70,000 TONS OF METAL

Mar do Caribe – 30 de janeiro a 2 de fevereiro de 2025

Por BraveWords e Felipe Postigo

Fotos: Mark Gromen

Aposto que quando você pensa em um cruzeiro luxuoso no Caribe, encontrar milhares de headbangers de preto sob o sol e no meio do oceano é a última coisa que passaria pela sua cabeça, certo? Só que o 70,000 Tons of Metal prova a cada ano que isso é possível. Mais que isso, é um sucesso!

A experiência começa ainda no aeroporto. Ao aterrissar em Miami próximo à data do festival, já é possível encontrar dezenas de headbangers de preto, olhando-se como quem diz: “Eu sei para onde você vai!” As ruas da luxuosa e opulenta Miami Beach são tomadas por fãs em preto de todas as partes do mundo, permitindo novas amizades antes mesmo de pisar no navio.

No dia 30 de janeiro, todos se dirigem ao Port of Miami a fim de embarcar nessa louca aventura de 4 dias de puros riffs e levadas maléficas sobre o mar. O processo de check-in, já previamente feito digitalmente, é super tranquilo. Também as verificações de segurança são de invejar qualquer passageiro de aeroportos pelo mundo. Cerca de 10 minutos depois, estamos pisando num colosso em que veríamos algumas das principais bandas do planeta. Alguns procedimentos de instrução e segurança devem ser feitos assim que você embarca e depois é só partir para a diversão!

 

1º. dia – quinta-feira, 30 de janeiro

Quando falamos em fãs de todas as partes do mundo, não se trata de mero eufemismo: o 70.000 Tons of Metal em sua edição 2025 recebeu representantes de 81 nações diferentes, e a maioria das pessoas vindas de fora acredito que tirem férias nesses dias, pois a cidade de Miami, nos dias anteriores ao festival, está cheia de turistas vestidos de preto e aproveitando a cidade.

Mesmo com toda a agilidade que envolve a operação, logisticamente colocar 3.500 headbangers a bordo pode demorar um pouco. Portanto, não há shows até que o navio esteja em rumo ao alto mar, às 17h. E nesse primeiro dia, mesmo começando no final da tarde, ainda tivemos 22 bandas em ação! O pobre Total Death subiu ao palco às 5h15, para um set de 45 minutos…

A primeira banda foi o Onslaught tocando na íntegra seu álbum de estreia de 1985, Power from Hell. E como primeira banda, o show normalmente atrai um interesse ainda maior, já que as pessoas estão com todo gás. O vocalista e guitarrista Nige Rockett estava de volta ao palco pela primeira vez em três anos, após uma série de cirurgias debilitantes e tratamento contra o câncer. Bem-vindo de volta!  E enquanto ele detonava em Lords of Evil, teve que deixar o palco duas vezes para corrigir problemas com o som. No set posterior dos britânicos, que aconteceu dois dias depois, tocaram o segundo álbum na íntegra, The Force.

Onslaught

No teatro/salão de baile (o maior palco interno), estava tocando o Twilight Force, com muitos fãs vestidos de acordo e alegremente brandindo espadas infláveis durante músicas como Thundersword e Blade of Immortal Steel.

Já o Sonata Arctica fez um show tocando seus primeiros sucessos – já fazia um tempo desde que os ouvi tocando algumas dessas músicas mais antigas. Tony Kakko deixou o cabelo ficar totalmente grisalho e parecia estar se divertindo revisitando o passado. Músicas como Replica e Full Moon fizeram o show atingir um ritmo forte e com uma produção muito boa.

Sonata Arctica

Em seguida, de volta ao teatro, era a vez do Hammerfall, que começou com Avenge the Fallen. Joacim Cans (vocal) faz a multidão cantar o refrão de Any Means Necessary. A única música dos três primeiros álbuns foi Heeding the Call, mas isso mudou no set ao ar livre, no dia 4. Chapter V: Unbent, Unbowed, Unbroken foi reduzido a um medley, incluindo Bloodbound, em que o guitarrista Oscar Dronjak deu um show à parte e o parceiro de guitarra Pontus Norgren também dividiu as atenções. Hammer Hig fez a multidão cantar junto e Hearts on Fire completou a noite.

Hammerfall

O Emperor toca como um quarteto, com teclados na frente do palco. Uma pesada névoa azul envolve o salão de baile enquanto a realeza norueguesa do black metal está pronta para tocar o álbum In the Nightside Eclipse, além de alguns faixas extras como a rara In the Wordless Chamber. Brutal e experimental, mesmo todos esses anos depois.

