Quando foi anunciado que a vocalista Anna Murphy, o guitarrista/baixista Ivo Henzi e o baterista Merlin Sutter estavam fora do Eluveitie, em 2016, a impressão definitivamente não foi das melhores. Porém, não deu nem tempo de receber mal a notícia, já que logo em seguida foi anunciado que os três se concentrariam no Cellar Darling, nome tirado do álbum solo de Anna Murphy, lançado em 2013. Desde então, com a euforia devidamente ajustada, os fãs receberam em 2017 o álbum de estreia, This Is The Sound, e agora em 2019, o segundo álbum, The Spell.
Nascida já com status de banda grande em nosso país, o Cellar Darling também já havia debutado em nossos palcos, no ano passado. Com passagem em várias cidades, lembro especificamente da apresentação que tive a chance de acompanhar, em 11 de maio do ano passado em São Paulo/SP, ao lado das bandas The Devil e Therion. Quando fiz a resenha daquela apresentação, lembro de ter elogiado a postura da banda no palco, a naturalidade e o carinho que dedicavam ao público, e a bela acolhida que receberam. Com um repertório forte e com os fãs empolgados, parecia óbvio que eles não demorariam para retornar. O que de fato não aconteceu.
Pouco mais de um ano depois de sua primeira apresentação em São Paulo, o Cellar Darling estava de volta, desta vez com um show realmente seu. Parte de uma extensa turnê pela América Latina – que creio que encerrou na noite seguinte, no Rio de Janeiro – a apresentação de São Paulo era comentada há meses nas redes sociais, havia uma forte movimentação dos fãs, e estava claro que o show seria um sucesso mais uma vez. E foi.
Tudo o que havia de melhor na apresentação do ano passado foi mantido, e muitas coisas legais foram acrescentadas. Para começar, desta vez o Cellar Darling veio fazendo jus ao seu status, sendo a banda principal, o que em si já é motivo de orgulho para uma banda ainda tão nova. Além disso, existiam as novas músicas, do recém lançado The Spell, que caíram como uma luva para completar o já ótimo repertório dos tempos de This Is The Sound.
O clima mais sombrio e contemplativo do novo álbum foi escolhido para abrir a apresentação, e vale dizer que Pain, Death e Love não foram recebidas como canções ‘novas’. Na verdade, a impressão é que todos os presentes conheciam muito bem as canções, e entoavam como podiam os versos interpretados com a classe sempre evidente de Anna Murphy. Se ela esbanjava talento nos vocais, teclados, flauta (e o que mais o momento demandasse), Merlin Sutter e Ivo Henzi se mostravam firmes e confiáveis, desfilando todos os elementos musicais que eram necessários para gerar o ambiente que as novas canções da banda exigem, seja nos palcos, seja no estúdio.
Ademais, convenhamos que foi uma decisão muito inteligente separar o show em partes, apresentando os álbuns de maneira separada. De fato sinto que The Spell demanda essa atenção, e suas canções são melhor apreciadas quando nos colocamos no clima certo. E, você talvez concorde, já que a banda se intitula como ‘contadores de histórias’, é sempre bom terminarem uma história antes de começarem outra, certo? Assim, pudemos aproveitar toda a classe e introspecção de canções como Insomnia e Freeze antes de ouvir as primeiras notas de músicas que já consideramos clássicas, como Black Moon e Starcrusher.
Um belo show, coroado por uma performance correta e dedicada, de uma banda que, lembremos, estava finalizando sua turnê por essas terras. Eles não estavam cansados, nós não estávamos cansados, e acho que qualquer dúvida nesse sentido foi aplacada com a execução de Avalanche, certo? Agora é esperar pelo retorno. Sem surpresas desagradáveis, sem um monte de troca de farpas nas redes sociais, apenas música boa ao vivo, como sempre deveria ser. Obrigado Cellar Darling por mostrar como as coisas devem ser feitas.