
Acompanhe agora a cobertura do segundo dia do Bangers Open Air 2025, com os textos das apresentações em ordem cronológica em que os shows aconteceram ao longo do sábado, 03 de maio, nos palcos Hot, Ice, Sun e Waves. A cobertura completa dos outros dois dias de festival, realizados no sexta (02) e domingo (04), você já pode conferir acessando os links abaixo:
Introdução
Sexta-feira (02) | Domingo (04)
BURNING WITCHES (Ice Stage)
Por Daniel Agapito
Fotos: Belmilson dos Santos
Começando os trabalhos do primeiro dia “pra valer” do festival, as suíças do Burning Witches trouxeram seu culto para o Ice Stage. Esbanjando uma energia absurda desde o começo, Laura Guldemond e companhia soltaram a besta sob o sol do meio dia justamente com Unleash the Beast, primeira faixa (fora a introdução) de seu último álbum, The Dark Tower, de 2023. Logo de cara, ficava evidente a felicidade da banda por estar tocando no Brasil novamente, tendo carimbado o passaporte por aqui pela última vez em 2022 acompanhando o Destruction (que também marcaria presença no Bangers). O público também estava bastante animado, apesar do horário, cantando hits como Hexenhammer e Wings of Steel junto com a banda e constantemente jogando seus punhos ao ar, fazendo aquela famigerada troca de “ei, ei, eis” com a banda.
Três das dez faixas excetuadas naquela tarde vieram do aclamado Dance With the Devil (2020), com a faixa-título, Lucid Nightmare e a já mencionada Hexenhammer, que viu Laura perguntar se deveriam voltar ao Brasil com mais frequência, sendo recebida calorosamente com gritos dos fãs. Vendo esta reação estrondosa, nos deram uma prévia do próximo álbum, o single The Spell of the Skull, épica, porém sinistra na medida – e neste aspecto, lembrando algo parecido com o Mercyful Fate, por exemplo. Fizeram uma hora de show, com justamente Burning Witches sendo a última música a soar, desencadeando uma cachoeira de aplausos ininterrupta, tendo aquecido o público para o calor do H.E.A.T.
VIPER (Sun Stage)
Por Marcelo Gomes
Fotos: Andre Santos
O Viper abriu as atividades do palco Sun Stage para celebrar seus 40 anos de estrada com a missão de representar o legado da banda. A atual formação conta com Leandro Caçoilo (vocal), Felipe Machado e Kiko Shred (guitarras), Daniel Matos (baixo) e Guilherme Martin (bateria). Abrindo com a excelente Timeless, a banda logo mergulhou o público em seu universo sonoro, criando o clima perfeito para a avalanche de clássicos que viria em seguida. Prelude to Oblivion e A Cry from the Edge mantiveram o ritmo acelerado e mostraram a precisão técnica dos músicos, além da entrega vocal intensa, que remete diretamente à energia que consagrou a banda desde os anos 1980.
Embora tenha sido anunciado que tocariam várias faixas do álbum Evolution (1992), muitos fãs foram pegos de surpresa. Esse disco marcou uma nova era da banda e a estreia de Pit Passarell nos vocais. Ou seja, foi uma homenagem em forma de música ao baixista e compositor, que nos deixou em 2024. Começaram com Coming from Inside e Dance of the Madness, seguidas por um medley matador com Wasted, Still the Same, Pictures of Hate, The Shelter e Dead Light, que funcionou muito bem e resgatou momentos marcantes dessa fase da banda. Os trechos das músicas foram muito bem escolhidos, e o público respondeu calorosamente a cada mudança de faixa. Rebel Maniac foi dedicada ao eterno Pit, enquanto a belíssima The Spreading Soul homenageou o inesquecível maestro Andre Matos. As homenagens aos ícones do metal nacional foram recebidas com emoção, reafirmando o impacto eterno de suas contribuições ao metal brasileiro. Encerraram com Under the Sun e o clássico absoluto Living for the Night, cantado bem próximo ao público e com Guilherme Martin erguendo uma bandeira com a imagem de Pit Passarell, coroando a participação do Viper no festival com muita emoção e nostalgia. O público, formado por fãs antigos e novos, curtiu do início ao fim, demonstrando que o legado da banda segue mais vivo do que nunca.
H.E.A.T (Hot Stage)
Por Leandro Nogueira Coppi
Fotos: Belmílson Santos
Se antes o H.E.A.T não era tão conhecido no Brasil entre fãs de outros gêneros além do hard rock, após a elogiada apresentação no Summer Breeze de 2024 o show do grupo sueco passou a ser um dos mais aguardados do Bangers Open Air. Kenny Leckremo (vocal), Jona Tee (teclado), Don Crash (bateria), Dave Dalone e Jimmy Jay (guitarras) entregaram novamente uma apresentação energética, envolvente e divertida, mesmo os escandinavos enfrentando o forte calor – em certo momento, Leckremo chegou a deitar no palco enquanto conversava com o público, tentando recuperar as energias.
