O guitarrista norte-americano Bruce Kulick – irmão mais novo de outro renomado guitarrista, o “pau pra toda obra” Bob Kulick -, conheceu a fama e o sucesso durante os 12 anos em que integrou o gigante Kiss. Entre 1984 a 1996, enquanto esteve ao lado de Gene Simmons, de Paul Stanley e dos bateristas Eric Carr e Eric Singer, ele deixou seu nome marcado na história através dos inesquecíveis álbuns “Asylum” (1985), “Crazy Nights” (1987), “Hot In The Shade” (1989), “Revenge” (1992), dos discos ao vivo “Alive III” (1993) e “MTV Unplugged” (1996), e também do polêmico “Carnival Of Souls” (1997), respectivamente. Desde que saiu da banda, Bruce se enveredou pelo Union com o ex-vocalista do Mötley Crüe, John Corabi, e também participou como convidado em diversos outros trabalhos. De 2000 para cá, passou a dividir seu tempo entre o veterano Grand Funk Railroad e a sua carreira solo. Quanto a sua relação com o público brasileiro, ela vem desde 1994, quando ainda pelo Kiss o guitarrista visitou o país para tocar na primeira edição do festival “Monsters Of Rock”. A partir de então, não mais pelo Kiss, Bruce retornou aos nossos palcos nos anos de 2007, 2011 e 2013, e em cada uma dessas ocasiões enfatizou seu repertório apenas nas músicas da banda que o consagrou mundialmente. Dessa vez, não foi diferente…
A nova mini-turnê brasileira de Bruce Kulick incluiu no itinerário as cidades de Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Campinas (SP), e para estes shows ele esteve acompanhado dos músicos gaúchos da Parasite Kiss Cover, que a cada show se encarregavam do primeiro ato, sem contar com a presença da estrela principal. Em São Paulo o bom público que compareceu ao tradicional Manifesto Bar – lugar que não era novidade para Bruce –, já podia ouvir a famosa introdução mecânica do Kiss rolando, pontualmente às 19h, quando a grande cortina com o logotipo do Kiss, que estava a frente do palco, saiu de cena. Felipe Piantá – o Paul Stanley -, Fernando André dos Santos – o Ace Frehley -, Erico Soares – o Gene Simmons -, e Patrick Vargas – o Peter Criss -, entraram energeticamente com “Creatures Of The Night”, música a qual estamos acostumados a ver o Kiss também tocá-la na abertura de seus shows. Com indumentárias e equipamentos iguais aos dos integrantes originais, os músicos mostravam os mesmos trejeitos e coreografias e de cara ganharam o público paulistano. Após “Deuce”, o vocalista e canhoto guitarrista Felipe “Paul Stanley” Piantá comentou sobre a emoção de estar dividindo palco com um ex-membro da família Kiss nessa mini-turnê e pediu que todos ali aplaudissem o ex-guitarrista do grupo americano que em poucos instantes estaria no palco com eles.
Alguns detalhes nessa apresentação chamavam a atenção, como a sirene de fundo no final de “War Machine”, o videoclipe de “Psycho Circus” rolando no telão enquanto a banda a tocava e por aí vai. No total, a Parasite Kiss Cover tocou oito clássicos do Kiss, antes de, finalmente, para a alegria do exército de “Kisseros” (como dizem os argentinos), convocar Bruce Kulick. Sendo extremamente aplaudido, Bruce desceu as escadas laterais que levam do camarim até o palco e foi ovacionado sob os gritos de “Olê, olé, olé, ‘Brucê’! ‘Brucê’!”. Feliz, tentou acompanhar o coro na guitarra e começou a sua apresentação com um breve solo, para então brindar a todos com “Heaven’s On Fire”, música de “Animalize” (1984) – álbum gravado pelo seu antecessor, o saudoso Mark St. John, que cedeu sua vaga a Bruce assim que foi diagnosticado com Síndrome de Reiter (uma espécie de artrite grave), tendo falecido em 2007, aos 51 anos de idade, em decorrência de hemorragia cerebral. Na primeira pausa, Bruce cumprimentou os fãs, fez elogios a banda que o acompanhava e pediu que todos a aplaudisse. Na sequência, relembrou os álbuns “Revenge”, “Asylum” e “Hot In The Shade”, mandando, respectivamente, uma trinca de respeito formada por “Domino”, “Tears Are Falling” e “Hide Your Heart”, que simplesmente incendiaram a noite. Daí então Bruce Kulick aproveitou para elogiar a beleza das mulheres que estavam na plateia, e aí colocou os casais para dançar com a emocionante e inesquecível “Forever”, outra de “Hot In The Shade”, que assim que foi lançada virou hit instantâneo no Brasil. Ao final dessa, Bruce brincou com uma garota da plateia que estava em lágrimas. Se em “Forever” o romantismo pairou no ar, “Unholy” logo surgiu para mudar o clima com bastante peso.
