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ANGRA FEST – Campinas/SP

Por Antonio Carlos Monteiro

Fotos: Cristina Mochetti

O Angra Fest, festival promovido pelo Angra, tem vários méritos. Mas o principal deles, sem dúvida, é juntar bandas de estilos diferentes num mesmo evento e todas elas agradarem plenamente ao público. Foi o que se viu na noite de 24 de março em Campinas. O hard rock da Malvada, o countrycore do Matanza Ritual e o power metal de Viper e Angra (as únicas a comungarem um mesmo gênero) fizeram a galera que aos poucos lotou o lugar cantar, dançar, abrir rodas e se esbaldar durante as mais de cinco horas de espetáculo.

A casa escolhida para o evento, pelo jeito, não está acostumada a receber shows com muito público, já que sequer dispõe de local reservado aos fotógrafos à frente do palco. Falar com alguém da casa solicitando autorização para a fotógrafa ter acesso ao mezanino foi tarefa inglória: “A produção das bandas não permite”, foi a resposta lacônica. O primeiro integrante “da produção das bandas” que encontrei prontamente liberou uma pulseira “all access” para a profissional que me acompanhava na cobertura…

Quando a Malvada subiu ao palco, a casa ainda estava longe de atingir sua lotação máxima. Mas isso não foi problema para Angel Sberse (vocal e guitarra), Bruna Tsuruda (guitarra e backing vocal), Ma Langer (baixo) e Juliana Salgado (bateria e backing vocal). O grupo lançou um ótimo disco, A Noite Vai Ferver (2021), e vem se apresentando constantemente desde então. Como disse a baixista Ma Langer após o show, “não tem melhor ensaio do que o palco”. Grande verdade. As garotas mostraram enorme competência num show enxuto mas cheio de energia, com vários momentos coreografados que embalaram, entre outros, temas como Disso que Eu Gosto, A Noite Vai Ferver, O que Te Faz Bem? e uma competente versão de Wasted Years, do Iron Maiden. Saíram de cena sob aplausos calorosos e merecidos. Fica agora aquela vontade de ver um show completo da banda.

Em seguida foi a vez do Viper, que retomou carreira com boa intensidade com os fundadores Felipe Machado (guitarra) e Yves Passarel (baixo e vocal), agora acompanhados por Leandro Caçoilo (vocal), Guilherme Martin (bateria) e o mais recente integrante, Kiko Shred (guitarra). De cara, dava pra notar duas coisas bem importantes. A primeira é que a atual formação mostra competência absurda. Leandro é um vocalista que não tem mais nada a provar a ninguém, Guilherme nem parece que há não muito tempo sofreu um grave acidente, já que continua batendo com uma técnica e um volume indescritíveis, e Kiko caiu como uma luva na banda, mesclando seu estilo próprio àquilo que as músicas do Viper exigem. O outro detalhe é que os cinco parecem estar o tempo todo se divertindo muito em cena, o que faz toda a diferença na forma como um show flui. Se você junta tudo isso a um repertório cheio de clássicos, o resultado só pode ser explosivo. Assim, diante de uma casa bem mais lotada, a banda desfilou temas como Knights of Destruction, A Cry From the Edge, Living for the Night, Coma Rage (esta com a participação do antigo colaborador da banda Val Santos no baixo) e finalizou com a inevitável e ótima Rebel Maniac, com seu “grito de guerra” entoado pela galera: “Everybody, everybody!!”

Se alguém chegasse meio de paraquedas ali na hora em que o Matanza Ritual subiu ao palco sem saber o que estava acontecendo, certamente ia ter certeza de que o publico detestava a banda, em especial o vocalista Jimmy London. Nada disso. Os xingamentos de parte a parte já são tradição nos shows da banda, que é completa por Antonio Araújo (guitarra, Korzus), Amílcar Christófaro (bateria, Torture Squad) e nessa tour Juninho (baixo, Ratos de Porão), substituindo o titular do posto, Felipe Andreoli. Show do Matanza Ritual é alto, rápido, barulhento! O que é ótimo, é bom que fique claro. Entre um insulto e outro, Jimmy foi desfilando temas cujos títulos são autoexplicativos, como Meio Psicopata (letra genial!), A Arte do Insulto, a ótima Eu Não Gosto de Ninguém, Pé na Porta, Soco na Cara e desfechando com Ela Roubou Meu Caminhão, que conta a história do sujeito que não sabe se está mais revoltado por ter perdido a mulher ou por ela ter roubado seu caminhão… A galera se matava enquanto a sonzeira rolava, com direito até a rodas!

Suado mas não esgotado, o público, que a essa altura praticamente lotava a casa, se aglomerou definitivamente diante do palco para receber a atração principal e anfitrião da noite. A atual formação do Angra, com apenas Rafael Bittencourt (guitarra e vocal) dentre os membros originais, e contando com Fabio Lione (vocal), Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo e backing vocals) e Bruno Valverde (bateria), já está completando oito anos junta, o que garante um show coeso e extremamente competente, dado o talento dos músicos. Lione, com sua larga experiência como vocalista, tem um registro vocal bem diferente de Andre Matos e Edu Falaschi, mas encontrou a maneira certa de encaixar sua bela voz nos temas gravados por seus antecessores, como provaram temas como Nothing to Say e Rebirth. Marcelo Barbosa é um dos maiores guitarristas brasileiros da atualidade, Felipe Andreoli chegou num nível absurdo de técnica e Bruno Valverde, todo mundo sabe, é uma fera das baquetas. Já Rafael assumiu grande protagonismo na banda. Muitas vezes, se posiciona no centro do palco, com Lione indo para o fundo, faz diversos backing vocals, apresenta os músicos e assume a voz principal em músicas como a interessante versão acústica (no esquema “banquinho-e-violão”) de Reaching Horizons. Flavio juntou-se a ele no tema seguinte, uma belíssima versão também acústica de Make Believe em que o destaque foi o dueto vocal dos dois.

Numa banda com a discografia rica como é o Angra, o show só poderia ser um desfile de hits, como Lisbon, Angels Cry e Late Redemption, todos cantados e saudados efusivamente pela galera.

Como também deve ser saudada essa iniciativa do Angra em promover um festival com quatro bandas de altíssimo nível e que provou que tribos diferentes podem, sim, conviver em harmonia e proporcionar uma noite inesquecível.

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