Oito dias antes de embarcarem rumo ao Brasil, o quinteto lançou seu novo álbum de estúdio, Welcome to the Future. Apesar do pouco tempo desde o lançamento, os fãs mais dedicados pareciam já conhecer bem as novas músicas apresentadas, Disaster e Bad Time For Love – uma pena que o single Running to You, um dos destaques do novo trabalho, tenha ficado de fora. Ainda assim, foram os clássicos que mais empolgaram o público, especialmente Back to the Rhythm (na minha opinião, a melhor do H.E.A.T). Quando Lekcremo comentou que eles são do país do ‘hino’ The Final Countdown e Jona arriscou os primeiros acordes da música do Europe, o momento acabou se destacado como um dos mais marcantes da apresentação. Se na primeira visita o H.E.A.T marcou território, agora parece ter adotado o Brasil como sua segunda casa.
HARDGAINER (Waves Stage)
Por Daniel Agapito
Fotos: André Santos
Uma das primeiras atrações do palco Waves, nas duas últimas edições dedicado majoritariamente às bandas nacionais, seria o Hardgainer, banda vencedora do programa New Blood, concurso promovido pela rádio KISS. Com o quarto palco novamente sendo no auditório do Memorial, seu público não era dos maiores em um primeiro momento, algo compreensível, visto que ainda estava bem cedo e no mesmo horário rolava o H.E.A.T., banda queridinha do público, lá no Hot Stage. Seu repertório começou destacando seu primeiro e único álbum, Invisible Walls, de 2019, com Invisible Walls e Idols Fall, mesma sequência do álbum. Da última vez em que o auditório foi usado como palco do festival, vários fãs reclamaram do som, dizendo estar alto demais, mas especificamente com o Hardgainer, estava perfeito, sem haver do que reclamar. Ao tocar os últimos acordes da terceira faixa, Raul (guitarra) introduziu a seguinte, Close Your Eyes, como “um som romântico que fala de verão e beijar na boca, pra dançar agarradinho”. Se com “dançar agarradinho” ele quis se referir a agarradinho como dois lutadores de jiu-jitsu no auge de um combate, acertou em cheio, pois fora alguns momentos com vocais limpos, são 3 minutos de brutalidade.
O clima romântico perdurou até From Strength to Weakness, em que os fãs foram incentivados a abrir uma roda, com o vocalista alegando que o mosh era aquilo, violência consciente. Dedicaram Excluded para o lugar de onde vieram, as quebradas de São Paulo, e ainda convidaram Gunther Plascak, vocalista da Bebê Feio, banda que ganhou o voto popular do concurso, mas no final das contas ficou em segundo lugar. Este gesto do Hardgainer não só mostrou uma atitude bastante honrável da banda, mostrando o underground como uma rede de ajuda, não uma competição, algo que parece ser mais e mais difícil à medida que o tempo passa. Gunther em si às vezes parecia um ralo de pia da cozinha, com guturais tão graves que tremiam o chão. Ambos continuaram juntos para Break You Down, que fechou o show. Esbanjando tanto uma presença de palco incrível quanto um som verdadeiramente bem feito, eles têm tudo para ser um dos próximos grandes nomes do metal. Agora, precisamos da Bebê Feio na edição de 2026…
MUNICIPAL WASTE (Ice Stage)
Por Leandro Nogueira Coppi
Fotos: Andre Santos
Se houve um show que merecia um prêmio por reunir peso, circle pits, diversão e acontecimentos aleatórios no Bangers Open Air, sem dúvida foi o dos tresloucados do Municipal Waste. A banda de Richmond, Virginia (EUA), fortemente influenciada pelo lendário Nuclear Assault, não se apresentava no Brasil há 15 anos – e compensou a ausência com uma performance de lavar a alma de qualquer headbanger que se dispôs a encarar o Ice Stage para prestigiá-la. Tony Foresta (vocal), Ryan Waste (guitarra), Nick Poulos (guitarra), Land Phil (baixo) e Dave Witte (bateria) entregaram aos fãs de thrash metal, crossover, punk e hardcore uma apresentação caótica e intensa. No repertório, o grupo incluiu petardos de todos os seus sete álbuns de estúdio, sendo o Electrified Brain, de 2022, o mais recente. Foresta se gabou que o Municipal seria a banda com o maior repertório de todo o festival – e não mentiu: 21 petardos foram executados em apenas uma hora de show. O frontman se divertiu o tempo todo e arrancou gargalhadas com suas interações bem-humoradas.
Nada, porém, foi mais hilário do que o que aconteceu durante Poison the Preacher, faixa do penúltimo álbum do grupo, Slime and Punishment (2017). Enquanto a música rolava, Foresta observou um rapaz vestido de Jesus sendo erguido pela plateia. Para mais risos de Foresta, logo surgiram também, nos braços do público, Eddie — a icônica mascote do Iron Maiden — e, em seguida, Goku, o protagonista da franquia japonesa Dragon Ball. Ao final do show, Tony Foresta conversou com a ROADIE CREW e, em tom de brincadeira, comentou: “Jesus Cristo ressuscitou da sepultura pela quarta vez, eu acho. Não sei quantas vezes Jesus ressuscitou, mas ele ressuscitou de novo e estava lá. Havia um circle pit ao redor Dele e bateram Nele, porque é o que gostamos de fazer com Jesus.” Ele ainda afirmou que quer voltar ao Brasil o quanto antes e deixou claro onde quer estar da próxima vez que desembarcar: “Quero tocar num bar vagabundo aqui!”. Por agora, o Municipal Waste se despediu do público brasileiro entregando uma das melhores e mais divertidas apresentações do Bangers Open Air.
