A homenagem a Eddie Van Halen no Grammy deste ano foi recebida com críticas de muitos no mundo do rock, que entenderam que o evento não fez justiça à lenda da guitarra, que faleceu em outubro de 2020. Os “cabeças” do Grammy acharam que era o bastante celebrar a memória de um ícone do rock e da guitarra apenas exibindo um curto vídeo de Eddie tocando Eruption enquanto uma das famosas guitarras listradas do músico holandês surgia iluminada no palco. Pouco, muito pouco para um cara que mudou a história do instrumento e que influenciou muitos dos artistas dos quais gostamos, do hard rock ao heavy metal; da música pop ao metal extremo.
Há alguns dias, Wolfgang Van Halen expressou sua decepção. O filho da lenda da guitarra revelou ter sido convidado para tocar no evento, mas decidiu declinar por não se sentir confortável com tal aparição. Wolfgang sentiu-se “magoado” com o que eles acabaram usando em seu lugar.
“Acho que ninguém viveu sozinho o que meu pai fez pela música.
Pelo que entendi, haveria uma sessão “In Memoriam”, onde trechos de músicas eram tocados de artistas lendários que já morreram. Não percebi que eles iriam exibir apenas quinze segundos no meio de quatro apresentações completas para outros artistas que perdemos.
O que mais doeu foi que ele (meu pai) nem foi citado quando no início do show falaram dos artistas que nós perdemos. Eu sei que o rock não é o gênero mais popular no momento (e a academia parece um pouco fora de controle), mas acho que é impossível ignorar o legado que meu pai deixou no instrumento, no mundo do rock e na música em geral. Nunca haverá outro inovador como ele”.
Também indignado, o guitarrista Nuno Bettencourt, líder do Extreme, fez um longo post no Facebook na última segunda-feira (15), esbravejando contra a organização do Grammy:
“Estou vindo até você hoje, NÃO como guitarrista ou como músico. Mas, ao invés disso, um mega fã de longa data de Pop, R&B, Rock, Funk e Hip Hop, de Prince a Black Sabbath.
E, sabendo como a música é a trilha sonora de nossas vidas, estou triste e desapontado com minha indústria, especificamente uma instituição que nós, como artistas, veneramos como uma conquista do Santo Graal.
Você pensaria, considerando seu impacto no Rock and Roll, que o Grammy teria dado ao legado de Edward Van Halen mais do que 15 segundos de um humilhante clipe ao vivo, que terminou em uma nota ‘flat’.
O clipe não apenas foi desrespeitoso, como (também) não conceder uma performance tributo de um de seus lendários pilares da guitarra é vergonhoso e uma oportunidade histórica perdida.
Por quê?
Não apenas por causa de sua icônica banda Van Halen, mas Edward habilmente com uma mão, ou deveríamos dizer com duas, reimaginou, reinventou e mudou a forma como o instrumento nunca mais seria tocado ou ouvido.
Ele pegou o que apenas alguns ícones antes dele fizeram, como (Chuck) Berry, (Jimi) Hendrix, (Jimmy) Page e (Brian) May, e, como uma espécie alienígena do futuro, chocou o mundo e elevou a guitarra à estratosfera com um equilíbrio perfeito de técnica, alma e criatividade que nem mesmo os ícones que mencionei antes dele poderiam ter sonhado.
E ainda mais surpreendente, sua contínua inovação com álbum após álbum, após álbum, após álbum, fazendo nosso queixo cair… Tudo com um grande SORRISO em seu rosto.
Como Jordan com o basquete, Edward mudaria para sempre a forma como a guitarra seria tocada.
Na transmissão da noite passada (dia 14), deveriam ter sido os maiores guitarristas do mundo no palco fazendo um medley-tributo aos melhores momentos de EVH. E imagine no final do medley TODOS TOCANDO JUNTO o solo de guitarra que o levou ao reconhecimento global (do nível) Jordan-Esque. O solo que Edward fez para outro rei… do pop.
BEAT IT. (de Michael Jackson)
No mínimo, se o Grammy não quiser perder tempo no rock and roll, poderia ter aproveitado o nome de Michael Jackson e ter Bruno Mars cantando Beat It com um guitarrista icônico gravando o solo. QUALQUER COISA além daqueles 15 segundos de Eddie que eles duramente exibiram lá.”
Em outra postagem, Nuno também reclamou de como “o rock and roll foi esquecido e deixado para trás”, acrescentando: “Não por seus fãs, felizmente, ou pelos artistas que o mantêm vivo e bem. Mas, definitivamente, por nossa indústria musical convencional de vocais orientados por Auto Tune e botões escolhidos ao invés de músicos reais tocando instrumentos”.
O guitarrista português concluiu dizendo: “O rock não está morto e NUNCA morrerá, mas seu respeito está por um fio. E pelo o que o rock and roll fez por quase um século para nos trazer aqui para todos esses gêneros diferentes, ele merece apenas um pouco mais de respeito e ganhou o direito de ser comemorado no Grammy. Mas quem se importa com o que eu penso? De qualquer forma, nos vemos no próximo show de Rock! #longliverockandroll”
Nuno Bettencourt tem razão não apenas com a falha do Grammy em relação a forma como celebraram a memória do icônico Eddie Van Halen, mas também quando fala do descaso com o rock and roll por parte de quem organiza esse tipo de premiação. Assim com o Grammy, o próprio Rock and Roll Hall of Fame, por exemplo, faz uso do gênero em questão em seu nome, porém é uma fábrica de gafes. Enquanto várias bandas famosas de rock/heavy metal até hoje não foram premiadas com seus respectivos nomes na calçada da fama, artistas de outros gêneros, que em muitos casos nem usufruíram de uma longa, relevante ou duradoura carreira, são anualmente agraciados por esses eventos.
E é com a licença poética que me permito fazer uso, que digo que a indústria musical do mainstream se tornou burra, estando sob o comando de quem quer que seja. O rock and roll e o heavy metal sempre foram gêneros que não dependeram de nenhuma moda (e se é moda, é passageira!), são parte do estilo de vida e da cultura de milhares de seguidores entre várias gerações. Não à toa, a música pesada está viva e muito bem até hoje, seja sob os grandes holofotes ou nos mais decadentes porões do underground. Não à toa, não há na música em geral, público mais fiel e consumidor do que o do rock e heavy metal. E quem depende de Grammy, Rock and Roll Hall of Fame e afins, quando o maior e mais honesto prêmio para um artista é o reconhecimento e respeito que ele conquista do público e de outros músicos?
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