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AVENGER / VULCANO / FATES PROPHECY

Reunir o grupo inglês Avenger, um dos patronos da New Wave Of British Heavy Metal, com as bandas brasileiras Vulcano e Fates Prophecy parecia tiro certeiro. Parecia, mas o gosto amargo do pouco público que compareceu ao evento realizado no domingo (16) no Blackmore Rock Bar, em São Paulo, se assemelhou ao de uma festa que nem seus amigos comparecem. O cancelamento dos também ingleses do Blitzkrieg, por pura desistência do vocalista Brian Ross em viajar ao Brasil, pode ter ajudado no fracasso de público do evento, justamente no dia em que o bar iria fechar as portas antes da reforma e reestruturação de suas instalações. A não vinda de Ross & Cia, em tese, atrapalhou. Por outro lado, é óbvio que não existem “Eikes Batistas” headbangers em São Paulo e esta concorrência absurda no inchado calendário de shows internacionais vem fazendo seguidamente suas “vítimas”. Este domingo foi somente mais uma entre tantas.

Com performances energéticas, as três bandas foram profissionais ao extremo. Tocaram como se estivessem em um estádio cheio, sem aquele fingimento de quem sente o baque e “cumpre tabela”, tocando de cara amarrada ou cabisbaixos. Todos vibraram, sorriram, se divertiram e mostraram aos que compareceram que, enquanto existir uma luz no fim do túnel, eles seguirão batalhando. “Apesar de ter sido uma noite de pouco público, só posso dizer que perderam uma noite inesquecível, com performances pra lá de perfeitas das três bandas. Qual o motivo de pouco público? São vários fatores, e as discussões são diversas; tudo o que posso fazer é lamentar, pois as bandas realmente se portaram esplendidamente como se tocassem para milhares de pessoas”, declarou o baterista do Fates Prophecy, Sandro Muniz.

Com um som cristalino, algo habitual em seus shows, o Fates Prophecy foi o primeiro a subir no palco, por volta das 20h30. Após a ‘intro’, que criou um clima ainda mais intenso e melancólico, a rápida “24/7 To Death” nos fez esquecer um pouco que uma das bandas mais competentes de Metal do país estava tocando para poucas testemunhas. O set seguiu com “New Degeneration”, contando com Ricardo Perez (vocal, ex-Seventh Seal) em noite inspirada, tendo auxílio do guitarrista Paulo Almeida nos vocais de apoio. Por sinal, o entrosamento entre Paulo e o guitarrista Ivan Santos beira a perfeição. Na cozinha, o baixista Rodrigo Brizzi mostrava sua destreza e seguia a bateria de Sandro Muniz com precisão.

Do álbum “24th Century” (2005) veio “Welcome To The Dark Future”, que coube bem com o estilo da atração principal e tem referência plena com o Metal inglês. Ricardo Perez destacou sua alegria em tocar com o Vulcano, relembrando fatos do passado e de quando saía de sua casa de bicicleta, no ABC, para ver shows da banda. Além disso, ressaltou a importância do Avenger para o Metal. O show seguiu com “Wings Of Fire” e “The Cradle Of Life”, faixa título do mais recente CD que, segundo Ricardo Perez, deverá ter lançamento físico em breve – o álbum foi disponibilizado pela Internet no começo deste ano.

Lá atrás de seu tradicional e grande kit “Nicko McBrain”, Sandro Muniz dava a segurança e ao final das músicas levantava para “aparecer” e saudar os aplausos. O final do set veio com “Primitive Man” e a mais que tradicional “Pay For Your Sins”, dos tempos do saudoso André Boragina. O grupo está muito bem ensaiado, na ponta dos cascos, e certamente faz por merecer maior acolhida dos fãs, principalmente os que curtem Iron Maiden e o velho Metal inglês. “Eu realmente fiquei emocionado com a noite de ontem. O fato de não ter muito público jamais vai me tirar o prazer de estar em cima de um palco tocando músicas próprias, seja para 10 ou 10 mil pessoas. Literalmente dormi em paz a noite passada, com a plena sensação não de dever cumprido, mas de um prazer realizado”, observou Sandro Muniz.

