Demorou bastante tempo, mas, enfim, o Airbourne fez a sua estreia em solo brasileiro – já era para isso ter acontecido em 2014, mas a vinda da banda ao país acabou sendo cancelada. E depois do que mostrou em São Paulo para o público que compareceu em peso ao Carioca Club no último domingo, o grupo australiano tem que passar a bater cartão no Brasil. Se você é fã da música do Airbourne e não pôde estar presente, saiba que a energia que a banda transmite ao vivo é amplamente maior do que em seus discos de estúdio. Os caras parecem estar o tempo todo ligados no 220!
Para a abertura, a produção acertou em cheio na escolha do Baranga, já que seu som tem tudo a ver com o do Airbourne, ou seja, um rock and roll sujo, sacana e despojado, na escola do AC/DC – sem contar que as apresentações do veterano grupo paulistano também são sempre empolgantes e energéticas. Xande Saraiva (vocal e guitarra), Deca (guitarra), Ricardo “Soneca” Schevano (baixo) e Alemão (bateria) chegaram tocando uma trinca eletrizante, formada pela acelerada “Filho Bastardo”, “Blues das 6:00” e “Três-Oitão”. Na pausa, Xande comentou do prazer que ele e seus companheiros estavam sentindo por estarem dividindo palco com uma banda que eles são fãs, e aproveitou para, acertadamente, enfatizar que o rock cantado em português merece ser valorizado.
Exceto pelo homônimo álbum de estreia, lançado em 2003, o Baranga preparou um repertório baseado em todos os seus outros quatro discos: “Whiskey do Diabo” (2005), “Meu Mal” (2007), “O Céu É O Hell” (2010) e “O 5° dos Infernos” (2013). Os grandes destaques foram as músicas “Na Madrugada”, a pesada “Whiskey do Diabo” (minha preferida da banda), a ‘motörheadiana’ “Chute na Cara”, em que Alemão mandou ver nos bumbos, e a sacana “Meu Mal”. Mas o público ainda foi agraciado com um cover inusitado para “O Carona”, de Tony Bizarro & Som Colorido – gravado pelo Baranga em 2005 em sua primeira demo -, e também com a inédita “Rock de Rua”. Essas duas músicas integrarão o novo álbum que o Baranga está preparando, que se chamará “Motör Vermelho”. O cover terá os mesmos arranjos, porém ganhará uma cara mais atualizada, com um solo de guitarra diferente do que o que Deca gravou na demo. Falando em Deca, foi genial quando ele desceu do palco para tocar no meio das pessoas que estavam na pista vip – quem já assistiu a uma apresentação do Baranga, deve ter presenciado o guitarrista fazendo coisas desse tipo.
Foram apenas trinta e cinco minutos de show, mas o Baranga ainda teve tempo de atender aos pedidos do público para mais uma música, mandando “Piratas do Tietê”, um de seus maiores clássicos, registrado no segundo álbum, “Whiskey do Diabo”. Com Soneca e Alemão conduzindo de forma consistente a cozinha da banda, as guitarras de Deca e do comunicativo Xande injetando peso, e contando com uma ótima qualidade de som, que estava muito bem equalizado, comandado na mesa de som por Marcello Pompeu (Korzus), o grupo agradou os fãs e conquistou aqueles que ainda não conheciam o seu trabalho. Prova disso é que o público correspondeu gritando em coro o seu nome.
Cerca de meia hora depois a histeria foi geral quando a introdução mecânica rolou e o Airbourne invadiu o palco, executando a explosiva “Ready to Rock”, de seu terceiro álbum, “Black Dog Barking” (2013). Joel O’Keefe (vocal e guitarra), Justin Street (baixo) e o estreante Harri Harrison (guitarra) entraram correndo pelo palco, enquanto que Ryan O’Keefe sentava o braço em sua bateria, ditando o ritmo acelerado da música, que teve o reforço do público, que a cantou de maneira ensurdecedora, principalmente o coro que surge no decorrer. Essa entrada visceral aumentou ainda mais a empolgação dos fãs, que já tinham tido um ótimo aquecimento com o show do Baranga. E não deu nem tempo de respirar, já que logo na sequência foi a vez da contagiante “Too Much, Too Young, Too Fast”, do debut “Runnin’ Wild” (2007), incendiar o local com seu refrão contagiante e sua pegada descaradamente influenciada pela banda de Angus Young. Teve até coreografia dos integrantes do trio de frente, que agitaram juntos.
