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CHRIS ADLER

Chris Adler, baterista do Lamb Of God, tem estado bem ocupado. Além de vários workshops promovidos pela fabricante de baterias Mapex, que o patrocina, ele lançou o livro “The Making Of New American Gospel: Drum Tablature, Short Stories And Reflections”, no qual ele fala sobre a gravação do disco de estreia do Lamb Of God (“New American Gospel”, de 2000) e toda a loucura que o envolveu. Ele não só esmiúça o disco como comenta sobre sua performance em cada uma das faixas, além de apresentar as tablaturas de todo o repertório. Mesmo muito ocupado, ele encontrou um tempo para falar com a ROADIE CREW sobre o livro e fazer um apanhado geral de sua carreira.

Curiosamente, você iniciou sua carreira como baixista. O que o atraiu para esse instrumento?
Chris Adler:
 A maioria dos meus amigos tocava guitarra, então seria natural que na adolescência eu partisse para a guitarra, também. Apesar de eu ser muito ligado em Punk e Hardcore, minha banda favorita na época era o Aerosmith. E percebi que Tom Hamilton (baixista) era o elemento-chave do grupo. Nas outras bandas que eu ouvia, o baixo tinha um outro papel, ele praticamente seguia a guitarra. Mas no Aerosmith ele acrescentava muito à música e eu me encantei com a sonoridade do instrumento. Depois passei para a bateria, mas foi o baixo que me seduziu primeiro.

E Cry Havoc e Grouse (N.T.: bandas em que ele tocou antes de ingressar no Lamb Of God) eram bem mais pesados que o Aerosmith.
Chris:
 Sim, sem dúvida! Tinha mais a ver com Metallica, Diamond Head e coisas do tipo. Aerosmith era o que eu ouvia, mas eu estava a cada dia me tornando mais pesado.

Nesses grupos você já tocava bateria. Você chegou a ser baixista em alguma banda mais séria?
Chris:
 Sim. Toquei baixo em várias bandas na época da escola, mas houve uma chamada Calibra que fazia Speed Metal e na qual eu tocava baixo. Mas aquela em que fiquei mais tempo foi o Jettison Charlie. Chegamos a gravar dois singles 7″ em vinil pela Century Records e fizemos uma turnê pelos EUA. Tínhamos uma boa estrutura na época.

Você era um bom baixista?
Chris:
 Era similar ao que sou como baterista: ficava o tempo todo experimentando coisas novas. Era até um pouco ansioso… Mas acho que dava conta do recado, mas minha vocação era mesmo para a bateria.

E em quando você resolveu mudar para a bateria?
Chris:
 Um belo dia, o guitarrista e vocalista do Jettison Charlie resolveu mudar de cidade e isso pôs fim à banda. Eu estava com 21 anos e aquilo me decepcionou muito, a ponto de eu desistir da ideia de viver de música. Eu tinha um emprego normal e quando surgiu a oportunidade de participar de uma banda tocando bateria eu não encarei aquilo como uma chance de mudar de vida, mas sim de simplesmente aceitar para ver no que ia dar. Foi mais por diversão que eu aceitei, não tinha grandes ambições. Então, acho que esse foi o momento em que tudo mudou na minha vida: quando desisti.

Quando você se sentou atrás da bateria, se sentiu confortável?
Chris:
 Não foi algo imediato. Precisei praticar muito para chegar onde estou hoje, tive que trabalhar muito a coordenação motora entre mãos e pés. Mas logo percebia que tinha jeito pro negócio e tive consciência de que poderia ir mais longe. Investi num instrumento melhor e passei a estudar tudo aquilo que julgava que precisava melhorar.

Antes disso, você chegou a tocar bateria informalmente?
Chris:
 Na época em que tocava em bandas na escola, e mesmo na época do Jettison Charlie, sempre que tinha um intervalo nos ensaios eu sentava na bateria e brincava um pouco. Não era nada sério, mas eu sempre gostei de tocar bateria. Não sabia ao certo o que estava fazendo, mas era sempre divertido.

