Frank Bello é conhecido, antes de tudo, por tocar baixo no Anthrax junto com seu tio, o baterista Charlie Benante. Mas, além de ex-roadie, ele também tem uma atração grande por atuar. Tanto que ele está escalado para representar o músico Punk Richard Hell no filme “Greetings From Tim Buckley”, que tem lançamento previsto para o próximo ano. Mas, no momento, o músico está dividido entre a tour de divulgação do novo álbum do Anthrax, o aclamado Worship Music, e as responsabilidades de pai. Bello conversou com a ROADIE CREW sobre todos esses assuntos.
Fazia oito anos que vocês não lançavam um disco de inéditas e por várias vezes vocês começaram a trabalhar em material novo e pararam. Você até chegou a sair da banda para entrar no Helmet e, além disso, houve as trocas de vocalistas. Como vocês finalmente acabaram lançando Worship Music?
Frank Bello: Houve, mesmo, uma série de tentativas de se lançar o disco. Mas para chegarmos nesse resultado, com ótimas resenhas nas revistas (graças a deus!), nós tivemos que ser muito determinados. Nós realmente nos matamos, tivemos muitos problemas a enfrentar. Na verdade, a gente só queria tocar a banda adiante, mas as coisas começaram a fugir do nosso controle. E tudo o que a gente queria fazer… era justamente o que estamos fazendo agora! Tínhamos Joey Belladonna de volta e queríamos lançar um disco como esse. Houve muito sangue, suor e lágrimas para chegarmos onde queríamos. Mas hoje estamos tocando para grandes plateias e vivemos um ótimo momento.
Os últimos anos foram muito frustrantes para vocês por conta dos problemas que enfrentaram? Refiro-me ao vocalista que não deu certo (Dan Nelson), sua saída para o Helmet, a volta e a saída de John Bush…
Frank: John tem sua vida. Nós estávamos fechados com ele, mas ele tem sua família e não quer mais viver essa vida. Eu respeito completamente essa opção dele e nós continuamos gostando muito dele. Em relação à minha ida ao Helmet, achei que era oportuno darmos um tempo uns dos outros. E o resultado é que isso deixou a banda ainda mais forte. Quando eu voltei, estávamos mais unidos do que nunca. Era disso que precisávamos para tornar o Anthrax ainda mais forte. E a volta de Joey Belladonna foi a cereja que faltava ao bolo. Nada acontece por acaso e eu estou muito feliz com tudo que aconteceu com a banda.
Quando você trocou o Anthrax pelo Helmet, já tinha em mente essa ideia de apenas dar um tempo ou naquele momento você sequer chegou a cogitar que um dia voltaria?
Frank: Eu não considerava minha missão cumprida no Anthrax, mas repito que nós dois, eu e a banda, precisávamos dar um tempo um do outro. Estava havendo muitos conflitos, pra ser bem franco. E foi em parte minha culpa por termos rompidos – eu dividiria essa responsabilidade meio a meio. Mas, como disse, acho que foi bom ter ocorrido esse rompimento temporário. Fui para o Helmet e passei dois anos em turnê, o que foi ótimo pra mim. Aprendi muito participando de outro grupo. Acredito até que me tornei um músico melhor e que voltei para o Anthrax como uma pessoa melhor, também.
Você ainda tem interesse em participar de projetos paralelos ou seu foco agora é exclusivamente o Anthrax?
Frank: Meu foco principal em termos de música é o Anthrax, mas tenho outros projetos como ator. Estou completando a filmagem de ‘Greetings From Tim Buckley’ (N.T.: a entrevista aconteceu no princípio de outubro), faltam apenas alguns dias para encerrar esse trabalho.
Eu ia justamente fazer algumas perguntas sobre o filme mas, antes disso, pode-se dizer, então, que musicalmente falando você está no Anthrax ‘até que a morte os separe’?
Frank: Sim, é isso mesmo.
Voltando ao filme, trata-se de um documentário ou de um drama?
Frank: É um drama. Meu empresário me colocou em contato com a diretora Amy Kaufman e cá estou. Foi tudo muito rápido, falei com ela numa quinta-feira e na segunda seguinte já estava filmando.
Ninguém imaginava ver Frank Bello do Anthrax atuando num filme…
Frank: Mas eu estudei artes dramáticas. Sempre adorei representar. E está sendo incrível representar Richard Hell. Estudei muito sobre ele e estou adorando representá-lo.
Você também vai participar musicalmente do filme?
Frank: Não vai ter nada de minha autoria nele, mas eu canto a música Moulin Rouge, de Tim Buckley. Confesso que não conhecia bem a história de Tim (N.T.: músico americano de vanguarda que morreu em 1975, aos 28 anos, de overdose). Estudei bastante e hoje sei muito sobre ele.
Vai ser sua própria voz cantando essa música ou você dublou alguém?
Frank: Não, sou eu mesmo cantando! E com uma banda de verdade. Vai ser bem interessante, você vai ver.
Voltando ao Anthrax, o assunto mais palpitante em torno da banda nos últimos anos teve a ver com as trocas de vocalista. Você diria que Joey Belladonna voltou à banda em caráter definitivo?