DYNAZTY (Sun Stage)
Por Luiz Tosi
Fotos: Belmilson dos Santos
Tem algo na água da Suécia – só pode. Porque é difícil explicar como um país tão frio segue produzindo há décadas músicas tão quentes, cheias de refrãos pegajosos e melodias que grudam na cabeça. Do ABBA ao Europe, passando por Arch Enemy e Amon Amarth, até chegar ao Dynazty, a escola sueca tem um dom: transformar qualquer estilo, do pop ao death metal, em algo cantável e memorável. No caso do Dynazty, essa habilidade se traduz num heavy metal moderno, com pitadas generosas de hard rock, power metal e aquele bom gosto melódico que parece ser DNA escandinavo. Na sua estreia em palcos brasileiros, a banda não decepcionou e entregou uma das apresentações mais vibrantes e carismáticas de todo o sábado no Bangers Open Air. Bastaram as duas primeiras músicas para a plateia embarcar nos refrãos, até mesmo quem claramente nunca tinha escutado a banda. É o tipo de som que conquista fácil.
O repertório privilegiou a fase mais recente da carreira – os álbuns The Dark Delight, Final Advent e o recém-lançado Game of Faces dominaram o setlist. E funcionaram muito bem ao vivo: produções limpas, arranjos com peso, ganchos melódicos fortes e estrutura pop bem disfarçada sob um verniz metálico. Tudo muito bem executado, sem firulas ou exageros. Padrão sueco, como se diz por aí. No centro do palco, Nils Molin dominou as atenções. Carismático, técnico e comunicativo, o vocalista mostrou um domínio vocal impressionante – potência, afinação e entrega. Mas é a presença de palco que realmente conquista. Não há gritaria vazia, não há esforço forçado para “parecer metal”. Tudo soa natural. E verdadeiro. Ao fim do set, a sensação era clara: o Dynazty veio, viu e conquistou. Uma primeira impressão daquelas que dificilmente se apaga. Se depender da recepção calorosa, essa passagem pelo Brasil está longe de ser a última.
GLORIA PERPETUA (Waves Stage)
Por Daniel Agapito
Fotos: Belmilson dos Santos
Continuando a avalanche do metal melódico que já havia começado com o Dynazty 20 minutos antes no palco Sun e seguiria firme e forte com Sonata Arctica, Kamelot, Ensiferum, Powerwolf e Sabaton ao longo da noite, o Gloria Perpetua, grupo de power metal com membros dos 4 cantos do Brasil, subia no palco do Waves para realizar uma verdadeira ode ao “metal espadinha” nacional. Lançado em abril do ano passado, seu álbum de estreia, The Darkside We Wanna Hide, impressionou tanto fãs quanto críticos, com uma recepção favorável pelo mundo inteiro, contando também com diversos convidados do Brasil e do mundo. Começaram de maneira grandiosa, com The Key of Life trazendo tanto Raphael Dantas quanto Leonardo Rodrigues na voz, com Dantas seguindo sozinho para Mothers of Jerusalem.
Leonardo voltou para Beyond the Darkness Portal, que em sua versão gravada conta com participação de Christian Passos, voz do Wizards, e assumiu solo o microfone para The Angels Are Calling. Se até ali já demonstravam a força do power metal nacional, para as duas últimas músicas trouxeram alguns convidados de peso que fariam isso ainda mais, como Guilherme Hirose, voz do Traumer, e ninguém mais, ninguém menos que os irmãos Mariutti, Hugo e Leandro. Fecharam o show com uma dupla de peso, Turn Away, e uma última que nem precisou ser anunciada por Dantas para levar os fãs à loucura, a clacissíssima Pride, do Shaman. Chegar perto da voz de André Matos não é fácil, mas a dupla Dantas e Hirose conseguiu, além do fato de que não é sempre que temos a oportunidade de ver esta música tocada por metade da formação original da banda. Fizeram uma verdadeira celebração ao metal nacional. Que a glória deles realmente seja perpétua, eles merecem!
SONATA ARCTICA (Hot Stage)
Por Daniel Agapito
Fotos: Belmilson dos Santos
Oficialmente abrindo os portões para a avalanche de melodia que dominaria o resto do sábado, o Sonata Arctica veio provar que não só de metal vive o Bangers, dando espaço, também, para o sertanejo finlandês. Os reis do power metal da sofrência retornaram ao Brasil, um de seus maiores mercados, após uma apresentação memorável em 2023, agora com mais um álbum na manga, Clear Cold Beyond (2024), que marca seu retorno ao metal espadinha. Foi justamente com ele que deram o pontapé inicial no show, a enérgica First in Line animando os fãs desde o primeiro segundo. Tony Kakko, o carismático vocalista, subiu correndo no palco, com um baita sorriso no rosto, ovacionado pelos fãs. Seguiram no mesmo álbum com Dark Empath, que trouxe um clima mais sombrio, mas sem perder a chance daquela palminha coletiva no ritmo. I Have a Right, que já é emocionante por si só, quem dirá com um coro gigantesco acompanhando, fechou a década de 2010, com o resto do repertório sendo as velharias, com a primeira dedicada para os “old school motherfuckers”, como disse o vocalista, a mais que nostálgica San Sebastian, que teve até sua melodia inicial gritada a plenos pulmões. Aproveitaram o auge da felicidade do show para bater aquela foto de lei com o público, que geralmente vem no final. Kakko falou que iam postar nas redes para que os fãs pudessem repostar, baixar, até usar de papel de parede no teto do quarto.
