Por Luiz Tosi
Fotos: Dani Moreira
“Quem é heavy curte Accept!”, define Ricardo Batalha, redator-chefe da ROADIE CREW, resumindo a essência da banda. Desde sua formação em 1976, época em que o termo “heavy metal” começava a ser popularizado, a influência do Accept no gênero é incontestável. Apesar de tê-los como uma de minhas bandas favoritas, minha paixão foi desafiada na última década. Nenhum lançamento após Blind Rage (2014) me pareceu excepcional — não são ruins, porém, em minha opinião, não correspondem o legado do Accept. A saída do baixista fundador, Peter Baltes, em 2018, reduziu ainda mais meu entusiasmo. Desde então, a banda tem mantido uma formação estável, com Wolf Hoffmann, Uwe Lulis, Philip Shouse, Mark Tornillo, Christopher Williams e Martin Motnik. Recentemente, anunciou-se que Joel Hoekstra (Whitesnake, Trans-Siberian Orchestra, Night Ranger e outros) substituiria Phil Shouse na turnê sul-americana e nos festivais europeus de 2024, mesmo o guitarrista estando ainda na banda.
Mas a qualidade ao vivo do Accept é algo que jamais pode ser posto em dúvida. Tendo assistido à banda em quase todas as suas passagens pelo país, posso garantir que eles sempre superam as expectativas. Com a apresentação ‘sold out’ desta última quarta-feira (01) no Carioca Club não foi exceção. O show deu início à turnê de divulgação de Humanoid, 17° álbum de estúdio do grupo, lançado em 26 de abril pela Napalm Records. A banda ainda se apresentará em Belo Horizonte (15/05), Brasília (17/05), novamente em São Paulo (18/05) e Santo André (19/05). A abertura do evento ficou a cargo da banda russa Amalgama, que entregou um power-traditional alinhado ao estilo da atração principal. Apesar de não trazer novidades, o desempenho foi competente, embora prejudicado pelo timbre um tanto irritante do vocalista.
O Accept subiu ao palco com duas faixas de Humanoid: The Reckoning e a faixa-título, que não empolgaram muito. A trinca seguinte, em compensação, foi covardia: Restless and Wild, Midnight Mover e London Leatherboys. O set seguiu com duas das melhores da fase Tornillo, a ótima Dying Breed e a deliciosa Overnight Sensation, além de um divertido medley de clássicos, formado por trechos de Demon’s Night, Starlight, Losers and Winners e Flash Rockin’ Man. Falando em Tornillo, esse tomou a boca de vez. Cada vez mais presente e confiante, o carismático vocalista há muito conseguiu fazer com que as saudades de Udo Dirkschneider desaparecessem. A nova balada, Ravages of Time, não funcionou tão bem, mas Shadow Soldiers recuperou o ritmo.
A formação se expandiu com a adição de um terceiro guitarrista — não que precisasse, como Hoffmann provou em 2011, ao realizar uma apresentação inteira em São Paulo como único guitarrista. Hoekstra se integrou perfeitamente, mostrando uma sinergia natural com os outros músicos; e o currículo de Lulis, que completa dez anos na banda, fala por si só. Destaque para todos os três usando guitarras estilo Flying V, puro suco de metal.
Todos são músicos excepcionais e apaixonados, tornando cada apresentação do Accept única e irretocável. Williams novamente brilhou na bateria e, embora Peter Baltes seja insubstituível, Martin Motnik desempenhou bem seu papel com uma performance bastante sólida.
A nota negativa da noite vai para a produção e organização. Primeiro, pela superlotação num dia de calor extremo em que o ar condicionado não deu conta, criando um verdadeiro inferno para os fãs. Depois, pela qualidade do som, com oscilações como falta de pressão sonora, partes emboladas e momentos de vocal e guitarras baixas (principalmente no início).
Entramos na reta final com mais uma sequência irresistível de petardos. Combinando inteligentemente clássicos eternos com os novos clássicos; Princess of the Dawn, Fast as a Shark, Metal Heart, Teutonic Terror, Pandemic e Zombie Apocalypse, a banda conquistou o público com uma energia contagiante. O vigor que o Accept leva ao palco reflete seu compromisso profundo com o heavy metal, fazendo com que cada nota exale o estilo.
O bis veio com Balls to the Wall e I’m a Rebel. Falar o quê? No fim, ficou confortável para todos, banda e público. Mesmo não estando numa noite perfeita e não sendo mais o que foi em outros tempos, o Accept mantém seu brilho ao vivo e a noite foi um testemunho do legado duradouro da banda, que continua a ser uma força dominante no heavy metal. Como bem dizem por aí: se o Accept vier todo mês, eu vou.
Setlist
The Reckoning
Humanoid
Restless and Wild
Midnight Mover
London Leatherboys
Dying Breed
Overnight Sensation
Medley: Demon’s Night / Starlight / Losers and Winners / Flash Rockin’ Man
Breaker
Ravages Of Time
Shadow Soldiers
Princess of the Dawn
Fast as a Shark
Metal Heart
Teutonic Terror
Pandemic
Zombie Apocalypse
Balls to the Wall
I’m a Rebel
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