Frank: (enfatizando) Sem dúvida alguma! Eu falo assim porque pra mim esse é o Anthrax! Quando eu ouço esse disco, não vejo qualquer defeito nele. Repito, esse é o Anthrax! Era isso que nós procurávamos, esse cara (Joey) não envelhece. Seus vocais estão melhores hoje. Ele sempre foi um ótimo vocalista e conseguiu ficar melhor ainda. E nesse disco ele simplesmente se superou, acho que foi uma das melhores performances da carreira dele.
Na minha opinião, Worship Music é um dos melhores discos da banda. Diria que é o álbum que o Anthrax estava devendo aos fãs…
Frank: Pra mim ele tem um significado ainda maior exatamente por causa disso que você disse: é o disco que a gente precisava fazer. Isso resume tudo e eu o agradeço por ter percebido isso. Fazê-lo custou muito sangue, suor e lágrimas e eu espero que todos os fãs gostem dele como você gostou.
O quanto esse disco tem de realmente novo e o quanto ele tem de coisas que vocês fizeram já há algum tempo?
Frank: Charlie (Benante, bateria), Scott (Ian, guitarra) e eu escrevemos essas músicas ao longo do tempo, mas depois demos uma revisada nelas. O mais legal de termos tido todo esse tempo é que pudemos avaliar com calma o que ia funcionar e o que não ia. Tivemos esse privilégio de pode fazer o trabalho sem pressa. Então, deixamos algumas coisas de lado porque vimos que não ia funcionar, mas o que deixamos ficou praticamente igual à ideia inicial.
Mas vocês usaram as gravações iniciais ou regravaram os instrumentos?
Frank: Eu regravei todas as linhas de baixo. Achei que ficaram bem melhores, deram uma renovada no material. Fiquei bem mais satisfeito com o que fiz agora do que com as gravações originais. Scott também regravou algumas bases.
Como vocês levaram oito anos para lançar Worship Music, já estão pensando no próximo disco?
Frank: Ainda não queremos pensar nisso. A única coisa que temos em mente é que o Anthrax está numa excelente fase e isso é um ótimo prenúncio para o futuro. Nessa banda nós pensamos num dia após o outro. Posso dizer que estamos no nosso melhor momento e o ‘Big 4’ nos ajudou muito nisso. Agradeço muito ao Metallica por isso, por ter dado esse pontapé inicial de que nós tanto precisávamos.
Vocês estão completando trinta anos deatividades. Poucas bandas duram tanto…
Frank: Trinta anos! Dá pra imaginar? Somos uma banda de Heavy Metal com trinta anos de atividades e as pessoas discutem se nosso último disco é o melhor de nossa carreira… É quase inacreditável que tudo isso esteja acontecendo.
Pois é, o Anthrax ainda consegue fazer as pessoas discutirem sobre seu novo disco. Nem todas as bandas conseguem isso. Por exemplo, eu não vejo ninguém discutindo o novo trabalho do Village People…
Frank: (rindo) E o mais engraçado nesse seu comentário é que nós estávamos num aeroporto na Europa uns dois meses atrás e encontramos juntamente com o pessoal do Village People! (mais risos)
Você citou o ‘Big 4’. Vocês tocaram no Yankee Stadium, que fica na região em que vocês cresceram (em Nova York). Imagino que tenha sido algo especial para vocês, não?
Frank: Foi incrível! Essa é a única palavra que eu encontro para descrever isso. O lugar onde eu cresci fica a dez minutos de lá e nós todos somos fanáticos pelo New York Yankees (N.T.: time de beisebol). Nossa lista de convidados para esse show foi absurda! (risos)
Mudando de assunto, na última turnê você ministrou algumas clínicas de contrabaixo com patrocínio da Hartke (N.T.: fabricante de amplificadores para contrabaixo). Pretende continuar com isso na próxima tour?
Frank: Eu adoro ministrar essas clínicas porque assim fico em contato com a garotada que quer se tornar baixista. Eu cresci no Bronx, era completamente duro e a música foi o que me inspirou a lutar pelo que sempre quis e a me realizar. Então, se eu posso ajudar esses garotos a se tornarem músicos e com isso ter uma vida melhor, podem contar comigo! Sem demagogia. Eu só quero ajudar as pessoas, isso significa muito para mim. Eu me considero um felizardo por ter conseguido tudo que consegui e gosto de ajudar outras pessoas a conseguirem o mesmo. Eu acredito de verdade nisso.
Você acredita que esses garotos percebem o que estão recebendo nessas clínicas ou seriam só fãs atrás de um autógrafo?
Frank: Eu tento o tempo todo fazer com que eles percebam a realidade. O que eu posso fazer é contar a minha história e torcer para que eles tracem um paralelo com suas próprias trajetórias e se inspirem a buscar aquilo que desejam. Isso é o que eu mais desejo. Isso é o mais importante pra mim.
Para finalizar, gostaria de saber como é tocar na mesma banda que o seu tio, o baterista Charlie Benante?
Frank: É verdade, a mãe dele é minha avó… Ela o teve tarde e nós crescemos como irmãos (N.T.: a diferença de idade deles é de pouco mais de dois anos). Legalmente, ele é meu tio, mas a gente se pegava como irmãos! (risos) Lógico que com o tempo a gente foi se entendendo porque a gente passou a perceber como a vida funciona…
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Fotos: https://anthrax.com/