Pouco tempo depois, o Vulcano mudou o foco musical da noite para apresentar seu conhecido e tradicional Metal Extremo. O grupo santista realizou com os ingleses do Avenger os seus primeiros shows no país após a bem sucedida “Thunder Metal Tour – Conquering Europe”, que fez ao lado do Nifelheim e The Stone. Contando com o baixista Ivan Pellicciotti (coprodutor e engenheiro de som dos últimos quatro trabalhos do grupo, inclusive o mais recente), no posto de Carlos Diaz e sem a presença do guitarrista Fernando Nonath, o set teve início justamente com a instrumental, e faixa título, do álbum – “The Man, The Key, The Beast”. Clima criado e então foi a vez do Thrash comer solto com mais uma nova, “Church At A Crossroad”, marcando o lançamento do videoclipe com imagens gravadas ao vivo em Estocolmo (SUE) na recente turnê.

O pequeno público vibrou quando o ‘frontman’ Luiz Carlos Louzada anunciou a rápida “Dominios Of Death”, faixa de abertura do álbum “Bloody Vengeance” (1986). Após alguns ajustes nos monitores de retorno, Zhema Rodero (guitarra) e Arthur “Von Barbarian” (bateria) seguiram relembrando e exaltando o passado com mais uma antiga, “Ready To Explode” e que também consta em “Bloody Vengeance”.

Totalmente integrado, Ivan Pellicciotti mostrou destreza no baixo, enquanto Luiz Carlos Louzada ia alternando suas vocalizações, provando que merece ser apontado como um dos melhores vocalistas do Metal extremo. O show prosseguiu com duas músicas de “Drowning in Blood” (2011): “Awash In Blood” e “Devil’s Forces”.

Zhema, que segurou tudo sem a presença do guitarrista Fernando, ia arregaçando com seus riffs e “Death Metal”, mais uma de “Bloody Vengeance”, seguida pela cadenciada faixa título do álbum de 1986. Do álbum “Tales From The Black Book” (2003) veio a galopante “Gates Of Iron”.

O show foi fluindo de forma brutal mas agradável para quem estava frente a frente com uma das lendas do Metal brasileiro e então, Zhema iniciou o veterano hino “Witche’s Sabbath”. Dali em diante foram só recordações do passado e momentos que dificilmente são esquecidos, com “Total Destruição” e a sua entrada que resumiu um grande momento, que teve o baterista Arthur trazendo seu lado “Von Barbarian”, espancando os tambores em pé com garrafas de long-neck de cerveja ao invés das baquetas, encarando e vibrando com os presentes, além da conhecida narrativa: “Eu sou o quinto cavaleiro do apocalipse / Empunho em minhas mãos uma espada forjada em aço e fogo / Ergam suas cabeças para que eu possa decepá-las…”. O final trouxe mais duas em português e conhecida por todos: “Guerreiros de Satã” e a parte final de “Legiões Satânicas”. O Vulcano está em uma fase produtiva, tendo seu trabalho exaltado nos quatro cantos do mundo e aproveitando o momento. Realmente, vimos mais uma vez a competência dos guerreiros.

Não demorou muito para que os ingleses do Avenger ajeitassem o equipamento para apresentar músicas conhecidas do passado e surpreender com novas composições. Contando com o vocalista brasileiro Roddy B. – para nós, Rodrigo BVevino – à frente, o que presenciamos foi uma aula digna da tradição do Metal inglês, começando com “Death Race 2000” e “Run For Your Life”. Os guitarristas da formação atual – Liam Thompson (Death in Blood) e Sean Jefferies (Fallen Skies, Earthrod) – são excelentes instrumentistas e deram ainda mais força ao som encorpado e tradicional da banda, como se viu em “Brand Of Torture”, outra de “Killer Elite” (1985).

Lá atrás, Gary Young – fundador e único integrante da formação original – ia mandando ver nos tambores, bem acompanhado pelo preciso baixista Ian ‘Fuzz’ Fulton. Uma das novas composições veio a seguir, “Fate”, antecipando o álbum que Roddy B. declarou no palco que espera ser lançado até o final do ano. Retornando ao álbum “Blood Sports” (1984), foi a vez de “You’ll Never Take Me (Alive)”.