Desde o início você usou dois bumbos?
Chris:
 Sim. Todos os caras que eu observava e em quem me inspirava usavam bumbo duplo. E mais… Hoje eu sou um sujeito muito bem casado e que tem uma filha, mas na época havia uma piada recorrente no meio que dizia que os caras que tocavam em baterias com dois bumbos conseguiam mais garotas (risos).

Quem eram esses bateristas que você ouvia na época?
Chris:
 O cara que me ajudou a definir o que eu desejava ser como baterista foi Shannon Larkin, do Wrathchild America. Hoje ele está no Godsmack, se não me engano (N.T.: é isso mesmo), e já tocou em milhares de outras bandas. Ele criou um estilo muito interessante de tocar, uma fusão de vários estilos. Mas em termos de velocidade, acho que minha inspiração vem da música One, do Metallica, que tem uma parte de dois bumbos fantásticas. E tem também Dave Lombardo, pela velocidade com que toca a caixa e pelo peso em geral. Acho que Shannon e Gar Samuelson, que foi o primeiro baterista do Megadeth e colocou uma levada ‘jazzy’ no Metal, são os caras que mais me inspiraram a criar minha sonoridade. Comecei a prestar atenção neles numa época em que estava estudando a forma de tocar de Stewart Copeland (The Police). Estava a fim de conhecer outros estilos musicais e acho que foi isso, antes de tudo, que me ajudou a ser o músico que sou hoje.

Você chegou a se inspirar em pioneiros no uso de dois bumbos, como Keith Moon e Ginger?
Chris:
 Sim, mas houve outros nomes que me despertaram muito mais atenção, como Billy Cobham, principalmente na época em que tocou na Mahavishnu Orchestra. Eu me encantava com a pulsação que sempre mudava na música deles, fugindo daquela fórmula manjada de estrofe/refrão/estrofe/refrão/solo/finalização e das letras que falavam de garotas e cerveja. Eu estava interessado em algo num nível mais profundo. Acho que músicos como Stewart Copeland e Billy Cobham, além de caras do Metal como Gene Hoglan e Shannon Larkin, contribuíram muito para o desenvolvimento da bateria. Eles são muito mais do que meros bateristas.

Quando vocês gravaram “New American Gospel” (N.T.: primeiro disco da banda sob o nome atual, lançado em 2000; sob o nome Burn The Priest, o grupo soltara um disco homônimo no ano anterior), você já procurou unir todas essas influências para criar seu próprio estilo? Você já se sentia confortável como baterista?
Chris:
 Não e essa é uma pergunta interessante. A verdade é que nunca me senti à vontade como baterista. Recentemente, fiz uma tour de workshops que me ajudaram a me sentir mais confiante. Não estou querendo dizer que sou melhor de quem quer que seja, mas acho que, depois dessa experiência, finalmente me senti mais confortável atrás da bateria. Mas naquela época, certamente isso não acontecia. Eu ficava o tempo todo buscando a aprovação das pessoas. Não, eu não me sentia à vontade…

“Black Label” é a primeira música “New American Gospel”, ou seja, foi sua estreia como baterista do Lamb Of God. No seu livro, você fala que a intro dessa música é muito simples. Você achou que seria mais tranqüilo para você começar pelo básico?
Chris:
 Essa música, na verdade, foi a última que nós fizemos para o disco. Nós a completamos já no estúdio. Eu e meu irmão (Willie Adler, guitarrista) definimos como seria o final dela e os outros caras aprenderam na hora de gravar. Na verdade, a primeira vez que a banda tocou essa música foi na gravação. Ela jamais chegou a ser testada ao vivo, não tínhamos noção de como ela seria aceita, nem nos sentíamos muito confiantes sobre nossa competência para apresentá-la ao vivo. Só que hoje eu tenho total consciência que se trata de uma música muito simples em comparação com o estávamos fazendo.

Depois de tudo isso que você disse, é interessante observar o quanto Black Label se tornou popular e até mesmo o fato de ela ter sido escolhida para abrir o disco
Chris:
 Quando completamos a gravação e olhamos para aquelas dez músicas que tínhamos registrado, confesso que me surpreendi quando essa acabou sendo a faixa de abertura. Na verdade, me surpreendi até por ela ter entrado no disco. Afinal, era algo totalmente novo para nós e não tínhamos a menor ideia de como ela seria recebida.

