Por Samuel Souza
Fotos: Dani Moreira
Inicialmente anunciado para ocorrer no dia 21, um sábado, na Fabrique, próxima ao metrô Barra Funda, o evento foi mudado, salvo engano, devido ao colapso no suposto final de semana do Knotfest 2023, que, por sua vez, foi cancelado. A mudança do dia para uma sexta-feira, e do horário sugerido (18h), não ajudou muito. Além disso, o terrível trânsito ao cair da noite em São Paulo não é para amadores. Isso nos fez perder, infelizmente, as duas bandas de abertura: Falsa Luz e Desalmado. Apesar disso, e da distância, testemunhamos um público razoável na excelente casa Vip Station, em Santo Amaro.
Já dentro da casa, com um intervalo considerável, os dinamarqueses do Hexis iniciaram sua participação pontualmente às 20h30. Com uma sonoridade tensa, pesada e perturbadora, eles tiveram problemas com o baixo volume da guitarra. Apesar das movimentações técnicas na mesa de som e no palco, a situação não mudou muito, pois o som oscilou bastante. Eles possuem uma massa musical impactante, incorporando essa mescla contemporânea do black metal com elementos do hardcore e uma dose letal de sludge.
Com uma dinâmica explosiva no palco, apostaram em uma iluminação minimalista e escura, onde o “strobe” fez a diferença. Divulgando o mais recente álbum “Aeternum”, de 2022, o setlist trouxe basicamente canções desse material, como “Memento”, “Letum”, “Accipis”, “Vulnera” e “Exhaurire”, mostrando que essa abordagem moderna correspondeu à altura às expectativas dos fãs do estilo que estavam lá, colados na grade.
Mais uma pausa longa, tive a impressão de que os belgas do Amenra não fizeram o teste de som… ou precisaram fazer os principais ajustes antes de subirem ao palco, o que causou um certo cansaço na espera. No entanto, essa espera foi compensada com uma entrega hipnótica e de extrema qualidade, que o quinteto iniciou por volta das 21h55, começando com “The Pain It Is Shapeless” do álbum “Mass III” de 2005. Foi gratificante perceber que a banda tem muitos fãs por aqui. Apesar de pertencerem a uma cena fora do comum, o público respondeu à altura, imerso na escuridão. A cada música, como “De Evenmens” e “Terziele”, era notável o cuidado em executar ideias peculiares com muita precisão. Além disso, a qualidade do som no local melhorou consideravelmente, o que ajudou muito todos a mergulharem nesse vórtice hipnótico de loucura baudelairiana.
O Amenra é conhecido por seu som intenso, opressivo e sombrio, com vocais angustiados, semelhantes ao estilo de Bethlehem, e melodias que oscilam entre a tristeza e a beleza de lidar com perdas e manter-se firme. Toda essa carga emocional que o doom metal do Amenra transmite, combinando com o sludge e elementos do hardcore, harmonizou, digamos assim, frente à dissonância, com o belo trabalho de sombra e luz da iluminação meticulosa e uma projeção de imagens turvas e disforme em uma enorme tela. Esses elementos realmente tornaram a experiência de vê-los em ação um verdadeiro espetáculo! A banda encerrou a noite com a progressão melancólica de “A Solitary Reign” e “Diaken”, ambas do excelente álbum “Mass VI”.
Um fato a destacar é o perfil do público presente, com poucos rostos familiares de outros eventos, sinal de que a diversidade musical e as abordagens das bandas envolvidas ainda são coisas saudáveis em uma cidade tão imensa como São Paulo. Pontos para a produtora Xaninho, que mais uma vez pensou fora da caixinha.