Em 2018, o trio formado por Nergal (voz e guitarra), Orion (baixo e vocais de apoio) e Inferno (bateria) lançou um dos álbuns mais instigantes de sua longa trajetória. Mais que isso, em I Loved You At Your Darkest, o BEHEMOTH reinventou a sua maneira de fazer música, expandiu os limites de sua abordagem e criou um álbum sem amarras e sem rótulos possíveis, embora ainda fortemente atrelado às raízes black metal da banda polonesa. E o mais interessante é perceber que o décimo-primeiro álbum completo não foi a única tarefa que eles assumiram nos últimos anos. “Sim, temos nos mantido em atividade constante”, contou Nergal em entrevista exclusiva para a ROADIE CREW, “e eu acho isso muito bom. Na verdade, é o ideal. Assim você mantém a sua criatividade sempre fluindo”, conclui.
A verdade é que já faz muito tempo que o BEHEMOTH vem trabalhando em alto ritmo, e sempre mantendo em vista um padrão de qualidade que só faz elevar a cada novo álbum. Em 2014, após alguns anos em que a banda viveu uma pausa forçada (época em que Nergal lutou contra o câncer, diagnosticado em 2010), o Behemoth retornou de forma triunfal com o álbum The Satanist, que assegurou a banda entre o grande escalão do heavy metal, e que foi reconhecido pela maior parte dos fãs como o álbum mais importante do Behemoth até então. Claro que a agenda de shows se multiplicou, os giros pelo mundo se tornaram mais frequentes, e em abril de 2018 eles lançaram o seu mais recente álbum ao vivo, Messe Noire. “Eu acho que foi importante lançar esse álbum”, comentou Nergal, “e não apenas por então fazer quatro anos do nosso último disco, afinal, já tínhamos o novo quase pronto para sair da gaveta. O fato é que existiam muitas pessoas se perguntando como seria um show do Behemoth hoje, e acho que Messe Noire foi a melhor forma de apresentar o show de The Satanist para as pessoas. Certamente foi um grande passo na direção do que viria em seguida”.
Se lembrarmos que na época o Behemoth viajava em turnê ao lado de LAMB OF GOD e SLAYER, fica fácil perceber do que Nergal está falando. E mais do que isso, Messe Noire acabou sendo um chamariz a mais para I Loved You At Your Darkest. Uma espécie de sabor final de um álbum gigante antes do lançamento de outro ainda maior, já que o plano era justamente seguir adiante, mover as correntes, impactar o ouvinte com ainda mais força. E as coisas sempre foram assim com Nergal: “a partir do momento em que tenho uma ideia, eu começo a me mover. É uma força que me impulsiona, que me guia. Desde que exista uma fagulha de criatividade, eu acendo a chama e carrego a tocha até o ponto final, sem concessões. Não poderia ser diferente. Se você é o primeiro a desistir de suas ideias, como pode esperar que alguém as leve à sério?”.
Certo de suas convicções, Nergal encaminhou o Behemoth para o caminho criativo de I Loved You At Your Darkest, o álbum mais completo e audacioso dos poloneses até o momento. Quando chamo a atenção para a dinâmica do álbum, que passa de um momento veloz e extremo como Wolves Ov Siberia para algo mais ritualístico e contido como Bartzabel, ele não se mostra apenas satisfeito, mas realmente feliz com aquilo que a banda conseguiu atingir em seu novo álbum. “Com o Behemoth, não existe uma fórmula exata para um álbum. Tudo o que existe é uma folha em branco no início do processo, e então uma espécie de caos mental que me levará a desenvolver cada aspecto da imagem que desejo pintar em cada disco”, ele salienta.
