NOME COMPLETO: Vincent Damon Furnier
NASCIMENTO: 4 de fevereiro de 1948, em Detroit (EUA)
BANDAS QUE INTEGROU: Alice Cooper, The Spiders, Nazz e Hollywood Vampires
I’m Eighteen: “Inicialmente, ela era apenas uma jam, algo que fazíamos para aquecer antes de tocar e ensaiar. Então, produtor Bob Ezrin ouvia isso todas as noites e nos questionou o que seria aquela nossa música de aquecimento. Respondi que eram apenas alguns acordes jogados e ele perguntou se o nome era ‘I’m Edgy’ (eu sou nervoso). Eu disse que não, que seria ‘I’m Eighteen’. Aí ele disse que teríamos que transformá-la numa música de verdade e gravá-la, que precisaria ser algo bem básico porque iria pegar o público de jeito. Falei que iríamos tentar e começamos, mas ele, então, nos disse para deixar a coisa mais simples, somente com acordes, algo em que não tínhamos pensado. Ele a via desta forma e então tocamos como ele falou. Acabou virando nosso primeiro hit. A letra, quando fala ‘I’m Eeighteen’, significa que ele é um jovem e é um homem, que não pode votar, mas pode ir à guerra; que não sabe o que fazer com uma garota, mas sabe o que quer fazer. É algo em que ele se sente totalmente confuso, mas gosta daquilo. Ao invés de colocar ‘eu odeio’, algo que todo mundo poderia esperar quando digo ‘tenho 18 anos e…”, coloquei ‘eu gosto’. Eu sabia que esse seria o gancho do que se tornou o nosso primeiro hit.”
Álbum: Love It to Death (1971)
Be My Lover: “Uma música bem simples que veio de Michael Bruce. A estrutura de acordes é realmente bem simples, mas acredito que a letra seja importante, porque foi uma época em que todos os pais estavam confusos sobre quem e o que era Alice Cooper. Por isso, a letra traz aquela parte ‘O nome do vocalista era Alice / Eu disse: escute, querida / Você provavelmente não iria entender’. Claro que eu quis mexer ainda mais com isso e tirar sarro de nós mesmos. Apesar de eu ter falado sobre a simplicidade dela, quando a tocávamos ao vivo o público enlouquecia.”
Álbum: Killer (1971)
School’s Out: “Esta é como um hino nacional. Eu me questionei sobre quais seriam os dois momentos mais felizes quando se é uma criança. Bem, uma é a manhã de natal, quando se tem aquela expectativa de abrir os presentes. A outra é quando você está no último dia de aula antes do início das férias e às 15h é o horário de encerramento. Então, você está lá, nos últimos cinco minutos, e então, quando toca o sinal de saída, sente-se totalmente livre e comemora. Eu queria captar esse sentimento, aquele momento, a alegria de tudo aquilo. Sabia que se conseguisse reunir tudo isso, a música seria lembrada por todos os jovens… Para sempre! Daqui a cinquenta anos poderão cantar School’s Out porque ainda fará sentido para eles. Muita gente achou que era algo subversivo, mas é uma música alegre. Lembro-me que quando a compusemos éramos todos fãs dos Yardbirds, então quem ouvir mais atentamente vai notar algo de Jeff Beck lá.”
Álbum: School’s Out (1972)
Elected: “Ela era sobre Nixon, que todo mundo odiava (N.R.: Richard Nixon foi o primeiro e único presidente dos Estados Unidos a renunciar do cargo). Eu, naquela época, era provavelmente o principal personagem do rock’n’roll. Era como um Marilyn Manson multiplicado por dez para o público. Para os jovens eu era um vilão do rock’n’roll, era o cara legal, mas os pais deles não tinham digerido ainda o que era Alice Cooper. A única coisa que eles sabiam era que aquele personagem era perigoso. Assim, a última pessoa que poderia ser presidente dos Estados Unidos era eu, até mais que Nixon (risos). Assim, nós tiramos proveito disso. Mas a ideia real do instrumental desta música era prestar uma homenagem ao The Who e a Pete Townshend, que era um de nossos heróis. Eu disse à banda para iniciarmos a música do jeito que Townshend faria.”
