É um prazer, quase terapêutico, para mim estar sempre garimpando em busca de novidades musicais. E, apesar de ainda restarem alguns meses para o término do ano, já posso apontar a Ballburya como uma das grandes revelações de 2024. Formado há apenas quatro anos, o grupo paulistano foi ganhando cancha lançando nos anos seguintes uma série de singles que mostravam maturidade e identidade sonoras, mesmo com a pouca idade dos integrantes. Esse processo de aprimoramento culminou nesse surpreendente álbum de estreia, Ataxia, que reforça a inovação que essa promissora banda traz para a cena musical.
Beneficiado por uma produção de alta qualidade realizada por Douglas Neves no conceituado estúdio Fusão (Shaman, Angra, Kiko Loureiro, Edu Ardanuy), Ataxia ressalta uma banda competente e cheia de atitude. As músicas são um amálgama de influências, ritmos, experimentalismos e atmosferas. Imagine o peso e a variedade de um System of a Down, mas com uma mistura de ritmos regionais brasileiros em algumas faixas, que também incorporam referências da MPB (especialmente no estilo de cantar da vocalista Cath Castro) e elementos da cultura nordestina, ao invés de raízes armênias. E falando em Cath, ela garante um dos maiores diferenciais da Ballburya. Assim como uma flor de lótus embeleza o pântano, seu estilo ‘clean’ de cantar e suas linhas melódicas e amenas adicionam doçura e poesia ao caos instrumental do grupo. Um belo exemplo dessas referências pode ser conferido na faixa Coin Collectors, que transita do frenesi característico do System of a Down e do despojamento da música alternativa à leveza de um xote. Agora, vamos a alguns dos outros destaques do álbum.
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Leia aqui a entrevista que fizemos com a banda Ballburya
Instrumentalmente, a intrincada e pesada Ripped-off Souls abre o álbum Ataxia revelando os ótimos timbres das guitarras da afiada dupla Mike Stn (responsável pelos ‘male vocals’ da banda) e Bélity Milanesi, além da competência da cozinha formada por Gabriel Carvalho (baixo) e Ruan Cezar, baterista que, logo a 1 minuto de música, começa a mostrar sua versatilidade em estilos fora do rock/metal, inserindo uma tradicional levada de samba com bumbo, shimbal e aro da caixa. Por sua vez, Cath canta uma espécie de mantra semelhante ao que o saudoso Layne Staley fez no início de Sludge Factory do Alice in Chains no Unplugged da MTV. Escolhida apropriadamente como primeiro videoclipe de Ataxia (confira abaixo), Beholder’s Land soa dramática e proporciona um clima cinematográfico e, por que não dizer, circense. Sem me aprofundar em detalhes, outras faixas que se destacam são as pesadas Lich e Burn These Walls, Hodophobia (essa com mais uma pitada de samba e algo da MPB e do jazz), a bela Grass Memories e Dama da Noite, que, como o título indica, é cantada em português.