Há quem diga quem clássico que é clássico só vale se for feito com a formação original. E há quem respeite a história, mas acha que o importante é o legado e como ele é representado. Foi assim, com opiniões bem divididas, que o Bad Brains fez o tão aguardado retorno ao Brasil com sua emblemática formação original. Quem acompanha a banda há bastante tempo, soube fazer o comparativo e dar opinião embasada, especialmente os que viram o show deles por aqui em 2008 com Israel Joseph I nos vocais. Já quem preferiu o deslumbramento pelo acontecimento embarcou na mesma viagem da gravadora Megaforce (conhecida pelo casting de bandas de Metalcore) que lançou os dois mais recentes álbuns, “Build a nation” (2007) e “Into the future” (2012). Sim, porque registrar e dar sequência a uma história respeitável é mais que louvável, se justifica, mas desde que você consiga trazer a mesma energia dos discos para o palco. E, definitivamente, não foi o que aconteceu.
Até então, tudo parecia ser mesmo digno de entrar para a galeria dos shows mais fodas da história com o impressionante show de abertura do Paura. Esbanjando técnica e energia a banda brasileira calou os críticos de plantão que disseram que não tinha nada a ver serem escalados por destoar do estilo da banda principal. O contrário do que imaginavam alguns, o público ficou ainda mais animado para o que viria na sequência. No set sons do mais recente EP “Integrity Dept” e outros hits como “Bull control” e “Demmanded on hate”.
Com a casa lotada a plateia se dividia entre velhos fãs, skatistas, old school saudosistas e outros mais novos e encantados pela lenda do que pelos fatos. Todos, aos gritos, receberam o Bad Brains ao som da intro seguida pelo clássico “Attitude”. A catarse coletiva e a pista sem um ser humano parado continuou com “Right Brigade”, “Sailin´On” e “Regulator”. “Jah Love” foi uma das únicas novas no meio de tantos hits clássicos dos mestres do Hardcore, ou do Reggae Punk como chamam alguns.
Depois de alguns sons, passado aquele encanto de “porra, são os caras mesmo” se percebe, com tristeza até, a realidade dessa reunião: enquanto a banda, impecável, desce o braço na rapidez dos riffs e batidas, o vocal HR viaja num universo particular enquanto o público faz a voz das músicas numa espécie de karaokê de luxo. Daí em diante, parte se dividia em cantar junto outros sons mais recentes momentos mais na dobradinha dub/reggae como “Give thanks and praises” e “Universal peace” com outros clássicos do HC como “Banned in D.C” e “Pay to Cum”, ambos do homônimo álbum de estreia lançado em 82. Essa última encerra a primeira parte do show. Depois de alguns minutos, a banda volta para o bis e tocam simplesmente “I against I”, um dos mais conhecidos sons deles.
Como conclusão, pelo bem ou pelo mal, uma experiência como essa é sempre inesquecível. Teve quem saiu brincando que precisava ser ressarcido pelo quase não-show e quem permaneceu com o discurso do clássico original seja lá como for. Saldo? Pela iniciativa e pelo evento, sempre positivo. Mas, modestamente, se for pra ter um cara lá só pelo fato do seu histórico e comprometer o futuro e a imagem da banda pelo simples saudosismo, não vale nem um pouco.
SET LIST – BAD BRAINS:
1. Intro
2. Attitude
3. Right Brigade
4. Sailin’ On
5. Regulator
6. Jah Love
7. Give Thanks and Praises
8. Universal Peace
9. F.V.K.
10. I and I Survive
11. Banned in D.C.
12. Soul Craft
13. I Luv I Jah
14. At the Movies
15. Re-Ignition
16. Pay To Cum
17. I Against I