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BARCELONA ROCK FEST (BARCELONA, ESPANHA)

Parc de Can Zam - 5 a 7 de julho de 2024

Por Écio Souza Diniz

Fotos: Erik Jan de Boer

Com a promessa de se firmar entre os grandes festivais europeus, o Barcelona Rock Fest (BRF) ocorreu entre os dias 5 e 7 de julho de 2024 no Parc de Can Zam, em Santa Coloma de Gramenet, na zona metropolitana de Barcelona. Desde sua estreia em 2014, o festival tem crescido a cada edição e, nesta, também não decepcionou. Durante os três dias de evento, as arenas e palcos do BRF contaram com a presença de nomes consagrados como Deep Purple, W.A.S.P, Pantera, Europe, Gamma Ray, Blind Guardian e Cavalera, além de bandas emergentes como The Warning. A ROADIE CREW acompanhou todos os dias do festival e traz para você detalhes dos momentos mais marcantes.

Sexta-feira, 05 de julho

Chegamos no primeiro dia do BRF por volta das 16h30 e aproveitamos para explorar a área do festival, visitando as tendas de merchandising, comidas e outras atrações. As tendas de comida e bebida estavam estrategicamente localizadas ao redor dos diferentes palcos, facilitando o acesso do público durante os shows. As tendas de materiais eram focadas principalmente em roupas e acessórios, como spikes, anéis, pulseiras, chapéus, bandanas e botas. Também havia interessantes tendas de CDs e vinis.

Entre os pontos positivos da infraestrutura do festival, destaca-se o revestimento de grama sintética nas áreas da arena com os dois palcos principais. Esse detalhe proporcionava um conforto adicional para descanso nos picos de calor durante o dia. Vale lembrar que os dias de verão na Espanha têm sol até às 22h30, e a região de Barcelona é conhecida por suas ondas de calor. O revestimento de grama sintética também favoreceu para que famílias levassem crianças, permitindo que assistissem aos shows com mais tranquilidade.

Outra grande vantagem do Parc de Can Zam é sua localização, de fácil acesso por transporte público na área metropolitana de Barcelona. De forma geral, o ambiente do festival era bastante agradável e amigável, com todos desfrutando e interagindo, sem que as altas temperaturas afetassem o bom humor dos presentes.

Após explorar a área do festival e tomar umas cervejas para refrescar, nos dirigimos ao palco Stage Rock, um dos principais na arena ao lado do palco Stage Fest, para assistir ao show do Cavalera. Mesmo sendo o primeiro dia do festival e enfrentando um sol intenso às 18h, a presença do Cavalera atraiu muitos fãs do Sepultura clássico ao evento. A relação dos irmãos Cavalera e do Sepultura com Barcelona é antiga, tendo gerado a gravação do primeiro vídeo ao vivo da banda, Sepultura – Under Siege (Live in Barcelona), em 31 de maio de 1991 no Teatro Zeleste, durante a turnê do álbum Arise (1991). Esse show e o vídeo ajudaram a consolidar o nome do Sepultura no cenário mundial.

A banda Cavalera, composta pelos irmãos Max (vocal e guitarra) e Igor Cavalera (bateria), Igor Amadeus (baixo; Go Ahead and Die), filho de Max, e Travis Stone (guitarra – Pig Destroyer), segue seu foco nos primeiros álbuns do Sepultura nesta turnê. Após lançarem versões regravadas do EP Bestial Devastation (1985) e do debut Morbid Visions (1986) em 2023, em 2024 foi a vez da regravação de Schizophrenia (1987). Essas regravações adicionaram uma dose extra de peso à sonoridade, refletindo uma intensidade maior nas performances ao vivo.

O show foi intenso, com participação ativa de um público misto de fãs veteranos e jovens, todos em alta adrenalina e formando grandes ‘mosh pits’. A união de diferentes gerações de fãs destacou o prestígio dos álbuns clássicos do Sepultura com Max e Igor na história do metal mundial. A abertura do show com a trinca Bestial Devastation, Antichrist e Necromancer elevou ainda mais a temperatura, mantendo os presentes completamente vidrados. Sem descanso, vieram os riffs cortantes das músicas Morbid Visions e Mayhem.

