Por: Thiago Prata
Se houvesse um prêmio oficial para melhor show de heavy metal do ano em Belo Horizonte, o Accept provavelmente emplacaria três pódios seguidos. Após duas apresentações avassaladoras em 2016 e 2017, o quinteto alemão subiu no palco do Mister Rock, no dia 16 de outubro, novamente com aquela sensação de “jogo ganho”. E seus aficionados sabiam disso. Com casa cheia, um timaço liderado pelo guitarrista Wolf Hoffmann e o baixista Peter Baltes e uma coleção de clássicos e petardos de discos recentes, era impossível algo dar errado. Nem mesmo o calor descomunal daquele dia impediria mais uma catarse espiritual.
Mas antes de os germânicos darem as caras, coube aos mineiros do Apple Sin a função de mestres de cerimônia. E é importante salientar: que baita show desses caras. Oriundo de Barroso, a aproximadamente 200 km da capital mineira, o sexteto fez uma exibição de cair os queixos e, com apenas meia hora, com certeza angariou vários novos adeptos, como este que vos escreve.
Com um som calcado no heavy metal tradicional, recheado de melodias e riffs que flertam com o thrash, o grupo destilou músicas de seu debut auto-intitulado e um ótimo cover de A Touch of Evil, do Judas Priest. Uma belíssima maneira de recepcionar os protagonistas da noite.
Por volta das 22h, as primeiras notas de Die by the Sword anunciavam o massacre teutônico que estaria por vir. É impressionante o poder de fogo ao vivo da música de abertura do mais recente play, The Rise of Chaos (2017), assim como Stalingrad (de Stalingrad, de 2012), que veio a seguir, sem tempo para o público respirar.
A dobradinha implacável dava campo à primeira pérola dos anos 80 da noite. A faixa-título de Restless and Wild (1982) é daquelas canções perfeitas para ter o refrão cantado em uníssono; o público mineiro entendeu o recado e assim o fez. Nem o operador da mesa de som resistiu. Aliás, por várias vezes ele vibrou, cantarolou e bateu cabeça. Ah, os prazeres que um trabalho pode proporcionar.
O vocalista norte-americano Mark Tornillo esbanjava destreza tanto em clássicos como Neon Nights e Princess of the Dawn – ambas de Restless and Wild – quanto em joias mais novas, vide Koolaid, mais uma do álbum do ano passado, e Shadow Soldiers, outra de Stalingrad.
O guitarrista Uwe Lulis complementava com maestria os riffs e as melodias certeiras de Wolf, enquanto Christopher Williams formava com Peter uma cozinha sólida e indestrutível.
Mas apesar de a banda toda passar por cima como um rolo compressor, é impossível não destacar Wolf. O carequinha de 58 anos é um show à parte. Ali, em cima do palco, estão escritos e descritos, por meio de sua figura, mais de 40 anos de história de uma das maiores instituições do metal: a superação, a insistência e o sentimento de sempre acreditar em seus ideais, não importa quanta quedas fossem precisas para manter vivo o legado do Accept. E tudo isso se convertia em riffs, solos e muito carisma aos fãs, que, em retribuição, cantavam alto, gritavam e o aplaudiam.
A veloz Fast as a Shark (já deu pra perceber a soberania do material de Restless and Wild, não é?) e a potente Teutonic Terror, de Blood of the Nations (2010) deixaram o ambiente ainda mais quente, e a imortal Balls to the Wall fechou a conta daquele jeito que todo mundo conhece. Épico!