Finalmente, o Backyard Babies quebrou o jejum! A banda sueca deu uma pausa nas gravações de seu novo álbum (que deverá ser lançado entre o fim de 2018 e início de 2019) e, após 16 anos de sua primeira passagem pelo Brasil e de estrear em solo argentino, desembarcou em São Paulo, onde realizou no domingo, 25 de março, outro show inesquecível. Na primeira vez em que o grupo oriundo de Nässjö esteve em terras tupiniquins, se apresentou com as paulistanas Shed e Forgotten Boys e com a carioca Mustang (de Carlos Lopes, da Dorsal Atlântica) no palco do finado Hangar 110. Na época, para divulgar o terceiro álbum, “Making Enemies is Good” (2001), que ainda é o de maior sucesso no Brasil – naquela época, o grupo ganhou bastante exposição por aqui, porque a nossa MTV ainda tinha força e exibiu exaustivamente os clipes de “Brand New Hate” e de “The Clash”. Nessa nova visita de Nicke Borg (vocal e guitarra), Dregen (guitarra – Michael Monroe/The Hellacopters), Johan Blomqvist (baixo) e Peder Carlsson (bateria), quem os recebeu foi o Manifesto Bar, que em fevereiro já havia aberto suas portas para outro grupo sueco, o Mile.
O ‘opening act’ para esse novo show do Backyard Babies ficou com a banda paulistana Krueggers, que às 20h começou a esquentar os amplificadores com seu som pesado e moderno, que traz muita influência do grunge, além de referências de metal industrial. Para o começo do set, Randy Fiora (vocal e guitarra), Rafael Fioramonte (guitarra), Rikke Galla (baixo e backing vocals) e Anthony Juno (bateria) mandaram, com boa presença de palco, algumas músicas novas, que farão parte de seu terceiro álbum, “Degraded by Generation”. No decorrer da primeira delas, “Lying Machine”, os guitarristas tiveram problemas com o som que sumiu dos amplis, mas assim que tudo foi ajustado o show correu tranquilamente. Depois de apresentar material de seu próximo álbum, com destaque para a instrumental “Neanderthal”, que alternava entre partes aceleradas e cadenciadas, o quarteto mandou uma sequência composta apenas de músicas de seu mais recente álbum, “Hysterical Cold Side and Dark Memories” (2015), agora contando com um quinto integrante em cena. Garga entrou para sentar paulada num velho tonel de gasolina que, até então, ornamentava o palco. Confesso que não achei esse elemento algo funcional para as músicas, ao menos ao vivo, já que, sem estar microfonado e com algum tipo de efeito, não surtiu o resultado efetivo que deveria, causando apenas barulho, ainda que não tenha sido tocado exageradamente, mas em determinadas partes de cada música.
Perto do fim do set a banda agradou os fãs de Sepultura com um cover para “Propaganda”, do poderoso álbum “Chaos A.D.” (1993). A despedida com “Bullshit” teve inserção de “Rusty Cage”, música que o Soundgarden gravou em seu clássico álbum “Badmotorfinger” (1991). Já a saída de palco do Krueggers lembrou os shows do Nirvana, pois os músicos destruíram seus equipamentos, inclusive quebrando uma das guitarras e desmoronando a bateria, posicionada abaixo do praticável da do Backyard Babies. Após o evento, Galla comentou com a ROADIE CREW a importância que foi para o Krueggers tocar com o Backyard Babies: “Atualmente, a Suécia é um grande celeiro de bandas de rock, se destacando como uma alternativa de qualidade ao eixo dominante, Estados Unidos/Inglaterra. Então, de certa forma, o Backyard Babies e esse movimento que está acontecendo na Suécia nos últimos anos são uma grande inspiração para nós que tocamos rock no Brasil continuarmos seguindo em frente, mesmo em um país dominado por outros gêneros”, afirmou. “Quem sabe revivamos um pouco do que aconteceu no começo dos anos 90, quando tínhamos bandas como Sepultura, Angra, Viper e Dr. Sin, dentre outras, em alta com grupos desta nova geração, assim como aconteceu este forte ‘revival’ do hard rock na Suécia nas últimas décadas?”, indagou o baixista.
Demorou cerca de uma hora até que a atração principal desse as caras. Entretanto, pra quem teve que esperar dezesseis anos pelos suecos, isso não foi nada, até porque o som mecânico da casa estava bem legal. Clássicos do punk rock, de Ramones, Dead Kennedys e Sex Pistols, se revezam com os do hard rock de Mötley Crüe, Guns N’Roses, Skid Row, Hardcore Superstar, Poison, Aerosmith e alguns outros. Eles eram cantados em uníssono pelo público. Aliás, era muito legal e divertido quando o DJ diminuía o volume no refrão das músicas para que a galera toda, que àquela altura já marcava presença em ótimo número no Manifesto, cantasse. Montar um playlist com bandas punk e hard foi algo bastante inteligente por parte dos DJs Edu Roxx e Paula Baker, pois é exatamente essa a mistura sonora do Backyard Babies.