Focando no relançamento de Schizophrenia, a banda executou com maestria From the Past Comes the Storms, Septic Schizo, Inquisition Symphony e a clássica Escape to the Void. Obviamente, não poderiam faltar faixas de outros álbuns clássicos dos irmãos Cavalera no Sepultura, e, assim, a banda entrou com tudo numa espécie de medley com Refuse Resist, Territory e Propaganda, tendo todo o público cantando junto.

Já perto do final do show, a execução de Troops of Doom teve a participação de toda a arena principal do festival e gerou um grande e brutal ‘mosh pit’. Para encerrar, a banda apresentou um medley de Dead Embryonic Cells e R.I.P. (Rest in Pain). De maneira geral, esse show foi um dos pontos altos do festival, destacando-se os seguintes fatores: execução consistente e pesada das músicas, o vocal ainda poderoso de Max, a força da bateria de Igor, a sincronia com os demais membros e interação com o público. 

Após a pancadaria do show do Cavalera, veio o som energético e vigoroso dos alemães do Primal Fear no palco Stage Fest. Promovendo o mais recente álbum, Code Red (2023), a banda é composta pelo carismático Ralf Scheepers (ex-Gamma Ray) nos vocais e o criativo compositor Mat Sinner no baixo, acompanhados por Magnus Karlsson, Alexander Beyrodt e Tom Naumann nas guitarras, e Michael Ehré na bateria.

O show começou com a envolvente Rollercoaster de Seven Seals (2005), abrindo espaço para os destaques de Code Red com a execução das faixas Another Hero, Deep in the Night e The World is on Fire. Claro, ainda se destacaram clássicos como Nuclear Fire, Metal is Forever e o hino da banda Final Embrace, os quais tiveram participção integral do público.

De volta ao palco Stage Rock, foi a vez do Crisix, uma banda bem conhecida na cena espanhola. Originário de Igualada, na Catalunha, e composta por Julián Baz (vocal), Marc Busqué (guitarra), Albert Requena (guitarra), Pla Vinseiro (baixo) e Javi Carrión (bateria), o Crisix está na ativa desde 2008. Com sete álbuns de estúdio lançados, a banda tem conquistado cada vez mais seguidores com seu thrash metal rápido e irreverente.

O show faz parte da atual turnê promovendo mais recente álbum, Still Rising… Never Rest (2023), do qual já entraram no palco arrastando tudo com Bring ‘em to the Pit e também Frieza The Tyrant. Os melhores momentos do show, com muitos moshs e o público cantando junto, foram proporcionados pelas fulminantes Leech Breeder e Get Out of My Head de Against The Odds (2018). O show foi fechado com Ultra Thrash do debut The Menace (2011), em que o baterista tocou em uma plataforma que foi sustentada e passada por cima do público pelos próprios presentes. 

Na sequência, o palco Stage Fest recebeu o KK’s Priest, banda composta pelo icônico guitarrista K K Downing (ex-Judas Priest), o excelente vocalista Tim “Ripper” Owens (ex-Judas Priest, Iced Earth, Yngwie Malmsteen, entre outros), A.J. Mills (guitarra – Hostile), Tony Newton (baixo – ex-Chariot) e Sean Elg (bateria – Cage).

O show começou com uma ótima trinca: Hellfire Thunderbolt (de Sermons of the Sinner, 2021), Strike of the Viper e One More Shot at Glory (ambas de The Sinner Rides Again, 2023). O restante da apresentação focou em clássicos do Judas Priest que tiveram as mãos de Downing na composição. A interpretção vocal de alto nível de Owens em preciosidades como The Ripper, Night Crawler, Victim of Changes, Beyond the Realms of Death e Hell Patrol não só ganhou a atenção, como também nos lembrou porque ele foi escolhido para substituir o ‘Metal God’ Rob Ralford nos anos 90.

Para fãs dos álbuns da fase Owens no Judas, como eu, foi também muito bom escutar a furiosa Burn in Hell do poderoso Jugulator (1997). Durante Breaking The Law, tivemos o ponto alto do show: todos cantando em unissono. 

