Ter um festival realizado com regularidade, reunir um cast de qualidade e com um bom público. Essa é a meta de todos os produtores de eventos que entram nesse segmento artístico. Nessa, muitos eventos surgem, outros deixam de existir e poucos se mantém firmes em seus propósitos. Como o “Ataque Extremo Festival”. Idealizado por Eduardo Vieira (Absyde), desde 2012 acontece na região do ABC paulista, saciando o conhecimento e a curiosidade de muitos fãs das vertentes mais extremas do Metal.
Talvez essa edição, realizada neste sábado gelado do dia 30 de julho tenha sido um dos casts mais uniformes que o evento já teve. Tendo como headliner o Ocultan, a festa ainda teve Spiritual Hate, Absyde e Malediction 666. Esta última deu o início às apresentações.
Após três anos sem se apresentar pela região, o trio com quase duas décadas de estrada e formado atualmente por Fernando Iser (vocal e guitarra), Bruno Ian (baixo) e Fabio Brainstorm (bateria) mostraram uma música inspirada pelo Death/Black fortemente influenciado pelas décadas de 1980/1990. Sem invencionices e desconstruções, o Malediction 666 demonstrou muita coesão e os destaques do curto set (cerca de 25 minutos) foram “Innoculation”, mais puxada para o Black Metal, e os ótimos riffs de “Opposite”.
Depois de oito anos afastados dos palcos, o Absyde busca recuperar o tempo perdido com diversas apresentações pelo ABC e capital paulista. Eduardo Vieira (vocal), Eduardo Guerreiro (guitarra), Denis Markus (baixo) e Leonardo Zeferino (bateria) continuam fieis ao Death/Black oitentista, porém mais apurado, pois os envolvidos estão com mais intimidade em suas funções. Impressão que fica em evidência na execução de músicas como os riffs encorpados de “A Grande Desgraça” e “At the Vatican”. Outros destaques ficaram por conta da mórbida “Atrocities In The Name Of…” e “Born for Holocaust”, que nos remete aos primeiros tempos do estilo. Mantiveram o nível em alta
Para o espanto de muitos, a terceira banda que subiu ao palco foi o Ocultan. Para aqueles que não conhecem a música praticada por C. Imperium (vocal), Lady of Blood (guitarra), Kazoth Bey (baixo) e Malus (bateria) ela é extrema e caótica. Mas ao mesmo tempo densa e hipnótica, o que possibilita você entrar rapidamente no clima das canções. Como a faixa de abertura do set, “Tehom”, de seu mais recente registro, Nexion Chaos. O interessante foi perceber que apesar de mais cadenciadas e técnicas, as músicas deste trabalho soam muito fortes ao vivo, como “Exu Lord of Fire” e “Reino da Morte”, ambas com riffs que grudam na cabeça. Mas a banda não esqueceu os trabalhos anteriores e os fãs foram brindados com clássicos, como “O Caixão”, “O Triunfo da Escuridão” e “Burning the Pearly Gates”.
O show corria normalmente até que em “The Essence of the Opposer”, a corda da guitarrista arrebentou e houve uma pausa na apresentação. Com a resolução do entrevero, a banda mandou novamente o som e encerrou o set de uma hora e vinte minutos com “For the Supreme Occult. Uma belo espetáculo de música profana e extrema, que mesmo com o pequeno percalço, deixou todos satisfeitos e saciados.
Após um atraso de uma hora, o Spiritual Hate subiu no palco. Magnus Hellhound (guitarra e vocal) e Blackmorten (guitarra), contaram para este show com a participação de Victor Próspero (Seventh Seal, ex-Necromesis/Justabeli) no baixo e vocal e Fabio Brainstorm (bateria, Malediction 666) e mantiveram o ótimo nível das apresentações.
Donos de um Black/Death mais ríspido, porém bem executado musicalmente mostraram um apanhado de toda a sua carreira. Desde as músicas do seu álbum que está para sair como “From the Purity to Fornication”, “Diabolical Dominium”, como a antiga “Living In a Bloody Dream” e um bem vindo cover para “Into the Crypt of Rays”, do Celtic Frost.
Era 4h30 da madrugada quando mais uma edição do “Ataque Extremo” chegava ao fim. Um evento que mostra como devemos persistir com nossos ideais. Pois por mais percalços que rolem, se você trabalha sério, a recompensa chegará. Não, não estamos falando de dinheiro, mas sim da felicidade de cada fã que se satisfaz ao ver suas bandas favoritas ao vivo. Hoje tenho quase quatro décadas de vida, e ainda me emociono como aquele garoto de 14 que teve como iniciação bandas como Iron Maiden e Kiss.