Sem ser piegas ou ufanista, mas saber que Roddy B. estava com esta lenda inglesa foi algo que nos encheu de orgulho. Porém, nada adiantaria se ele não nos provasse sua competência no palco. Mas o vocalista não só provou com sua extensão e força vocal, como na performance absurdamente cativante. Quando teve que falar sério em relação a não vinda do Blitzkrieg, criticou a postura do vocalista Brian Ross por deixar passar a chance e disse que eles iriam “tirar satisfações” com ele na Inglaterra. Nos momentos descontraídos, entre uma música e outra, tirou sarro quando o guitarrista “bombado” Liam Thompson tirou a camisa, ironizou alguns amigos com piadas. Ele estava em casa e soltou mais uma vez sua voz com a nova “In Arcadia… Go!”. Ele e os outros músicos só não mereciam um final de turnê brasileira tão melancólico após os shows em Jundiaí e Santos – a data em Belo Horizonte fora cancelada. O domingão frio e escuro coube bem com a seguinte, “Hard Times” (“tempos difíceis”).

A movimentação e energia dos músicos seguiu com “N.O.T.J.” e “Race Against Time”. Então veio “Yesterday’s Heros” (“heróis do passado”) e naquele momento bateu realmente um sentimento forte. Por dentro, um misto de celebração e contentamento por estar tendo a chance de ver o Avenger, frente a frente, com uma forte angústia de que eles mereciam bem mais. E eles fazem por merecer, diga-se. Bola para frente porque depois vieram “M.M. 85” e outra das novas, “Into The Nexus”. “Sawmill” antecedeu uma das que todos esperavam, “Enforcer”, que abre o álbum “Blood Sports”.

O set fluiu com tanta naturalidade que ninguém percebeu que estava se encaminhando para a parte final, que teve início com “Under The Hammer” e “Revenge Attack”. Gary Young então pegou o microfone e agradeceu a presença dos fãs: “Fantástico vê-los aqui hoje cantando nossas músicas. Espero poder vê-los de novo um dia.” Sean Jefferies, por sua vez, brincou e pediu palmas para “o melhor baterista da nossa banda”.

Como os headbangers postados à frente do palco pediam insistentemente, foram atendidos no fim com “Too Wild To Tame”. Os fãs ficaram gritando, mas para a banda certamente teve um impacto diferente, já que fora composta e gravada originalmente com Brian Ross. Roddy B. até tirou uma onda no início, imitando o estilo do vocalista do Satan e Blitzkrieg. A banda encerrou o set em alta. Os músicos saudaram o público, agradeceram os presentes e então veio um momento inédito para jamais ser esquecido. Empolgado, o baixista Ian ‘Fuzz’ Fulton pegou uma caneta, assinou o braço do baixo e simplesmente entregou nas mãos de um fã. Ninguém entendeu direito.

Um pouco depois, o mesmo fã saiu da casa com o instrumento na mão, amparado por seus amigos e comemorando mais que gol do Brasil na Copa do Mundo. “Ele me deu o baixo! Ganhei o baixo”, dizia o paulistano Matheus Gutemberg com euforia. “Maior prazer de ganhar o baixo. Sou fã pra caralho do Avenger, grande lenda da New Wave Of British Heavy Metal”, estava declarando o felizardo no momento em que algumas pessoas vieram e pediram que ele entrasse novamente no Blackmore Bar. Todos então pensaram que aquilo tinha sido uma brincadeira de Ian ‘Fuzz’ Fulton. Instantes depois, Matheus voltou com o baixo e, pasmem, com o bag do instrumento! Ele e seus amigos saíram contentes, gritando enquanto rumavam para pegar o transporte público e encarar a segunda-feira. Por sinal, um ‘day after’ histórico, em que centenas de milhares de pessoas foram às ruas em diversas cidades do país para manifestar sua insatisfação, que teve como estopim o aumento da tarifa de transporte público, o mesmo que muitos fãs pegam quando saem dos shows. O gosto amargo se transformou em prenúncio de mudança. Assim esperamos.

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