Emperor

Um pouco depois da meia-noite, a parada foi na pista de gelo convertida, também conhecida como Studio B (que transmite cada apresentação no canal de TV do navio), para ter um vislumbre do Kissin’ Dynamite. A banda está divulgando o álbum Back with a Bang e fez um belo show de 45 minutos. O vocalista Hannes Braun agita muito e foi diversão de alta energia. Pena que o segundo show deles teve o mesmo setlist do primeiro.

Kissin’ Dynamite

Poucos puderam acompanhar o que aconteceu, mas o lendário Candlemass, já bem tarde da noite, abriu com Bewitched. Os rapazes são ativos, especialmente o descontraído vocalista Johan Längqvist e o guitarrista Mat “Mappe” Björkman. Dark Are the Veils of Death continua o cortejo (fúnebre) e então Mirror Mirror, com luz verde, anima temporariamente as festividades. Leif e Mats agitam um contra o outro, à direita do palco. Os tons de baixo punitivos de Under the Oak são iniciados por Edling. Interessante notar que as pessoas estão realmente assistindo, não gravando em seus telefones celulares, durante este set! Dark Reflections vê o baixista se aventurar no centro do palco, enquanto The Well of Souls e Solitude completam uma noite de grandes sucessos. Um show sensacional.

Já passa das 2 da manhã. Embora ainda existam mais algumas opções, isso é suficiente para um dia – ou, mais precisamente, para o primeiro dia.

Candlemass

2º. dia – sexta-feira, 31 de janeiro

Depois de um bom descanso, um belo bufê de café da manhã espera os viajantes, muitos claramente ressacados e famintos! É um momento para interagir e trocar ideias sobre os shows da noite anterior.

Algo que logo se percebe é que cada dia do cruzeiro tem sua própria personalidade. O segundo dia é de longe o mais intenso, ocupando todas as quatro etapas, das 10h até a madrugada do dia seguinte. No total, 39 bandas! É quase impossível ver todos os shows. Mas é divertido tentar!

Franco-canadenses vestidos de centuriões romanos? Sim, Ex Deo, liderado pela voz do Kataklysm Maurizio Iacono, batizou o Deck da Piscina com alguma ferocidade matinal. Existem semelhanças musicais entre o “trabalho diário” do vocalista e esta outra banda, embora com abordagens líricas diferentes.

Ex Deo

E então era a vez do show do Exhorder! O vocalista Kyle Thomas realmente está muito bem. Qualquer um que assistiu à jam/aquecimento improvisado no teatro, enquanto trabalhavam em problemas técnicos, podia ouvir o conhecimento e o alcance de sua voz. Uma vez que os fiéis de Chicago subiram ao palco, foi uma retrospectiva de toda a carreira, misturando o material clássico pesado inicial, com os lançamentos da Def American. Come Touch the Sky mostra Bruce Franklin soltando todos os tipos de sons de sua guitarra sem um rack de efeitos. Old school! Assassin e At the End of My Daze começam sob luz verde, enquanto Memory Garden força Kyle e Bruce a compartilhar o mesmo microfone (o vocalista detona o microfone de apoio, o que causou os problemas técnicos que inicialmente atrasaram o show). Wartell e Franklin dividem solos ao longo da música. Excelente!

O Majestica (como o renomeado ReinXeed é agora conhecido) chama a atenção. O vocalista e guitarrista Tommy Johansson deixou o Sabaton para reativar a banda. Eles abriram com a faixa-título do então inédito álbum Power Train. Johansson afirma que Night Call Girl (que soa em algum lugar entre o power metal, o synthwave retrô e a trilha sonora de um filme) é uma “volta aos belos anos 80” e é sobre caminhar em Miami Beach. Um show bem interessante de uma banda que pode crescer muito.

Majestica

Ao ar livre, no convés, Ihsahn produziu um zumbido feroz, e então os problemas técnicos chegaram. Cortes no som de guitarra e distúrbios barulhentos (não intencionais) infelizmente prejudicaram a performance. Fui em busca de outra coisa. E lá estava a festa rolando com o fantasiado Fintroll em ação.

