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AIRBOURNE – São Paulo (SP)

Por Leandro Nogueira Coppi

Fotos: Rafael Andrade

Cinco anos após batizar São Paulo com muito álcool e rock and roll, o quarteto australiano Airbourne voltou à cidade e novamente celebrou mais um aniversário do Manifesto Bar, que completou 28 anos de uma ininterrupta história de amor e música pesada com a maior metrópole da América do Sul. E antes de desembarcar para show único no país, o figurão Joel O’Keeffe mandou o recado aos fãs brasileiros: “Queremos que vocês venham e destruam tudo!”, convidou o vocalista e guitarrista. “Venham e eu vou jogar cerveja de graça, de cima do palco. Tratamos cada show como se fosse o último”, instigou o frontman do Airbourne. E o que O’Keeffe disse não é propaganda enganosa, quem esteve no Carioca Club na primeira visita da banda ou ao menos já viu pelo YouTube as apresentações desses caras altamente influenciados por seus conterrâneos do AC/DC, sabe o nível de adrenalina, diversão e também de teor alcóolico que ele e sua ‘gangue’ oferecem. Lembro-me até que no final da resenha daquele inesquecível show de 2017 em divulgação do álbum Breakin’ Outta Hell (2016), comentei que o Airbourne deveria bater cartão no Brasil e reservar para nós o dia de domingo toda vez que voltasse, para que as pessoas que o assistissem fossem trabalhar felizes na segunda-feira. E foi exatamente o que rolou nesta nova visita, só que ocorrida dessa vez no palco do Fabrique Club, no último domingo (28). 

Se da outra vez a produção foi correta ao convidar o Baranga para a abertura, já o grupo faz um rock and roll sujo e visceral oriundo da mesma escola do Airbourne, dessa vez foi novamente acertiva ao convocar para a missão a RF Force, nova banda do guitarrista Rodrigo Flausino, conhecido também por seus trabalhos com as bandas Hatematter, Hardstuff e Children of the Beast (tributo ao Iron Maiden) e por seu homônimo canal no YouTube, que é direcionado principalmente à assuntos do universo guitarrístico. Completada por outros músicos talentosos e experientes – o ex-Exxóttica Daniel Iasbeck na outra guitarra, Marcelo Saracino (vocal), Lucas Emídio (bateria) e Ricardo Flausino, baixista irmão de Rodrigo -, a RF Force deixou o público empolgado com seu heavy metal inspirado por grandes nomes do gênero.

Mesmo com palco reduzido devido ao espaço ocupado pelo praticável da bateria do Airbourne, o RF Force o dominou com boa performance, desde a abertura com a ótima Fallen Angel, música que não seria exagero classificá-la como um encontro de DIO com Dokken. Comunicativo, explicando a todo momento o conceito das músicas do álbum RF Force que foi lançado no início do ano pela Classic Metal Records, o carismático Saracino cativou o público, mostrando ter pleno domínio de suas ações e cantando com uma qualidade de deixar Ronnie James Dio orgulhoso lá de cima – quem conhece Saracino do Heaven and Hell DIO Tribute sabe do que estou falando. Despejando ótimos timbres, riffs e solos – muito disso tudo inspirado no hard rock – Rodrigo Flausino também exibia sua habitual simpatia interagindo em vários momentos com pessoas da plateia. E falando em plateia, um dos momentos em que ela respondeu com aplausos empolgados foi no final da arrastada Beyond Life and Death, música de um peso descomunal que remete ao Sabbath dos tempos de Ronnie Dio e também de Tony Martin já pode incluir essa como uma das grandes músicas do heavy metal brasileiro!