Deixando os palcos da grande arena de lado, fomos ao palco Rock Tent para assistir ao Sodom, um dos pilares do thrash metal alemão. Apesar de um atraso de cerca de 20 minutos, valeu a pena esperar pela banda. Os desempenhos de Tom Angelripper (baixo e vocal) e Frank Blackfire (guitarra – Assassin, Frank Blackfire, ex-Kreator) ainda estão em alto nível mesmo após quatro décadas.

Logo nos primeiros riffs de Procession to Golgatha, a densidade sonora típica do Sodom se espalhou pelo ambiente. Ainda executaram com maestria os petardos Nuclear Winter, Christ Passion e Bombenhagel. Para a alegria dos fãs mais veteranos da fase inicial mais speed/black metal da banda, eles executaram com força extra as malevolentes Blasphemer e Outbreak of Evil do eterno EP In the Sign of Evil de 1985.

Na minha opinião, os pontos altos foram com as afiadas Agent Orange, Remember the Fallen e Ausgebombt.

Encerrando com excelência o primeiro dia de festival, o W.A.S.P. entrou em cena. A importância da banda de Blackie Lawless na cena hard rock e glam metal através de álbuns como W.A.S.P (1984), The Last Command (1985), Inside the Electric Circus (1986) e The Headless Children (1989) dispensa demasiadas explicações.

Atualmente, a banda conta com Lawless (guitarra e vocal), Mike Duda (baixo – Hotel Diablo), Doug Blair (guitarra) e, desde 2017, com o baterista Aquiles Priester (Edu Falaschi, ex-Angra, Hangar, Nortunall, Di’Anno). Repleto de clássicos e energia, para resumir esse foi um excelente show, além de um ponto alto do dia. Desde os primeiros riffs e solo de Blind in Texas, a euforia tomou conta da arena e foi mantida com L.O.V.E. Machine. Apesar de estar à beira dos 68 anos e lidar com problemas de saúde, com sua personalidade problemática e uma história marcada por vícios, Lawless ainda se mostrou bem apto a cantar e tocar, oferecendo um entretenimento decente ao seu público.

Foi bem legal também ver ao vivo uma boa performance de The Real Me, cover do The Who que o W.A.S.P. transformou em uma ótima versão no álbum The Headless Children. Um momento mais tranquilo, porém, intenso do show, foi a execução da emblemática The Idol do excelente The Crimson Idol (1992), criando uma atmosfera arrepiantemente profunda na arena. Seguindo esse ritmo emotivo e intenso, tocaram a forte e densa Chainsaw Charlie (Murders in the New Morgue), também de The Crimson Idol, revelando suas diversas camadas e sentimentos.

Para encerrar, primeiro tocaram com maestria a peróla Wild Child. Por fim, como não poderia faltar, fecharam com o hino I Wanna be Somebody, que foi cantado por todos.

 

Sábado, 06 de julho

Após merecidas horas de descanso e pilhas recarregadas, seguimos rumo ao Parc de Can Zam para o segundo dia do BRF, com disposição para encarar o sol das cinco da tarde e assistir ao Ross The Boss. A banda, liderada pelo guitarrista homônimo responsável por diversos dos clássicos do Manowar, conta com Kenny “Rhino” Edwards (bateria – Angel of Babylon, ex-Manowar), Dirk Schlächter (baixo – Gamma Ray) e Marc Lopes (vocal – Metal Church). Neste show, deu um presente ao público com um tributo de alto nível e qualidade, focado 100% em clássicos do Manowar.

Sem direito a preparo, a banda já entrou em cena arrastando tudo com Blood of the Kings. O timbre e a capacidade de Marc de sustentar notas altas foram admiráveis, e em diversos momentos do show, ele de fato remeteu à atuação vocal de Eric Adams nos anos 80. Em seguida, as soberbas linhas de baixo anunciaram The Oath, que abriu espaço Thor (The Powerhead). Mais uma vez, as linhas salientes do baixo deram a letra e anunciaram a estupenda Black Wind, Fire and Steel.

Remetendo ao poderoso Kings of Metal (1988), Ross entoou os riffs iniciais da faixa-título com seu refrão poderoso. Desse álbum, executaram em seguida a bela Heart of Steel. Mantendo essa linha, a banda começou a épica faixa-título de Battle Hymn (1982), o que arrancou lágrimas de alguns fãs veteranos do Manowar presentes. A empolgação do público também foi notória em Kill with Power de Hail To England (1984).

