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AL DI MEOLA – Quando a reverência vem de um mestre

Primeiro foi All Your Life: A Tribute to the Beatles Recorded at Abbey Road Studios, London, lançado em 2013. Depois, um novo tributo aos Beatles ganhou forma Across the Universe (2020). Isso nas mãos de Al Di Meola, que fez (muita) fama com o Return to Forever, grupo seminal de jazz/fusion/rock progressivo que marcou uma geração de músicos nos anos 1970. Em um bate-papo de quase 50 minutos, Meola detalhou o processo dos dois álbuns em homenagem aos Fab Four, falou de seu amor pela banda e da importância dela para a história da música. Mais do que isso, adiantou uma baita notícia em relação a trio que teve com John McLaughlin e Paco de Lucía, responsável por um dos discos mais incríveis de guitarristas – no caso, violonistas – que você já ouvir ou vai ouvir na vida.

Across the Universe não é seu primeiro tributo aos Beatles, mas como esta é a sua primeira entrevista para a ROADIE CREW, preciso perguntar: o que a banda representa para você, musical e pessoalmente?
Al Di Meola: Musicalmente, não havia nada antes dos Beatles. Eles introduziram novos sons e uma música vibrante num nível mais alto, e nunca pararam de se desenvolver. Ainda que sejam curtas, aquelas composições refletiram na música pela qual sou conhecido. O que absorvi dos Beatles foi um senso de melodia que é muito familiar e afetivo para muitas pessoas no mundo, um mundo que não seria o mesmo se eles não tivessem existido. Aliás, é assim que defino o quão importante são os Beatles, e a banda criou melodias inacreditáveis e indeléveis nas nossas mentes e corações, melodias que são parte de músicas maravilhosas e muito precisas. Belas melodias muito bem pensadas e com todos os ingredientes de uma boa produção.

Os Beatles foram muito importantes na minha juventude, mas perdi o interesse quando eles seguiram carreiras solo. Ainda amo a banda, mas acabei me afastando e indo mais longe e mais profundamente em direção ao rock progressivo, ao jazz e ao jazz-rock. Descobri músicos como John McLaughlin, Larry Coryell, Paco de Lucia e Chick Corea, este um dos meus artistas favoritos, e então entrei nesse mundo aos 19 anos. Agora, estou profundamente enraizado num tipo de música progressiva, instrumental e complicada, mas muito direcionado às composições. Depois de décadas e muitos discos lançados, nos últimos dez anos eu me reinseri nos trabalhos de John Lennon e Paul McCartney, particularmente, e dos Beatles, então percebi novamente que o que eles fizeram foi excepcional e incrível. Toda vez que eu os ouço, fico num bom estado de espírito. Sinto-me ótimo!

Enquanto músico, quando analiso a obra dos Beatles, e pegando uma peça inteira, vejo que são lindos pedaços de música, então… Bom, a ideia de fazer, há sete ou oito anos, o primeiro disco foi uma decisão momentânea, porque tive uma folga no meio de uma turnê europeia de verão. Eu estava no hotel enquanto parte da banda foi para casa, porque todos moravam na Europa, então fiquei com dias livres na Alemanha e na Checoslováquia e pensei: ‘Talvez eu possa encontrar um estúdio e começar a registrar essa ideia’, e em algum momento me ocorreu: ‘Será que o Abbey Road Studios ainda está funcionando? Seria divertido fazer isso lá’. Resumindo, um amigo descobriu que o local estava funcionando exatamente como na época dos Beatles, embora nem todas as bandas pudessem arcar com os custos de gravar lá.

Agendei o estúdio por um dia, e este dia acabou virando três dias, e eu nunca me senti tão inspirado quando naqueles três dias. Eu parecia uma criança na Disney! (risos) Era uma sensação que não sentimos mais quando viramos adultos, tipo quando somos garotos, vemos uma guitarra nova, a pegamos para tocar e achamos o máximo (risos). Essas sensações nos escapam quando crescemos, porque já vimos e fizemos muita coisa e estamos cansados. Mas eu realmente me senti como uma criança na Disney, por isso gravei algumas faixas durante aqueles três dias que me deixaram muito satisfeito. Voltei para Nova York para gravar no melhor estúdio da cidade ou no meu próprio, mas eu não conseguia um som igual, porque o Abbey Road é absolutamente fantástico! Então, decidi esperar um pouco e voltar a Londres para terminar o disco no Abbey Road, e antes de retornar eu somente fiz o arranjo das demais partes.