O vocalista e o guitarrista sentaram na plataforma da bateria, admirando o público, e bastou apenas Henrik Klingenberg (teclados) tocar as primeiras notas de Replica (que faltou nas últimas duas vindas deles por aqui) para o Memorial ir abaixo – era claro que os fãs esperaram 10 anos para gritar aquele refrão junto aos finlandeses mais uma vez. Continuando em Ecliptica (1999), o icônico CD de estreia, veio My Land, que novamente teve seu riff inicial ecoado pelos fãs. Vendo as recepções calorosas do público, Kakko decidiu simplesmente jogar o começo da próxima para os espectadores, com o público cantando sozinho os primeiros versos de FullMoon, a Evidências finlandesa, perfeita para sofrer pela loira de olhos azuis. Antes de cantar uma última música, Tony anunciou que ia recitar um poema, sendo ele Wolf & Raven, uma das faixas mais “porrada” do grupo, que ficou fora do repertório por um tempo. Tudo que é bom tem que chegar ao fim, e com um agradecimento aos fãs que tornam a música ao vivo possível, fecharam do melhor jeito possível com Don’t Say a Word: “Aprendam a se amar, tomem conta um dos outros, a vida é frágil”, comentou Tony. Desta vez, Talullah ficou de fora, algo verdadeiramente ultrajante, mas conhecendo a banda, já já está de volta, eles não resistem ao Brasil. Foi uma hora de pura emoção e nostalgia, algo que só eles conseguem entregar.
VÁLVERA (Waves Stage)
Por Rogério SM
Fotos: Belmilson dos Santos
Não é de hoje que o Válvera vem, aos poucos, conquistando seu espaço, tanto aqui quanto no exterior. Inclusive, a banda paulista de heavy/thrash tinha acabado de voltar de uma turnê na Europa de 15 shows em 21 dias (pegando até apagão no aeroporto voltando pra cá), deixando a apresentação no Bangers Open Air totalmente afiada. Aliás, quem chegou 15 minutos antes pode conferir a música Bringer of Evil na íntegra com o grupo fazendo a passagem de som.
Na hora em que a coisa começou pra valer, o palco quase veio abaixo. O quarteto formado por Glauber Barreto (vocal e guitarra), Rodrigo Torres (guitarra), Gabriel Prado (baixo) e Leandro Peixoto (bateria) destilou faixas mais antigas e outras novas, como Reckoning Has Begun e Unleshed Fury, que agitaram o bom público presente com um som que alinha o melhor do thrash old school com elementos mais atuais. Barreto chamava os fãs no auditório para agitar na frente do palco e o que vimos foi uma festa de peso e agressividade, com uma banda impecável em termos de técnica e agressividade. Como disse Torres com exclusividade para a RC, “é um sonho estar aqui. Animal o festival. Galera foda e agora vamos curtir com todo mundo.”
MATANZA RITUAL (Sun Stage)
Por Luiz Tosi
Fotos: Arthur Waismann (MHermes-Arts)
Sábado, meio de tarde, calor, cerveja… o cenário perfeito para diversão. E quem procurava diversão encontrou com sobras, quando pontualmente às 15h50, o Matanza Ritual entrou no Sun Stage e entregou um dos momentos mais explosivos do festival. A expectativa já era alta. Antes mesmo da primeira nota, um execelente público se aglomerava na frente do palco com aquela certeza de quem sabia o que vinha pela frente. E quando a pancadaria começou, confirmou-se o pressentimento. Foi um show rápido, mas direto na jugular. Pouco tempo, muita entrega. Jimmy London é o tipo de frontman que se impõe sem firula. Não é técnico. Não é afinado no sentido clássico. Mas é dono de uma entrega absurda, com carisma transbordando em cada verso cuspido. Sua mistura de ironia, acidez e presença cria uma conexão imediata – e irresistível. É rock em estado bruto. Ao seu lado, um verdadeiro supergrupo do metal nacional: Felipe Andreoli (Angra) no baixo, Antônio Araújo (ex-Korzus) na guitarra e Amílcar Christófaro (Torture Squad) destruindo na bateria. A química entre eles é evidente. O som que, em estúdio, é uma mistura de hardcore punk, country, metal e sarcasmo, ao vivo ganha uma pegada quase thrash, com peso redobrado e precisão brutal. A pancada é seca, suja e certeira.
O setlist apostou nos clássicos da antiga fase do Matanza, revisitados com nova roupagem e fúria renovada. Faixas como Meio Psicopata, Remédios Demais, Bom É Quando Faz Mal, Tudo Errado e as indefectíveis Clube dos Canalhas e Ela Roubou Meu Caminhão foram recebidas como hinos. Também houve espaço para a banda apresentar faixas do novíssimo (e excelente) lançamento, A Vingança É o Meu Motor, como Nascido Num Dia de Azar, Assim Vamos Todos Morrer e Lei do Mínimo Esforço. Cada música vinha acompanhada de rodas de mosh – sim, várias – abertas no instinto. E no meio de uma delas, ninguém menos que Pennywise, o palhaço de “It”, balançava um balão vermelho como se dissesse: “Eles flutuam aqui”. Foi divertido. Foi catártico. Foi intenso. O Matanza Ritual não veio só cumprir tabela, veio mostrar que é possível reunir peso, personalidade e entretenimento sem cair na caricatura. E entregou um dos shows mais comentados do Bangers. Se você estava lá, sabe. Se não estava… perdeu uma porrada histórica.