Ihsahn

O próximo evento imperdível foi Dirkschneider com Peter Baltes. Um grande conjunto de clássicos teutônicos foi introduzido pela familiar melodia tirolesa e vinil riscado anunciando a rasgada Fast as a Shark. Living for Tonite é o próximo. O guitarrista Andrey Smirnov parece ter sido atingido por um canhão, desde o início tentando chamar a atenção dos fotógrafos, ou pelo menos tirar o foco do diminuto vocalista Udo, por alguns segundos. O cantor rotundo sorri amplamente, acampado no centro do palco. Ficou rapidamente evidente que este seria um show de grandes sucessos. Em Midnight Mover, Andrey se move em direção ao vocalista, que coloca um braço em volta do ombro do guitarrista. O coro vê todos os três instrumentistas de cordas oferecendo backing vocals. São quatro na frente do palco para a pesada Breaker, com todos batendo cabeça enquanto tocam. Udo nunca foi muito falador, então é uma sequência de sucessos praticamente perfeita. Em Metal Heart, todos desocupam o palco para permitir que Smirnov tenha um holofote solo. A multidão a cappella canta as conhecidas melodias de violão. E, do nada, o guitarrista pediu a namorada em casamento entre as músicas. A seguir, Princess of the Dawn e Balls, que se destacou pela participação/canto mais fervoroso do público. No centro do palco para Up to the Limit, Baltes compartilha o microfone com Udo e depois permanece lá durante a maior parte da música. Como de costume, Balls to the Wall termina as coisas. E que série de músicas!

Dirkschneider

Você não precisa necessariamente conhecer as música que o In Extremo produz, mas a instrumentação única e os ritmos geralmente otimistas e contagiantes proporcionam uma noite divertida. O vocalista conhecido como Das Letzte Einhorn (O Último Unicórnio) é o mestre de cerimônia deste circo de três asas: letras alemãs executadas em instrumentos medievais, como gaitas de fole ornamentadas e até harpa ao lado de guitarra e bateria de rock tradicional. Realmente, é algo para experimentar uma vez na vida. Você pode descobrir que nunca se cansa, voltando de novo e de novo (como eu).

In Extremo

Depois de escurecer, o Stratovarius teve que suportar os ventos fortes. Enquanto alguns acostumados com os climas mais quentes (incluindo muitos da tripulação tropical do navio) vestiam jaquetas ou moletons, as temperaturas eram certamente mais quentes do que no final de janeiro na Finlândia, portanto, o baixista Lauri Porra estava sem camisa por baixo de seu colete jeans. Jens Johansson estava empoleirado em um degrau, à esquerda do palco, enquanto o vento chicoteava os cabelos de todos. Em um set que abriu com Survive, Timo Kotipelto anunciou que a proposta de ‘play-through’ do álbum Visions seria adiada para o dia seguinte, quando eles estavam programados para tocar no palco interno. Soprados pelo vento, eles seguiram em frente com Speed of Light, que recebeu grande resposta. O grupo diminui o ritmo para 4000 Rainy Nights em tons de verde e então a luz vermelha em Will the Sun Rise anima o clima novamente. Lauri faz um breve solo e então eu desço as escadas para encher a caneca e perco Hunting High and Low.

Stratovarius

No Studio B, a pista de gelo convertida, os alemães amantes da cerveja lotaram a sala para conferir o Tankard. Avistamentos de canecas na costa norte-americana são raros, então é a primeira oportunidade de muitas pessoas testemunharem a banda. Há um fã, na barricada, com duas jarras de cerveja (para ele!). Mas comprou quatro latas de óleo Fosters (uma para cada membro da banda) e a segurança as coloca entre os dois monitores localizados no centro do palco. Muito divertido, mas também com alguns comentários sociais mordazes nas letras (que lidam com outros tópicos além de bebidas fermentadas), eles nunca sairão de moda. One Foot in the Grave (uma auto-reflexão irônica sobre sua longevidade) mostra Gerre, seu frontman superdimensionado, cruzando repetidamente o palco, com cuidado para evitar as travessuras do baixista Frank Thorwarth. Os caras têm isso como uma ciência, tendo estado na banda juntos por 43 anos! Há apenas pêndulos de luz branca de/para o palco, oferecendo apenas vislumbres momentâneos da dupla e de Andy Gutjahr. The Morning After é seguido pelo apropriadamente intitulado Rapid Fire. Falando sobre segmentação, Ex-Fluencer relata os perigos das mídias sociais, compensados por Need Money for Beer, descrevendo até onde alguns irão para cumprir seu “vício”. Eles terminam fortes, com as duas talvez mais conhecidas do Tankard: Chemical Invasion e a “feita-pra-cantar-junto” Empty Tankard (OK, Zombie Attack também está perto do topo dessa lista).

Tankard

Fazia muito tempo que não via o Symphony X ao vivo e fiquei completamente impressionado com a presença de palco de Russell Allen. O homem sempre teve voz de comando e nunca foi desleixado na função de frontman. Ele é um sujeito humilde e fácil de conversar (como vimos quando ele se reencontrou com a equipe BraveWords, na tarde seguinte, em Margaritaville, em Ocho Rios). À sua direita, Michael Romeo em chamas na guitarra, ameaçando (como dizem as músicas) Set the World on Fire, aparentemente liberando toda a energia reprimida de seu período de inatividade (embora tenha iniciado uma turnê europeia logo após retornar ao porto).