Claro que ele sabe que essa forma de direcionamento criativo acaba levando não apenas a música, mas toda a banda a trilhar caminhos distantes do esperado, algo que alguns consideram perigoso, mas que ele vê como o próprio fundamento de sua jornada artística. “Sim, frequentemente isso nos leva por caminhos diferentes, que não havíamos trilhado antes. Mas essa é a essência e a razão de fazer um novo disco. Você não quer somente se repetir, somente seguir com o fluxo e com o que já deu certo. Tentar e inovar é o sentido de se manter compondo novas músicas, e hoje eu te digo: se um dia o Behemoth parar, não será porque estamos velhos demais, cansados demais. Se um dia pararmos, não será uma aposentadoria. Vamos parar quando não soubermos mais como seguir adiante criativamente”.
Quando pergunto se ele se preocupa com as reações mais exaltadas das alas mais conservadoras dos fãs de música extrema, ele responde com sobriedade: “As mesmas pessoas que começaram a ouvir black metal através de VENOM, BATHORY e SARCÓFAGO hoje dizem que essas bandas não são black metal. Então, eu não me importo com o rótulo que associam ao Behemoth, eu me importo com aquilo em que eu acredito”.
Todavia, ele se mostra orgulhoso em dizer que o Behemoth ainda é, sob seu ponto de vista, uma banda de black metal. Indagado sobre uma declaração recente, em que disse que o Behemoth era algo além do black metal, ele respondeu: “Sim, somos uma banda de black metal, sempre fomos, desde os primeiros dias. O que eu quis dizer com aquilo é que com o passar dos anos e a nossa evolução como artistas, é natural que caminhemos por estradas diferentes, que naveguemos por mares diferentes. Escritores flutuam entre gêneros literários, pintores apresentam diferentes fases. Nós acrescentamos cores diferentes à nossa arte, mas ela não mudou em sua essência. O que ativa e motiva a minha criatividade ainda é a mesma coisa. Não somos somente black metal, mas somos black metal”.
Perguntado sobre o Brasil, ele se mostra muito empolgado. “Eu sempre tive amigos no Brasil, sou muito amigo do pessoal do KRISIUN, e ainda esses dias estive conversando com Max e Iggor Cavalera. Claro, eu cresci sendo fã do SARCÓFAGO, então, desde a primeira vez que tive a chance de viajar para o Brasil e tocar para os brasileiros, senti como uma grande honra. E eu sei que é algo que todos dizem, mas até pela minha trajetória e o tipo de música que faço, posso dizer que o Brasil é muito importante para mim, sempre aguardo ansioso pela chance de tocar por aí”.
E ele se empolga ao falar sobre o show que a banda fará em São Paulo (SP), no dia 8 de dezembro. “Será uma ocasião especial, e eu realmente gostaria de dizer aos nossos fãs no Brasil, não percam este show. Muito tempo se passou desde que estivemos aí, então, estamos com vontade de revê-los. Além disso, estamos com o nosso melhor show em anos, estamos vindo de apresentações matadoras, e temos algumas surpresas preparadas para vocês”.
Quando pergunto se as surpresas envolvem o repertório do show, ele evita dar pistas claras, mantendo o segredo para o dia do show. “Bem, tudo o que vou dizer nesse sentido é que teremos músicas de toda a nossa carreira, e que talvez, veja bem, talvez nós toquemos para vocês uma música de I Loved You At Your Darkest que ainda não executamos ao vivo. Vamos ver como as coisas fluem, e isso poderá acontecer. Vamos ver. Mas não percam este show, pois ainda teremos algumas surpresas do novo álbum no ano que vem, e ano que vem mesmo tomaremos uma pausa para trabalhar no novo álbum. Deveremos passar alguns anos sem voltar a tocar no Brasil, então, mais uma vez: não percam este show. Será especial, e conto com a presença de vocês”.
Deixando no ar a promessa de um grande show e de um novo disco em 2021, Nergal se despede com um sonoro “obrigado” em português. O BEHEMOTH tem apresentação única no Brasil agendada para o dia 08 de dezembro, no Tropical Butantã, em São Paulo. Ao lado da gigante banda polonesa, ainda teremos os shows das bandas GENOCIDIO e MANTAR.