Pela segunda vez consecutiva, os headbangers paulistanos não tiveram sua vontade saciada de ver os ingleses do Onslaught em um mesmo festival ao lado dos dinamarqueses do Artillery, já que no final de 2013 já havia tido um cancelamento em relação às duas bandas juntas. Dessa vez, a frustração foi ainda maior devido ao fato de que o Onslaught viria ao Brasil com o vocalista original do Anthrax, Neil Turbin, embora isso não teria sido possível de uma forma ou de outra, porque dias antes da data do show de São Paulo, o ‘frontman’ deixou a banda alegando em sua rede social que o guitarrista Nige Rockett não estava cumprindo suas obrigações contratuais ao não lhe pagar. A tensão de um novo cancelamento do evento se propagou entre os fãs que já estavam antenados às notícias nada animadoras em relação aos shows e festivais que deveriam acontecer nesse final de ano no país, mas que formaram uma série de fiascos, devido a tantas desistências mal explicadas por parte de bandas e de produtores. De qualquer forma, o Artillery desembarcou no Brasil, retornando para uma mini-turnê.
Em São Paulo, o local que a princípio seria a Clash Club, foi trocado por um espaço desconhecido para o público de Metal, que é utilizado pela Escola de Samba Império Lapeano como sendo sua quadra, embora seja construído literalmente sob um viaduto. O “palco”, que receberia além do Artillery, as bandas brasileiras de Thrash Metal Raptores, Lama Negra, Infected e Nervosa era, na verdade, uma laje alta com pouco menos de três metros de altura, cheia de adereços espalhados da Escola, uma cantoneira de plantas disposta na frente e uma “iluminação” que deixava os que adentravam ao local ressabiados ao perceberem a precariedade da coisa e já imaginando como seria na hora do show noturno dos dinamarqueses. Como pode ser visto através das fotos que estampam essa matéria, a tal iluminação nada mais era do que um simples pedestal com um infra-vermelho, um spot de lazer e um globo de luzes piscantes. Tudo isso dificultou também a ação dos fotógrafos que, além de tudo, não encontravam ângulos favoráveis para realizarem seu trabalho.
O início do evento estava marcado para 15h, mas nesse horário os músicos do Artillery ainda passavam o som. Sendo assim, o Raptores deu início ao seu set somente às 16h30, para um público ainda bem pequeno – o atraso no cronograma deixou muita gente preocupada, temendo que os shows acabassem tarde. O ‘power trio’ ribeirão-pretano formado por Roger Gaulês (vocal e baixo), Zaack Santos (guitarra) e Fábio Grille (bateria) entrou em cena com “Nailed Corpse”, mostrando um Thrash Metal direto, cru e rasteiro. O grupo lançou o EP “Forgotten Is Not Dead” em 2010 e o ‘debut’ “Age Of Fear” em 2012, mas desses, a única música apresentada foi “Monster Jaw Megalodon”, pois a banda preferiu apresentar algumas das músicas que farão parte de seu novo álbum “Plague’s Goat”, que tem previsão de lançamento entre janeiro e fevereiro de 2015. Após a citada música, o Raptores foi obrigado a uma longa pausa para que Zaack Santos trocasse a corda de sua guitarra que havia estourado. O destaque foi Roger Gaulês, por causa de seu vocal potente. Veterano na cena, Gaulês fez parte do velho Warhate, lendária banda pertencente ao consagrado Thrash Metal da região do ABC paulista.
Às 17h30 foi a vez do Infected, grupo veterano e bastante conhecido do público paulista fazer o show mais ‘redondo’ dentre as bandas brasileiras. O set composto por músicas de seu álbum de estreia “Who Is Not?” (2009) e outras da atual demo “Beerstalkers” (2013), mostrou bastante influência do Thrash oitentista norte-americano. O vocal de Ronaldo Bodão, lembra bastante o de John Connely do Nuclear Assault, embora o instrumental da banda seja mais complexo e com músicas mais longas. Os guitarristas Rodrigo Costa e Henrique Perestrelo são muito bons e entrosados, tanto nos riffs e solos, quanto nos vocais de apoio, que se destacaram principalmente em “Fight To Survive”. Já a cozinha formada por Brunão “Mad Butcher” (baixo) e Hugo Golon (bateria), tocava com muita pegada, agitando o tempo todo. O Infected encerrou sua participação com uma música chamada “Every Rose”, que fará parte do segundo álbum, que torcemos para que seja lançado logo.
O Lama Negra entrou em cena ás 18h20, quebrando tudo com “Desgraça”, a primeira de uma série que a banda tocou em divulgação do homônimo álbum de estreia, lançado em 2013. O grupo tem sua formação o vocalista Thiago Moreli, um dos organizadores do evento e o ex-guitarrista e vocalista do Andralls, Alex Coelho, além de Rossi na bateria (que tocou com a caixa da bateria bastante aguda) e Veiga no baixo. O show do Lama Negra foi marcado por letras cantadas em português e um ‘Crossover’ entre Thrash Metal e Hardcore, com bastante influência de Ratos de Porão, principalmente pelo vocal similar ao de João Gordo, de Morelli. Cacetadas como “Ilusão”, “Vítimas”, “Degradação” (que tem um riff bem legal), “O Que Sobrou Do Inferno” e a longa “Rejeitada Alma”, foram as que mais se destacaram, embora todas mostraram uma pegada visceral.
