O Complexo Armazém, que fica em um dos pontos mais visitados de Fortaleza/CE, em frente ao monumental Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, já recebeu nomes como Cannibal Corpse, Testament, Suffocation, Destruction e Obituary, além de alguns pesos-pesados locais como S.O.H., Facada e Encéfalo.
Neste escaldante sábado cearense, onde a temperatura ambiente noturna nesta época do ano, oscila entre os 27º e 28º em plena orla marítima, receava-se o desconforto de dois visitantes escandinavos, certo? Errado! Por mais que o clima não fosse um amigo em comum como os muitos headbangers que estavam ali, Amon Amarth e Abbath fizeram shows memoráveis aos olhos de seus fãs.
Sem banda de abertura, o time formado por Tom Cato “King ov Hell” Visnes (baixo), Ole André Farstad (guitarra), Kevin “Creature” Foley (bateria) e o líder Abbath (guitarra, vocal) iniciou o evento na terra de José de Alencar. O “setlist” da turnê não era mais surpresa para ninguém àquela altura do campeonato, pois a banda usou sempre o mesmo repertório em cada local por onde passou. Quando as luzes se apagaram e os três músicos ocuparam seus lugares, seguido pelo extrovertido Abbath, o público já esperava “To War!”, música de seu autointitulado álbum solo, soar nos PAs.
O ex-Gorgoroth e amigo de Abbath desde os tempos da banda I, King ov Hell, não erguia apenas o seu baixo, mas também instigava a plateia com sua movimentação. E por falar em I, não passou despercebida a execução de “Warriors” que foi tocada após mais uma de sua carreira solo, “Ashes of the Damned”. O show do norueguês ainda contou com “Winter Bane”, que fechou a trinca musical de seu disco. Depois disso, a sessão Immortal tomou de conta do espetáculo. Foi uma pedrada atrás da outra, como “In My Kingdom Cold” de “Sons of Northern Darkness” (2002) que fez dobradinha com “Tyrants”. Durante esta execução, Abbath interagia mais com os fãs e mostrava o excelente “frontman” que é, fazendo suas caras e bocas e comandando os gritos da galera. A reciprocidade das pessoas aos sinais de Abbath e de King foram quase unânimes, mas à direita do palco, Ole André se mostrava um exímio guitarrista em sua técnica.
Quando os músicos tocavam “One by One”, alguém da produção falou ao ouvido de Abbath que, subitamente após a execução, se retirou com o grupo do palco “puto da vida”, sem ao menos se despedir. Da seleção de clássicos ficaram devendo “All Shall Fall”, que foi limada do setlist. Muitos falaram que o imprevisto foi gerado pelo atraso da banda em subir ao palco, mas 15min. não seria o fim do mundo para uma produtora de eventos.
Outras informações deram conta de que fiscais da prefeitura queriam barrar a festa por causa do som alto, pois a cidade passa por um “pente-fino” em favor da lei do silêncio. Porém, representantes da Liberation (produtora da turnê) e da Gallery Productions (produtora local), teriam conversado com as autoridades e, com isso, conseguiram evitar o cancelamento total do evento. Mas enfim, se alguém ficou com raiva foi pelo inconveniente, não foi pela performance da “horda” que fez um registro triunfal. Como se diz aqui pelo Ceará, o “enganchado foi grande” também antes do show dos suecos, com troca de equipamentos, hasteamento do enorme “backdrop”, passagem de som e afinação dos instrumentos… Nossa! Isso até explicaria também porque de retiraram o Abbath mais cedo do palco.
