CANDLEMASS

Não dá para reclamar, né? Ao menos no que diz respeito aos shows de Heavy Metal no Rio de Janeiro. Apesar da crise econômica que, com reforço da crise política, não tem dado um momento sequer de trégua em todo o país, os cariocas têm tido mês sim, mês também uma noite para chamar de sua. Algumas vezes até duas. Menos de duas semanas depois da antológica apresentação Accept, foi a vez de o Candlemass meter aquele sorrisão no rosto dos fãs que compareceram em ótimo número ao Teatro Odisseia numa quarta-feira véspera de feriado. Sim, porque o principal nome do Doom Metal, a maior banda da música pesada oriunda da Suécia, arregaçou em 90 minutos de muita, mas muita pressão.

Com “Marche Funebre” rolando nos alto-falantes, Mats Levén (vocal), Mats Björkman e Lars Johansson (guitarras), Jan Lindh (bateria) e Lord K (baixo, The Project Hate MCMXCIX, ex-Dark Funeral, Grave e outros) se apresentaram para começar o massacre – em tempo: líder, mentor e principal compositor do Candlemass, o baixista Leif Edling está longe dos palcos desde 2014, graças a uma doença chamada Síndrome da Fadiga Crônica. Por causa dela, qualquer atividade física leva a um cansaço extremo que não é amenizado nem mesmo com repouso. Edling faz falta, sem dúvida, mas acabou criando um monstro que é indomável ao vivo. Principalmente ao vivo.


Que o digam “Mirror Mirror” e “Bewitched”, clássicos dos clássicos “Ancient Dreams” (1988) e “Nightfall” (1987), respectivamente, que abriram de fato espetáculo e colocaram todo mundo para soltar a voz.Poucas vezes, aliás, vi um gargarejo ser formado por fãs tão apaixonados como os que lá estavam –foram cenas de dar autenticidade ao chavão “a primeira vez a gente nunca esquece”… E por falar nisso, desnecessário dizer que todos ali gostariam de ver o emblemático Messiah Marcolin empunhando o microfone, mas sejamos sinceros: Mats Levén não apenas canta para cacete, como encaixou perfeitamente no Candlemass. Finalmente, aliás, depois de o vocalista ter feito parte do Abstrakt Algebra e do Krux, ao lado de Edling, e de ter gravado as demos de “Candlemass” (2005) e “King Of The Grey Islands” (2007).

Duvida? “Prophet”, de “Psalms For The Dead” (2012), tornou impossível não imaginar como a última década do grupo teria sido ainda melhor se os quase sete anos com Robert Lowe tivessem sido com Levén. Claro, ajudou o fato de o público ter cantando em coro e com entusiasmo o pesadíssimo riff inicial da única música retirada do último trabalho de estúdio. E por falar em peso, a brincadeira era de gente grande! Com um quê de “Children Of The Grave”, daquela banda inglesa que forjou o Heavy Metal e é a grande referência do Candlemass, “A Cry From The Crypt”foi um soco no estômago saído das guitarras de Björkman e Johansson, este último responsável ainda por solos matadores e técnicos na medida certa.

Mais acelerada, a excelente”Emperor Of The Void” antecipou um dos momentos mais aguardados do show: material da pérola “Epicus Doomicus Metallicus”, que completa três décadas em 2016. “Under The Oak” foi a primeira das quatro músicas do trabalho de estreia que emocionaram os presentes. Não menos do que isso, emoção pura. E que continuou com “A Sorcerer’s Pledge”, indo da beleza do seu primeiro minuto ao peso descomunal que resultou até mesmo numa inesperada roda na acanhada pista da casa.

Claro que a festa não acabaria com apenas uma hora de música. O esperado bis teve início com “The Prophecy”para machucar os pescoços antes de uma dupla fatal: “Crystal Ball” e, imaginem se seria diferente, o hino “Solitude”, que comprovou a rasgação de seda de Levén ao dizer, algumas músicas antes, que aquele era até então o melhor público da turnê sul-americana – “Vocês sabem cantar absolutamente tudo!” Não que “Solitude” precisasse de algum incentivo, mas foi bonito demais ver os braços para cima e ouvir algumas centenas de vozes cantando – embargadas, eu arriscaria dizer – principalmente o refrão.

Poderia ter acabado aí, pois o clímax havia sido atingido com louvor. Mas o público pedia por “Samarithan”, e um fã que segurava um pequeno cartaz com o nome do clássico de “Nightfall” acabou sensibilizando, digamos assim, os suecos – o próprio Levén, segurando o pedaço de papel, fez papel de incentivador. Resumo da ópera metálica: foi um encerramento lindo, amigos. Simples assim.E que”Death Thy Lover”, EP que chega às lojas no dia 3 de junho, não seja o canto dos cisnes fonográfico do Candlemass. Os fãs querem mais.

Setlist
1. Mirror Mirror
2. Bewitched
3. Prophet
4. A Cry From The Crypt
5. Emperor Of The Void
6. Under The Oak
7. At The Gallows End
8. A Sorcerer’s Pledge
9. The Prophecy
10. Dark Reflections
11. Crystal Ball
12. Solitude
13. Samarithan

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