BILLY IDOL – São Paulo (SP)

Por Ricardo Batalha
Fotos: Roberto Sant’Anna

Em sua primeira passagem pelo Brasil, o vocalista inglês Billy Idol realizou dois shows na segunda edição do Rock in Rio, realizado em janeiro de 1991 no estádio do Maracanã. Porém, em nenhum deles – na segunda data, 20 de janeiro, substituiu Robert Plant, que havia cancelado sua apresentação –, a guitarra da “Charmed Life Tour” foi comandada por Steve Stevens, parceiro do vocalista inglês em grande parte de sua carreira solo, iniciada em 1981. Assim, a presença na “Popload Gig”, realizada em 8 de setembro (quinta-feira) no Pavilhão Pacaembu, foi a primeira de Idol e Stevens em São Paulo.


Além da expectativa para o show em si, muitos se questionavam o que seria o tal Pavilhão Pacaembu. Com o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho em obras (N.R.: tive a curiosidade mórbida de ver de perto das arquibancadas já destruídas), foi levantado este espaço temporário, com entrada pelo portão principal na Praça Charles Miller. Construído no gramado, que já abrigou diversos shows, festivais e inúmeros jogos de futebol, obviamente, tem uma dimensão similar ao Centro de Convenções e Eventos, que fará parte do novo complexo do Pacaembu, a ser inaugurado no dia 24 de janeiro de 2024 – ele ficará no subsolo do edifício que vai ser erguido no local do já demolido tobogã.

Com tudo ajustado, por volta das 20h30, os fãs que aguardavam ansiosamente a entrada do senhor William Michael Albert Broad começaram a vibrar. No alto de seus 66 anos de idade, o vocalista que quebrou barreiras na estética, atitude e na música da década de 80, segue vivo e vital na memória de seus seguidores, sejam eles de punk, hard rock, new wave, post-punk ou os meros ouvintes de FM e ex-frequentadores das baladas e danceterias daquela época. Entre os presentes, viam-se famílias completas e fãs de diversas gerações, inclusive adolescentes e crianças com os pais.


Com uma coleção de hits de FM à sua disposição, o show da “The Roadside Tour 2022” foi uma espécie de ‘best of’, começando com Dancing With Myself, oriunda do terceiro álbum da banda Gen X, Kiss Me Deadly, que foi remixada e integrou o repertório do EP de estreia, Don’t Stop (1981). Se falhou comercialmente com o Gen X, a música, inspirada na dança de jovens em frente ao espelho em uma boate de Tóquio (JAP), se tornou um dos hinos das rádios e dos programas de clipes na década de 80. Com isso, a memória afetiva fez as honras e o público agitou, cantou e dançou. Por sinal, esta foi a tônica de todo o espetáculo comandado por Idol, que ainda mantém seu carisma e atitude no palco. Assim, os fãs de diversas vertentes do rock seguiram vibrando com Cradle of Love, hit single de Charmed Life (1990). A banda na época contava com o guitarrista Mark Younger-Smith, substituto de Steve Stevens, que àquela altura promovia o álbum Atomic Playboys (1989).


“É muito bom estar aqui em São Paulo, no Brasil. Agradeço a Deus por estar aqui…”, disse Idol antes de Stevens introduzir, após um breve solo, a clássica Flesh for Fantasy. A faixa presente no segundo álbum, Rebel Yell (1983), mostrou o bom entrosamento da banda de apoio de Idol e Stevens, que conta com Billy Morrison (guitarra), Stephen McGrath (baixo), Erik Eldenius (bateria) e Paul Trudeau (teclado e guitarra). Porém, Idol não trouxe só os velhos clássicos no repertório e o single Cage, que ao vivo ficou mais impactante que em estúdio, representou a nova fase – ela é faixa-título do novo EP, a ser lançado em 23 de setembro, que Idol fez questão de enfatizar antes de apresentá-la.


Com a chamada na batera de Erik Eldenius e a pergunta “Vocês estão se sentindo bem?” de Idol, a coisa esquentou mais ainda com a vigorosa e hard rocker Speed, tema do filme homônimo de 1994, que deu espaço para os riffs intensos e pesados de Stevens. Idol também falou que ela fazia parte do ‘blockbuster’ com o ator Keanu Reeves.

Por sinal, a música, exaltada por Idol após a sua execução (“São Paulo, Brazil, Give me what I need”, disse ele, que ainda emendou com “Hot in the city, in São Paulo, tonight”), marcou o retorno da parceria do vocalista, que vinha do insucesso com Cyberpunk (1993), com Stevens. O guitarrista, além do Atomic Playboys, vinha de uma turnê promovendo o álbum Exposed (1993), de Vince Neil (Mötley Crüe), e também gravado com o projeto Jerusalem Slim, ao lado de Michael Monroe (ex-Hanoi Rocks), em 1992. “Eu tenho parceria com Billy por quase 40 anos. Penso que ele é o melhor que existe. Constantemente se esforçando para fazer músicas novas e emocionantes, dando tudo o que tem no palco. O que o público não vê são as risadas que todos nós temos nos bastidores. Acredito que esse sentimento é o melhor efeito especial que você pode ter sob as luzes”, postou recentemente Stevens em suas redes sociais.