No fim, “Black Label” acabou se tornando uma das músicas mais populares do Lamb Of God.
Chris:
 Sim e até hoje deve ser uma das três ou quatro mais conhecidas do nosso repertório.

Você acha que os fãs então absorveram com facilidade essa simplicidade que você vê na música?
Chris:
 Não estávamos muito preocupados se isso iria fazer as pessoas gostarem de nosso trabalho. Seja como for, a verdade é que a música tinha o mérito de atrair a atenção do público. E essa foi a maior lição que nós aprendemos na época. Hoje a gente sabe que deixar o público querendo mais é sem dúvida melhor do que fazê-lo sair antes do fim… E o que buscamos é achar um ponto intermediário que nos permita manter nossa integridade e ainda evoluir cada vez mais.

Havia um aviso no encarte desse disco dizendo claramente que vocês não haviam se preocupado em escrever arranjos vocais. Vocês, de fato, não davam a mínima para as melodias vocais e para as letras?
Chris:
 Esse era o jeito que a coisa funcionava para nós. Hoje temos muito mais preocupação com as vozes, mas quando começamos a banda era um projeto instrumental, então demorou um tempo até tomarmos consciência de que poderíamos ser mais bem-sucedidos se nos preocupássemos também com a parte vocal. Se bem que até hoje ficamos semanas compondo um disco e Randy (Blythe, vocais) não aparece e nós nem ficamos esperando por ele. Quando as músicas estão prontas, nós o chamamos para que ele conheça e faça alguns complementos no repertório. Durante o processo de composição, nós apenas definimos os momentos em que vai haver vocais.

No seu livro, você comenta que na música “Letter To The Unborn” chegou a gravar um trecho a mais de 200 bpm. Deve ser sido um desafio a você. Você acha que quanto mais rápido, melhor?
Chris:
 Não! (risos) Na verdade, é exercitar a frustração ficar buscando apenas isso. Pra mim, o estilo e a levada são muito mais importantes que a velocidade. Naquela época, eu estava mais focado nisso, como muitos outros bateristas ao redor do mundo, e isso prejudicava a beleza da música em si. Para mim, é até complicado ouvir esse disco e perceber que minha preocupação era ser rápido e agressivo. Parecia que estávamos todos (bateristas) disputando uma corrida! Mas com o tempo eu fui descobrindo qual era o meu lugar e passei a me sentir muito melhor com o que passei a fazer.

Numa recente entrevista, Brann Dailor falou algo parecido. Você está falando sobre se colocar a serviço da música e não do seu próprio ego, certo?
Chris: 
Exato. Pode notar que todas as músicas da banda que se tornaram mais marcantes são aquelas em que deixamos de lado o individualismo e passamos a tratar da faixa como um todo. Passamos a entender melhor a banda e deixamos de tocar para nossos egos. E foi aí que as coisas começaram a funcionar para nós. Você precisa prestar atenção àquilo que a música precisa e não necessariamente àquilo que você quer fazer. Nos meus workshops eu sempre falo isso, já que foi uma lição muito importante para mim. Em ‘New American Gospel’ eu ainda não havia aprendido isso, então a bateria soa muito exagerada. A partir de então, fui aprendendo que às vezes é melhor fica calado do que gritar.

Tem muitos bateristas que ainda não perceberam isso…
Chris: 
Verdade. Parece que essa é uma tendência mais forte no Metal extremo. Alguns desses caras ficam desafiando o metrônomo numa corrida sem fim. Sei que há garotos de 12 ou 13 anos que conseguem tocar mais rápido que eu, já que praticam rigorosamente todos os dias. Só que isso os coloca num círculo sem fim de frustração…

O que é importante para você hoje com baterista?
Chris:
 Hoje eu me sinto feliz com meu estilo e continuo desenvolvendo-o. Com isso, procuro ser o melhor baterista possível para minha banda.

No seu livro, você descreve a música “O.D.H.G.A.B.F.E.” como tendo uma ‘pegada sludge’ e fala que nunca se aprofundou nesse tipo de levada. Por quê?
Chris:
 Naquela época, eu era fã de Speed Metal e coisas do tipo, então não tinha tempo para estudar estilos mais lentos. As bandas que estavam fazendo esse tipo de som não eram compostas por músicos em grande forma física e os caras estavam usando certas substâncias para conseguirem tocar sua música. Eu associei as duas coisas e concluí: não quero isso pra mim. Criei uma linha de raciocínio enviesada, de acordo com a qual a velocidade significava saúde!