À esquerda do palco, Mike Lepond espancou o baixo em músicas como Nevermore e Inferno (Unleash the Fire). Mas, honestamente, o espetáculo foram a forma de tocar de Romeu, apesar do vento repetidamente enchendo seu rosto de cabelo, e Allen de pé, no centro do palco, cantando músicas antigas como Sea of Lies e Of Sins and Shadows, junto com coisas mais novas, a exemplo To Hell and Back. A propósito, não seria hora de um novo álbum?

Symphony X

Depois de uma parada no bar do cassino para conversar com amigos, antigos e novos, BraveWords foi conferir um set noturno (termo relativo) dos noruegueses pintados de cadáveres do Mork. Um quarteto com duas guitarras, eles infundem mudanças na dinâmica (rápido/lento, pesado/leve) dentro do típico alto-forno de black metal. Boa pedida.

 

3º. dia – sábado, 1º. de fevereiro

No terceiro dia, após o café, é hora de desembarcar e aproveitar um pouco a Jamaica e a cidade de Ocho Rios. Um belo mar nos aguarda, com sua população acolhedora e gentil. E foram vistos diversos artistas passeando por lá – no 70,000 Tons of Metal todos são iguais! Essas comunidades litorâneas dependem da indústria de cruzeiros, e bugigangas, lembranças e serviços variados são vendidos para os hóspedes que desembarcam. A maioria encontra um retiro na praia, relaxa (talvez coma alguma coisa, experimentando o sabor local) e se queima de sol durante a tarde. Mas são apenas algumas horas em terra – e não perca o toque de recolher às 16h! Eles NÃO voltarão para resgatá-lo.

Além das bandas, há muitas diversões para se manter ocupado nesse cruzeiro, musicais ou não. Juntamente com as sessões de autógrafos gratuitas (um breve bate-papo, tirar uma foto, obter um autógrafo de seus favoritos) ou palestras ocasionais de artistas, karaokê noturno, jogos de cassino ou tomar sol perto da piscina, há muitos restaurantes/lojas em que você pode gastar seu dinheiro, spa, parede de escalada, quadras de atletismo, uma simulação de surfe de ondas e até mesmo uma aventura na sala de fuga. Há também excursões terrestres organizadas por uma banda em particular (ou duas), assim como há aqueles que preferem nunca sair do navio (em casos extremos, nunca sair do bar!).

Voltando aos shows navio, a música não começa até as 17h – assim, todos têm a chance de lavar a areia e se recuperar, pois o sol desgasta. Assim, são 29 shows espremidos nas últimas horas e a maioria está nos locais menores, incluindo o Star Lounge, que comporta apenas algumas centenas de espectadores, mas com lugares confortáveis para sentar.

Se houvesse uma escolha para manter a festa da tarde, ela seria o Tankard no deck da piscina. Gerre se refere à multidão apropriadamente como “beerbarians”. Ele também apresenta a música de mesmo nome, durante a qual toma um gole oferecido pela multidão da primeira fila. Quando não está ziguezagueando sem rumo pelo palco, evitando um acidente com companheiros de banda igualmente móveis, o cantor toca air guitar thrash loucamente ou mostra a barriga. Há também espaço para o credo do fim de semana, Die With a Beer in Your Hands, em que eles e o público realmente acertaram o passo. Começando com o frenesi de Zombie Attack (ausente do primeiro show), passando por outro que ficou de fora da noite anterior, Freibier, e fechando com (Empty) Tankard, esse show mostrou o que a banda é: cerveja e diversão.

Tankard

Um contingente muito maior se reuniu no teatro para Unleash the Archers, queridinhos da geração mais jovem. Brittney Slayes usava um traje esquelético que foi acentuado pelas luzes estroboscópicas e de neon azul. Eles caminham pelo palco e, depois de uma saudação rosnada, ela se lança em Ph4 / NT0mA, para deleite dos obstinados. À medida que a música avançava, ela atingiu várias notas altas notáveis.

O tilintar dos teclados dá início a The Ghosts in the Mist, que inclui um contraponto de vocal gutural, cortesia do guitarrista. Green & Glass foi a próxima, inexplicavelmente iluminada em roxo… Rolava muito crowd surfing e adereços infláveis passavam por cima da plateia. Devo dizer que parte da multidão parecia desapontada com a declaração de Brittney de que o material de Phantoma chegara ao fim e que eles voltariam às coisas antigas. No entanto, Tonight We Ride encontrou um rugido estrondoso, bem como luzes tons azuis e muitas estroboscópicas.