Na primeira pausa, Joel, que no palco lembra muito Steve “Lips” Kudlow, vocalista e guitarrista da icônica banda canadense Anvil, cumprimentou a todos e disse estar feliz de estar tocando pela primeira vez no Brasil. Depois a banda mandou duas de seu novo álbum, “Breakin’ Outta Hell” (2016). A primeira delas foi “Down On You”, que teve participação bastante efetiva do público. No meio dela, a banda fez algumas paradinhas para os fãs cantarem o refrão, e eles, por sua vez, retribuíram ao final, puxando o nosso tradicional coro “olê, olê, olê, olá” com o nome da banda. Os músicos entraram na brincadeira e improvisaram uma jam no mesmo ritmo, até emendarem com “Rivalry”. Era impossível ficar parado com tamanha carga de adrenalina, mas a coisa pegou fogo de vez em “Girls in Black”. Joel se mandou do palco e foi solar no camarote superior esquerdo, tocando com sua guitarra à frente do parapeito, em meio a duas crianças que ali estavam e que ficaram felizes com as palhetas que ganharam dele. Lá de cima, ainda pegou uma lata de cerveja, socou-a na cabeça e proporcionou uma chuva dourada (calma, não pense em perversidades sexuais!) na plateia.
Quando retornou ao palco, o malucão Joel O’Keefe, dedicou “It’s All for Rock ‘n’ Roll” do novo álbum a Lemmy Kilmister, que já havia sido homenageado no clipe, em que além de imagens dessa figura lendária do rock and roll, o Airbourne aparece tocando num cenário ornamentado pelo avião que iluminava o palco da turnê de “Bomber” (1979), do Motörhead – Kilmister também estrelou o clipe da música “Runnin’ Wild” do Airbourne. Para esse momento da apresentação, o vocalista pediu que o roadie brasileiro Rogério de Souza (o Rogerinho), que integrou a ‘road crew’ do Motörhead por quinze anos e que estava trabalhando no show, assumisse o lugar de Ryan na bateria. Com seu irmão de volta ao seu posto, foi a vez da própria “Breakin’ Outta Hell” agitar os presentes.
Em “No Way But the Hard Way”, única do segundo álbum, “No Guts. No Glory” (2010), a ser tocada, Joel exibiu uma bandeira do Brasil que ganhou de alguns fãs que estavam na primeira fila, a estendeu em um dos amplificadores e lhes presenteou com palhetas. Assim como Joel, a todo instante Street e Harrison bangeavam e corriam de um lado para o outro, sendo que ambos preenchiam bem o palco trocando muitas vezes de posições. Vira e mexe os três desciam para a parte frontal baixa do palco para agitar próximos ao público. Infelizmente, o vocalista sofreu em boa parte do set com o som fraco e em muitas vezes inaudível que saia de seu microfone. Um dos roadies fez várias trocas, sem se dar conta de que o problema, talvez, não estivesse nos microfones que ele colocava no pedestal. Mas isso não tirou a concentração e nem a alegria do frontman, que do meio pra frente do show resolveu saudar os fãs arremessando vários e vários copos de cerveja, dando um banho em muita gente em algumas músicas.
E quando se achava que a apresentação acabaria após “Stand Up for Rock ‘n’ Roll”, o grupo ainda voltou para o bis e se despediu após “Live it Up” e “Runnin’ Wild”. Que show, meus amigos, que show! Este entrará fácil na lista dos melhores que aconteceram em São Paulo em 2017, tanto quanto ficará marcado na memória de muitas pessoas como um dos melhores que elas já assistiram em suas vidas. Obrigado ao Airbourne por ter feito a segunda-feira de todos que estiveram presentes no Carioca Club ter começado com o astral lá em cima. Volte mais vezes, de preferência para tocar de domingo! O Manifesto Bar, que promoveu o show, foi muito feliz em suas festividades de 23 anos de atividades na cidade.
AIRBOURNE – Setlist:
Intro
Ready to Rock
Too Much, Too Young, Too Fast
Down on You
Rivalry
Girls in Black
It’s All for Rock ‘n’ Roll
Breakin’ Outta Hell
Diamond in the Rough
No Way But the Hard Way
Live It Up
Runnin’ Wild
Filho Bastardo
Blues das 6:00
Três-Oitão
O Céu é o Hell
Na Madrugada
O Carona
Rock de Rua
Chute na Cara
Whiskey do Diabo
Meu Mal
Pirata do Tietê