Álbum: Billion Dollar Babies (1973)
Welcome to My Nightmare: “Esta foi a primeira música que compus quando estava sem a banda. Foi a primeira da carreira solo. Eu tinha a ideia para um show, que seria uma criança de 7 anos de idade que não conseguiria acordar de seu pesadelo. O que aconteceria nesse pesadelo? A concepção dos personagens partiu daí. O título não poderia ser ligado a algo usual no rock’n’roll, mas a uma coisa mais fantasiosa e que causaria impacto no público, o levaria para dentro quando se escutasse o instrumental. Bob Ezrin e eu levamos muito tempo fazendo este disco até que sentíssemos que havia ficado do jeito que queríamos. Era uma grande responsabilidade, porque era o primeiro disco solo e tinha que ser algo único. Alguns não conseguiram o êxito que esperavam com o primeiro solo. Até Mick Jagger… Além disso, nosso show teria que ser algo grandioso, até maior que o de Billion Dollar Babies. De fato, o risco era grande, mas todo o dinheiro que eu tinha até então foi investido naquele show. Se falhasse, eu teria que recomeçar do zero. Ainda bem que funcionou…”
Álbum: Welcome to My Nightmare (1975)
Go To Hell: “Eu tinha que achar outro lugar para colocar Alice depois de Welcome to My Nightmare. Esta seria a sequência e então eu pensei em fazer com que Alice se visse dentro do inferno e pensasse em como iria sair de lá. Ele tinha que ser mais que o diabo. Claro, tinha muito senso de humor dentro de toda aquela concepção. Veja, o show seria ainda mais grandioso, mas eu realmente estava exausto após a turnê de Welcome to My Nightmare e precisava tirar um ano de férias. Lembro que em determinado momento daquela turnê nós fizemos 65 cidades em 72 dias, num show de duas horas de duração. Era um show complicado, sem intervalo. E naquela época eu bebia bastante. Assim, quando ela se encerrou eu realmente estava acabado. Precisava descansar. Não consegui nem pensar direito em como seria um show para Alice Cooper Goes to Hell.”
Álbum: Alice Cooper Goes to Hell (1976)
Inmates (We’re All Crazy): “Compus esta música logo depois de sair do hospital, quando passava por problemas com o álcool. Depois que saí, falei com Bernie Taupin, um de meus melhores amigos e que também escrevia letras. Eu contei a ele que as figuras que tinha visto naquele asilo insano em que eu estava internado dariam um bom tema. Eu disse a ele que precisava listá-los e fazer algo em cima disso. Então, ele me ajudou com as letras. Começamos a escrever e aquilo virou um pingue-pongue. Eu escrevia uma frase e ele completava com outra. O mais legal desse processo é que ficou parecendo um desafio entre nós. Ele escrevia e eu tinha que achar algo que combinasse logo abaixo. Então, em um momento, começamos a terminar as linhas com algo que não daria para ter rima (risos). Uma que ele usou foi ‘orange’. Aí, parei, fiquei olhando aquilo e falei: ‘Você quis dizer ‘door hinge’? Caímos na risada.”
Álbum: From the Inside (1978)
Prince of Darkness: “Essa eu compus com Kane Roberts em uma época em que os filmes de terror sangrento estavam em alta. O mais curioso é que eu e Kane víamos filmes assim todas as noites. Aí, comentei com ele que a coisa que menos queria naquele disco era uma balada. Eu queria mostrar que Alice estava de volta, mais perverso que nunca. Eu estava sóbrio, então o personagem Alice não poderia ser nada melancólico e trágico. Ele tinha que ser aquele vilão. Por isso, os álbuns Constrictor e Raise Your Fist and Yell tiveram aquela tendência mais pesada do hard rock. Claro, com bastante melodia no metal. Nós, então, compusemos Prince of Darkness antes mesmo do filme de John Carpenter. Para mim, ela é provavelmente a melhor música do disco. Kane Roberts tinha aquele visual na linha de Stallone, mas o cérebro de Jerry Lewis. Ele foi o cara mais engraçado com quem já trabalhei na minha vida. Ele tinha aquela pinta de bravo, mas era muito divertido. Além disso, foi um dos melhores guitarristas com quem toquei. Ele podia ser tão bom quanto Eddie Van Halen, mas as pessoas ficavam mais impressionadas pelo físico do que com ele tocando. Eu sei que ele poderia tocar coisas que Steve Vai estaria tocando.”