Rumo ao final, foi anunciada a marcante faixa-título de Fighting the World, na qual Marc Lopes cantou na grade junto ao público, pegando em suas mãos. O encerramento com Hail and Kill teve participação massiva do público cantando em uníssono. Sem dúvida, esse show esteve entre os destaques do festival.

Dirigimo-nos ao lado para o palco Stage Fest, onde apreciamos o hard rock/stoner rock dos australianos do Wolfmother. Formada em 2004, a banda de Sydney é liderada pelo guitarrista Andrew Stockdale, que é a única presença constante nas formações. De 2023 para cá, ele é acompanhado por James Wassenaar (baixo) e Christian Condon (bateria). Desde o seu álbum de estreia, Wolfmother (2005), a banda tem atraído públicos cada vez maiores.

Do debut, tocaram Dimension, a licérgica Apple Tree, a densa Colossal, a progressiva Vagabond, Woman e a pesada White Unicorn. O grande destaque do show, claro que foi Joker & the Thief, também do primeiro álbum. Essa música estourou mundialmente ao aparecer no filme The Hangover (no Brasil, traduzido como “Se beber, não case”) e na série The Blacklist, além de ter sido incluída em vários outros filmes.

A vibe rock and roll e stoner do Wolfmother se encaixou muito bem com o frescor que se iniciava com o clima nublado. 

Pegando esteira no clima mais fresco, o Michael Schenker Group (MSG) entra em cena com seu show da turnê comemorativa de 50 anos de estrada do lendário guitarrista alemão Michael Schenker. Além de seu início no Scorpions com seu irmão Rudolf Schenker e de ter se projetado para o mundo com o UFO, Schenker solidificou ainda mais sua posição como grande guitarrista no cenário mundial com os dois primeiros álbuns do MSG, The Michael Schenker Group (1980) e MSG (1981).

Foram muito boas a performance e a atuação da banda que acompanha Schenker. Ela é composta por Robin McAuley (ex-Survivor, McAuley Schenker Group) nos vocais, Steve Mann (ex-McAuley Schenker Group, Lionheart, Lion, Andy Scott’s Sweet) na guitarra, Bodo Schopf (The Sweet, Jack Bruce) na bateria e Barend Courbois no baixo. O show começou com os riffs e solos maravilhosos de Schenker em Into the Arena.

Foi muito legal apreciar ao vivo as deliciosas Cry for the Nation e Armed & Ready. A banda também brindou o público com as inesquecíveis Looking for Love, On and On, Attack of the Mad Axeman e Let Sleeping Dogs Lie. Os pontos mais altos do show foram com uma trinca do álbum Assault Attack (1982): Desert Song, a faixa título e Rock You to the Ground.

Saindo da virtuose do MSG, o momento agora era de pancadaria desenfreada com os espanhóis do Angelus Apatrida. Formada em 2000 na cidade de Albacete, capital da comunidade espanhola autonôma de Castilla-La Mancha, a banda é atualmente composta por Guillermo Izquierdo (vocal e guitarra), Davish Álvarez (guitarra), José Izquierdo (baixo) e Víctor Valera (bateria). Desde o primeiro álbum, Evil Unleashed (2006), a banda tem atraído a atenção com seu thrash metal agressivo, que mescla a rapidez e fúria clássicas do estilo com elementos mais modernos.

A ansiedade na espera pelo show era notável, e quando a banda entrou com os riffs de Scavenger, do mais recente álbum Aftermath (2023), a “insanidade” tomou conta da arena. Era visível a base sólida de fãs que a banda tinha presente no festival. De Aftermath, também mandaram ver com as avassaladoras Code e Rats. Destaque também para as performances da banda e resposta do público em We Stand Alone e Indoctrinate. Em linhas gerais, foi um show dinâmico e cheio de adrenalina.

Dando um descanso na pancadaria thrash metal, chegava a vez dos suecos do Europe trazerem seu show empolgado e cheio de boas energias para o festival. Além de ser uma banda de qualidade, o caro leitor que talvez conheça pouco sobre ela pode ter certeza de que é muito mais do que “a banda que toca The Final Countdown”. Já tendo assistido a outros shows da banda, posso afirmar que eles não decepcionam.