Outras que também tiveram ótima recepção foram Flying Dogs e The Beast and the Hunter, músicas que você pode conferir através de seus respectivos lyric video e videoclipe (clique nos hiperlinks nos títulos). Aliás, ao apresentar The Beast… foi engraçado quando Saracino mencionou o nome de Fabio Junior, dizendo que essa é “para quem gosta de ser caça ou caçador”, em referência à música do cantor pop. No decorrer de sua apresentação, o RF Force presenteou os headbangers com um medley muito bem executado que reuniu trechos de quatro hinos do heavy metal, Balls to the Wall (Accept), Heaven and Hell (Black Sabbath), The Trooper (Iron Maiden) e Living After Midnight (Judas Priest). A prova de que o RF Force conquistou de vez quem compareceu para assistir ao Airbourne, foi a resposta positivamente unânime do público geral quando Saracino ensinou todos a cantar o refrão grudento e de fácil assimilação da derradeira Old School Metal ­– frase bastante exibida pelo vocalista nas costas de sua jaqueta de couro -, música que começa com guitarras gêmeas que tinham muito de Scorpions. Se teve alguém que torce o nariz para bandas de abertura e preferiu aguardar a atração principal do lado de fora, perdeu um show de primeira qualidade, digno de a banda ser classificada como coheadliner e não simplesmente como ‘opening act’.

Passado o show, Marcelo Saracino atendeu à Roadie Crew e expressou seu sentimento em relação à aceitação do público para o RF Force. “A expectativa para o show era alta, já na primeira música percebemos o público se interessando e chegando na pista para curtir. Ao longo do show o público já estava interagindo muito com a banda, até o ápice com a música final Old School Metal, onde a galera foi ao delírio cantando forte o refrão que para muitos era novidade. A RF Force sai extremamente satisfeita com o resultado do show e esperando a galera para o próximo, que acontece no Brothers Rock Bar, no próximo dia 25/09″.

Não demorou muito e o sangue dos fãs do Airbourne ferveu ainda mais no momento em que o som mecânico disparou AC/DC em seus tímpanos. Tomar fôlego para se preparar para o que estava por vir foi impossível, pois Joel O’Keeffe, Ryan O’Keeffe, Justin Street e Jarrad “Jazz” Morrice tornaram a pista um alegre caos. O trio de frente chegou correndo pelo palco, tocando a acelerada Ready to Rock, música que abre o terceiro álbum da banda, Black Dog Barking, de 2013. Em alta voltagem, mantiveram a adrenalina no pico com a ótima Too Much, Too Young, Too Fast (minha favorita!). No decorrer dessa, JoelJustin Jazz arrancaram ainda mais sorrisos dos fãs ao fazerem, enfileirados, a sua tradicional coreografia com as  guitarras e o baixo.

A “festa da cerveja” começou em Girls in Black, outra de Runnin’ Wild (2017). Foi quando Joel deixou o palco e foi ao encontro do público pela lateral direita e tocou e agitou daquele local da pista. Logo que chegou ali, ele explodiu uma lata em sua cabeça e molhou o público com uma verdadeira chuva dourada (me refiro à cerveja, seu (sua) pervertido (a) sexual, que já está aí lendo isso e imaginando outra coisa!). Enquanto isso, o roadie da banda se preocupava em tirar do palco uma garota que se empolgou e subiu para dançar. Com o palco livre, Joel voltou para perto de Justin Jazz. E o que agitam também esses outros dois caras, principalmente o baixista, que corre de um lado ao outro do palco o tempo todo, gira a cabeça em alta velocidade em toda música e ainda se une à Jazz nos vocais de apoio.

O estreante “Jazz”, que chegou ao Airbourne há poucos meses, mostrou estar totalmente adaptado ao bando – até porque, já estava acostumado com esse tipo de som banhado à AC/DC no Black Aces, seu grupo anterior. Para a música seguinte, Burnout the Nitro, do álbum mais recente do Airbourne, Boneshaker (2019), Jazz trocou sua Gibson Explorer por uma guitarra semiacústica e junto aos veteranos parceiros fez o local ferver ainda mais. Aí então, vieram a própria Boneshaker e também Back in the Game, também de Black Dog Barking. Essa última foi uma das que não integraram o setlist do show de 2017, mas que dessa vez fez a alegria dos fãs, que a cantaram em uníssono.