Unleash the Archers

É hora de seguir em frente, já que The Kovenant optou por tocar seu segundo álbum, Nexus Polaris, em sua totalidade no deck da piscina. Configuração única para um álbum único, com Sarah Jezebel Deva se juntando à banda na turnê atual.

Os limites do Studio B fizeram com que a apresentação de The Skull parecesse um show de clube maior, de meados dos anos oitenta. Rick Wartell escolheu uma camisa drapeada, em vez de sua camiseta sem mangas habitual, e o outro guitarrista, Bruce Franklin, estava em seu traje aprovado pelos anos 70, incluindo uma faixa na cabeça. Ao contrário de muitos dos “play-throughs-de-álbum-completo” do cruzeiro, os senhores do doom de Chicago avançaram do início ao fim em ordem cronológica.

Depois, foi a vez do Symphony X, com um setlist diferente e no teatro, sem repetir nenhuma música da noite anterior. Quem novamente chamou a atenção pelo ritmo e pelo groove foi o cantor Russell Allen, uma espécie de outra encarnação de Jeff Scott Soto. Sob luzes vermelhas e uma saraivada de notas, arremessadas pela guitarra de Michael Romeo, uma versão abreviada de Iconoclast é apresentada para uma multidão extasiada. Segue-se uma Nevermore iluminada em azul, com Russell persuadindo a plateia a participar, embora eles nem precisem de estímulo. Romeo faz com que sua execução pareça muito fácil, mesmo em alta velocidade. Falando em “corridas no braço da guitarra”, Romeo começa Inferno com o cantor com o braço em volta do guitarrista, no centro do palco. Antes de Paradise Lost, o cantor perguntou: “É o rum ou este barco está balançando?”. Mais moderna, Run With the Devil começa com outra impressionante exibição de Romeo. Mal posso esperar pela aparição no ProgPower neste outono!

Symphony X

 

O vocalista/guitarrista do Emperor Ihsahn estava a caminho de ganhar o MVP do Cruise, tocando pela terceira noite consecutiva (duas com este ato e uma com sua banda solo), uma tendência que continuaria na última noite também, fazendo quatro shows no total. Nessa noite, tocaram todos os hinos do álbum To the Welkin at Dusk, embora o mentor tenha alterado a ordem de execução para o show. O estrondo inicial das estroboscópicas produziu quase tanta iluminação quanto as horas do dia. Não pude deixar de refletir sobre meu primeiro encontro com a banda, um malfadado fiasco no “Milwaukee Metalfest” (1998), e o quão longe ela chegou, tanto pelos músicos competentes, quanto pela escolha dos sons.

Ihsahn

Como prometido, antes da meia-noite o Stratovarius subiu ao palco do salão de baile para relembrar todo o álbum Visions. Bem, quase. Não querendo iniciar com um de seus maiores sucessos (que começa o disco), eles escolheram Forever Free. É bom vê-los embalados e, no início, a multidão é mais barulhenta que a banda. No palco, Timo Kotipelto fica no controle, pé direito no monitor. À sua esquerda, o extraordinário baixista Lauri Porra, pé esquerdo apoiado em outro monitor, contribuía com backing vocals. Timo faz outra viagem ao tecladista Jens Johansson, que troca ritmos com a guitarra. Kotipelto está em casa, movendo-se com confiança para a frente do palco e levantando os dedos em chifre no alto. Muitos na multidão retribuem. Quando você toca um álbum inteiro, às vezes surgem problemas. Uma balada retrô, na melhor das hipóteses, não é realmente uma música de “festival”. Com tempo limitado, vale a pena a omissão de Speed of Light ou Hunting High & Low apenas por uma questão de continuidade? Na minha opinião, não. Um violão montado em um pedestal introduz Before the Winter, acompanhado pelas teclas de Johansson. O ritmo e a temperatura sobem com o rápido interlúdio instrumental Holy Light, banhado em luzes pulsantes e vermelhas. Após uma faixa sem vocal, Timo retorna ao palco para Paradise, correndo pelos cantos dos praticáveis de bateria e teclado (será que ele praticou corrida de obstáculos no passado?). Nas teclas, Jens introduz a atrasada (para efeito dramático) Black Diamond com grande alarde, antes que a faixa-título encerre o show, como acontece no disco. Legal de ver.

