O anúncio de uma nova tour com mais de dez datas pelo Brasil, em menos de um ano da última passagem por aqui, surpreendeu até o próprio CJ Ramone. Ele disse, em uma entrevista concedida dias antes, achar que ninguém ia querer ver um show dele de novo em um intervalo curto de tempo. Só que ele esqueceu o sobrenome que adorna e das músicas que toca, pois isso atrai muito, muito público. Antecedendo o lançamento do segundo disco solo previsto para sair em setembro, o primeiro pela Fat WreckChords e comemorativo de seus 25 anos de Ramones, os shows no Brasil serviram como termômetro para alguns dos novos sons.
O primeiro rolou no Hangar 110, em plena terça-feira, um quase indício de casa vazia já que não havia quase movimentação nas ruas e nem sequer alguém com a famosa camiseta que anda, pelo menos por aqui, ganhando a simpatia de um público inusitado que sequer sabe que o logo é de uma banda clássica e não de uma nova marca. Uma fila pequena estava formada em frente à casa, com fãs muito jovens e eufóricos. E, apesar de lá dentro o camarote já estar lotado, na pista a movimentação era ainda pouca quando o Corazones Muertos subiu ao palco. Com visual Punk 77 e inspirados em New York Dolls, apesar da postura e da experiência, a banda pouco agitou os presentes com sons próprios e uma cover desengonçada do The Clash.
Na sequência, repetindo a dobradinha de 2013, o segundo show foi do novo Garotos Podres, com Gildo nos vocais. A banda foi pega de surpresa com um horário de set maior que o programado e teve que improvisar. Mesclaram alguns sons novos, como “Impropriedades”, e clássicos da antiga formação como “Anarquia Oi”, “Johnny”, “Papai Noel” e as extras “Verme” e “Vomitaram no trem”. E, obviamente, foram esses que agitaram mais. Algumas alfinetadas foram proferidas pelo baixista aos ex-companheiros de banda e, apesar do discurso, as novas letras como “Saúde e Trabalho” mostram a fragilidade, falta de sarcasmo típico que os acompanha e o desentrosamento dos atuais integrantes. A banda agitou o público, mas não convenceu a boa parte da velha guarda agora já agora em bom número, que preferiu ver a chegada de CJ e equipe que o desempenho morno no palco. Até o DVD do Alkaline Trio executado nos intervalos pareceu mais interessante que as apresentações de abertura.
Quase 10 da noite quando CJ e banda entraram, para, enfim, fazer o show mais aguardado da noite. O vocal e baixista cumprimentou a plateia em português e, de cara, tocou “Understand Me”, faixa recém-divulgada via Soundcloud e primeiro single de “Last chance to dance”, o disco previsto para daqui um mês. Os fãs tinham acesso ao palco, mas os roadies estavam fazendo linha dura com o pessoal que passava da conta e resistia a descer.
Nessa clima, as duas seguintes foram “What we gonna do now” e “King Cobra” do anterior “Reconquista”. Mostrando um sinal de que este é o primeiro show verdadeiramente de CJ Ramone, renovando seu público e mostrando a qualidade de sua carreira pós-Mestres do Punk. Antes de “Judy is a punk”, ele avisou que tocariam algumas das faixas novas e outras do disco anterior que ficaram de fora no show do ano passado.
Outra diferença da apresentação de 2013 é a presença do baterista Michael Wildwood, da banda de Nova York D Generation, substituindo David Hidaldo Jr que está em tour com o Social Distortion. E o set seguiu mesclando sons novos como a faixa título e “Carry me away”, outras do “Reconquista” (“Low On Ammo” e a balada “You’re the only one”) e, claro, Ramones. “Strenght to Endure” entre elas.
Falando bastante com o público enquanto os roadies continuavam conter os mais empolgados inclusive um fã que espertamente pegou o boné do vocal, CJ tocou ainda mais uma mescla de novos e antigos sons, entre elas, “One more chance” e “Clusterfuck”, duas das novas, e “Aloha Oe”, antes de partir então para uma sequência de clássicos do Ramones. “Blitzkrieg Bop”, “Do you wanna Dance?”, “California Sun” e “R.A.M.O.N.E.S” foram algumas programadas e que levaram a galera ao delírio e a pista inteira pra pogar. Mesmo com o fim do set, o público continuou esperando o retorno da banda e acabou acontecendo o bis com “53rd and 3rd”, “Comando” e “Psycho Therapy”.
Mesmo continuando com estigma de ex-Ramones, CJ pode mostrar que sua trajetória segue com uma boa banda, sons novos e empolgantes, e que 2014 ainda reserva bons momentos com disco novo e comemoração. Se, como ele diz, o melhor público dele está na América do Sul, esse start para as novidades que viraram foram um belo esquenta para o restante do segundo semestre.
Set list
Understand me
What we gonna do now
King Cobra
Judy is a Punk
Ghost Ring
Low on Ammo
Carry me away
Last chance to dance
You’re the only one
Strength to endure
3 Angels
Won´t stop swinging
I wanna be your boyfriend
Glad to see you go
Clusterfuck
One more chance
Now I know
Aloha Oe
Blitzkrieg Bop
Do you wanna dance?
California Sun
R.A.M.O.N.E.S
Bis:
53rd and 3rd
Commando
Pshyco Therapy