Em Breakin’ Outta Hell foi um salve-se quem puder. Que troca de energia entre público e banda. Assim como disse Joel em sua mensagem aos fãs brasileiros antes de retornar ao Brasil, era como se aquele estivesse sendo o último show, melhor dizendo, o último dia de vida de cada um dos presentes. Naquele momento, ninguém ali estava dividido por política ou por outras chatices, mas sim em sintonia, unidos pelo rock and roll e molhados de cerveja, suor e uísque! Sim, uísque, porque depois da visceral Diamond in the Rough, o Airbourne repetiu o que fez no show de 2017 em It’s All For Rock ‘n’ Roll e também no clipe da música: celebrou o saudoso e estimado Lemmy Kilmister, fundador da instituição Motörhead. E do jeito que Lemmy adoraria ser presentado, o Airbourne o brindou com a mistura de uísque com Coca-Cola da qual o falecido baixista e vocalista era apaixonado, o famoso  Jack’n’Coke. E como da outra vez, neste momento do show Ryan O’Keeffe repassou suas baquetas para o roadie brasileiro Rogério de Souza, o Rogerinho, que integrou a “road crew” do Motörhead por quinze anos. Enquanto isso, Joel preparou em cima de um ‘case’ que tinha um adesivo escrito “Lemmy’s Bar” em torno da mascote Snaggletooth do Motörhead, doses e mais doses da bebida favorita de Lemmy, e saiu distribuindo Jack’n’Coke para várias pessoas na pista, inclusive para esse que vos escreve e que nem curte álcool – porém, como aprendi desde cedo, fazer desfeita é falta de educação, assim sendo, entornei o “mé”! Como gentileza pouca é bobagem, Joel fez questão de oferecer algumas doses de Jack Daniels puro diretamente na garganta e no copo de alguns felizes candidatos a borrachos.

O rock and roll seguiu rolando sem freio com músicas como Cheap Wine & Cheaper WomenChewin’ the Fat Raise the Flag. Somado à essa trinca explosiva, Joel estourou mais latas na própria cabeça e distribuiu mais jatos de uísque e cerveja. O chão ficou que era álcool puro e muita gente voltou “perfumada” para casa. E quem disse que alguém ali estava se importando com esses míseros detalhes? Pelo contrário, na pista tudo que se via eram sorrisos e gente agitando – o que explica a banda tocar sorrindo o tempo todo com aquilo que estava presenciando em plena fria noite de inverno paulistano.

Depois de tantas calorias gastas, os quatro cavaleiros do apocalipse se retiram de cena, mas rapidamente retornam para o bis, que começou com Live it Up, outra de Black Dog Barking. Teve mais chuva de cerveja? Claro! Cansaço? Nenhum pouco! Quem estava ali nem viu o tempo passar e o cansaço bater. E tão rápido quanto o ritmo da maioria das músicas do Airbourne, foi o tempo de duração do show. Apenas uma hora e quinze depois de tomar o palco de assalto, os australianos se despediram com a aclamada faixa-título de seu álbum de estreia, Runnin’ Wild. Felizes com mais uma recepção calorosa do público brasileiro, o quarteto se despediu, mas prometeu voltar! E tomara que da próxima vez a banda venha com novas músicas no repertório, pois desde 2019 não lançou mais nenhum álbum de inéditas.


Por conta da pandemia do novo coronavírus, foram dois anos que me mantive afastado de shows ou de outros tipos de aglomerações. Já com mais coragem para voltar a eventos e observando a vasta agenda de shows que voltou ser aberta no Brasil, escolhi a dedo em qual deles eu retomaria minhas atividades pela revista em termos de shows. Motivado pela apresentação que cobri em 2017, não me restou dúvidas de que era o Airbourne que eu queria que ficasse marcado como meu primeiro show pós-pandemia. Sabia decisão! Felizes daqueles que, assim como eu, tiveram a chance de presenciar o que aconteceu no Fabrique Club na (para mim inesquecível) data de 28 de agosto de 2022.

Foto: Leandro Nogueira Coppi

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