Não posso acreditar que o cruzeiro está quase acabando! Então, a ideia é correr durante todo o 4º. dia, tentando absorver o máximo de música possível. É preciso estar preparado…

Stratovarius

4º. dia – domingo, 2 de fevereiro

Além do ritual de fãs se vestirem de cosplay (embora essa “tendência” tenha se espalhado esporadicamente durante toda a duração do cruzeiro), o 4º. dia levanta uma séria questão: “Eu vejo um segundo show de um grupo favorito, correndo o risco de ouvir as mesmas músicas, ou vejo outra banda ou até mesmo uma nova banda?”

Há também um dilema em torno de renunciar a uma apresentação ao vivo para continuar com amigos (antigos e novos), já que em breve voltaremos para casa e pode levar vários meses (ou até o cruzeiro do próximo ano) antes de nos encontrarmos novamente. Para mim, perambulando da proa à popa por três dias, subindo e descendo do convés 11 da piscina até o salão de baile no terceiro andar, também chega um ponto em que quero encostar num canto e relaxar. É aquilo que dizem sobre muito de uma coisa boa… moderação! Mas o 70,000 Tons of Metal oferece excessos gloriosos! Citando Ravena, “nada é tão bem-sucedido quanto o excesso”. Amém! Então, vamos para os talentos ainda a serem exibidos.

“Café da manhã com Flotsam & Jetsam” é como o cantor Eric AK descreveu o horário de início do deck da piscina às 10h. Não sei quantas pessoas estariam de pé sob um sol escaldante de manhã cedo (muitas já com cerveja na mão) se esses veteranos não estivessem tocando a maior parte de seu disco de estreia (embora não completo, nem na ordem cronológica). Doomsday for the Deceiver é meu álbum preferido do grupo, está na minha lista de reprodução e invariavelmente ouço duas ou três vezes por semana. Embora tenha ouvido a maioria das músicas ao vivo ao longo dos anos, eu TIVE que estar presente neste set especial, especialmente porque há rumores de que a banda começa a limitar (se não reduzir completamente) o material mais antigo, de modo a se concentrar nos discos mais recentes. De boné e colete de couro, AK começa Hammerhead, uma das aberturas épicas dos anos 80, com o guitarrista Michael Gilbert (de cavanhaque longo e fino) à sua direita. Quando não está destruindo ou batendo cabeça, Gilbert adiciona backing vocals. Ken Mary (Fifth Angel/produtor) está na bateria, atrás deles. Esse cara faz tudo parecer tão fácil…

Flotsam and Jetsam

Iron Tears é seguida por Desecrator e, para meus ouvidos sintonizados, é óbvio que essas não são meras recriações nota por nota das versões de estúdio, mas releituras embelezadas (principalmente por floreios de guitarra). A história da assassina Lizzy Borden (também conhecida como She Took an Axe) é reconhecida pela maioria, mas quando se trata de Metalshock, o cantor afirma: “Essa nós tocamos duas vezes nos últimos 40 anos”. Fiquei surpreso que eles optaram por apresentar Der Fuhrer (que fecha o vinil original), especialmente nesta era de “eu-me-ofendo-tão-facilmente” em que vivemos. Relatando a ascensão histórica de Adolf Hitler, só os ouvi tocá-la uma outra vez nos quase 40 anos em que acompanho a banda. Olhei ao redor do convés, mesmo nas camadas superiores, e os fãs foram todos respeitosos. Ninguém estava imitando a saudação, nem interpretando as palavras de forma inadequada (lembrando que havia mais de 80 países representados ali).

A sequência foi concluída com a faixa-título, que é, na minha opinião, com suas mudanças dinâmicas de ritmo e intensidade, uma das maiores músicas do metal, desde sua introdução instrumental até o fim. Se alguém tiver dúvidas sobre as habilidades vocais de Eric, confira a seção sutil (quase) a cappella, logo no início. Assassino! A única reclamação foi que acabou rápido demais. Droga!

Flotsam and Jetsam

Talvez tenha sido pelo fato de ser o primeiro dia de sol sem nuvens ou talvez por que o cruzeiro logo seria história, mas me vi atraído, quase exclusivamente, para o deck da piscina nesse dia. Embora não tenha absorvido tudo da minha lista pré-planejada, experimentei alguns dos maiores nomes, bem como uma variedade de sons de subgêneros. Não é uma maneira ruim de terminar.

Black e death metal realmente lutam à luz do dia. A atmosfera faz parte de ambos os estilos e é melhor experimentada em um clube escuro e úmido, não no convés de um navio de cruzeiro, mas foi isso que aconteceu. Ainda é interessante realmente ver esses rastreadores noturnos à luz do dia.