A banda levantou o moral do público após horas expostos ao sol e o revitalizou preparando terreno para as duas atrações principais do dia que ainda estavam por vir: Deep Purple e Pantera. Os momentos de maior destaque do show, como de costume, foram proporcionados por ótimas faixas do clássico The Final Countdown (1986): a marcante e alto astral Rock the Night, a balada Carrie, Cherokee e a universalmente conhecida faixa-título.

Outro momento em que a sincronia dos músicos se destacou, especialmente a presença de palco de Joe Tempest, foi com Superstitious de Out of this World (1988) em que ainda adicionaram um trecho de Here I Go Again do Whitesnake.

Demos uma pausa para comer, conversar com o pessoal do festival e tomar uma cerveja antes de nos posicionarmos para assistir aos mestres do Deep Purple. A história da banda dispensa apresentações. Atualmente composta por Ian Gillan (vocal), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria), Simon McBride (guitarra – Snakecharmer, ex-Sweet Savage) e Don Arey (teclado), o Purple proporcionou um show de alta qualidade em termos de técnica, feeling, versatilidade e interação.

Com um público que incluía tanto jovens quanto fãs mais idosos, a entrada no palco com os primeiros riffs de Highway Star já elevou a euforia da arena. Já nessa música era notável que, apesar das recentes dificuldades de saúde que afetaram sua voz, Gillan conseguiu se recuperar e manter uma boa forma. É óbvio que hoje ele canta em tons abaixo das notas que atingia no passado, mas, considerando que ele tem 79 anos, ainda consegue desempenhar bem o que propõe.

Na sequência, a banda tocou A Bit on the Side, um dos destaques do novo álbum, =1 (2024), seguido por outro clássico, Into the Fire. McBride teve seu momento de destaque com um de seus solos de guitarra, mostrando como ele está se encaixando bem na banda desde sua entrada em 2022, substituindo Steve Morse. Em homenagem a Jon Lord, tocaram Uncommon Man de Now What?! (2013). No gancho desta homenagem, Don Arey aproveitou para fazer seu solo de teclado.

Outro clássico, Lazy permitiu ao público viajar com sua psicodelia. Para fechar, a banda executou uma trinca infalível composta por Space Truckin’, Smoke on the Water e Black Night. Foi gratificante ver que o Deep Purple, apesar da idade avançada de seus integrantes, ainda oferece um entretenimento de alta qualidade aos fãs.

O momento aguardo por muitos no festival finalmente chegou: era a vez do Pantera entrar em cena. Apesar de um atraso de cerca de 20 minutos devido a problemas técnicos no palco, esse momento valeu a pena para muitos que já estavam considerando que a possibilidade de ver o Pantera ao vivo novamente era quase nula. A história e importância do Pantera no metal vai além de sua contribuição para a revolução do thrash metal; a banda também foi pioneira na criação e popularização do subgênero groove metal. Os riffs criados pelo saudoso Dimebag “Diamond” Darrell continuam a influenciar gerações de músicos e fãs.

Desde o retorno do Pantera em 2022, com Phil Anselmo nos vocais e Rex Brown no baixo acompanhados por Zakk Wylde (Black Label Society, ex-Ozzy Osbourne) na guitarra e Charlie Benante (Anthrax) na bateria, a recepção foi dividida. Mas num balanço geral, o público tem recebido muito bem este retorno aos palcos, visto como uma oportunidade para as novas gerações assistirem a banda ao vivo e para os fãs veteranos recordarem os bons tempos. A banda fez questão (talvez até exageradamente) de explicitar que lembra de sua história, exibindo a quase todos vídeos dos irmãos Dimebag Darrell e Vinnie Paul nos telões. Além disso, Phil Anselmo reforçou que sabe que os irmãos são insubstituíveis, com o Pantera atual sendo, na melhor das hipóteses, um tributo ao Pantera clássico.

Com um setlist impecável, a banda entrou no palco já atropelando tudo que havia pela frente com a porrada certeira A New Level do incomparável Vulgar Display of Power (1992). Os melhores momentos do show foram marcados também por outras cacetadas desse álbum: Mouth of War, This Love, Walk (cantada em alto volume por todos) e o encerramento com Fucking Hostile. Para a alegria dos apreciadores do magnífico Far Beyond Driven (1994), tocaram as brutais Becoming, I’m Broken, 5 Minutes Alone e Strength Beyond Strength. Fiquei bastante feliz de ouvir a soberba Floods do brutal The Great Southern Trendkill (1996). Durante a faíxa-título de Cowboys From Hell, o público, que ocupava toda a arena, participou integralmente do início ao fim.

