Texto e fotos: Écio Souza Diniz
O talento e reputação do lendário guitarrista alemão Axel Rudi Pell dispensa comentários. Ele iniciou sua carreira com a excelente banda alemã de heavy metal Steeler, na qual esteve entre 1981 e 1988. Mas foi da divisão do Steeler, que ele criou sua promissora banda solo, que a partir do debut álbum Wild Obsession (1989) seguiria um caminho produtivo crescente, de qualidade e de destaque no cenário mundial. Afinal de contas, foi com sua banda solo que ele lançou clássicos do hard/heavy como Nasty Reputation (1991), Eternal Prisoner (1992), Between the Walls (1994), Black Moon Pyramid (1996), Magic (1997), Oceans of Time (1998) e The Masquerade Ball (2000), e que já contou em sua banda com músicos como Rob Rock (Impellitteri) e Jeff Scott Soto (Sons of Apollo, Trans-Siberian Orchestra, ex-Yngwie Malmsteen) e há mais de duas décadas conta com o excelente vocal do carismático Johnny Gioeli. Em turnê de divulgação do álbum Sign of The Times (2020), que havia sido adiada devido a pandemia, mas também promovendo o novo trabalho Lost XXIII (2022), Axel Rudi Pell em sua passagem pela República Tcheca se apresentou em dois shows, sendo um no “Masters of Rock Cafe”, na cidade de Zlín, e o segundo na Meet Factory, na capital Praga. A ROADIE CREW acompanhou o show em Praga e traz a cobertura desse show para os nossos leitores.
O espaço da Meet Factory, que fica no bairro de Smíchov, no distrito 5 ao oeste de Praga, se mostrou um local inusitado e interessante para proporcionar um show mais intimista através de contato mais próximo das bandas com o público. Além disso, com o excelente sistema de transporte público de metrô, trem e ônibus da cidade, esse distrito é bastante fácil de ser alcançado. Nessa turnê, a veterana banda alemã de heavy/hard Mad Max se tornou o ato de abertura dos shows da banda de Pell. Formada em 1981 na cidade de Münster, essa banda, apesar de um longo hiato nos anos 90, conseguiu completar a marca de 15 álbuns de estúdio lançados.
O fundador e guitarrista Jürgen Breforth, acompanhado pelo companheiro de longa data Axel Kruse (bateria) e pelos mais recentes membros Fabian Ranft (baixo), Dethy Borchardt (guitarra) e o ótimo e jovem vocalista Julian Rolinger, proporcionaram uma surpresa agradável para muitos dos presentes com um show bem entrosado, de boa qualidade técnica e com riffs cativantes. Momentos de destaque e repletos de feeling, que arrancaram uma resposta bastante positiva e participação do público, se deram com petardos como Burning the Stage, Starcrossed Lovers e a faixa-título de Night of Passion (1987), a música homônima e Fly Fly Away de Rollin’ Thunder (1984), Heroes Die Lonely de Stormchild (1985) e a marcante Too Hot to Handle do novo álbum Wings of Time (2022). Um show com claro compromisso de entregar uma boa performance ao público e que preparou bem a área para a principal atração da noite.
Após um intervalo de cerca de meia hora, entra em cena Axel Rudi Pell e sua banda, completada pelo velho companheiro Volker Krawczak (baixo, ex-Steeler), além dos já longevos Ferdy Doernberg (teclado, ex-Roland Grapow) e Johnny Gioeli (vocal) – ambos desde 1998 na banda -, e o renomado Bobby Rondinelli (ex-Ozzy Osbourne, Black Sabbath, Quiet Riot, Rainbow, Warlock, Blue Öyster Cult, Doro e outros) – esse desde 2013. Como já mencionado, a estrutura do local, por não ser uma grande arena, mas um clube menor, amplificou o aspecto bastante intimista e interativo desse show.
Toda a banda soava muito coesa e inteirada com o público, especialmente Pell, que se aproximava do público à frente do palco e os cumprimentava nas mãos, ato também propagado por Gioeli. Aliás, Gioeli demonstrava uma clara e genuína satisfação de estar ali e agitou durante todo o show, praticamente sem pausa e mantendo movimentação dinâmica. Claro que a presença de palco de Gioeli também foi somente um bônus para a grande qualidade e amplitude de seu vocal, que ao vivo salta ainda mais aos olhos e ouvidos. No palco que se vê se realmente há efeitos de estúdio e que ele reproduz tudo que canta com gana, talento e eficiência. Esses elementos associados ao seu carisma e simpatia reverberam no resto da banda, criando uma atmosfera bastante agradável e descontraída que agrega grande valor à performance técnica dos músicos.
O setlist bem selecionado constitui-se tanto de suas composições mais conhecidas como das do novo álbum, Lost XXIII. Desse mandaram ver com a faixa-título e as marcantes e contagiantes Survive e No Compromise. Mas claro que pontos altos em performance da banda e participação do público ficaram a cargo dos grandes hits Fool, Fool, de Black Moon Pyramid; a faixa-título e Tear Down the Walls, do incrível Oceans of Time; o medley da música de mesmo nome, The Masquerade Ball e Casbah; de Between the Walls, Voodoo Nights – também de The Masquerade Ball – e Strong as a Rock, de Kings and Queens (2004). Todavia, também se destacaram momentos como Hallelujah (cover da música de Leonard Cohen), em que Gioeli colocou suas emoções no vocal e no agradecimento à plateia pelo suporte, ressaltando a importância dos fãs para sua vida, e na atmosfera viajante da faixa-título de Mystica (2006). Além disso, foi arrepiante o feeling do vocal de Gioeli na belíssima e intensa The Line, de The Masquerade Ball, na qual Pell também inseriu seu espírito nos solos. Aliás, ressaltar destaques da atuação de Pell chega a ser redundante. Os outros músicos também tiveram os momentos de brilhar em seus solos, como de costume. Para finalizar, e com a satisfação estampada no rosto do público, a banda fechou com a certeira Rock the Nation, de Mystica.
Findado o show, os músicos ainda tiveram seu momento de dar atenção ao público. Realmente é uma experiência bem legal assistir ao show mais intimista de uma banda em que uma das peças centrais não se comporta como um esnobe guitar hero. Por essas e outras que Axel Rudi Pell segue sendo uma lenda e Gioeli está entre os vocalistas mais habilidosos e simpáticos do metal.
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