Álbum: Raise Your Fist and Yell (1987)
Poison: “Era outra época e eu sabia o que estava rolando no rádio, que eram coisas de Mötley Crüe, Bon Jovi e um Aerosmith bem diferente do que eu estava acostumado a ouvir. As músicas eram boas. Muito boas! Comecei a esquisar aquilo e sempre via o nome Desmond Child ligado a algumas destas que estavam em alta. Aí eu pensei comigo: ‘Esta é a chave, este é o cara.’ Então, me encontrei com ele e falei para ele fazer o mesmo que tinha feito com Bon Jovi e Aerosmith, mas que precisava ser um pouco mais obscuro, sexy e deveria manter a personalidade de Alice. Queria mesmo algo que, se tocasse no rádio, não sairia da cabeça do ouvinte. Bem, nós então sentamos e compusemos Poison, que tinha tudo aquilo que eu havia dito e estava buscando. Era sombria, sexy e marcante. Trabalhei muito bem com Desmond, que produziu Trash, um disco que tenho muito orgulho em ter feito.”
Álbum: Trash (1989)
Feed My Frankenstein: “Esta não foi criada por mim. Me mostraram a música e eu achei legal, mas queria fazer algumas pequenas mudanças na letra. Assim, entramos em contato com Zodiac Mindwarp (N.R.: um dos compositores da música original) para falar sobre essas alterações. Ele concordou na hora e disse que não terianenhum problema em mudar algo na letra. Fiquei muito contente quando ela foi escolhida para o filme ‘Wayne’sWorld’ (‘Quanto mais Idiota Melhor’). Meu assistente pessoal Kyler Clark é quem faz o personagem Frankenstein nos shows hoje em dia. O melhor de tudo é que quando ela começa, o público fica maluco!”
Álbum: Hey Stoopid (1991)
Nothing’s Free: “Quando comecei a compor The Last Temptation, eu passei a ver as coisas por outro lado, pelo ponto de vista cristão. Assim, o diabo não era algo para se olhar, mas para se evitar. Existe a fascinação pelo oculto, pelo diabo, mas ele é a fonte de tudo que está errado. Se você começa a acreditar nisso e aceita, ele o pega do jeito que queria. Nada é de graça. O modo como mostram o diabo é aquela coisa produzida por Hollywood, que é algo amedrontador, grande, mas ele é aquele cara mais boa pinta, um Brad Pitt vezes dez. Ele não irá parar de enchê-lo de elogios, falar coisas como ‘você é o melhor do mundo’ e dizer o quanto gosta de você. Assim, você estará com ele, concordará com tudo e passará a elogiá-lo também. Ele perguntará o que você quer. Se quer aquela garota, ele arrumará para você. Uma Ferrari? Claro! Mas nada é de graça… E, no final, ele quer a sua alma, mas faz tudo parecer isso tão atraente. Então, essa imagem de Satã ser assustador é a versão hollywoodiana, pois a versão bíblica é muito diferente. Ele é o pai das mentiras, o grande enganador, e vai lhe dizer tudo que você quer ouvir, mas, no final, nada é de graça.”