Embora, de fato, Darrell e Paul sejam insubstituíveis, Wylde e Benante mostraram se encaixar muito bem dentro dessa versão atual do Pantera. Foi um show que honrou o legado da banda.

 

Domingo, 07 de julho

No terceiro e último dia do festival, o cansaço já pesava, mas ainda havia energia para apreciar as principais bandas do dia. Chegamos pouco antes das 16h para assistir aos finlandeses do Stratovarius. A importância do Stratovarius para a consagração do power metal melódico é amplamente reconhecida, especialmente nas qusae duas decadas que contaram com o guitarrista Timo Tolkki. A banda lançou álbuns que são conhecidos em todo o mundo como Episode (1996), Visions (1997), Destiny (2000), Infinite (2000) e Elements, pt.1 (2003).

Valeu a pena encarar o sol para assistir o show empolgado e bem executado por Timo Kotipelto (vocal), Jens Johansson (teclado), Lauri Porra (baixo), Matias Kupiainen (guitarra) e Rolf Pilve. A banda iniciou o show com a marcante Eagleheart. Focando em velocidade, Kotipelto anunciou a incrível e rápida Speed of Light. Em seguida, a atenção para as mudanças ambientais globais recaiu na ecológica e profética Paradise. Outros pontos fortes do show foram Legions e Black Diamond. O fechamento com Hunting High and Low de Infinite fez com que toda a arena cantasse em uníssono e preparou o terreno para o restante deste último dia do festival.

Embora o sol ainda estivesse forte, a atmosfera mais obscura tomou conta no palco Stage Fest com o Abbath. Este show performático foi totalmente focado em músicas que o guitarrista e vocalista compôs com o Immortal. Para os fãs do Immortal, foi uma apresentação interessante, que navegou por diferentes fases da banda.

O início do show trouxe dos túneis do tempo a música The Call of the Wintermoon de Diabolical Fullmoon Mysticism (1992). Os melhores momentos do show ficaram a cargo das músicas One By One, Beyond the North Waves e a faixa-título do impecável Sons of Northern Darkness (2002). Também se destacaram as viscerais Norden on Fire, Withstand the Fall of Time e a épica faixa-título de At the Heart of Winter (1999). Para fechar, a aura gélida do mundo congelado do Immortal foi escancarada com a eterna Blashyrkh (Mighty Ravendark).

Rumo ao palco Rock Tent fomos assistir ao Ratos de Porão escancarar seu hardcore/punk/crossover para o público do festival. A zona metropolitana de Barcelona, que possui uma forte cena punk, está em grande parte familiarizada com a história e importância do grupo paulistano, e isso foi confirmado pelo bom público que se acumulou para assistir ao show.

No palco, João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria) desceram a lenha com porradas de distintas fases da banda, levantando rodas de mosh durante todo o show. Além disso, era notório que uma pequena parte do público, que estava curiosa para conhecer a banda, estava tendo uma grata surpresa. Gordo entrou em cena metendo o berro com Alerta Antifascista, seguida por Aglomeração, ambas do álbum mais recente, Narcopolítica (2022).

Como já esperado, alguns dos pontos altos do show que receberam maior interação e resposta do público ficaram a cargo de faixas brutais do clássico Brasil (1991): Amazônia Nunca Mais, Aids, Pop, Repressão, Crianças sem futuro, Farsa NacionalistaLei do Silêncio e Beber Até Morrer. Também se destacou a performance da banda em Morrer e na faixa-título do arrasador Crucificados pelo Sistema (1984). O Ratos se destacou como um dos pontos mais fortes do festival, com ótima resposta do público.