Para fazer isso, pensei que seria uma ótima ideia alugar uma casa longe da minha, tipo nos Hamptons (N.R.: balneário na cidade de Southampton, no estado de Nova York) ou em Long Island (N.R.: ilha no sudeste do estado de Nova York), para onde sempre quis ir. Eu queria me isolar, então aluguei uma casa num local onde… Qual a chance, em um milhão de anos, de você fazer isso e ficar numa casa em que o seu vizinho de porta é o Paul McCartney?! Um cara me disse isso, e foi como ganhar na loteria em termos de probabilidade. Parecia um sonho se realizando, e deveria haver um Deus que olhou para mim lá de cima e disse: ‘Vou lhe surpreender’ (risos). Lá estavam nossas casas lado a lado! Nós nos conhecemos e conversamos bastante… Sabe, enquanto eu estava em casa reunindo partes das músicas, eu via o Paul saindo de carro! (risos)

No ano seguinte, eu aluguei novamente a mesma casa, já no fim do verão, em agosto, e com o disco finalizado. Minha esposa deu uma cópia de All Your Life: A Tribute to the Beatles Recorded at Abbey Road Studios, London ao Paul, e não sei dizer se ele ouviu, mas creio que sim. Avancemos sete anos no tempo, e eu tenho uma nova ideia: fazer uma produção mais elaborada, e para isso eu teria de usar o meu estúdio e tocar sozinho todos os instrumentos. Havia tudo ao meu alcance: guitarras, teclado, percussão, bateria… Então eu tinha 95% do que precisava para fazer Across the Universe.

E eu havia perguntado daquela maneira porque você era um garoto e, depois, um adolescente quando os Beatles estavam na ativa, de 1960 a 1971. Ou seja, deve ter sido mágico viver tudo aquilo…
Meola: Minha irmã é sete anos mais velha do que eu, e foi ela quem levou o Meet the Beatles (1964) para casa. Eu tinha 9 anos de idade, e ela, 16, e me lembro que amei o disco. Achei sensacional! Ao mesmo tempo, havia The Beach Boys, The Byrds, The Who e outros tocando nas rádios… Foi o período mais criativo e incrível para a música pop, muito enérgico e vibrante. Os anos 1950 já não foram assim. Eu era muito criança para então lembrar (N.R.: Meola nasceu no dia 22 de julho de 1954), mas na década de 1950 não houve nenhum som inovador como nos anos 1960, então eu cresci numa década muito inspiradora.

Voltando ao Across the Universe, devo dizer que adorei o fato de você ter escolhido algumas músicas não óbvias, como Mother Nature’s Son, Your Mother Should Know e Julia. Qual foi o critério adotado?
Meola: Eu olho para as músicas e assim as analiso da seguinte maneira: vejo os acordes e como posso sincopar os movimentos harmônicos, e às vezes analiso como posso pegar a harmonia dos acordes e tocar a melodia dentro deles mesmos, como pegar um ritmo 4/4 e trocar por um 3/4, e vice-versa. Fico brincando com isso até chegar numa forma interessante, mas ao mesmo tempo sempre respeitando a estética da melodia. Como em Hey Jude e Yesterday, músicas que nunca havia pensado em tocar porque, embora eu ame as duas, sempre achei muito clichê. Isso porque muita gente já as tocou e gravar, e se alguém for fazer isso, então tem de fazer de uma forma que goste da versão final. Na minha concepção, e falando especificamente de Hey Jude, lembre-se de como Paul toca piano nela, porque a maneira como ele toca é linda! Na verdade, ele fez isso em várias das músicas que compôs, mas não ficaria bom se eu fosse fazer dessa forma, porque não tenho aquela voz e nem as letras, então o que sobra é o piano tocando acordes em semínima. É lindo como os Beatles fizeram, mas eu não poderia porque ficaria saltando de uma forma nada interessante, afinal, os elementos mais interessantes, que são a voz e a letra, não estariam ali. Restaria uma canção muito simples. Assim, a maneira de adicionar o meu tempero às músicas foi mudar o ritmo, e me refiro a harmonias arpejadas, não à melodia. Eu costumo separar a melodia em um lado do autofalante e fazer um ritmo mais complexo na guitarra no outro lado, e isso me permite manter a melodia próxima do que as pessoas lembram da original, e trabalhei assim mais em Across the Universe do que no primeiro disco. Fiz um esforço consciente de tocar de forma que as pessoas saibam que melodia é aquela, enquanto eu adiciono por trás algo mais próximo do meu mundo.

