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AMON AMARTH & ABBATH

Em sua primeira passagem pelo Rio de Janeiro, o Amon Amarth havia mostrado que estava em alta com os cariocas. Passados três anos, a banda sueca retornou ao Circo Voador para comprovar que nada mudou. Na verdade, tudo melhorou. Foi novamente recebida de braços abertos, mas com um nível de frisson que bateu com sobras o da apresentação realizada em 2014. Antes, no entanto, as portas do inferno foram abertas para que o Abbath saciasse o desejo dos fãs e matasse a curiosidade do restante do público. Com um set englobando canções do álbum de estreia, “Abbath” (2016), clássicos do Immortal e até mesmo uma amostra de “Between Two Worlds” (2006), único disco do I, Abbath (vocal e guitarra), King ov Hell (baixo), Ole André Farstad (guitarra) e Creature (bateria) ganharam gradativamente a audiência, mesmo aquela parte não muito afeita ao black metal.

E foi gradativamente, de fato. “To War!” – com partes mais tradicionais, como a sua ótima introdução, que soaram mais agradáveis aos ouvidos – só causou alguma comoção quando o chefão entrou em cena. Surpreendentemente, a primeira amostra da ex-banda de Abbath não alterou o panorama. “Nebular Ravens Winter” machucou alguns pescoços, mas nada que chegasse perto do aguardado nível de adrenalina. Parecia até que os fãs estavam se espelhando no ótimo Farstad, cuja elegância tocando tinha sequência com uma postura completamente blasé. Mas o show era mesmo do dono da bola. Ao se dirigir à plateia pela primeira vez, o guitarrista e vocalista incorporou Negan – “Eu sou Abbath. Nós todos somos Abbath” – antes de dois dos melhores momentos de sua apresentação: “Warriors” (que riff e que andamento!) e “Ashes of the Damned”, esta com uma iluminação sincronizada com o instrumental que ficou muito legal.

Talvez tenha sido o efeito estroboscópio, mas o fato é que a música seguinte acordou definitivamente o público. Com “In My Kingdom Cold”, o quarteto norueguês viu surgir a primeira roda na pista, e o efeito colateral fez com que Abbath, uma figura impagável, se soltasse ainda mais. Em “Tyrants”, que colocou todo mundo para pular, o músico aproveitou para ver qual lado da plateia fazia mais barulho, mas o fez usando e abusando dos trejeitos à la Gene Simmons que não faz a menor questão de esconder – tivesse o baixista do Kiss patenteado seus movimentos, haveria por aí um processo em que Olve Eikemo seria réu.

Mas o que importa é que finalmente estávamos num show de heavy metal, porque o black fica por sua conta, afinal, não faz a menor diferença diante do massacre proporcionado por “Fenrir Hunts”, “Count the Dead” (um riff maneiro atrás do outro), “One By One” e “Winterbane”: com ou sem ‘blast beats’, o pandemônio à frente dos músicos estava garantido. Precedida por uma hilária tentativa de Abbath de cantar o refrão de “Copacabana”, de Barry Manilow, “All Shall Fall” comprovou que a goleada no segundo tempo compensou o 0 a 0 na etapa inicial. King ov Hell, aliás, ainda ficou no palco à espera de um acréscimo, mas a preliminar havia chegado ao fim.

Sem um minuto sequer de atraso, o evento principal da noite começou com uma tremenda covardia. Sim, porque colocar “The Pursuit of Vikings” para abrir o set foi isso mesmo, uma covardia, mas daquelas para fazer o fã ter certeza de que o show entrará no rol dos inesquecíveis. Ponto para o Amon Amarth, que de cara fez o Circo Voador – muito cheio, vale ressaltar – tremer com as vozes que fizeram coro para acompanhar o riff. E não apenas isso, porque impressionou como a grande maioria dos presentes sabia cantar não apenas o refrão, mas toda a letra. E não porque estamos falando de uma música com mais de dez anos – de “Fate of Norms” (2004) –, uma vez que o resultado foi o mesmo em “As Loke Falls”, de “Deceiver of the Gods” (2013), e “First Kill”, do mais recente álbum, o excelente “Jomsviking” (2016).

Àquela altura já com um enorme sorriso no rosto, Johan Hegg aproveitou para convidar a todos para uma “festa viking” ao lado de Olavi Mikkonen e Johan Söderberg (guitarristas), Ted Lundström (baixo) e Jocke Wallgren (bateria). Não precisava. Os fãs já estavam se sentindo em casa, e os refrãos de “The Way of Vikings” e “At Dawn’s First Light”, cantados em uníssono, foram os únicos momentos capazes de interromper a absurda roda aberta na pista. Infelizmente, em alguns momentos com uma conotação pejorativa para a palavra “absurda”. Como em “Cry of the Black Birds”, na qual quem não sabe brincar resolveu descer para o playground para tentar estragar o clima.