Descansando um pouco depois da quebradeira hardcore do Ratos, fomos assistir ao hard ‘n’ heavy cheio de personalidade das “chicas” do The Warning. Formada na cidade de Monterrey, México, em 2013, pelas irmãs Villarreal Vélez – Daniela (guitarra e vocal), Paulina (bateria e vocal) e Alejandra (baixo) – a banda tem fortes influências de AC/DC, Queen, Metallica, Foo Fighters, The Killers e outras. Essas influências ajudaram a moldar seu próprio DNA musical, pelo qual vêm sendo cada vez mais reconhecidas mundialmente desde seu primeiro EP, Escape the Mind (2015).

Elas obtiveram um retorno bastante positivo do público com músicas como Automatic SunMore e Qué Mas Quieres?, do novo álbum Keep Me Fed (2024). Outros destaques foram as músicas Choke, Error e Discipline do álbum Error (2022). Em conclusão, esse foi um show prazeroso de assistir, especialmente tomando algo refrescante.

As “hermanas” do The Warning deram a vez a uma das atrações esperadas do festival: os alemães do Gamma Ray. Criada pelo genial Kai Hansen (Helloween), a banda é uma das pedras angulares da história do power metal, com pérolas como os álbuns Insanity and Genius (1993), que popularizou o vocalista Ralf Scheepers (Primal Fear), Land of the Free (1995), Somewhere Out in Space (1997) e Power Plant (1999).

O show apresentado neste último dia foi um dos melhores momentos do festival, cortesia dada por Kai Hansen (guitarra e vocal), Frank Beck (vocal), Dirk Schlächter (baixo), Kasperi Heikkinen (guitarra – Beast In Black) – substituto temporário de Henjo Ritcher – e Michele Sanna, um técnico de bateria italiano substituindo temporariamente Michael Ehré. Sem lançar um novo álbum desde Empire of the Undead (2014) e sem fazer turnês, especialmente devido a agenda de Hansen com o Helloween desde 2017, a esperança de muitos em ver o Gamma Ray na ativa era dificil de se manter. Mas a espera valeu a pena.

Os fãs presentes no festival, de diferentes gerações, tiveram a felicidade de contemplar o Gamma Ray cheio de energia e poder da sonoridade que o elevou ao “ranking” dos grandes nomes do metal. Como fã de longa data, posso dizer que a banda está com energia suficiente até para lançar um novo álbum se desejarem. O setlist do show foi impecável. A entrada com a faixa-título de Land of the free levou o público à loucura. Durante Rebellion in Dreamland, um épico de Land of the Free, a emoção foi demasiada para alguns fãs veteranos da banda, que derramavam lágrimas de felicidade e nostalgia. Em Last Before the Storm, Heaven Can Wait, Heading For Tomorrow e na faixa-título de Somewhere Out in Space dava para ouvir a arena toda cantando em uníssono. Os riffs de Dethrone Tyranny foram hipnotizantes, além de um dos momentos em que Hansen mais se destacou e reafirmou sua maestria. Para fechar perfeitamente, Send Me a Sign deixou todos se sentindo realizados e com um gosto de “quero mais”.

Dando sequência ao alto-escalão germânico do power metal no festival, o Blind Guardian veio a seguir para também fornecer um show à altura de sua rica história. Reconhecidos mundialmente como um dos pioneiros em mesclar a sonoridade vigorosa do power metal com temas influenciados pelos universos fantasiosos de J. R. R. Tolkien, criados nas sagas de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, o Blind Guardian solidificou sua reputação com álbuns como Tales from the Twilight World (1990), Somewhere Far Beyond (1992), Imaginations from the Other Side (1995) e Nightfall in Middle-Earth (1998), que ainda influenciam muitas bandas ao redor do mundo.

O compositor e vocalista Hansi Kürsch, como de costume, entregou uma atuação de qualidade e digna de seu reconhecimento. A performance do velho companheiro, o guitarrista Marcus Siepen, também se destacou. Como não poderia faltar, a entrada com a faíxa-título de Imaginations From the Other Side estabeleceu o tom imersivo que começava. O show foi marcado por pontos altos sustentados por outros clássicos como Nightfall e Mirror Mirror, The Bard’s Song – In the Forest e a trinca Lord of the Rings, Lost in the Twilight Hall e Valhalla. Outro destaque foi a performance de Blood of the Elves de The God Machine (2022). Assim, o Blind Guardian fez um belo fechamento do entardecer do dia e de nossa estadia no festival.

 

 

 

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