E há uma mistura interessante de outras músicas dos Beatles em Golden Slumbers, como Carry the Weight e You Never Give Me Your Money. Como foi trabalhar nesses arranjos?
Meola: Eu já tinha um pouco disso no All Your Life…, como se fosse um medley, e agora foi porque Golden Slumbers tem menos de dois minutos. A versão original é curta, mas é tão bonita, e todos que ouvem falam isso, que acaba muito rápido. Deixa aquele desejo de quero mais, então eu a estendi um pouco mais e adicionei algumas partes. Lembro-me que essas três músicas estariam juntas no lado B do All Your Life…, aliás. Agora, a guitarra no início faz as vezes do vocal, ou seja, é mais cantante enquanto o violão tem menos esse timbre vocal. Fiquei feliz em fazer assim porque parti da versão original e precisava encontrar um caminho no meio para reunir o que queria fazer, mas mantendo a original, que é maravilhosa. Se você ouvir com atenção, irá perceber duas abordagens acontecendo simultaneamente, e não foi fácil fazer isso. Embora essa música não tenha a intenção de ser complexa, eu precisava trabalhar para mesclar as duas formas e dar certo. Foi bastante interessante, e é a única faixa em que tive esse tipo de desafio.

E em cima do que você falou anteriormente, meu sentimento a respeito de Strawberry Fields Forever é que você transformou um clássico absoluto numa canção bem particular, especialmente por causa dos novos arranjos. Faz sentido?
Meola: Sinto-me muito próximo de Strawberry Fields Forever! Amo demais essa música e posso ouvi-la diariamente, cinco ou dez vezes por dia para o resto da minha vida. A versão original é arrebatadora, e outra que amo é I Am the Walrus, que regravei em versão acústica no primeiro tributo. Essas duas músicas eram tão avançadas para a época… Creio que eu estava no colegial quando elas foram lançadas, mas lembro que fiquei impressionado (N.R.: Strawberry Fields Forever saiu como single em 1967, e I Am the Walrus está no álbum Magical Mystery Tour, lançado no mesmo ano). Depois de tantos anos ouvindo e tocando outras coisas, quando voltei a escutá-la, fiquei novamente impressionado! Aqueles caras estavam na casa dos 20 anos e fazendo músicas muito engenhosas, tanto que se deram o luxo de não fazer mais turnês e apenas tocar num estúdio todos os dias, e com George Martin sendo o adulto na sala, um produtor com treinamento clássico. Sua introdução de instrumentos de sopro e efeitos sonoros era exatamente o que os Beatles queriam fazer para expandir, então eles pensavam muito para frente. Não havia outra banda popular naquela época que tivesse a coragem ou a visão de aprofundar sua música como os Beatles fizeram. Aqueles caras foram inovadores e, 50 anos depois, ainda são! Não tentei fazer algo melhor, mas apenas a minha versão, porque não tem como fazer melhor do que o original. Eu queria algo com o meu tempero misturado ao que eu amo sobre os Beatles.

Por outro lado, você fez uma versão acústica de Yesterday com enorme respeito à beleza da original, e o mesmo vale para Here, There and Everywhere, que, corrija-me se eu estiver errado, carrega um pedaço de Yesterday. Creio que há uma conexão entre elas para você…
Meola: Elas são harmonicamente muito ricas. Quando eu estava aprendendo a tocar guitarra, meu professor era um guitarrista de jazz. Eu não o escolhi, na verdade, mas era o professor disponível na escola, e era um cara bem old school do jazz, mas que amava essas duas músicas e, também, Michelle. Quando se analisa as músicas de Paul McCartney, você encontra melodias lindas e harmonia, e é disso que se trata: esses elementos reunidos. E não podemos desconsiderar a qualidade das vozes dos quatro, que são lindas! Eles aperfeiçoaram e viveram sua música 24 horas por dia, sete dias por semana. E não tinham distrações digitais e tecnológicas como a geração atual tem.

Aproveitando que você mencionou Michelle, devo dizer que se trata da música mais importante dos Beatles para mim, e sua versão dela em All Your Life… ficou bem interessante.
Meola: E Michelle é uma música muito bonita. Fazendo uma retrospectiva agora, acredito que eu devia ter incluído um pouco mais da melodia principal na minha versão. O All Your Life… foi levemente ‘avant garde’ em comparação a Across the Universe, no qual eu me mantive mais próximo das melodias como as conhecemos. Em Michelle, eu levei a melodia para um espaço diferente. Ainda adoro a versão que fiz, mas é música uma que eu gostaria de ter dobrado a melodia no início ou incluído como parte da harmonia.

