BUSIC

Na última sexta-feira, ou seja, um dia após o que se convencionou chamar de Dia Mundial do Rock, a banda Busic recebeu seus fãs no Sesc Belenzinho e, em promoção de seu homônimo álbum de estreia, realizou um show inesquecível no local. Sei que você leitor deve estar se perguntando o porquê de eu ter dito “inesquecível”, mas, se você não esteve presente nesta apresentação, acredite, não estou exagerando ao fazer tal afirmação. No decorrer destas linhas você entenderá o motivo de este ter sido um show memorável e não apenas mais um na carreira dos irmãos Busic, Andria (vocal e baixo) e Ivan (bateria e vocal), e também de Zeca Salgueiro (guitarra, violão e vocal) e do recém chegado Thiago Melo (guitarra). A Busic entrou em cena pontualmente às 21h30 e durante todo o tempo contou com ótima qualidade de som e de iluminação. O quarteto deu início com uma sequência pesada, formada por “Fúria Cega” e “Perigo”. Tem sido muito legal ver Andria cantando (e muito, diga-se) em português, e isso, inevitavelmente, traz à mente lembranças dos tempos em que ele e seu irmão integravam as bandas Taffo, Cherokee e Platina.

Era a primeira vez que muitos ali conferiam de perto a performance de Thiago Melo, músico acriano que foi o escolhido entre vários que participaram das audições para a vaga de guitarrista solo da Busic. E o que todos, de maneira geral, puderam constatar, é que Andria, Ivan e Zeca foram felizes na escolha de seu novo companheiro, pois o ex-guitarrista da banda paulistana Ceremonya se encaixou perfeitamente ao grupo, mostrando ter técnica e feeling, características que sempre foram notáveis nos principais guitarristas que já tocaram com os irmãos Busic. Conversei com Melo nos bastidores e ele se mostrou feliz de estar fazendo parte da banda: “Estou assimilando ainda, sou fã dos caras desde o início do Dr. Sin e pra mim é tudo muito novo”, confessou. “Estou adorando, não só pelos músicos sensacionais que os caras são, mas também pela energia”, acrescentou. E Thiago relembrou a sensação de ser oficializado: “Foi só felicidade, imagina só como foi receber essa notícia no Acre”, comemorou. “Demorei um pouco para assimilar, mas depois entrei em contato com os caras e vi que a coisa ganhou uma intimidade maior. Fora o palco, os bastidores e a amizade têm sido algo sensacional”, concluiu.

Já Ivan falou sobre ter duas guitarras na banda: “É bacana, ainda mais pela concepção com que o álbum foi gravado. Às vezes, Andria gravava um violão e uma guitarra, uma mais limpa, outra mais suja. Então, há muito trabalho de guitarra no disco”, explicou. “Temos agora um virtuoso no instrumento e outro que é bem coerente, que faz também vocal e violão”, detalhou. “Meu irmão e eu acabamos ficando muito power trio, só de Dr. Sin foram vinte e cinco anos nesse formato e agora somos “os quatro patetas” ao invés de três”, brincou. Voltando a falar do show, o baterista apresentou o hard agitado e cheio de malemolência de “Cilada”. Ele que está sempre bem humorado nos palcos, agora tem em Zeca um parceiro e tanto para os momentos engraçados. E olha que as tiradas aconteciam a todo instante nos intervalos entre uma música e outra, e elas garantiam gargalhadas gerais.

Após a mid-tempo “Só o Tempo Vai Dizer”, foi a vez de a banda chamar ao palco o primeiro convidado da noite: Clemente Nascimento, vocalista, guitarrista e líder do grupo Inocentes e integrante da também lendária Plebe Rude, de Brasília. Clemente está sempre sorridente e é outro que sabe divertir a plateia. Com esse astral, ele e os outros agitaram com uma versão esfuziante para “São Paulo by Day”, um velho clássico gravado no álbum “São Paulo 1554/Hoje” (1974), de uma das bandas mais singulares da história do rock paulistano. E o que o Joelho de Porco retratou na letra dessa música há mais de quarenta anos, infelizmente ainda faz parte de nosso cotidiano: a violência urbana. Foi hilário ver os músicos tocando a versão que o Joelho regravou em 1978, em seu homônimo álbum, fazendo com que todos cantassem o coro final que diz: ‘Glória, glória, aleluia… Trombadinhas do Brasil’ – durante a execução dessa, Zeca até imitou uma cena do clipe do Joelho de Porco, ao correr atrás de Clemente pelo palco para mexer em seu bolso. O convidado se auto-sacaneou ao anunciar a próxima, enaltecendo o talento dos músicos que o acompanhavam: “vocês nunca ouviram um clássico dos Inocentes tão bem tocado que nem agora”. Ele se referia ao hino “Pátria Amada”, que foi cantado em uníssono pela plateia, que ovacionou o vocalista em sua despedida. No dia seguinte, ele e sua banda partiram rumo ao Rio de Janeiro, onde tocaram no “Matanza Fest”.

