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ARCTURUS

Inusitada, estranha, viajante, mágica, única. Apenas algumas definições que podemos dar à apresentação da banda norueguesa Arcturus na Capital Paulista. Essa foi a primeira vez que uma banda de ‘Avant-garde Metal’ se apresentou em terras brasileiras e tivemos a sorte de ser logo uma das pioneiras e mais competentes entre elas. É bem verdade que desde que Vortex assumiu de vez os vocais da banda no lugar de Garm (Ulver, Borknagar) o som foi conduzido a uma linha mais melódica, mesmo com seu mais recente álbum, “Arcturian”, trazendo de volta aspectos mais agressivos. Mas mudanças sonoras sempre foram comuns na banda a cada disco lançado e mesmo tendendo para linhas mais melodiosas, a base de fãs se manteve e até novos fãs se formaram, inclusive entre os brasileiros.

Com cerca de 300 pessoas na casa, a calorosa noite de sexta-feira em São Paulo prometia uma bela jornada espacial e os fãs não se decepcionaram. Eram 21h20 quando as luzes se apagaram e subiram em palco Jan Axel “Hellhammer” Blomberg (bateria), Steinar Sverd Johnsen (teclados), Hugh “Skoll” Mingay (baixo), Tore Moren (guitarra) e ICS Vortex (vocal) para o verdadeiro circo estelar do Arcturus. O show se iniciou com “Evacuation Code Deciphered”, faixa de “Sideshow Symphonies”, de 2005, emendada de cara com “Ad Absurdum”, um clássico do álbum “The Sham Mirrors” no qual Vortex parece ter esquecido parte da letra, mas discretamente deixou que o público assumisse parte do vocal enquanto ele sorria de modo “levemente envergonhado”.

Vale dizer que impressionantemente o som já estava perfeito logo de cara, com ótimos timbres e uma nitidez absurda. “Painting My Horror” fez as vezes do pouco lembrado “Disguised Master”. Até aqui era de se estranhar que a banda divulgando um novo álbum não tivesse apresentado sequer uma música deste, pois logo veio o “cala a boca” com “Crashland” com um trabalho de bumbos incrível de Hellhammer seu e refrão arrepiante cantado de modo perfeito por Vortex. O enorme e simpático vocalista que mais se parece um típico viking perguntou se o público queria mais sons novos e a banda nos apresentou “The Arcturian Sign” que remete ao passado da banda tanto pelo lado agressivo quanto pelo eletrônico.

“Shipwrecked Frontier Pioneer” trouxe novamente o clima espacial de “Sideshow Symphonies” e aqui o público, já com a adrenalina de início de show finalizada, começou a observar mais a banda. Hellhammer era o mais concentrado, sem muita pegada, mas com uma perfeição absurda em suas execuções. Vortex tem uma voz incrível, por vezes enjoativa por ser tão alta e aguda, mas de uma interpretação maravilhosa para as letras da banda, porém, como frontman é fraquíssimo. Em todo momento em que não cantava, o ogro apenas colocava as mãos no bolso e mantinha um sorrisinho safado na cara, parecendo mais o rapper Snoop Dogg que um vocalista de Rock/Metal. Talvez a ausência do baixo para segurar (Vortex sempre acumulou a função em palco) o deixe meio que sem saber o que fazer com as mãos.

Nas cordas o guitarrista Tore é um mix entre concentração e viagem, pois claramente o musico “não estava naquele palco”, mas toca muito com trocas de efeitos perfeitas em seus pedais, já o baixista Skoll claramente era o mais “headbanger” entre todos eles visto por toda sua postura em palco e ótima interação com o público. Mas o destaque era mesmo Sveird. A mente doentia por trás do som da banda se exibe de forma assustadora sob os holofotes. O tecladista que tocou com perfeição por todo o show parecia mais próximo de outra dimensão que qualquer um presente ali, vide suas expressões, caretas mesmo, que iam das mais engraçadas às completamente assustadoras. Figuraça!

Um dos melhores momentosdo show foi  a execução da valsa infernal “The Chaos Path”, que finalmente resgatou o disco “La MasqueradeInfernale”, sendo uma das faixas do disco que iniciou os trabalhos de Vortex como vocalista do Arcturus, ainda como convidado, em 1997. E após “DeamonPainter” e ”Master ofDisguise” nos demos conta de que aquilo tudo era muito mais que um show de Symphonic, Avant-Garde ou qualquer que seja o estilo de Metal, mas sim um show de Rock Progressivo de uma forma muito mais nítida em palco que em qualquer álbum da banda, transparecendo inclusive influências setentistas do estilo.

“Nocturnal Vision Revisited” é mais uma para Hellhammer exibir seu trabalho impecável de bumbo e antecipou o momento “negro” da noite. “ToThou Who Dwellest In The Night” do primeiro álbum da banda fez alguns dos presentes conhecerem o que já foi o Arcturus um dia e fez o vocalista soltar seus vocais rasgados dos quais ele já não faz mais uso há anos. O gigante pergunta se o povo quer Black Metal e a banda tocou “Raudt Og Svart”, faixa do EP “Constellation, de 1994, fase mais crua da banda. Durante a execução dessa, Toren estranhamente trocou de guitarra no meio da música, mas não por falha da outra guitarra, talvez sim porque ele tenha esquecido que tratava-se na verdade de uma troca de afinação.

Vortex agradece a todos (quando falando sua voz é engraçada) e avisa que era o momento final do show com a propícia “Game Over”. Uma apresentação perfeita que passou por todos os lançamentos da carreira do Arcturus e deixou o público todo impressionado com a musicalidade ali exposta, além da simpatia da banda que ainda ficou cumprimentando o público após o fim do show. É muito provável que os brasileiros revejam alguns daqueles músicos de volta em nossos palcos com bandas como Borknagar ou Mayhem, mas o Arcturus, é quase certo dizer que aqueles que aqui perderam não terão nova chance.

 

 

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