Mas a maioria sabia brincar, felizmente, e a excelente “Deceiver of the Gods” ajudou a manter o alto astral da festa. Foi o suficiente para os fãs, aproveitando o andamento de “Tattered Banners and Bloody Flags”, transformarem a parte de trás da pista num Drakkar, sentando no chão para simular que estavam remando. Mesmo quem já viu a cena anteriormente continua achando sensacional. Pergunte para Hegg, que apontava para a plateia ao mesmo tempo em que ria como uma criança que acabara de ganhar o tão desejado presente de Natal. Ou para Söderberg, que foi para o centro do palco em busca de uma vista mais privilegiada e voltou para o seu posto sorrindo de orelha a orelha.

Enquanto “Destroyer of the Universe” e “Father of the Wolf” ajudaram a manter a pista em ebulição, “Death in Fire” serviu para uma bem-humorada provocação do vocalista. Ao lembrar que o Amon Amarth tocaria em São Paulo na noite seguinte, causando a única vaia que seria possível ouvir, Hegg pediu que os fãs completassem com vontade o nome da música, pois “a primeira tentativa foi boa, mas eu sei que vocês podem fazer melhor do que isso.” Foi prontamente atendido com um “fire” ensurdecedor, além da maior roda da noite, desta vez com quase toda a pista (exceção feita às primeiras e últimas filas) brincando de trenzinho, digamos assim.

Mais do que isso, o vocalista ainda ganhou um brinde na canção seguinte, “Runes to My Memory”: a simulação de remada contou com mais gente e foi ainda mais demorada. O suficiente para os músicos ficarem apontando uns para os outros com um baita semblante de satisfação. “War of the Gods” encerrou a primeira parte da apresentação, e uma rápida olhada para a pista foi suficiente para ver o desgaste dos extasiados fãs. Repito: era uma roda atrás da outra, uma sinfonia de bate-cabeça, um mar de mãos para o alto, vários momentos de pula-pula. E estes mesmos fãs ainda tiveram um bis matador pela frente…

O coro “Olê, olê, olê! Amon Amarth!” precedeu a volta do quinteto ao palco. Cada um dos integrantes com seu chifre-copo na mão, era hora de brindar e entornar um pouco de hidromel garganta abaixo. Era a vez de “Raise Your Horns” fazer com que os fãs esquecessem o cansaço – teve gente se abraçando, acredite. E tome pula-pula, mais um refrão cantado com vontade e, como um é pouco, dois é bom e três nunca é demais, mais uma rodada de remada. Hegg agradeceu com um entusiasmado “beautiful singing, my friends!”, e os fãs retribuíram cantando o riff de “Guardians of Asgaard” – e alguém na pista surgiu com um Mjolnir, o martelo do Thor, arrancando risos do vocalista.

Poderia ter acabado aí que tudo mundo iria feliz para casa, mas a festa viking teve seu desfecho com a porrada “Twilight of the Thunder God”, com direito a um ‘wall of death’ organizado voluntariamente pelos fãs. Cansaço? Ficou para depois. Todo mundo foi feliz para casa, realmente, mas foi com a sensação de que aquele havia sido o melhor show da vida. Empolgação que, a rigor, significa uma coisa: foi mesmo um show inesquecível.

Set list Abbath
1. To War! (Abbath)
2. Nebular Ravens Winter (Immortal)
3. Warriors (I)
4. Ashes of the Damned (Abbath)
5. In My Kingdom Cold (Immortal)
6. Tyrants (Immortal)
7. Fenrir Hunts (Abbath)
8. Count the Dead (Abbath)
9. One By One (Immortal)
10. Winterbane (Abbath)
11. All Shall Fall (Immortal)

Set list Amon Amarth
1. The Pursuit of Vikings
2. As Loke Falls
3. First Kill
4. The Way of Vikings
5. At Dawn’s First Light
6. Cry of the Black Birds
7. Deceiver of the Gods
8. Tattered Banners and Bloody Flags
9. Destroyer of the Universe
10. Death in Fire
11. Father of the Wolf
12. Runes to My Memory
13. War of the Gods
Bis
14. Raise Your Horns
15. Guardians of Asgaard
16. Twilight of the Thunder God

 

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