KAMELOT (Ice Stage)
Por Daniel Agapito
Fotos: Andre Santos
O Sonata tinha acabado de dar uma aula no palco Ice, e a êxtase dos fãs de power metal continuaria com um dos maiores nomes do estilo fazendo o primeiro de uma sequência de dois shows no festival, o Kamelot, a banda americana mais europeia do metal melódico. Bumbos duplos ferozes e um riff triunfal sinalizaram o começo do show, com o carismático sueco Tommy Karevik (todo de roupas pretas, com um capuz na cabeça, devia estar cozinhando) correndo para cima do palco para iniciar Veil of Elysium. O público deles parecia ser um pouco mais específico, seleto, com nem todos que se engajaram com a banda anterior demonstrando ânimo para o show que rolava. Independente, seguiram com Rule the World, seguida de uma fala de Tommy: “Sei que vocês nasceram para festejar, porque vocês de São Paulo nasceram para vir a shows de metal.” Gostando ou não da banda, não tem quem fique parado com o icônico riff de When the Lights Are Down, e mesmo Karevik não sendo Roy Khan, consegue segurar bem a barra na voz, mantendo a energia lá no alto com sua presença de palco.
Melissa Bonny, vocalista do Ad Infinitum, que já havia feito a primeira música nos backing vocals, assumiu um cargo de maior destaque em New Babylon, que foi emendada com Karma, de acordo com o vocalista, “São Paulo conhece esta música!” Houve ainda espaço para um longo solo de bateria, que inclusive contou com parte de icônica Tom Sawyer, do Rush. Voltando ao mais que clássico The Black Halo (2005), a sinistra March of Mephisto começou o bloco final do show, que prosseguiu com um solo de teclado, Forever e Liar Liar (Wasteland Monarchy), mas uma vez com Bonny na segunda voz. Foi um daqueles shows que quem gostou, amou, mas quem não curte achou chato para caramba. Com isso em mente, os fãs teriam o prazer (ou não) de vê-los novamente no domingo, quando prometiam fazer um show composto de faixas mais raras.
MALEFACTOR (Waves Stage)
Por Rogério SM
Fotos: Belmilson dos Santos
Dotado de uma sonoridade própria, que mistura death old school com elementos épicos, o baiano Malefactor está na estrada desde 1991, conquistando uma base sólida de fãs e admiradores. Com o palco predominantemente composto de luzes vermelhas, o clima era total de puro inferno. Com o auditório lotado, o quarteto liderado pelo vocalista e baixista Lord Vlad inundou os PAs com um som brutal e melódico ao mesmo tempo, com vocais pra lá de brutais.
Danilo Coimbra (guitarra) e Jafet Amoêdo (guitarra) não ficaram atrás e entregaram uma avalanche de riffs cortantes, tudo com a precisão de Daniel Falcão (bateria). Vlad reforçou a importância de bandas underground terem oportunidade de mostrar sua arte em festivais de grande porte e isso ficou comprovado a cada faixa apresentada pelo quarteto, alinhando agressividade com toques refinados de melodia, em um set que percorreu uma carreira de mais de três décadas.
ENSIFERUM (Sun Stage)
Por Daniel Agapito
Fotos: Belmilson dos Santos
Enquanto o Kamelot finalizava seu show, uma parte considerável do público fez a peregrinação pela passarela e foi até o Sun Stage prestigiar o Ensiferum, banda finlandesa de folk metal (apesar de flertes com o metal extremo) que prometia entregar uma das performances mais divertidas da noite, divulgando seu mais novo álbum, o também divertidíssimo Winter Storm Vigilantes. Foi justo com uma faixa dele que começou o show, a triunfal Fatherland. A introdução passou e surgiu uma preocupação: onde estavam os vocais de Petri Lindroos? Para os curiosos, não, seu nome não mente, Petri era realmente um homem bonito. Quando Sami Hinkka – que também se responsabiliza pelos graves – cantava, sua voz saía perfeitamente pelo PA, mesma coisa com o tecladista Pekka Montin, que impressionou com as vozes limpas, mas por alguma razão, os potentes gritos do guitarrista ficavam escondidos por conta de seu microfone.
O que seria a coisa mais folk metal a se fazer em meio à pressão? Beber! E foi isso que fizeram: levaram o público à Twilight Tavern, já contando com a abertura do querido vórtice humano que chamamos de roda. Não foram só rodas que rolaram, pois até uma sessão de remada (estilo Amon Amarth) aconteceu. Com o som parcialmente recuperado, seguiram em frente com Andromeda e a faixa-título do novo álbum, abrindo as portas para o auge da alegria, Lai Lai Hei, que completou 20 anos no ano passado. Remetendo ao Titanic veio Run from the Crushing Tide, logo antes de uma música bastante heavy metal, que de acordo com Lindroos era justamente sobre “um objeto de metal em que confiamos e usamos para matar pessoas”, literalmente um hino do metal espadinha, In My Sword I Trust. One Man Army, que completou 10 anos agora em fevereiro, foi representado por Two of Spades e concluíram jogando a energia lá no alto com Victorious, última faixa do novo trabalho. Apesar dos pesares, mostraram que o metal melódico pode sim ter peso e fizeram um show que ficará marcado na memória dos “tupinivinkings” que os assistiram.
