Não fosse a facilidade de acesso à informação graças à internet, seria de se supor que muitas pessoas não lembrariam ou nem mesmo saberiam que o Children Of Bodom já tocou no Rio de Janeiro antes. Afinal, já fazia bastante tempo. Realizada em um longínquo agosto de 2004, a então única apresentação dos finlandeses na hoje capital olímpica teve como palco a casa de espetáculos Scala (famosa por abrigar aqueles bailes carnavalescos outrora exibidos pela TV), quando o espaço ainda funcionava no bairro do Leblon, na Zona Sul da cidade. Depois de quase 12 anos, outras três vindas ao Brasil e cinco álbuns de estúdio lançados, o grupo que é um dos principais expoentes do Death Metal Melódico mundial voltou, enfim, a pisar em solo carioca, para uma nova performance matadora. Desta vez no icônico Circo Voador, na Lapa.
O show marcou o encerramento da turnê na América Latina, como parte da divulgação do álbum “I Worship Chaos” (2015), nono de estúdio da trupe liderada pelo guitarrista e vocalista Alexi Laiho, após passar por México, Chile e Argentina. A abertura ficou a cargo do Reckoning Hour, que também acompanhou a banda nórdica em São Paulo, na noite anterior. Promovendo “Between Death And Courage”, seu recém-lançado primeiro disco, JP Pires (vocal), Philip Leander (guitarra e vocal), Lucas Brum (guitarra), o novo integrante Carlos Victor Montenegro (baixo) e Johnny Kings (bateria) iniciaram os trabalhos às 19h33, diante de poucos presentes. Em cerca de meia hora, o competente quinteto carioca mostrou uma boa prévia do álbum de estreia. Além do instrumental bem executado, destaque para o versátil JP, que alterna vocais limpos e guturais.
No intervalo, a galera vibrou quando o pano de fundo do Children Of Bodom surgiu atrás da bateria, enquanto a equipe técnica regulava os instrumentos da principal atração. Eis que, pouco depois das 20h30, Alexi Laiho (e sua tradicional cusparada para o alto), Henkka Seppälä (baixo e backing vocals), Janne Wirman (teclados), Jaska Raatikainen (bateria) e Daniel Freyberg (guitarra), contratado em janeiro, davam início ao esporro, com a dobradinha “Are You Dead Yet?” e “In Your Face” (do disco “Are You Dead Yet?”, de 2005). Devido a alguns desajustes no som, tão logo resolvidos, o peculiar vocal urrado de Alexi se ouvia com certa dificuldade. No meio da pista, a primeira das muitas rodas de pogo formadas em praticamente todo o show já comia solta. “Morrigan” (single do “I Worship Chaos”) veio em seguida, marcada por um solo devastador, ainda na primeira metade da música, do talentoso Alexi, que esmerilhava as cordas de uma de suas várias guitarras ESP Flying V Signature, usadas durante a noite.
Na sequência, o petardo “Sixpounder” (de “Hate Crew Deathroll”, de 2003), trabalho cuja turnê trouxe a banda para sua então única passagem pelo Rio, estremeceu as estruturas do Circo. Nem é preciso afirmar que o jogo já estava para lá de ganho. “I Hurt” (mais uma música do “I Worship Chaos”) chegou ao fim com o nome do grupo berrado pela razoável plateia (em número, não em animação), repleta de muitas caras jovens, que por motivos óbvios não deviam estar no show de doze anos atrás. Palmas seguiram a marcação do baterista Jaska no bumbo durante a intro de “Trashed, Lost & Strungout” (outra do disco “Are You Dead Yet?”).
Guiada por uma bateria com bumbos duplos a trezentos por hora, a combinação entre guitarras raivosas e as camadas melódicas dos teclados, tão caraterística na sonoridade extrema do Bodom, é algo que dá gosto de ouvir. Ainda mais ao vivo. O que dizer, por exemplo, do solo conjunto de Alexi e Janne em peças como “Everytime I Die” (do álbum “Follow the Reaper”, de 2000)? Ou então na cadenciada “Angels Don’t Kill” (do “Hate Crew Deathroll”) e em “Silent Night, Bodom Night” (do CD “Hatebreeder”, de 1999), nas quais a dupla solou dividindo o mesmo espaço no praticável do teclado?
Por falar em Janne, foi curioso notar que o descontraído tecladista se ausentava do palco algumas vezes, com as músicas em pleno andamento. No caso, por exemplo, de “Lake Bodom” (única faixa pinçada do primeiro álbum, “Something Wild”, de 1997), para buscar uma bebida. Em outro momento, durante “Hate Crew Deathroll”, ele abandonou brevemente seu posto para ir até o kit de bateria de Jaska, pegar uma baqueta e jogá-la ao público. No entanto, sempre voltava a tempo para o teclado, a fim de retomar sua participação, sem prejudicar a performance. Coisa de quem domina o que faz.
Após a primeira etapa do set, a banda deixou o palco por alguns instantes, sob as luzes apagadas e um som mecânico de trovoadas saindo do PA que preparavam o clima para o bis. “Children Of Decadence”, “Kissing The Shadows” (ambas do “Follow The Reaper”) e “Downfall” (do álbum “Hatebreeder”) formaram a trinca que encerrou o massacre sonoro (e dos bons) de quase 90 minutos proporcionado pelos finlandeses. Em seu aguardado e avassalador retorno ao Rio (embora o Circo Voador estivesse longe da lotação), o Children Of Bodom mostrou que, mesmo depois de tanto tempo, seu poder de fogo e aquela fúria juvenil seguem intactos. Os fãs cariocas agora esperam que não demore novamente mais de uma década para que eles possam conferir tudo isso de pertinho outra vez.
1. Are You Dead Yet?
2. In Your Face
3. Morrigan
4. Sixpounder
5. I Hurt
6. Trashed, Lost & Strungout
7. Everytime I Die
8. Children of Bodom
9. Hate Me!
10. Lake Bodom
11. I Worship Chaos
12. Angels Don’t Kill
13. Silent Night, Bodom Night
14. Hate Crew Deathroll
Bis
15. Children Of Decadence
16. Kissing The Shadows
17. Downfall
Setlist Reckoning Hour
1. The Awakening (Introdução)
2. Misguided
3. Condemend To Failure
4. Eye For An Eye
5. What Really Matters
6. Dead Man Walking
7. Times Of Trial