“Eu não trabalho com banda merda”. Foi com esta frase que Martin Birch apresentou o seu procedimento de trabalho para Bruce Dickinson, conforme o vocalista do IRON MAIDEN relata em sua autobiografia, Para que Serve Esse Botão?, lançada no Brasil via Editora Intrínseca. Por mais que as palavras do produtor britânico não fossem as mais belas e doces, um breve olhar em sua lista de clientes não nos deixa duvidar de sua verdade. Ele realmente só trabalhava com feras, e elevou cada uma delas até o seu máximo. Do blues/rock de JEFF BECK e FLEETWOOD MAC ao heavy metal de BLACK SABBATH e IRON MAIDEN, Birch deixou um legado gigantesco, que hoje, exatamente um mês após a sua morte (ocorrida em 9 de agosto), serve de consolo para tantos apreciadores ao redor do mundo. Destacamos aqui uma pequena lista de cinco álbuns indispensáveis que tiveram o toque de mestre de Martin Birch:
BLUE ÖYSTER CULT – Fire Of Unknown Origin (1980)
Depois de seu início clássico na década de 1970, o BLUE ÖYSTER CULT vivia uma fase bipolar, ora embalados pelo sucesso de canções clássicas como (Don’t Fear) The Ripper e Godzilla, ora questionados por um álbum razoável, como foi o caso de Mirrors (1979). Para retornar aos seus momentos mais inspirados, os norte-americanos contaram pela segunda vez com a ajuda de Birch (no ano anterior ele já havia trabalhado com o BÖC no álbum Cultossaurus Erectus), e produziram um álbum que tem logo no início uma das melhores sequências da história do rock pesado, com Fire Of Unknown Origin, Burnin’ For You, Veteran Of The Psychic Wars e Sole Survivor. Resumindo, o meu álbum favorito daquela que é uma das minhas bandas favoritas. Curiosamente, o single Burnin’ For You alcançou o topo da Hot Mainstream Rock Tracks (EUA), mas o álbum alcançou apenas o posto 24 na Billboard 200.
Todo mundo sabe que o guitarrista inglês Ritchie Blackmore é tão genial quanto genioso, e muitos são os relatos que dão conta do quanto pode ser desafiador trabalhar ao lado dele. Seja como for, ele criou alguns dos riffs mais icônicos do rock pesado, criou canções lendárias ao lado de seus ex-parceiros de DEEP PURPLE, e não estava disposto a deixar a bola cair na sua então nova empreitada, o RAINBOW. Com um dom incrível para reconhecer (e posteriormente afastar) parceiros, ele se cercou dos melhores, e ao lado de Tony Carey (teclados), Cozy Powell (bateria), Jimmy Bain (baixo) e Ronnie James Dio (voz) criou este sensacional Rising, lançado em 17 de maio de 1976. Tudo o que é apresentado neste álbum merece posto de destaque, mas é impossível não se emocionar em cada audição de Starstruck, Tarot Woman e Stargazer. O álbum alcançou o posto 11 no Reino Unido, e é considerado uma das principais referências para as bandas modernas de metal melódico.
DEEP PURPLE – Machine Head (1972)
Martin Birch já tinha ajudado na transformação do DEEP PURPLE no álbum Deep Purple In Rock (1970), que colocou de vez a banda britânica no mundo do rock pesado (lembremos que antes eles apostavam em uma sonoridade mais psicodélica), deu sequência ao ótimo trabalho em Fireball (1971), e corria para o ‘home run’ no ano seguinte, com este incrível Machine Head. Bem, nós falamos antes sobre a capacidade incrível que Ritchie Blackmore tem para criar riffs incríveis, então aqui já temos alguns deles, muito bem encarnados pelas lendárias Highway Star, Smoke on the Water e Space Truckin’, não por poucos motivos os carros chefes deste álbum lendário. Primeira posição disparada em muitas praças ao redor do globo, Machine Head alcançou a posição 7 na Billboard 200.
BLACK SABBATH – Heaven And Hell (1980)
Superar a saída de uma das figuras centrais de sua chamada formação clássica nunca é tarefa das mais fáceis. Encontrar um novo caminho e se dar bem nele, sem trair as suas velhas convicções é tarefa ainda mais arriscada. E era exatamente nessa situação que se encontrava o BLACK SABBATH, que em 1980 apostou suas fichas em Ronnie James Dio como substituto do seu lendário vocalista Ozzy Osbourne. Logo de cara, o BLACK SABBATH se mostrava uma banda diferente, um bocado mais distante do velho doom, e com doses fortes de heavy metal clássico e hard rock em suas músicas, como você ouve claramente em Neon Knights, faixa que abre este Heaven And Hell, ou ainda em Lady Evil e Die Young. Porém, nenhum fã dos riffs tradicionalmente gordurosos de Tony Iommi ficou frustrado ao ouvir a intensa e lendária faixa-título, que permanece ainda hoje como uma das melhores composições da banda. O álbum alcançou o posto 28 na Billboard 200.
IRON MAIDEN – SEVENTH SON OF A SEVENTH SON (1988)
Já que começamos este artigo com uma frase relatada por Bruce Dickinson, nada mais justo do que encerrar a lista com um dos seus melhores momentos como vocalista do IRON MAIDEN, certamente a banda que mais contou com o trabalho de Martin Birch. Olhando para a época do lançamento, vale recordar que a Donzela vinha de um disco hoje clássico, mas que havia sido bastante questionado na época (Somewhere In Time, 1986), e dava a volta por cima naquele que era, até então, o álbum mais ‘prog’ da maior banda de heavy metal do mundo. A verdade é que Seventh Son Of A Seventh Son é inteiro clássico, e canções como a faixa-título, Can I Play With Madness, The Evil That Man Do e The Clairvoyant devem estar na lista de mais ouvidas de qualquer fã de metal que se preze. Assim como Moonchild, Infinite Dreams… E por aí vai. O álbum debutou na primeira posição no Reino Unido, e alcançou o posto 12 na Billboard 200.