SAXON (Hot Stage)
Por Rogério SM
Fotos: Andre Santos
Uma das melhores coisas de se esperar por um show de uma banda veterana e das maiores da história do metal é que sabemos exatamente o que iremos presenciar. Não no sentido de ausência de surpresas, mas pela certeza de que será um show épico. O Saxon era a banda mais longeva da atual edição do Bangers Open Air, com incontáveis discos clássicos nas costas e muitos hinos para escolher. Assim, não chega a surpreender que o quinteto britânico tenha feito uma das apresentações mais marcantes do festival. Desde o início, com Hell, Fire and Damnation, o jogo já estava ganho para o icônico vocalista Biff Byford e companhia. Em seguida, Power and the Glory enlouqueceu os presentes e mostrou que Nigel Glocker está melhor do que nunca! O baterista foi um dos destaques do show, mostrando precisão, bom gosto e pegada forte. Nada mal para quem já passou dos 70 anos! A mesma energia se via no baixista Nibbs Carter, que agitava no palco sem parar e comandou o público em clássicos absolutos como Motorcycle Man, Heavy Metal Thunder e Strong Arm of the Law.
A dupla Doug Scarratt e Brian Tatler se mostrava extremamente afiada nas guitarras, destilando riffs e solos em total sintonia. Não demorou para o público emendar o tradicional “olê, olê, olê, olê, Saxon, Saxon”. Aliás, tradicional é mesmo a palavra certa para a banda, como ficou claro em mais um hino, And the Bands Played On. A voz de Biff parece dormir em formol, não envelhece nada, com o frontman entregando uma performance arrebatadora. Além de tudo, a simpatia do quinteto é de se admirar, fato que ficou comprovado com Biff vestindo um colete jeans jogado por alguém da plateia (com patches de AC/DC, Accept e, claro, do próprio Saxon). E assim foram emendando um clássico atrás do outro, como 747 (Strangers in the Night), cantado em uníssono pelo público. Claro que não poderiam faltar Wheels of Steel e o final com Princess of the Night, levando os fãs ao delírio. No fim, Biff filmou o público em seu celular e disse que iria postar no Facebook. Pois é, mais uma vez, o Saxon entregou uma verdadeira aula de heavy metal (o que não surpreende ninguém).
PRESSIVE (Waves Stage)
Por Daniel Agapito
Fotos: Andre Santos
Repito isso quando vou falar de todo e qualquer show de metalcore, mas, infelizmente, o Bangers apenas serviu para confirmar ainda mais: não é fácil ser fã desse estilo no Brasil. Quando anunciaram o lineup original, o público do metal moderno se encheu de esperança, com We Came as Romans e I Prevail estando entre as grandes bandas anunciadas, e até com o Knocked Loose, que, apesar de ser hardcore, divide o mesmo público, sendo a cereja do bolo. Para resumir uma longa história, todas essas bandas cancelaram suas vindas, mas sobrou um representante, o Pressive, do México. Ainda pouco conhecidos em terras tupiniquins, fizeram um show digno de palco principal no Auditório Simón Bolívar enquanto o Saxon dava aula no palco Ice. Desde os primeiros segundos, era claro que tinham um público próprio, bastante animado para ver sua estreia no país.
Um clima de festa e ar descontraído dominou a performance, com os integrantes da banda claramente tão animados quanto os próprios fãs. O guitarrista vestia uma camiseta oficial do evento, com um grande “I WAS THERE” estampado, enquanto o baixista usava uma camiseta da Seleção. O vocalista constantemente realçou que nós, latino-americanos, somos uma família, e que a música transcende barreiras de idioma. E houve também um intercâmbio com artistas brasileiros, com Felipe Hervoso, vocalista da AXTY cantando Hollow, música que também gravou em estúdio, e Caio MacBeserra do Project46 dando voz a The Hate Effect. Após o show, o vocalista não só desceu do palco para atender os fãs, como também ofereceu adesivos, chaveiros e camisetas, falando que podiam pagar o preço que quisessem. Não só uma grande demonstração musical, como uma grande demonstração de humildade. Mereciam voltar e tocar para um público ainda maior!
POWERWOLF (Ice Stage)
Por Marcelo Gomes
Fotos: Belmilson dos Santos
O Powerwolf entregou um show explosivo e teatral, como manda o figurino de uma das bandas mais cênicas do power metal atual. Com um setlist matador, a apresentação começou com a poderosa Bless ’Em With the Blade e mergulhou direto em clássicos como Army of the Night e Amen & Attack, fazendo o público cantar intensamente. O clima criado foi um espetáculo à parte, misturando elementos sacros e profanos, com direito a cenários góticos, coros épicos e interações afiadas com o público. Destaques como Armata Strigoi e Demons Are a Girl’s Best Friend mostraram por que o Powerwolf é mestre em equilibrar peso, melodia e teatralidade com precisão cirúrgica.