A Busic prosseguiu com o show, mas agora numa atmosfera nostálgica, pois a música seguinte, “Máquina do Tempo”, trazia de volta o espírito dos bailinhos que embalavam o clima de romance dos estudantes na década de 50 – sua digníssima avó pode até não gostar de shows de hard rock, mas duvido que nessa hora ela não iria sentir saudade de cair na pista de dança com o nono! Na sequência, Andria emocionou à todos ao dedicar “Canção para Julie” à sua enteada, que assistia o show pela lateral do palco. Foi muito bonito vê-lo chamando a própria Julie de filha ao anunciar a bela balada.

O segundo convidado a assumir o microfone foi Marcello Pompeu, personalidade que está sempre marcando presença na noite paulistana, prestigiando os mais diversos shows. O vocalista do Korzus chegou pedindo que o público enchesse o peito e fizesse muito barulho. Foi correspondido no mesmo instante e assim ele, os Busic & Cia mandaram ver com “War Machine”, uma das músicas mais pesadas do Kiss, e também com “A Minha Vida é Rock’n’Roll”, hit intransponível do lendário Made in Brazil.

Já falei sobre Thiago Melo, mas em relação ao outro guitarrista, Zeca Salgueiro, além de ele segurar as bases, atua de maneira impecável nos vocais de apoio. No violão, chegou até a fazer uma introdução estilo ‘western’, que culminou com o início de “Wanted Dead or Alive”. Apesar da histeria da plateia para esse mega-hit do Bon Jovi, Zeca não tocou mais do que os primeiros acordes desse clássico dos anos 80, e logo deu início à música “Na Estrada”, que, assim como no disco, foi cantada por Ivan, que contou com os vocais de apoio de seu irmão. Ele e Andria ainda fizeram um duo na música seguinte, a balada ‘pinkfloydiana’ “SOS Amanhã”.

Um dos pontos altos do show foi quando a Busic tocou “Me Dê Sua Mão”, tema inesquecível da banda Taffo, que até hoje está na memória e também na ponta da língua de muita gente. E tanto nessa quanto na próxima, que são músicas consagradas na respeitável e longeva carreira dos Busic, Thiago Melo executou milimetricamente cada arranjo, respeitando também os solos originais. Mas uma pausa causou tristeza em todos, quando Andria Busic deu a notícia de que o baixista David Z havia morrido há algumas horas, devido a um acidente com o trailer em que ele e os outros integrantes do Adrenaline Mob viajavam (a tragédia aconteceu porque enquanto estava parado no acostamento para troca de pneu, o trailer foi atingido por um caminhão que virou na pista. David Z tinha 38 anos de idade e havia entrado na banda no início do ano). Andria foi às lágrimas e junto a seus parceiros fez alguns segundos de silêncio em respeito ao baixista, antes de dedicar à ele o maior clássico do Dr. Sin: “Emotional Catastrophe”. A pesada “Ação e Reação” deveria ter sido a última do show, mas, felizmente, a banda atendeu ao pedido dos fãs e alegrou à todos com um cover de um dos maiores hinos do rock and roll mundial de todos os tempos: “You Shook Me All Night Long” (AC/DC).

Este show, tanto para o público quanto para a banda, certamente acabou sendo mais especial do que todos previam, pois, conforme você leu neste texto, vários sentimentos e emoções se misturaram durante toda a apresentação da Busic. Da diversão à tristeza, da comoção à nostalgia, das lágrimas aos sorrisos, enfim, teve de tudo um pouco, e isso somente uma banda que já nasce sendo respeitada e com uma luz bastante positiva é capaz de transmitir a quem está a sua volta.

BUSIC – Set list:
Fúria Cega
Perigo
Cilada
Só o Tempo Vai Dizer
São Paulo by Day (cover do Joelho de Porco)
Pátria Amada (cover do Inocentes)
Máquina do Tempo
Eu Acredito em Você
Canção Para Julie
War Machine (cover do Kiss)
A Minha Vida é Rock’n’Roll (cover do Made in Brazil)
Na Estrada
SOS Amanhã
Me Dê Sua Mão (cover do Taffo)
Emotional Catastrophe (cover do Dr. Sin)
Ação e Reação
You Shook Me All Night Long (cover do AC/DC)
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