Assim que a introdução começou a rolar, o público entrou em polvorosa, principalmente quando Nicke Borg, Dregen, Johan Blomqvist e Peder Carlsson tomaram seus postos e descarregaram uma trinca formada por “Made Me Madman” e “U.F.O. Romeo”, músicas do segundo álbum, “Total 13” (1998) – que acabou sendo o mais representado da discografia da banda -, e “Dysfunctional Professional”, de “People Like People Like People Like Us”, de 2006.
Tive a oportunidade de estar no show que o Backyard Babies realizou no país naquele 20 de julho de 2002 e posso garantir aos que não estiveram naquela estreia que, mesmo após tanto tempo e com os quatro integrantes estando hoje com ou perto de completar 45 anos de idade, a energia com que tocam continua a mesma. Assim como aconteceu no Hangar 110, o palco do Manifesto Bar ficou pequeno para o Backyard Babies, pois os caras pareciam estar ligados no 220, tamanha a empolgação e visceralidade com que tocavam. Ainda que mostrando certa timidez, Borg comandou a festa, se comunicando com a plateia e, assim como seus companheiros, demonstrando estar bastante feliz. Mas quem roubou a cena mesmo foi Dregen, que falava até mais do que Borg e se portava tão insano quanto na primeira vez que aqui esteve. O músico trajava um visual punk a lá The Clash – incluindo uma camiseta bem bacana da Safety Pin Records, gravadora espanhola especializada no gênero -, e no meio da mencionada “Dysfunctional Professional” até parou de tocar por alguns segundos, empurrou sua guitarra para o lado e caiu no pogo! Recebendo a vibe que vinha da banda, o público incendiou a pista ainda mais quando o Backyard Babies tocou, em sequência, os hinos “The Clash” e “Brand New Hate”, do aclamado “Making Enemies is Good”, que também foi bastante lembrado. E a coisa só melhorou com a rajada de hits como “Abandon”, “Highlights”, “A Song for the Outcast” e “I’m on My Way to Save Your Rock’n’Roll”. Após mais algumas outras músicas, o quarteto resolveu dar uma pausa e foi tomar um fôlego no camarim, principalmente porque, como bons suecos, os músicos não estavam acostumados com o calor absurdo que fazia na casa. Falando nisso, Dregen adorou se refrescar durante o show com nossa tradicional caipirinha, a qual ele considerou “deliciosa”.
Após o break, a banda voltou para o bis, cumprimentando o público. Carlsson, baterista de pegada forte e com ‘punch’, deu até alguns autógrafos para os fãs que estavam na primeira fila. Os figurões reiniciaram com uma das músicas mais legais de seu álbum mais recente, “Four by Four” (2015): “Th1rt3en or Nothing”. Essa é um hardão com direito a refrão contagiante e cowbell martelando e ditando o ritmo da batera. Pra encerrar, dispararam mais três clássicos: “Nomadic”, “Minus Celsius” e “Look at You”.
Dias depois do show, conversei com o simpático Dregen, que primeiramente falou do que guardou na memória sobre a primeira vez que o Backyard Babies esteve no Brasil: “Pra ser honesto, sinceramente eu não me lembro muito de nada daqueles dias (risos). Lembro-me apenas que nós tocamos ao vivo em alguma rádio em São Paulo e que o show e os fãs foram incríveis! Assim sendo, só tenho boas memórias!”. E, analisando os dezesseis anos em que a banda demorou para retornar ao país, o guitarrista falou do que mudou entre aquela primeira apresentação e essa mais recente: “Hoje somos umas banda melhor, com um catálogo maior de grandes músicas, e eu acho que temos melhorado bastante também como banda ao vivo”, concluiu.
Voltando a falar do show do último domingo, não vou dizer que a espera valeu a pena pra não soar clichê, mas foi tão bombástico quanto o que o Backyard Babies fez no Hangar 110 em 2002. A banda toca em palcos pequenos como se tivesse tocando nos de grandes arenas, de tanto que os caras agitam ao vivo. Aliás, poucas vezes vi no Manifesto Bar o público pirar tanto do começo ao fim do show quanto nesse. Mas, convenhamos: ninguém merece esperar tantos anos para ver ao vivo uma banda de que gosta muito. Sorte que, para alívio dos fãs, Dregen e Nicke Borg garantiram que o Backyard Babies voltará ao Brasil para divulgar seu próximo álbum. Então, que venha logo o oitavo full lenght desse grupo que é o pioneiro da nova geração do efervescente cenário hard rock sueco.
BACKYARD BABIES – Set list:
Intro
Made Me Madman
U.F.O. Romeo
Dysfunctional Professional
The Clash
Brand New Hate
Abandon
Highlights
A Song for the Outcast
Heaven 2.9
I’m on My Way to Save Your Rock’n’Roll
Painkiller
Star War
Ghetto You
Bombed (Out of My Mind)
Th1rt3en or Nothing
Nomadic
Minus Celsius
Look at You
KRUEGGERS – Set list:
Intro
Lying Machine
Neanderthal
60 Seconds to Nothing
Virtual Sucker
Dark Parade
Hysterical Cold Side and Dark Memories
I Set Myself
Overreaction
Propaganda (cover do Sepultura)
Bullshit