Por Fernando Queiroz
O notório guitarrista colombiano-americano Andy Addams, que está em turnê agora com Kiko Loureiro e Marty Friedman pela América Latina, é um grande exemplo de alguém que superou dificuldades financeiras e soube recomeçar sua carreira. Depois de um início promissor na música, Andy perdeu tudo em um negócio malsucedido com um antigo parceiro e foi para os Estados Unidos recomeçar a vida fazendo trabalhos de limpeza e construção civil – empregos típicos de imigrantes. Agora, bem sucedido na música e produtor de grandes artistas e de espetáculos de teatro em terras norte-americanas, o músico nos concedeu entrevista falando sobre sua carreira, suas dificuldades, sua turnê e seus planos para o futuro, além de explicar como funcionam suas aulas, reconhecidas internacionalmente como referência na área.
Você já fez, ao longo dos anos, algumas turnês com grandes nomes do rock e do heavy metal. De lá para cá, como você acha que o público evoluiu e mudou, em especial na América Latina?
Andy Addams: Antes de tudo, muito obrigado por me receberem aqui! Obrigado a toda a galera do Brasil que está lendo (N.R.: em português). Bom, vamos dar um background: eu toquei antes nos Estados Unidos e na Colômbia com minha antiga banda, e agora sou um artista solo, estou por aí me lançando. Na verdade, a única grande diferença que posso dizer é entre os Estados Unidos e a América do Sul. Quando toquei por aqui (América do Sul) naquela época, o público era formado por gente jovem, adolescentes, e por pessoas nos seus 40 anos mais ou menos, que ouviam muito rock e heavy metal quando eram novos. Quando eu me mudei para os Estados Unidos, percebi uma mudança realmente drástica no público! Tipo, eram pessoas mais velhas – quer dizer, não velhas, eu mesmo estou nos meus 40 (risos), mas mais velhas. Lá nos Estados Unidos, o público era muito diferente, quando toquei com o Kiko Loureiro uma vez em Milwaukee, na primeira tour dele com o Megadeth – ]esqueci o ano, creio que tenha sido em 2015 ou 2016, não lembro bem (N.R.: foi em 2016), mas foi em Milwaukee, no Wisconsin – estávamos falando exatamente sobre isso, sobre o público. Ficamos surpresos, pois eram pessoas de 50 ou 60 anos de idade. E era em uma arena, para coisa de cinco mil pessoas, e dessas, umas três mil ali eram dessa faixa etária. Agora que estou fazendo essa turnê como artista solo, fomos para a Colômbia, para a Argentina e agora estamos aqui no Brasil; tem muitos contemporâneos meus, com seus quarenta e poucos, mas também muita gente mais jovem, muitos adolescentes! Em Brasília foi sensacional, muito legal ver essa galera mais nova ouvindo música instrumental e heavy metal, fico muito grato por isso. Tem sido muito legal tocar aqui! Brasília foi ótimo, Santo André… Muito legal!
Tocar em uma turnê com Marty Friedman e Kiko Loureiro, músicos que focam, especialmente, em músicas instrumentais, com a guitarra como o centro das atrações, é algo que você acha que mostra um lado diferente dos shows de rock?
Andy: Sem dúvida. Assim, eles (Kiko e Marty) tocam algumas músicas com vocalistas, mas o meu é totalmente instrumental, e o deles é boa parte assim, também. Bem, principalmente no meu show, eu coloco aquela jaqueta que tem luzes e tal. Queremos dar um verdadeiro show, não é como ir lá e ver um cara normal tocando, e você fica ‘é fantástico e tal’… Até eu mesmo, como um guitarrista, vendo um cara assim só tocando, depois de alguns minutos fico entediado, então tento fazer algo impactante, para quem está assistindo ficar. ‘Uau! Isso é um show! É guitarra, é instrumental, mas é um show!” Vendo meu show, e a parte instrumental deles, sim, atinge mais pessoas, porque é como ir ver um filme – quando você assiste um filme, tem aquela parte da ação, da adrenalina, e a música é adrenalina. Não é sobre vozes, é sobre a adrenalina da música. Tem a parte que é assustadora, e você tem uma música assustadora, você conecta as pessoas através do som. Não tem letras, é só com a música. Então, muita gente que vai no show e fica tipo ‘ah, cara, eu realmente adorei essa sua balada’, e eles não tocam nada, só gostam da música. Então, você tem esse pessoal que gosta de música de outros jeitos. É um show para todos, não só para músicos ou guitarristas, e é esse meu objetivo, um show para quem gosta de música.

Quando você voltou à América do Sul, onde você cresceu e acabou tendo aquele episódio infeliz nos negócios na Colômbia, como foi a experiência, te deixou uma pressão maior, ou uma sensação ruim, ou foi algo que ajudou a superar?