A última banda brasileira a se apresentar foi o trio feminino Nervosa, que se apresentou pela segunda vez ao lado do Artillery – a primeira ocorreu em 2012 no Hangar 110. Fernanda Lira (baixo e vocal), Prika Amaral (guitarra) e Pitchú Ferraz (bateria), invadiram o palco ás 19h10, com a introdução instrumental que antecedeu a veloz “Twisted Values”. As garotas voltaram mais afiadas dos shows recentes pela América do Sul e seguindo em divulgação do ‘debut’ “Victim Of Yourself”, não pouparam pedradas como “Victim Of Yourself”, “Into Mosh Pit”, “Nasty Injury”, “Envious” e “Justice Be Done”, por exemplo, mas dentre as novas, o destaque ficou para “Death!”, que tem um riff final muito bacana. Outras mais antigas como “Invisible Opression” e “Masked Betrayer” também marcaram presença. A ausência mais sentida foi a da música “Urânio Em Nós”. Apesar do tempo de palco ter sido um pouco reduzido devido ao atraso do início do festival, Fernanda, como sempre, se comunicou bem com o público. Destaque para Pitchu Ferraz, que tocou sem dó da bateria.
Após um longo intervalo, eis que finalmente os aguardados dinamarqueses do Artillery tomaram o palco de assalto. Michael Bastholm Dahl (vocal), a dupla de guitarristas formada pelo fundador Michael Stützer e Rune Gangelhof, o baixista Peter Thorslund e o baterista Josua Madsen, chegaram com tudo na abertura com a nova “Chill My Bones (Born My Flesh)”. Só que, infelizmente, a suspeita que muitos estavam durante a tarde se confirmou, não havia luz que colaborasse para que o público pudesse enxergar os integrantes do Artillery no palco, apenas a “iluminação” citada acima. Da mesma forma, enquanto que nos demais shows o som até que estava satisfatório, para o do Artillery a coisa foi diferente, pois embolou em diversos momentos.
O grupo continua em turnê do álbum “Legions”, que foi lançando no final de 2013, e fez um show burocrático, devido ao curto tempo de duração. Apesar de agitar bastante nas músicas mais recentes do grupo, o pequeno público, estimado em pouco menos de 200 pessoas, se empolgou mesmo quando a banda tocava clássicos como “By Inheritance”, “The Challenge”, “Deeds Of Darkness”, “Khomaniac” e, principalmente, “Terror Squad”. Os veteranos Stützer e Thorslund, pareciam bastante animados, assim como os estreantes Madsen e o vocalista Bastholm Dahl, que procurava se comunicar bastante com o público, embora o seu inglês “quadrado” fosse de difícil compreensão. Bastholm mandou ver nos agudos e Thorslund se movimentava bastante. Ás 21h20, exatamente uma hora após o início de sua apresentação, o Artillery se despediu no final de “The Almighty”, e, mostrando certo cansaço, principalmente devido ao calor paulistano, não retornou para o esperado bis.
O saldo positivo da noite foi a garra de todas as bandas em tentar fazer o seu melhor, mesmo com as adversidades estruturais do local, para animar o público que compareceu. Por outro lado, a escolha da produção por um local sem um mínimo de estrutura para a realização de um evento aumenta a nossa preocupação em relação ao que podemos esperar em 2015 em termos de shows, já que esse fator, somado a tantos imbróglios que esse final de 2014 nos trouxe, com bandas desistindo de embarcar para o país, festivais anunciados com um cast e concretizados com outro, além de versões adversas por parte de contratantes, organizadores e artistas, nos deixam com aquela síndrome de “Metal Open Air”, o lamentável “M.O.A.” que aconteceu em abril de 2012, em São Luís, no Maranhão, na cabeça. Vamos torcer para que a situação se reverta para o próximo ano, pois o público brasileiro merece mais seriedade.
Chill My Bones (Born My Flesh)
When Death Comes
Legions
By Inheritance
The Challenge
Deeds Of Darkness
Khomaniac
Terror Squad
The AlmightyNERVOSA – Setlist:
Twisted Values
Invisible Oppression
Into Mosh Pit
Victim Of Yourself
Nasty Injury
Envious
Justice Be Done
Death!
Masked BetrayerLAMA NEGRA – Setlist:
Desgraça
Ilusão
Insanidade
Vítimas
Degradação
O Que Sobrou Do Inferno
Alicate De Pressão
Rejeitada AlmaINFECTED – Setlist:
Violent Reaction
Oxidation Of The Nation
Emotional Disease
Fight To Survive
Beerstalkers
Thrash Attack
Bipolarized
Every RoseRAPTORES – Setlist:
Nailed Corpse
Knives Dance
Plague’s Goat
Under Buckshot
Monster Jaw
Colder Than Grave
Thorny Rocky Road
The Nameless