Flotsam and Jetsam

No caso em questão, era o Septic Flesh, que no outono passado tocou no anfiteatro situado sob a Acrópole, em sua Grécia natal. Spiros Antoniou (baixo e vocal) é uma figura cativante enquanto grita músicas como Necromancer e Portrait of a Headless Man.

Septic Flesh

Algumas horas depois, os death metallers de longa data de Nova York, Suffocation, subiram ao mesmo palco. Foi a primeira vez que os vi sem o vocalista Frank Mullen, mas enquanto Terrance Hobbs ainda estiver por lá, tudo estará bem. Jesus Wept deu lugar à mais nova Seraphim Enslavement, com fãs chapinhando na banheira de hidromassagem, a poucos metros do palco. Infláveis são lançados acima da multidão durante Effigy of the Forgotten. Por sua vez, Ricky Myers raramente se movia, preferindo se debruçar sobre os monitores do palco central. Um círculo irrompeu quando tocaram Funeral Inception e terminaram com Infecting the Crypts.

Suffocation

Depois foi a vez do Candlemass se exibir sob a luz do sol no deck da piscina, começando com The Well of Souls. Apesar das temperaturas amenas, o cantor Johan Längqvist ainda usava jaqueta de couro e boné. Em trajes de motociclista semelhantes, o baixista Leif Edling era particularmente enérgico, brincando com os fotógrafos quando não estava tocando ao lado do guitarrista Mappe Björkman. O lado oposto do palco é de propriedade do guitarrista canhoto Lars Johansson. Todos vestiam trajes pretos, exceto Mat, que usava calças brancas. The Bells of Acheron foi a segunda do setlist, uma boa surpresa. Samarithan também surge mais cedo do que se imaginava. Logo Längqvist abandonou a jaqueta pesada e, libertado, pulou no praticável de bateria. Johansson se aventura no meio do palco para um momento solo e permanece por lá, acompanhado por Mappe, para apresentar Demon’s Gate. Mesmo ao ar livre, o som é nítido e completamente pesado – o estrondo do baixo provavelmente foi sentido vários decks abaixo.

Não é uma apresentação muito visual: o Candlemas é uma experiência sensorial completa! Embora listado, Sweet Evil Sun foi pulada, passando direto para A Sorcerer’s Pledge, antes de terminar, como sempre, com Solitude. É uma banda especial, que nunca decepciona. Que eles continuem por muito tempo.

Candlemass

Tive algum tempo para me aventurar no Studio B e para pegar um pouco do Seven Kingdoms. Muito legal ver essa boa banda obtendo reconhecimento e a chance de se apresentar no cruzeiro. A cantora Sabrina Cruz usou uma coroa e óculos escuros ornamentados para começar Diamond Handed. À sua esquerda, está Camden Cruz, despedaçando na guitarra enquanto bate cabeça descontroladamente como um Muppet enlouquecido (seria o Animal na guitarra em vez da bateria?). A Silent Remedy dá lugar à faixa-título do novo EP, The Square. Ironicamente (dado o local), foi durante Through the Waves que me despedi, com certeza de vê-los novamente em breve.

Seven Kingdoms

Quem se atrasou para o segundo show do Dirkschneider perdeu Balls to the Wall, maior clássico do Accept. Sim, inacreditavelmente Udo decidiu abrir com a popular música de sua antiga banda. Em uma seleção incomum, o grupo investiu em um setlist que buscou minimizar as repetições. Na verdade, além de Balls to the Wall, apenas London Leatherboys e Fast as a Shark fizeram aparições nas duas noites, para grande desgosto daqueles que perderam o show inicial.

Foi uma noite para os aficionados do Accept, com seus fãs devotos (já que muitas das melhores músicas estavam ausentes e nenhum dos shows incluiu Restless & Wild, por exemplo). Ou seja, não foi um show para o espectador casual ou novato.

Dirkschneider

Mas não se engane: definitivamente, houve uma ligação entre essas escolhas e o recém-lançado Reloaded, cujo repertório apresenta um cantor convidado diferente a cada faixa. Não havia nenhum vocalista convidado a bordo e Udo fez questão de interpretar todas as dez faixas de Balls to the Wall.

