Por Thiago Rahal Mauro
Fotos: Roberto Sant’Anna
O Alter Bridge é uma daquelas bandas que você ama ou odeia. É também uma das últimas criadas nos últimos 20 anos onde o foco é na canção. Melodia, bons riffs, solos, ponte e refrão cativante. Sem parafernalhas no palco, somente os músicos e as músicas. Dito isso, muitos fãs brasileiros encheram o Espaço Unimed, em São Paulo, na última quarta-feira, 8 de novembro, para uma data única da Pawns & Kings Tour, turnê que divulga o último álbum “Pawns & Kings”, lançado em 2022 e que teve boa aceitação da crítica e do público.
Pontualmente, às 21h, Myles Kennedy (vocal e guitarra), Mark Tremonti (guitarra e vocal), Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria), começaram o show do Alter Bridge com Silver Tongue, uma das melhores faixas do último álbum. Impressionante foi a altura que estava de todos os instrumentos, um dos shows com maior potência que vi nos últimos anos aqui no Brasil – não estava no show do Manowar, mas sei da altura do show deles. Para contextualizar, vale lembrar que com o fim do Creed, em 1999, Tremonti, Marshall e Phillips resolveram iniciar uma nova banda. Após ouvir Myles Kennedy, Tremonti o recrutou para assumir os vocais do novo grupo Alter Bridge. Mais de 20 anos depois, muitas pessoas ainda falam sobre a banda em tom de deboche, o que acho uma besteira descomunal, basta ouvir as músicas e ver o quanto são excelentes. Curiosamente, em 2023, o Creed anunciou seu retorno com uma turnê a ser iniciada em 2024. Talvez, este fato, fez com que os fãs fossem ao Espaço Unimed em peso e muitos perguntam. Qual será o futuro do Alter Bridge agora? Fãs questionam o tempo todo.
“Addicted to Pain”, de “Fortress”, veio na sequência e colocou a casa abaixo. O refrão marcante foi cantado em uníssono pelos fãs. Depois, veio a primeira surpresa da noite. “Ghost of Days Gone By”, de “AB III” (2010), foi apresentada para os fãs de São Paulo. Esta faixa não estava sendo tocada nos últimos shows da banda em agosto. Os fãs mais antigos da banda fizeram muito barulho com a escolha dela.
Já em “Sin After Sin”, do último disco, o interessante foi notar o peso e o duelo de guitarras de Tremonti e Myles. Aliás, muitos só falam sobre a questão vocal de Myles Kennedy, mas ele é um baita guitarrista e compositor. Em “Broken Wings”, um hit da banda, é possível perceber aquilo que disse no início do texto. Aquelas faixas onde o fã canta do início ao fim e pega. Letra muito introspectiva inclusive.
Em “Burn It Down”, Mark Tremonti vai para o vocal e mostra toda sua habilidade. Quem acompanha os projetos solos do guitarrista sabe que ele é um ótimo cantor e aqui no Alter Bridge não deixa de ser diferente. Myles Kennedy mais uma vez mostrou seus dotes como guitarrista. O vocalista, inclusive, é quem inicia “Cry of Achilles”, uma das músicas mais intrincadas da banda. É muito legal ver essa faixa ao vivo pela variação e o quanto os músicos são entrosados.
Após a catarse veio o momento mais introspectivo da noite. Myles Kennedy ficou sozinho no palco e com seu violão tocou e cantou “Watch Over You”, que teve ajuda do público principalmente no refrão (lembram do que disse lá no começo do texto, então…). Na sequência, Tremonti volta para o palco e ao lado de Myles tocam a balada “In Loving Memory”, uma linda música e que de certa maneira acaba sendo um hino para quem quer lembrar de algum ente querido que se foi.
“Blackbird” é mais um daqueles hinos do Alter Bridge que os fãs sabem a letra de cor. Seu início calmo se contrasta com a potência do refrão. Uma das melhores faixas da banda com toda a certeza. “Come to Life” seguiu o show em alta e aí mais uma surpresa da noite chegou para alegrar os fãs mais hardcore da banda. Um fã que estava na grade pediu insistentemente para a banda tocar a música “Lover”, do álbum “Fortress”, então Myles Kennedy num momento ímpar começou a cantar a música, sem ensaio, apenas lembrando da cabeça. A banda então começou a seguir o vocalista e tocou a faixa quase que completa. Foi um ensaio aberto praticamente. Para quem é fã, isso foi um momento único e que poucas bandas fariam.
A primeira parte do show terminou com “Pawns & Kings”, a pesada “Isolation” e o clássico “Metalingus”, que foi muito bem recebido pelos fãs. Em determinado momento, Myles começou a parabenizar os fãs que estavam na grade pelo aniversário. Ele ficava tentando ouvir o nome do aniversariante e a galera que estava do lado começava a gritar. Isso prova o carisma do vocalista.
Após o Bis, a banda voltou do palco e apresentou os clássicos “Open Your Eyes” e “Rise Today”, com os músicos realmente emocionados pela participação do público que encheu o Espaço Unimed e mostrou para todos que a banda tem muitos fãs no Brasil. Uma pena ter sido apenas um show no país.
Agora cada um das partes seguirá seus projetos e torcemos para que o Alter Bridge não demore muito para um novo álbum de estúdio. Mark Tremonti (guitarra e vocal), Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria) seguem com o Creed e Myles Kennedy em turnê com Slash (com passagem pelo Brasil já confirmada em janeiro). O Alter Bridge provou ser mais uma daquelas bandas que arrematam muitos fãs ao redor do mundo. Suas músicas falam por si só e, no fim, é isso que importa.
Setlist:
Silver Tongue
Addicted to Pain
Ghost of Days Gone By
Sin After Sin
Broken Wings
Burn It Down
Cry of Achilles
Watch Over You
In Loving Memory
Blackbird
Come to Life
Lover
Pawns & Kings
Isolation
Metalingus
Encore:
Open Your Eyes
Rise Today