Porém, os “vikings” do Amon Amarth compensaram tudo com um set redondinho e destruidor. Aquela produção de som que deu suporte aos riffs sujos e caóticos do black metal norueguês, agora é responsável por conduzir aos ouvidos e almas do público, toda a competência, virtuose e peso bruto do death metal sueco. Não apenas o som ficou nitidamente mais limpo, mas a iluminação também deu um salto de qualidade quando Johan Hegg (vocal), Olavi Mikkonen e Johan Söderberg (guitarristas), Ted Lundström (baixo) e Jocke Wallgren (bateria) começaram seus trabalhos com “The Pursuit of Vikings” do álbum de 2004, “Fate of Norns”. A reação das pessoas foi imediata. Parecia até que todos tinham decorado a cartilha do Amon Amarth. Todo o ambiente seguia ao pé da letra as canções do setlist que continuou com “As Loke Falls”, de “Deceiver of the Gods” (2013), onde a galera acompanhou com coro as notas dos riffs.
Com um português ensaiado e esforçado, Johan saudou a todos com um “boa noite, Fortaleza! Sejam bem-vindos à nossa festa. É muito bom estar aqui com vocês!”, claro que todos responderam com energia e emoção à saudação do grandalhão de aparência ríspida, mas gente boa. Com satisfação já garantida entre músicos e público, o que veio na sequência com “First Kill” e “The Way of Vikings”, do recente “Jomsviking” (2016) foi a confirmação de uma das maiores bandas do gênero. A interatividade perdurou por todo o show. Fãs formando rodas, alguns simulando galerias de soldados remando no chão, cabeças batendo freneticamente e muitos coros alegraram a noite. Foram tantos “hey!-hey!-hey!” e “ôh!-ôh!-ôh!” que bandas como Blind Guardian e HammerFall ficariam até com dor de cotovelo.
Após mais uma do novo álbum, “At Dawn’s First Light”, o fortalezense fez o genuíno coro brasileiro: “olê, olê, olê, olê – Amon Amarth” e, claro, isso alegrou Johan que quis ouvir de cada lado os gritos mais altos dos presentes. Satisfeito, anunciou “Cry of the Black Birds” de “With Oden On Our Side” (2006). “Deceiver of the Gods”, música autointitulada do álbum de 2013, foi responsável por um dos maiores ‘circle pits’ do evento, assim como “Destroyer of the Universe”, do aclamado “Surtur Rising” (2011), que agitou completamente todas as partes do Armazém.
Após a finalização da primeira parte do show com “War of the Gods”, a banda se retira para o ‘backstage’ e retorna segurando os seus ‘horns’ para brindar à grande festa. “Tivemos que fazer essa pausa para tomar este drink em homenagem aos fãs de Fortaleza”, bradou o vocalista. Em seguida, os músicos viram em suas bocas o “hidromel” daqueles enormes chifres. O que veio adiante, foi como um golpe de misericórdia com “Raise Your Horns”, “Guardians of Asgaard” e “Twilight of the Thunder God”, para fechar a noite escandinava.
Não teria como ser diferente a visita desses dois grandes expoentes do metal ao celeiro underground de Fortaleza. Foi um dos shows mais espetaculares jamais vistos na cidade, no que diz respeito ao metal extremo. A excelência vinda do palco se casou com a energia emanada do público e, felizmente, foi mais dois shows que entraram para a história. Fica aqui uma ressalva de agradecimento ao esforço dos produtores, que dialogaram com as autoridades do município para que o evento pudesse correr até o seu objetivo. Parabéns!
Setlist Abbath
01.To War!
02.Winterbane
03.Ashes of the Damned
04.Warriors
05.In My Kingdom Cold
06.Tyrants
07.Nebular Ravens Winter
08.Count the Dead
09.One by One
Setlist Amon Amarth
01.The Pursuit of Vikings
02.As Loke Falls
03.First Kill
04.The Way of Vikings
05.At Dawn’s First Light
06.Cry of the Black Birds
07.Deceiver of the Gods
08.Tattered Banners and Bloody Flags
09.Destroyer of the Universe
10.Death in Fire
11.Father of the Wolf
12.Runes to My Memory
13.War of the Gods
14.Raise Your Horns
15.Guardians of Asgaard
16.Twilight of the Thunder God