Sendo o 40º aniversário deste disco inovador pode justificar (temporariamente) mover a faixa-título para a frente. Depois que o olhar atordoado foi apagado dos rostos, os fãs entraram nele, percebendo que era algo especial. O cantor trouxe a jaqueta e a calça camufladas (proibidas por lei de se usar na Jamaica), com uma camisa preta por baixo. London Leatherboys e os sucessos rápidos Fight it Back e Head Over Heels mantêm a adrenalina bombeando. O colega de banda e baixista de longa data Peter Baltes teve papel mais proeminente nessas músicas “menos conhecidas”, até mesmo cantando uma parte de Losing More than You’ve Ever Had, que o vocalista afirma nunca ter sido tocada pelo Accept – pelo menos, quando ele era o vocalista.

Luzes vermelhas surgem no início de Love Child, que tem o guitarrista Andrey Smirnov na frente, destruindo. Ele é um contraste frequente para o cantor, que muitas vezes se aproxima dele (ou do baixista) e os dois ficam juntos. Termina com todos os quatro (incluindo a segunda guitarra) alinhados no palco. Em tons de roxo, Turn Me On começa com um trecho bastante descontraído, brevemente interrompido por Losers & Winners, com Baltes e Udo situados centralmente.

Não me lembro de Udo ou do Accept tocando Guardian of the Night, apoiada por Winter Dreams iluminada em azul e destacada em branco, uma bela balada (embora um pouco deslocada, dada nossa localização), que dificilmente constituem momentos “obrigatórios” no concerto.

Termina fortemente, uma vez que I’m a Rebel tingido de vermelho entra em ação, com muita participação do público (reprimida?), seguida pela já mencionada Fast as a Shark. Ainda bem que testemunhei os dois shows completos, caso contrário ficaria bem insatisfeito.

Dirkschneider

Já o Hammerfall revisitou álbuns antigos na apresentação do deck da piscina. Joacim Cans faz um pequeno discurso sobre martelos antes de Hammer High, que é iniciado sob uma saraivada de luzes estroboscópicas. Oscar Dronjak iça sua guitarra, pois se assemelha a Mjölnir, o martelo de Thor.

Muitos martelos infláveis saltam no ritmo da música, mas ela termina com o refrão recitado e a cappella. Crowd surfers caem sobre a barricada em ondas aparentemente intermináveis, enquanto Blood Bound é incapaz de impedir que a fumaça teatral seja instantaneamente soprada para fora do palco, atrás deles.

Hammerfall

Os dois guitarristas (Dronjak e Pontus Norgren) começam uma Renegade iluminada em vermelho, enquanto de alguma forma eles consigam envolver o palco em uma névoa verde e esfumaçada para a relaxada e ao mesmo tempo sutil Last Man Standing. Não sei se é 100% verdade, mas Cans afirma que após repetidos pedidos de fãs durante todo o fim de semana, eles decidiram colocar The Dragon Lies Bleeding no set. Honestamente, ela deveria estar lá TODAS as noites. Tommy Johansson, do Majestica, juntou-se à guitarra em Let the Hammer Fall. Ele pegou o solo principal e se uniu à linha de quatro instrumentos de cordas, com movimentos sincronizados. Parecia um bom momento para me preparar para minha última parada neste cruzeiro

No Studio B, o Samael tocaria Ceremony of Opposites, um dos meus álbuns favoritos de meados dos anos 90, ditos “anos de baixa para o metal”. É ótimo ver tantas pessoas com ideias semelhantes também, já que esta foi quase a apresentação final da viagem. Cabelo penteado para trás em um coque e camisa preta de botão, o vocalista e guitarrista Vorph parecia mais um artista new wave do que um metaleiro, mas o que vinha de sua guitarra e microfone dizia o contrário: pesado, experimental, beirando o industrial, mas com um groove inegável.

De pé em um degrau atrás dele, estava o irmão Xytras. Cercado por prateleiras de teclados e baterias, ele alternava entre eles, às vezes na mesma música. Um staccato zumbido de uma nota de guitarra repetida anuncia Son of Earth, enquanto o ritmo áspero e irritante em Mask of the Red Death está um pouco acima de um ritmo gloriosamente monótono, mas, para mim, o destaque foi a sombria Baphomet’s Throne.

Samael

Ao final do festival, a sensação é um misto de exaustão e felicidade. O que começou como uma viagem dos sonhos, se tornou uma lembrança inesquecível – e, para muitos, um compromisso anual. Se você nunca foi, prepare-se: é uma jornada que redefine o conceito de festival de metal. Antes desse convite, eu jamais pensaria em ir ao 70,000 Tons of Metal, mas após essa viagem posso afirmar: dificilmente vou perder as próximas edições.

Isso é tudo para este ano, mas as datas já foram anunciadas para 2026, quando o cruzeiro navega de Miami para Labadee, Haiti, de 29 de janeiro a 2 de fevereiro.

Faça planos para se juntar à diversão.

 

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