Eu gostaria de falar de mais duas músicas de Across the Universe, e a primeira é Dear Prudence, porque o trabalho de violão e as harmonias vocais são fantásticos…
Meola: Ah, os vocais são meus e da minha filha de 22 anos. Ela ficou aborrecida porque queria cantar a música toda, e eu disse não (risos). Não dá para fazer coisas óbvias, até porque não se trata de apresentar uma nova vocalista. As pessoas já tocaram essa música umas cinco milhões de vezes, então eu quis fazer algo menos óbvio. Em uma parte dela na qual a letra se repete, um fragmento de uma parte dentro dessa parte, começaríamos com ‘Go round, round, round…’; depois a parte do refrão numa parte; e aí o fragmento de uma peça dentro da peça, que, na verdade, é um exercício de palhetada para guitarristas, porque tem saltos enormes. É necessário muita prática (risos).

A segunda e última é Octopus’s Garden, porque a sua filha Ava deu uma beleza a ela…
Meola: É a minha filha de 4 anos! Na época da gravação, ela tinha 3 anos, então a imagine com fones de ouvido, sentada no banco de trás do carro enquanto eu escutava Octopus’s Garden no som… Bom, eu a ouvi cantando essa música perfeitamente afinada, e quando o solo de guitarra começou, Ava imitou o solo quase no tempo certo, e eu pensei: ‘Meu deus, preciso ligar o gravador!’ (risos). Fiz isso e peguei vários takes dela cantando, porque ela cantava o tempo todo e não sabia que eu estava gravando. Quando levei as gravações para o estúdio, meu engenheiro de som disse que eu não poderia lançar como estava, porque era a versão original no fundo. Dava pra ouvir a voz do Ringo lá atrás, então isolamos a voz dela o máximo possível, e eu gravei por cima para que não houvesse nenhuma infração de direitos autorais. Todo mundo adora essa versão, e nossa ideia era colocar um sorriso no rosto das pessoas.

Como estamos encaminhando para o fim, tenho algumas perguntas gerais. Lembro-me que uma vez você disse que, nos anos 1960, um guitarrista não era aceito se não tocasse como Eric Clapton, Jimi Hendrix ou Jimmy Page. É uma declaração interessante, porque você seguiu um caminho musicalmente completamente diferente e ainda assim se tornou um dos maiores guitarristas de todos os tempos…
Meola: Mas era frustrante na época do colégio, quando havia todas aquelas bandas com guitarristas tocando determinado estilo ou sendo consistentes com o que os grandes guitarristas estavam fazendo e tocando à época. Eu vim desde criança de estudar com um cara do jazz, que me ensinava escalas… Ainda que eu adorasse o som do rock e tivesse guitarras elétricas, eu não fazia nada voltado ao blues, e minha mão esquerda e meus dedos tocavam algo mais escalado, o que não era necessariamente bacana para o rock e o pop daquele período. E era o que aquelas bandas locais estavam curtindo. Eu era um tipo meio obscuro de guitarrista, porque, por exemplo, se você olha para alguns desses caras do rock, seja o Clapton ou qualquer outro, eles nunca usaram o dedo mindinho para tocar. Nem mesmo única vez! Eles usam o primeiro e o terceiro dedos a maior parte do tempo, e às vezes o segundo dedo, mas o mindinho não justamente porque nunca tocaram uma escala.

Al DI Meola

Amo a maneira como eles tocam, é claro, e comprava discos do Led Zeppelin no começo, álbuns que ainda ouço, e o mesmo vale para The Who e outros grupos que cresci ouvindo, mas eles têm uma base de blues, e muito do que eles tocavam não era nada próximo do que eu aprendi quando comecei, aos 9 anos. Quando fui para a escola de música de Berkeley, eu já estava engrenado nessa forma de tocar. O Chick Corea tinha uma fita minha tocando algumas coisas, obviamente bem mais complexas do que qualquer coisa que estavam fazendo no rock e no pop, e eles gostaram de mim porque eu soava como um guitarrista de rock, mas que tinha o conhecimento de algo além disso. Se você não tem a habilidade de ler música, devo dizer que isso é muito importante… Eu penso assim: se você quer tocar música complexa, então tem de aprender a ler tablatura e conhecer as escalas para desenvolver sua técnica. Isso foi necessário naquela época e me colocou na posição em que alcancei com o Return to Forever.