Já na faixa “The Subtle Arts Of Murder And Persuasion” você toca um ritmo hipnótico e cheio de ‘groove’. ‘Groove’ e uma palavra ofensiva para um músico de Heavy Metal? É possível ser pesado e ter ‘groove’?
Chris:
 Eu espero sinceramente que sim… (risos) Isso é tudo o que eu quero! Acho que já mencionei que no meu livro ‘groove’ e estilo estão à frente de velocidade. Sempre que estamos compondo, meu principal objetivo é criar algo que faça as pessoas se mexerem – e isso eu conheço como sendo ‘groove’… O ‘blast beat’ se tornou algo muito comum, então eu evito ao máximo usar esse recurso. Procuro criar algo novo, independentemente de quão agressiva seja a música que estou tocando.

Um dos momentos mais marcantes de “The Making Of New American Gospel” é aquele em que você diz: ‘Num determinado momento de 2006, eu senti que estava me estagnando.’ Você poderia detalhar isso para nós?
Chris:
 Foi logo depois que lançamos ‘Sacrament’ (2006). Eu acredito que tive uma grande evolução como baterista entre ‘As The Palaces Burn’ (2003) e ‘Ashes Of The Wake’ (2004), que foram os discos que lançamos antes de Sacrament. Foi um grande amadurecimento em que eu saí daquela coisa de tocar para meu ego e passei a ter como foco trabalhar para a banda. Mas não senti a mesma evolução em Sacrament. Acho que ‘Ashes Of The Wake’ e ‘Sacrament’ têm o mesmo estilo de bateria, muito bem definido. Não há nada de errado neles, acho que são bons discos, mas não senti uma evolução de minha parte e eu achava que isso devia ter acontecido. Só que não entendia por que. Eu tocava as músicas de ‘Sacrament’ e me sentia sem inspiração, achava que estava ficando velho… Sentia que estava sempre recorrendo aos mesmos truques e soluções, e não me sentia apto a fazer nada diferente.

Você superou isso estudando a forma de tocar de outros bateristas?
Chris:
 Isso sem dúvida ajudou. É semelhante àquela situação que já relatei, quando comecei a ouvir outros estilos de música. Comecei a prestar atenção nos músicos que tocavam o mesmo estilo que eu. Passei a ver as tablaturas do que eles tocavam e a ouvir suas músicas procurando perceber quais as soluções que eles encontravam e como faziam cada uma das figuras. Não que eu quisesse copiar quem quer que fosse, mas isso me permitia pensar de uma maneira diferente quando sentava atrás da bateria. Experimentava tocar de outras formas. Acho que isso também teve a ver como fato de que uma banda de Metal quando sai em turnê toca as músicas da mesma forma que no disco e repete isso a cada noite. Para mim, repetir tudo a cada noite acaba te entediando. Então, passei a pensar em formas diferentes de tocar as músicas que vinha tocando, dar a elas uma abordagem diferente.

Você falou sobre a turnê de workshops que realizou. O quanto isso foi positivo a você?
Chris:
 Foi uma grande turnê e que me gerou convites para repetir as clínicas em vários outros lugares. Mas o mais importante para mim é que eu não me sentia capaz de fazer esse tipo de coisa. Sei lá, tenho sido um sujeito de muita sorte em tudo o que faço. Há uma antítese na minha história. Eu aprendi a tocar sozinho, nunca tive aulas, então não me sentia capaz de ensinar a quem quer que fosse. Então, passar por isso de forma bem sucedida e deixar as pessoas muito felizes como elas ficaram foram um grande alívio para mim. E me deixou um pouco mais confiante, também, em tudo o que faço. Tem muita gente por aí a fim de ouvir umas boas histórias e que se inspiram nelas. Resumindo, foi muito bom para mim, em todos os aspectos.

Sites relacionados:
https://www.chris-adler.com/
https://www.lamb-of-god.com/

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