A formação atual, composta por Attila Dorn nos vocais, os irmãos Charles Greywolf e Markus Pohl nas guitarras, Falk Maria Schlegel nos teclados e Roel van Helden na bateria, está mais afiada do que nunca. A sinergia entre os membros é visível, especialmente nos momentos mais intensos, como Sanctified With Dynamite e We Drink Your Blood, que fecharam o show em um clímax insano. Sem precisar de exageros, o Powerwolf mostrou que sua fórmula funciona porque é feita com competência, carisma e muita identidade. Um espetáculo que não depende só da música, mas da força de uma performance pensada para ser inesquecível.
DARK ANGEL (Sun Stage)
Por Rogério SM
Fotos: Andre Santos
Quem curte metal extremo estava ansioso pela apresentação do Dark Angel. Não apenas pela presença do baterista Gene Hoglan, um dos melhores do estilo, mas também por que esta seria a primeira vez que o grupo americano tocaria em terras brasileiras. A expectativa era enorme e o quarteto não decepcionou. Sim, quarteto, porque infelizmente o guitarrista Eric Meyer não conseguiu vir pro Brasil devido a alguns problemas de voo. Ainda bem que isso não afetou o show do grupo, que de cara mostrou toda sua agressividade com Time Does Not Heal. “Family out, family in”. Foi assim que o vocalista Ron Rinehart apresentou a guitarrista Laura Christine, esposa de Gene Hoglan. E se alguém pensa que isso se deve a puro nepotismo, a performance de Christine tira qualquer dúvida: a mulher toca demais, como ficou claro em sons como Merciless Death e o clássico The Burning of Sodom. Completando o time, o baixista Mike Gonzalez segurou tudo nas quatro cordas, mantendo o som cheio para Christine abusar dos riffs e solos.
Um dos momentos mais emocionantes do show foi quando Rineheart anunciou Extinction-Level Event, dedicada ao ex-guitarrista e co-fundador do Dark Angel, Jim Durkin, falecido em 2023. O vocalista inclusive teve que interromper por um segundo o discurso devido à emoção. Entretanto, ela funcionou como uma espécie de catarse, pois a execução de obras-primas como Death Is Certain (Life Is Not) e Darkness Descends impressionou os presentes. Hoglan é uma verdadeira máquina de brutalidade e precisão, com sua mais do que conhecida técnica. Para finalizar a apresentação, o clássico eterno Perish in Flames fez os fãs abrirem uma enorme roda enquanto os riffs dominavam o espaço. Uma pena apenas a ausência de Eric Meyer e de faixas do primeiro álbum da banda, We Have Arrived. Pelo menos, há motivos suficientes para o grupo voltar em breve.
CARRO BOMBA (Waves Stage)
Por Luiz Tosi
Fotos: Belmilson dos Santos
Vinte anos de estrada e o Carro Bomba segue entregando pancadas sonoras como se ainda estivesse no primeiro round. Formada por Rogério Fernandes (vocais), Marcello Schevano (guitarra e backing vocals), Ricardo Schevano (baixo) e Biel Astolfi (bateria e backing vocals), a banda mistura como poucos o peso do thrash com a malandragem do hard rock setentista e o sarcasmo do rock nacional clássico. Seu último trabalho, Esmigalhando ao Vivo, lançado em 2024, é o retrato mais recente dessa trajetória. A apresentação no palco Waves, dentro do teatro do Memorial, teve clima intimista. O som estava cristalino, e a visão do palco era perfeita – mas o local acabou um pouco escondido em relação aos anos anteriores, quando o palco ficava em área externa. Nada que comprometesse, porém. O público, embora reduzido, compensou com paixão e barulho. Sabia as letras, vibrava a cada faixa e reagia como se estivesse diante de um headliner.
E a banda correspondeu. A performance foi intensa, direta e sem firulas. O destaque absoluto foi o timbre de guitarra de Marcello Schevano – algo a ser estudado. Um som orgânico, com pegada e textura. O repertório passeou por clássicos como Máquina, O Foda-se, Esporro, Delírios e Punhos de Aço. Faixas como Sangue de Barata e Thrash and Roll levantaram o teatro, consolidando o Carro Bomba como uma das forças mais sólidas – e subestimadas – do rock pesado nacional. Foi um show curto, direto e memorável. Intenso do começo ao fim. Mais uma prova de que, em se tratando de entrega no palco, o Carro Bomba não deve nada a ninguém.
SABATON (Hot Stage)
Por Marcelo Gomes
Fotos: Andre Santos
O Sabaton fechou o segundo dia do Bangers Open Air com uma apresentação potente, que misturou precisão militar e carisma escandinavo. Joakim Brodén (vocais), Chris Rörland e Tommy Johansson (guitarras), Pär Sundström (baixo) e Hannes Van Dahl (bateria) entraram em campo com Ghost Division, incendiando o público com sua velocidade característica, seguida por The Last Stand e The Red Baron, mantendo o ritmo acelerado e a energia lá em cima. Com Bismarck e Stormtroopers, o set foi ganhando peso e profundidade, apoiado por visuais de guerra e luzes sincronizadas e pirotecnia, que proporcionavam ao público uma imersão histórica através da música.