Andy: Com certeza é algo que me faz mais forte! Bom, para todos ficarem sabendo da minha história e para quem ler a entrevista, o que aconteceu é que eu perdi praticamente tudo em 2011. Eu lembro que estava abrindo com minha banda para o Ozzy Osbourne, na única vez que ele foi para a Colômbia, então foi num lugar enorme, com cerca de cinquenta mil pessoas. Eu estava lá tocando e pensando: ‘Ai, meu deus, estou aqui tocando para toda essa gente, e depois vou fazer serviço de limpeza em Miami!’ Foi muito bizarro. Quando eu fui para os Estados Unidos, parei com a música – ainda tocava às vezes, mas pensava só que precisava me recuperar, precisava recomeçar uma nova vida. Mas sempre tive no meu coração que precisava voltar a tocar, a fazer música. Eu trabalhei em vários tipos de coisas, e as pessoas ouviam minha música lá e falavam ‘o que você está fazendo aqui, cara? Você precisa fazer isso, precisa tocar, o que você está esperando?’, mas eu não tinha dinheiro, estava quebrado. Então, foi bem difícil! Para ser honesto, eu estava bem nervoso de voltar à Colômbia como artista solo, porque antes eu estava numa banda, mas quando você coloca seu próprio nome é diferente. E foi um sucesso! Fizemos o show lá com o Kiko e as pessoas me falaram ‘foi incrível!’ Na verdade, a tour inteira tem sido uma recepção ótima. Aqui no Brasil está sendo fantástica, também, e espero conseguir voltar ano que vem, pois amei tudo aqui: o pessoal, a cultura, a comida.
Foi como tirar um peso das costas?
Andy: Sim, e era algo que eu precisava fazer para mim mesmo! Não compito com ninguém, só comigo mesmo, e quero ser melhor todos os dias. Não me importo com o resto, só quero fazer algo que eu consiga colocar na minha música. Criar algo que eu fale ‘cara, eu quero muito sair e tocar essas músicas!’, e eu sou um cara old school. Eu toco, quero fazer turnês, não sou um criador de conteúdo. Sabe, tem muitos criadores de conteúdo hoje em dia por aí que vão atrás de visualizações, curtidas, e eu sou do tipo mais das antigas, não curto ficar postando covers. Não é para mim. Tem gente que é realmente muito boa fazendo isso, mas eu não. Eu tive a oportunidade de tocar com o Kiko antes, criamos essa ótima relação de trabalho durante muitos anos – aliás, muito obrigado, Kiko, se você estiver lendo isso, pela oportunidade! Porque realmente foi algo gigante o quanto ele me ajudou. A gente já falou disso antes, mas realmente é uma honra. Sou muito grato.
Seu trabalho como produtor é notório! Para você, trabalhar com produção musical de alto nível ajudou a ampliar seus horizontes como guitarrista?
Andy: Sim, porque você tem que pensar de forma bem diferente quando está produzindo algo. É crucial você ouvir vários gêneros! Claro, é natural você ser mais chegado em um gênero ou outro, normal, mas precisa ter a mente bem aberta. Nós treinamos para usar muito a guitarra como produtores, então tem que ouvir sons diferentes para tentar coisas novas. Agora eu produzo mais shows. Escrever shows para um teatro, para cruzeiros, é nisso que tenho focado mais, nos shows!
Você se tornou um nome proeminente no ensino da música mundialmente. Analisando o ensino de música nos últimos dez ou quinze anos, o que você acha que evoluiu e o que precisa melhorar ainda?
Andy: Em termos de educação musical, foi um giro completo, de trezentos e sessenta graus. Lá atrás, o que tínhamos era o MySpace – esse foi meu começo, no MySpace. Aí vieram as redes sociais mais novas e o YouTube realmente mudou tudo, porque hoje em dia tudo está lá! Hoje eu divido minhas aulas em três formas: a parte de iniciante, quando você realmente não sabe nada, e eu vou mostrar as ferramentas para que você possa aprender e poder usar o YouTube. Porque no YouTube você tem tudo, e eu não posso falar que vou mostrar algo que você não encontra lá, porque não seria verdade. Você encontra tudo no YouTube, mas você precisa de um guia, alguém que te ensine coisas para que você possa entender mais rápido e aprender mais facilmente, não apenas assistir vídeos. Aí tem a segunda etapa, que seria como o intermediário, para pessoas que já tocam, já sabem o que fazer, mas que querem saber mais de harmonia, aprender a improvisar melhor – no mesmo esquema de mostrar as ferramentas e como proceder e o que assistir. E a terceira parte, que não é só aulas de como tocar, mas de entender como viver fazendo música – como fazer turnês, como fazer dinheiro com isso. Porque é diferente de quando você está em um emprego de tempo integral e toca por diversão, e quando você quer tocar um instrumento, ou cantar, e viver disso. É esse o conteúdo da terceira parte. É assim que eu separo minhas aulas, e antes não era assim, era mais tradicional: conseguir os alunos, falar com eles se já tocam alguma coisa ou não, e hoje não dá mais para ser assim, tem que direcionar mais.
E poderia falar um pouco sobre seus próximos projetos e empreitadas musicais para o futuro?
Andy: Estou terminando agora essa turnê, depois vou para a Europa. Vou produzir um espetáculo em cruzeiro, que é dos mesmos criadores do ‘Rock of Ages’, junto com o baixista que toca com o Tom Morello. Eu também toco nesses shows, então a partir de julho estarei bem ocupado dirigindo e tocando com esse espetáculo que vai rodar toda a Europa, terminando em Nova York. Daí, quando acabar, no segundo semestre, vou gravar meu segundo álbum solo, para lançar no começo do ano que vem. E, se tudo der certo – vamos torcer! –, depois farei outra turnê pelo Brasil. Esses são meus maiores objetivos agora: focar na minha carreira solo, e dirigir e produzir esses novos shows em teatro e cruzeiros. Estarei bem ocupado pelo resto desse ano.
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