Voltando ao presente, Idol apresentou a sua favorita do do EP The Roadside (2021), Bitter Taste, que deu uma acalmada nos ânimos. Com letra autobiográfica, remete, como declarou Idol, ao acidente de moto sofrido por ele em 1990. Então foi a vez de mais um hit, Eyes Without a Face, que no Rock in Rio em 1991 abria o set e traz em sua segunda parte aquele riff contagiante de Stevens. Por sinal, a letra dela também gira em torno de um acidente, pois fora inspirada em um filme de terror francês de 1960. “Les yeux sans visage” (título cantado pela então namorada de Idol, Perri Lister, na versão original em estúdio), traz como personagem central um cirurgião plástico que busca realizar um transplante de rosto desfigurado de sua filha, que sofrera um acidente de carro.


Stevens então vai para a lateral do palco, entrega a guitarra ao técnico Frank Falbo, pega seu violão da Godin Guitars e a banda deixa o palco. Assim, o guitarrista passou a se tornar o centro das atenções por cerca de cinco minutos, executando seu solo individual. Nele, apresentou uma de suas características no flamenco, além de incluir trechos de Stairway to Heaven e The Rain Song (Led Zeppelin), e Eruption (Van Halen). Então, a banda retornou mandando Mony Mony, cover da banda americana Tommy James and the Shondells e presente no primeiro EP do vocalista, Don’t Stop. Depois, Idol anunciou o lançamento do novo EP, Cage, e apresentou a faixa Runnin’ From the Ghost.


Seguindo com a mescla de passado e presente veio One Hundred Punks, relembrando o passado punk rock do Generation X e dando espaço para Billy Morrison solar. A adrenalina alta se manteve com Blue Highway, mais um hit de Rebel Yell, que contou com um solo estendido de Stevens e que trouxe até a aguardada Top Gun Anthem, da trilha de “Top Gun” (1986) e que voltou em “Top Gun: Maverick” (2022). No entanto, a catarse geral veio com a esperada e vibrante Rebel Yell, eterno hit do álbum homônimo de 1983, que finalizou a primeira parte do show e foi apresentada por Idol como sendo a sua favorita.


No retorno para o encore, Idol, que instigou o público a agitar, anunciou uma volta ao ano de 1977 e mandou novamente uma de sua veia punk rocker com o cover de Born to Lose, do The Heartbreakers, de Johnny Thunders (ex-New York Dolls). O vocalista agradeceu os aplausos e gritos dos fãs: “Estou passando por bons momentos nessa cidade. Agradeço a todos. Quero agradecer todos vocês por terem me proporcionado uma vida tão boa”. Da mesma forma, saudou Steve Stevens. O guitarrista, àquela altura usando uma camiseta do lutador Charles do Bronx, iniciou a última do show, White Wedding, hit presente no debut, Billy Idol, lançado há 40 anos e que no clipe trazia a já citada Perri Lister no papel de noiva. Vale ressaltar que o vocalista fez questão de apresentar todos os músicos – inclusive, a esposa de Steve Stevens, Josie, atravessou o palco para entregar um bolo ao aniversariante do dia, o baterista Erik Eldenius. Idol e a banda então deixaram o palco sob aplausos. “Vejo-os da próxima vez”, disse Idol.

O Pacaembu pode estar passando por uma grande reforma, iniciada em junho de 2021, mas a primeira goleada foi de Billy Idol, Steve Stevens e a banda de apoio, pois os fãs vibraram no “gramado” quase como uma torcida de futebol. O “jogo seguinte” da “The Roadside Tour 2022” vai ser no Rock in Rio, desta vez não no Maracanã, como em 1991, mas na Cidade do Rock.

Setlist:
Dancing With Myself (cover do Generation X)
Cradle of Love
Flesh for Fantasy
Cage
Speed
Bitter Taste
Eyes Without a Face
Steve Stevens Solo
Mony Mony (cover do Tommy James & the Shondells)
Runnin’ From the Ghost
One Hundred Punks (cover do Generation X)
Blue Highway
Rebel Yell
Born to Lose (cover do The Heartbreakers)
White Wedding

Compartilhe:
Follow by Email
Facebook
Twitter
Youtube
Youtube
Instagram
Whatsapp
LinkedIn
Telegram

MATÉRIAS RELACIONADAS

DESTAQUES

ROADIE CREW #285
Março/Abril

SIGA-NOS

50,8k

57k

17,2k

982

23,6k

Escute todos os PodCats no

PODCAST

Cadastre-se em nossa NewsLetter

Receba nossas novidades e promoções no seu e-mail

Copyright 2025 © All rights Reserved. Design by Diego Lopes

plugins premium WordPress