Um dos momentos mais marcantes aconteceu com Carolus Rex, na versão sueca, que trouxe um clima mais sombrio e solene ao show. Em seguida, a sequência de Night Witches e The Attack of the Dead Men, esta com uma introdução histórica que mergulhou o público nas narrativas intensas da I Guerra Mundial. A banda equilibrou bem agressividade e melodia em Fields of Verdun e The Art of War, antes de entregar um momento divertido e inesperado com Joakim Brodén tocando uma guitarra rosa na qual executou um trecho de Master of Puppets, em homenagem ao Metallica. Em seguida, mandaram Resist and Bite.
Na reta final, o Sabaton mostrou por que é referência no power metal moderno. Soldier of Heaven e Christmas Truce deram uma pausa mais emocional, mas logo a banda reacendeu os motores com Smoking Snakes e os hinos Primo Victoria e Swedish Pagans, que fizeram o público cantar em uníssono. O encerramento com To Hell and Back foi o desfecho ideal: teatral, grandioso e explosivo. Um show coeso, com narrativa forte e presença de palco impecável. Exatamente o que se espera de um headliner.
LACRIMOSA (Sun Stage)
Por Rogério SM
Fotos: Arthur Waismann (MHermes-Arts)
Em um dia de muito peso, agressividade e festa, o Lacrimosa subiu ao palco para mostrar que um pouco de melancolia também cabe muito bem em um festival como o Bangers Open Air. Não que falte peso em muitos momentos para o grupo liderado pelo vocalista e multi-instrumentista Tilo Wolff e a vocalista e tecladista Anne Nurmi. Porém, o que se viu no Sun Stage foi uma apresentação lotada de clima soturno e uma elegância típica do romantismo erudito. Isso ficou claro logo de cara com Schakal, do clássico Inferno. Enquanto a banda tocava, Wolff surgiu pela lateral do palco, já cantando, dando o tom teatral que dominaria a apresentação dos alemães. Conduzindo a banda como se fosse um maestro, o vocalista não só mostrava sua voz única e timbre marcante, como mostrou porque é visto como um verdadeiro gênio: tocou teclado, guitarra e até trompete. Tudo carregado de muita emoção, que também dominava os presentes. Alguns fãs mais fervorosos iam inclusive às lágrimas em músicas como Liebe über Leben e Stolzes Herz.
Além disso, o Lacrimosa se vale da junção de som e visual, apostando em uma decoração de palco simples, mas eficiente, incluindo um mastro com uma bandeira com o logo clássico da banda. Wolff não fazia por menos e movia as mãos de forma a parecer uma verdadeira dança erudita. Tudo combinava perfeitamente com as melodias e o clima quase fúnebre de músicas como Avalon e Lichtgestalt. Contrapondo ao vocal árido de Wolff, a bela voz angelical de Anne Nurmi contribuía para dar o tom elegante e romântico do show. Wolff fez questão de agradecer o fã clube brasileiro, um dos mais atuantes do Brasil, que foi presenteado com uma apresentação sem falhas, mantendo a atmosfera densa do início ao fim. Na plateia, além do choro dos mais emocionados, bexigas vermelhas e brancas contribuíam para o visual teatral do show em meio a gritos, punhos pra cima e até dança. O final, claro, veio com a apoteótica Copy Cat, deixando um gostinho “quero mais” em todos que tiveram o privilégio de assistir a essa masterclass de Wolff e cia.
DREAM SPIRIT (Waves Stage)
Por Daniel Agapito
Fotos: Pedrokozla (MHermesArts)
O palco Waves veio com o intuito de destacar um pouco do bom e do melhor do underground nacional, mas para fechar a programação de sábado, enquanto o Sabaton mostrava toda a força do power metal moderno e o Lacrimosa trazia a tristeza para o palco Sun, tivemos um dos shows mais interessantes do festival dentro do auditório, de uma banda longe de ser nacional, o DreamSpirit, vinda diretamente de Pequim. Vestidos com roupas tradicionais feitas de uma seda verde delicada, Cao Hongshun veio correndo e gritando “São Paulo” como um verdadeiro guerreiro da China antiga e já começou a noite com Chaotic World, faixa que mostra bem sua mescla única de sons tradicionais asiáticos com o peso do metal. Foram de seu álbum de 2021 para o de 2017 com Majestic Star, que ao vivo lembrou bastante um hard rock, porém, em chinês e Of Daggers and Men.

O ânimo de estarem tocando em um lugar tão longe de sua terra natal era palpável. Mesmo mantendo certa seriedade e bastante precisão em seus instrumentos, os integrantes estavam sempre com sorrisos no resto e constantemente agradeciam os fãs: “Sem o apoio da cena do metal, não somos nada”. Em Artisan contaram com a presença de seu “amigo e guitar hero” Bill Hudson, que já os havia chamado para uma turnê com sua banda, a NorthTale. As músicas eram em um idioma que ninguém conhecia, mas mesmo assim, a presença de palco deles era contagiante, e sempre arrumavam um jeito de envolver o público e fazê-lo cantar. Hongshun prefaciou Ancient Poems dizendo que quando a tocam na China todos pulam, e em São Paulo não foi diferente. Fecharam com “um momento de vitória, um momento de glória”, com direito a balões voando pelo ar, a grandiosa Song of Triumph. Quem viu aquele show viu, quem não viu, sabe lá quando verá – foi histórico.