Aproveitando que você mencionou o Return to Forever, uma curiosidade minha: em 2004, durante uma entrevista que fiz com Richie Kotzen, ele me disse que Stanley Clarke e Lenny White queriam voltar com o Return to Forever, mas que você não estava interessado. Assim, a ideia acabou virando o Vertú com o próprio Kotzen, que foi uma indicação do Allan Holdsworth ao Clarke…
Meola: Não, nada disso. Longe de ser verdade, e o Vertú nem mesmo era com o Chick Corea. Eram somente Stanley e Lenny e, honestamente, era um projeto muito fraco. Eu não fui convidado e, mesmo que tivesse sido, não teria interesse em participar… Ou melhor, talvez eles tenham mesmo falado comigo, e eu disse que não estaria interessado a menos que Chick estivesse envolvido. Eu nunca faria um falso Return to Forever. Na memória dos fãs, eu, Stanley, Lenny e Chick somos a banda.

Para terminar, algo que sempre quis perguntar a você: dos ensaios aos concertos e ao pós-show, quais são suas memórias de Friday Night in San Francisco (1981), aquele disco incrível com John McLaughlin e o saudoso Paco de Lucía?
Meola: Isso é algo que aparece diariamente na minha vida há 40 anos! E é semelhante ao que me recordo dos Beatles, porque todos os dias eu penso nos Beatles da mesma maneira que todos os dias eu penso ou ouço algo sobre esse trio de guitarras. Foi um momento musicalmente histórico… Nós tocamos todas as noites durante dois meses, e foram os últimos shows, aquelas duas noites em São Francisco, os melhores momentos. Quando se toca por dois meses com esses caras, amigos mesmo, é absolutamente incrível! E o diálogo entre as músicas era ótimo, e não era apenas sobre técnica. Era também sobre como compensávamos uns aos outros com nossas interseções, o que gerou um valor extremamente alto e duradouro, uma vez que o público fala desse disco até hoje em todo o mundo. Acredito que Friday Night in San Francisco vendeu facilmente umas sete milhões de cópias, e a boa notícia que tenho para você é que será lançado um ‘Saturday Night in San Francisco’ com as outras músicas, que estão guardadas há 40 anos! Eu costumo falar em lançá-las, mas por alguma razão eu não conseguia a aprovação de todos para isso. No entanto, agora eu e John finalmente decidimos lançá-lo.

Essa é uma notícia incrível! Friday Night in San Francisco é um dos meus discos favoritos em todos os tempos, e eu nem sei tocar guitarra ou violão (risos). Lembro-me, porém, de comprar o vinil nos anos 1980 e ficar alucinado toda vez que escutava…
Meola: O disco é mesmo inacreditável! Depois de todos esses anos, eu voltei a ouvi-lo e não consigo acreditar na quantidade de energia… Algumas daquelas músicas, em sua velocidade original, estão além de qualquer coisa que se possa imaginar! Você vai adorar o ‘Saturday Night in San Francisco’, porque é a mesma coisa, só que com outras músicas e, claro, gravada num sábado! (risos) É legal demais! Eu ouço e penso: ‘Meu Deus, eu nunca mais conseguirei tocar assim de novo!’ (risos). Há uma super velocidade na maneira como tocamos, mas era totalmente musical, e a beleza do trio era que estávamos tentando impressionar uns aos outros. O público estava lá, mas queríamos nos mostrar um para o outro, o que nos fazia tentar melhorar mais e mais como instrumentistas.  Assim como John Lennon e Paul McCartney, porque John aparecia com Strawberry Fields, aí Paul ia para casa e voltava com Penny Lane (risos). Se não houvesse essa competição saudável, não teríamos tido os Beatles, não haveria o nível de composição que veio daqueles dois. Posso dizer o mesmo sobre Paco, John e eu, porque com a minha banda eu não tenho esse tipo de competição, e esse tipo de coisa nem me importa mais. Quando se toca com outros guitarristas, surgem novas e diferentes qualidades, mas hoje, nesse estágio da minha vida, para mim é mais sobre composição e menos sobre competição.

Muito obrigado pela entrevista, Al, e o espaço final é todo seu para acrescentar o que quiser.
Meola: Eu gosto muito de tocar no Brasil! Em 2019, tocamos no Montreux Jazz Festival, no Rio de Janeiro, e foi um grande público! Estava tão bem organizado para um primeiro evento do tipo que fiquei impressionado! O Brasil é um país com músicas e culturas tão diversas, e vocês devem se orgulhar disso. Espero retornar logo, e muito obrigado pela entrevista e pela atenção que deu ao disco.

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