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BRUCE DICKINSON – São Paulo/SP

Por Antonio Carlos Monteiro

Fotos: Roberto Sant’Anna

A ideia de fundir sonoridades de uma banda de rock com orquestra não é nova. A partir dos anos 90, quase todo mundo fez isso, de Aerosmith a Metallica, de Kiss a Nightwish. Só que a ideia é bem mais antiga. Nos idos 1969 (onde você estava em 1969?), Jon Lord escreveu a peça Concerto for Group and Orchestra, que foi gravada ao vivo pelo Deep Purple em 24 de setembro daquele ano e acabou marcando a estreia na banda de Ian Gillan e Roger Glover.

E foi essa a base do show que Bruce Dickinson, confesso fã do Purple, trouxe ao Brasil para quatro apresentações – antes, havia feito sete shows em países do leste europeu.

Diante de uma casa lotada e acompanhado por uma excelente banda, formada por Kaiter Z Doka (guitarra, Jon Lord), Tanya O’Callaghan (baixo, Whitesnake), John O’Hara (teclado, Jethro Tull) e Bernard Welz (bateria, Jon Lord, Don Airey), e por uma orquestra formada por músicos locais (convenhamos, botar uma orquestra inteira num avião não é uma empreitada exatamente barata…) e regida por Paul Mann, Bruce se mostrava completamente à vontade no palco. Depois de entrar em cena e explicar como funcionaria a apresentação (“não é uma banda acompanhada por uma orquestra, são banda e orquestra juntos”, definiu), deixou o palco já que o primeiro movimento da obra é totalmente instrumental. Mesmo sendo algo novo para boa parte dos presentes, a execução conquistou a plateia. Banda e orquestra alternaram partes e ambas puderem mostrar a excelência de seus integrantes.

Bruce entrou no segundo movimento e aí a galera começou a se soltar mais, curtindo não só o vocal, mas também a movimentação do cantor, com uma abordagem obviamente muito diferente de sua performance com o Iron Maiden.

O terceiro e último movimento voltou a alternar performances de banda e orquestra, com direito até a solo de bateria. Novamente, mesmo sem estar totalmente familiarizado com o que acontecia no palco, a plateia não economizou aplausos efusivos ao final da apresentação.

Após uma pausa de uns vinte minutos, como é normal acontecer nos concertos eruditos, todos voltaram ao palco para, aí sim, começar o verdadeiro show de rock. Bruce iniciou o set com duas de suas músicas, Tears of the Dragon e Jerusalem, que ganharam muito em dramaticidade com a participação da orquestra.

Depois disso, quem foi lá pra ouvir Deep Purple simplesmente se esbaldou. Pictures of Home e When a Blind Man Cries nos lembraram que, a despeito de estar com 64 anos, Bruce Dickinson é um dos maiores vocalistas da história e da atualidade, além de ser interessante notar como sua voz cai bem nas músicas do Purple.

Em seguida, foi a vez de botar a galera pra cantar com Hush, que também recebeu um arranjo certeiro por parte da orquestra e, na sequência, os primeiros acordes do teclado de John O’Hara para Perfect Strangers transformaram o Vibra (que, para quem não está ligando o nome à pessoa, é o conhecido Credicard Hall repaginado) num show de rock. Bruce se esbaldou! Regeu os músicos com uma batuta igual à do maestro e até se juntou ao tecladista para tocar algumas notas. Ali também deu pra ver vários integrantes da orquestra, como a primeira violinista (spalla), agitando ao som do rock – para muitos, deve ter sido a primeira experiência com o gênero.

Depois daquela saidinha fake, volta todo mundo ao palco para a parte final. Smoke on the Water tirou a galera das comportadas cadeiras que foram colocadas na pista e levou todo mundo pra junto do palco. E, quando todo mundo pensava que o show acabaria ali, a surpresa: pela primeira vez nesta turnê, Burn entrou no repertório – e, cá entre nós, foi a melhor do espetáculo, com banda afiada, orquestra dando o gás e Bruce alternando tranquilamente entre os vocais de David Coverdale e Glenn Hughes.

Foi um daqueles shows a que você comparece sem estar cercado de altas expectativas e que te surpreende completamente. A performance dos envolvidos, o repertório e, principalmente, o talento de Bruce fizeram dessa uma noite mais que especial. A lamentar somente o local em que acomodaram a imprensa: numa lateral da parte superior da casa, da qual era impossível visualizar boa parte da orquestra. Como diria Millôr Fernandes, “por que me puseram na última fila, atrás da coluna?”

Setlist

Parte 1:

  1. Concerto for Group and Orchestra, First Movement: Moderato – Allegro
  2. Concerto for Group and Orchestra, Second Movement: Andante
  3. Concerto for Group and Orchestra, Third Movement: Vivace – Presto

Parte 2:

  1. Tears of the Dragon (Bruce Dickinson)
  2. Jerusalem (Bruce Dickinson)
  3. Pictures of Home (Deep Purple)
  4. When a Blind Man Cries (Deep Purple)
  5. Hush (Joe South)
  6. Perfect Strangers (Deep Purple)

Bis:

  1. Smoke on the Water (Deep Purple)
  2. Burn (Deep Purple)

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