Era interessante notar que durante o set, mesmo quando alguém da banda cometia alguma escorregadela, Bruce Kulick logo tratava de alinhar as coisas com simples sinais ou olhares, e com o entrosamento que havia entre os cinco devido aos shows anteriores, os pequenos erros até passavam despercebidos. Quanto aos músicos que o acompanhavam, Felipe “Stanley” era, obviamente, o mais despojado, comunicativo e carismático; Erico mostrava-se bastante tímido em relação ao Gene Simmons original; Fernando “Frehley” permanecia contido e inexpressivo o tempo todo; já Patrick “Criss” atraia a atenção de todos, tocando com bastante destreza e pegada, o que rendeu comentários do tipo: ‘Esse cara toca tanto, que está mais para a versão Eric Singer maquiado de Peter Criss, do que para o próprio Peter’. E é a pura verdade, pois o cara mandou muito bem!
Era hora de a festa ficar ainda mais animada, então Kulick e banda trataram de fazer um medley de “Crazy Nights” com “Turn On The Night”. Ao final dessa, o coro de “Olê, Brucê…” voltou a ser entoado e prontamente o guitarrista filmou esse momento com seu celular – esse registro pode ser conferido em sua página oficial no Facebook. Vale lembrar que caiu muito bem o uso de telão ao fundo, mostrando os videoclipes de forma simultânea com as músicas que eram executadas. Isso era de arrepiar, pois os fãs podiam ver cenas clássicas de Kulick junto a seus antigos companheiros e ao mesmo tempo voltar a realidade, vendo-o o ali bem perto de todos, de carne e osso e com aparência jovial, apesar de seus 62 anos de idade.
De seu período no Kiss, a última música a ser revisitada foi “God Gave Rock & Roll To You II”, que está presente no álbum “Revenge”, um dos mais adorados pelos fãs (eu, inclusive!). Daí então, a trinca final com “Lick It Up” – originalmente gravada pelo excêntrico Vinnie Vincent -, e a ‘saideira’ com dois dos maiores clássicos da primeira década do Kiss, que contava com o lendário Ace Frehley, “Detroit Rock City”, e o hino mundial do Rock and Roll: “Rock And Roll All Nite”. Final de jogo ainda bem cedo, antes mesmo das nove horas. Certamente essa foi uma noite inesquecível que deixou todo mundo bem feliz, tanto público e os músicos da Parasite Kiss Cover, quanto o simpático e brincalhão Bruce Kulick.
Algo que é emocionante é o fato de que os fãs de Kiss são certamente os mais apaixonados por sua banda de coração que existem, e a prova cabal disso é que todo músico que passa pelo grupo acaba sendo respeitado e idolatrado para sempre. Sabendo disso, Bruce pode desfrutar de momentos como os que aconteceram nesse show do Manifesto Rock Bar, em que todos os seus seguidores o receberam com muita euforia e empolgação. Ver coisas assim é sempre de arrepiar e nos mostra o quanto o Rock’n’Roll é, de fato, algo mágico, pacífico, rejuvenescedor e revitalizante.
PARASITE KISS COVER – Setlist:
Creatures Of The Night
Deuce
Love Gun
Let Me Go, Rock And Roll
War Machine
Psycho Circus
I Love It Loud
Black Diamond
BRUCE KULICK E PARASITE KISS COVER – Setlist:
Heavens On Fire
Domino
Tears Are Falling
Hide Your Heart
Forever
Unholy
Crazy Nights / Turn On The Night
God Gave Rock And Roll To You
Lick It Up
Detroit Rock City
Rock And Roll All Nite