juntos algumas vezes, a banda só começou para valer em 1991, quando já tinha uns dezenove anos. Embora eu e Cris estivéssemos sempre juntos, não éramos do tipo apressado, não achávamos que a banda tinha que decolar logo e tal, queríamos antes curtir um pouco, e gastamos muito tempo fazendo o que queríamos, ouvindo música e indo a shows, e isso foi importantíssimo, pois nos ajudou a ter certeza do que queríamos fazer musicalmente. Lembro que tinha esse clube chamado Jabberjaw em Los Angeles, e nós adorávamos as bandas que tocavam lá, Helmet, Jesus Lizard, todos esses caras incríveis. E então essa foi a chave para começar a levar as coisas mais a sério, nós vimos tocas aquelas bandas incríveis tocando ao vivo e pensamos, ‘ok, acho que também podemos fazer isso’. Parece maluquice começar assim algo que você levará para a vida inteira, mas na época ninguém imaginaria que estaríamos aqui, trinta anos depois falando sobre essa banda.

Lembra como foi o seu primeiro show com o 16?

Bobby: Sim, porque acabei sendo preso (risos gerais).

Como assim?

Bobby: Ah, é que foi uma dessas ideias idiotas e superdivertidas de adolescente. Bem, digamos que havia uma piscina vazia no quintal de um cara, e que esse cara não estava em casa. Digamos que um grupo de amigos tenha ficado sabendo disso, e organizado o rolê para que todos fossem andar de skate lá, e então uns caras que tinham uma banda decidiram que era uma boa ideia fazer um show nessa festa (risos). Foi divertido, nós tocamos, festejamos, a polícia apareceu e não gostou da nossa festa, então a festa acabou. Éramos meio delinquentes (risos gerais).

Delinquentes talvez, mas definitivamente criativos. Afinal, do início com Doorprize (EP, 1992) e Curves That Kick (1993) até hoje com Into Dust (2022), é muito difícil cravar o estilo musical que vocês tocam.

Bobby: Muito obrigado. A verdade é que nunca tivemos uma visão muito clara do que queríamos fazer com música, em questão de estilo. Tudo o que queríamos era fazer um show como as bandas que curtíamos, divertir as pessoas como aquelas bandas nos divertiam, então valia qualquer coisa, desde que a música fosse pesada. Eventualmente as pessoas passaram a atribuir diferentes denominações para a música que tocamos, mas isso sempre mudou com o tempo. Isso tem a ver com várias coisas, uma é que sempre tocamos aquilo que estamos curtindo, e outra é que sempre foi muito difícil manter uma formação coesa no 16. Temos trinta anos de banda, e muitas pessoas passaram por aqui, acho que umas vinte pessoas. Então, ao longo dos anos são muitos compositores diferentes, com ideias musicais diferentes, histórias diferentes e estilos musicais diferentes. Por um lado, acho que seria até estranho se não mudássemos, se conseguíssemos manter uma linearidade muito evidente. Sem contar que, se tivéssemos conseguido fazer isso, a coisa teria se tornado muito aborrecida para mim, e provavelmente não estaria mais aqui com a banda.

Ainda assim, vocês são considerados como um dos pais do sludge metal.

Bobby: Sim, isso é algo que as pessoas costumam dizer, mas a verdade é que tinham outras pessoas fazendo isso antes de nós. Lembro dos caras do Kyuss, e o Fu Manchu, e então ouvi o disco do Eyehategod, e tudo o que eu queria era ser parte daquilo. Gosto do termo sludge porque ele é abrangente, e basicamente define um tipo de música que é muito pesado e um tanto lento, mas que não tem uma forma específica, pode-se fazer qualquer coisa nele. Somos parte disso, sem dúvida. Mas, Scott Reader (Fu Manchu) literalmente me ensinou a tocar esse tipo de música, então eles merecem mais esse crédito do que nós.

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