Álbum: The Last Temptation (1994)
Brutal Planet: “Ela foi composta depois que vi o que estava acontecendo na África, com as tribos literalmente se matando. Aquilo era basicamente um genocídio. E vi a foto de um sujeito pegando ossos e colocando-os dentro de uma sacola. Era a família dele. Fiquei pasmo, pensando comigo onde havia parado o mundo moderno. Aquilo era algo visto em 1870 e não naquela época. Foi quando me veio na mente, é um planeta brutal. Vivemos numa sociedade em que existem lugares mais isolados onde a vida é muito dura, não vale nada. Nada importa, as pessoas são brutais e se você não é o mais forte, você morre. Aí eu escrevi sobre essas coisas de um planeta da forma mais brutal que poderia ser. O grande ponto era fazer com que as pessoas acordassem, prestassem atenção naquilo, porque vivemos em um mundo confortável, mas a maioria está em apuros. Não estou falando de meio ambiente, mas de pessoas violentas, que fazem deste um planeta selvagem. Por isso, o disco é bem pesado. O compus com Bob Marlette, que também trabalhou comigo em Dragontown.”
Álbum: Brutal Planet (2000)
Disgraceland: “Eu queria escrever algo sobre Elvis, um ícone. E quando você se torna um, tudo o que faz saí nos jornais, na mídia. Não faz mais nada que não vire notícia. Falo de pessoas como Elvis Presley, Michael Jackson, essas pessoas que geram notícias em qualquer área. Nós vimos Elvis mudar do cara perfeito para aquele sujeito fora de controle, que engordou, estava tomando drogas sendo contra as drogas. Não fazia mais sentido. Ele estava se autodestruindo na frente de todo mundo. Ele se deixou levar e acredito que buscava a autodestruição, porque queria fugir de ser Elvis Presley. Ele morreu e deixou o público parar de se importar com o que ele fazia. Foi a saída dele. Assim, Disgraceland não era sobre o fato de ele ser uma desgraça, mas sobre colocarem-no dentro de uma mansão tendo qualquer coisa à sua disposição. Pode ser qualquer garota, drogas, tudo o que quiser, contanto que você não saia da mansão. Você vai encontrar uma maneira de tirar a sua vida, porque lhe tiraram o direito à liberdade e você precisa achar aquele espaço e preenchê-lo. Então, vai se encher de comida, de drogas e tudo mais, até que logo estará louco ou morto. Quando me encontrei com Elvis, pensei comigo que nunca queria ficar daquele tamanho no sentido de não ter mais a minha liberdade para ir ver um filme, de sair para fazer compras, de jogar golfe, de comer num restaurante… De que adianta ter todo dinheiro do mundo e não ter liberdade?”
Álbum: Dragontown (2001)
Between High School & Old School: “Ryan Roxie e eu a compusemos pensando no sentido de que o rock’n’roll ainda é uma música jovem, para adolescentes. Mas, apesar de eu ser um cara com mais de 50 anos na época, eu pensava como um adolescente. Então, eu estava entre a nova e a velha escola. O rock’n’roll à moda antiga para mim é uma realidade, mas para o público que vê um show pela primeira vez é uma coisa totalmente nova.”
Álbum: The Eyes of Alice Cooper (2003)
Paranoic Personality: “Todo mundo tem um amigo que gosta de uma teoria da conspiração. Sempre achei isso engraçado, porque é interessante a forma de como essas pessoas ligam fatos a outros de uma forma tão absurda. Eu então escrevi uma música sobre esse cara, mas eu queria encontrar alguém para me ajudar com os ganchos, com as ligações. Então, Tommy Henriksen e Tommy Denander me ajudaram muito no processo. Quando compomos uma música, ela pode ter sempre aquele gancho que a faz seguir em frente até finalizá-la da forma que pretendíamos.”
Álbum: Paranormal (2017)
Ao final, perguntamos a Alice Cooper qual, dentre as músicas comentadas por ele especialmente para esta seção, seria a que melhor o identificaria para gerações futuras: “School’s Out. Ela é um rock pesado, é implacável, tem senso de humor e, ao mesmo tempo, faz sentido para todos os jovens. Ela será eterna, assim como My Generation, do The Who. Se você tocá-la para alguém de 16 anos de idade hoje em dia, ele lhe dirá: ‘Sou eu!’ A música tem mais de cinquenta anos e ainda faz sentido para um adolescente, da mesma forma que School’s Out.”