Claro que todo mundo conhece Bernie Marsden. Ele foi guitarrista do Whitesnake de 1978 a 1982, gravou cinco discos com a banda e é coautor (junto com David Coverdale) do megahit Here I Go Again. Mas o que nem todos sabem é de sua adoração pelo blues e pelo rhythm’n’blues. Tanto que ele criou a “Inspiration Series”, através da qual vem gravando discos para homenagear esses pioneiros. Já saíram dois, ambos no ano passado: Kings homenageia três ícones do blues (B.B. King, Freddie King e Albert King) e Chess presta tributo à gravadora que se tornou referência nos primórdios do rock. Foi para falar sobre isso que procuramos Bernie – mas claro que o Whitesnake não poderia ficar fora do papo…
Como surgiu a ideia de fazer a “Inspiration Series”?
Bernie Marsden: Eu resolvi gravar as músicas que eu cresci ouvindo. Quando eu comecei a aprender guitarra, eu ouvia muito B.B. King, Albert King e Freddie King, e esse é o álbum Kings. E Chess foi uma continuação natural, porque também era gente que eu ouvia na mesma época. Eu era muito jovem, mas ouvia a coisa certa! Buddy Guy, Muddy Waters, Gerry and the Pacemakers, independentemente de serem populares ou não.
Você lançou os dois primeiros discos da série, Kings e Chess, em um curto intervalo entre eles. Chess já estava pronto quando você lançou Kings?
Bernie: Eu gravei os dois em dois finais de semana, no final de 2018 e no início de 2019. E em 2020 veio a pandemia, então tive tempo para finalizar os dois e deixá-los prontos para o lançamento em 2021.
Quão difícil foi fazer a seleção do repertório dos dois discos, já que há uma infinidade de músicas que poderiam estar no dois discos?
Bernie: Foi muito simples selecionar o repertório porque havia muitas músicas maravilhosas para escolher. Dava pra fazer outro álbum Kings e outro álbum Chess. Acabei escolhendo aquelas músicas que eu mais queria tocar e cantar. E as letras tiveram parte muito importante nessa escolha, porque eu gosto de músicas que contam uma história.
Muita gente, infelizmente, não conhece a gravadora Chess. Como você definiria sua importância para a história de música?
Bernie: Na verdade, as pessoas não se dão conta que conhecem. Todo o rhythm’n’blues do final dos anos 50 e início dos anos 60 passou por lá e influenciou nomes como Led Zeppelin, Jeff Beck, Rod Stewart, até o Whitesnake. Chess foi um selo muito importante e tem importância fundamental na história do rock’n’roll. O rock veio do blues e nesse contexto a Chess foi muito importante;
Pelo que sei, o disco foi gravado na forma antiga, com todos os músicos tocando junto numa mesma sala. Você acredita que essa é a melhor forma de se fazer um disco?
Bernie: Sim, foi isso mesmo. Eu queria capturar o momento mais espontâneo possível sem mexer muito no som. Por isso me cerquei dos caras certos. Acho que essa é a forma correta de se fazer um disco como esse. Não acredito que daria muito certo fazer esse tipo de gravação com uma música mais atual, mas é o jeito que eu gosto de gravar. E me fez lembrar os primeiros discos que gravei, lá nos anos 70;
Vem mais algum disco da “Inspiration Series”? Se sim, o que pode adiantar a respeito?
Bernie: Provavelmente no segundo semestre pretendo lançar algo na mesma linha, mas mais voltado ao rock, o que seria uma continuação natural de Kings e Chess. E também seria com temas de artistas que me inspiraram, como Cream, Jimi Hendrix, Robin Trower, Johnny Winter, Rory Gallagher e James Gang. Escolhi músicas mais antigas e que eu cresci ouvindo.
Você teve oportunidade de estar com B.B. King e ele lhe fez um grande elogio, dizendo que você ‘entende o blues’. O quão gratificante isso foi para você?
Bernie: Eu achei incrível quando li que ele disse aquilo – infelizmente, eu não tive oportunidade de ouvi-lo falando isso. Mas ter alguém como B.B. King dizendo essas palavras a meu respeito é algo que dinheiro nenhum paga. Me sinto muito honrado pela atitude dele.
Sua intenção é sair em turnê para mostrar esse material?
Bernie: Minha intenção é sair em turnê até que a pandemia permita que todos possam se reunir de forma segura e saudável. Eu adoraria me apresentar na América do Sul, eu nunca toquei aí!!
Por falar nisso, como você lidou com a impossibilidade de se apresentar durante a pandemia? Chegou a fazer algum show virtual?
Bernie: É muito difícil ficar sem tocar! E não me interesso por fazer algo em que eu não tenha um público para interagir. Não, isso não é pra mim…
Falando um pouco sobre o Whitesnake, a banda sempre teve uma forte influência de blues na sua música. Foi você que levou o blues para a banda?
Bernie: Sim, acredito eu que tenha parte nisso… Mas David também sempre foi fã de Muddy Waters e Howlin’ Wolf. Na verdade, toda a banda tinha influência de blues e rhythm’n’blues. O Whitesnake era a banda em que eu queria tocar e tenho muito orgulho por ter feito parte dela. Depois que eu saí, o Whitesnake ficou mais parecido com uma banda americana de rock – o que não me incomoda nem um pouco.
Você é autor de um mega sucesso mundial, Here I Go Again. Quando você acabou de escrever a música conseguiu perceber que tinha um hit nas mãos?
Bernie: Na verdade, nunca dá pra ter certeza de algo assim. Eu percebi que tínhamos feito algo diferente e original. Mas o grande Jon Lord assim que ouviu falou: ‘Isso é um hit!’ Ele inclusive insistiu em fazer a introdução no teclado, originalmente ela era feita na guitarra. Sinto muita falta de Jon Lord, era um gigante da música. Mas Here I Go Again fica maior a cada ano que passa e eu fico muito feliz com isso. Espero que continue assim!
Você tocou com inúmeros músicos incríveis ao longo de sua carreira. Qual deles foi o mais marcante?
Bernie: Sim, eu sou um sujeito de sorte por ter tocado com tantos músicos incríveis. Cada um deles me traz lembranças ótimas! Difícil citar só um…. Ginger Baker, Jack Bruce, Cozy Powell, Joe Bonamassa… Precisaria de outra entrevista para citar todos!