COSPE FOGO FEST – SÃO PAULO (SP)

25 de janeiro de 2025 – Jai Club

Por Fernando Queiroz

Fotos: Dani Moreira

Provavelmente numa das tardes mais quentes do ano em São Paulo, a Jai Club recebeu o evento com o nome que melhor representaria esse dia: o Cospe Fogo Fest! Curiosamente, a grande atração daquela tarde e noite, o Ice War, cujo nome já contrastava com o ambiente, vinha da gelada capital canadense, Ottawa, para ainda maior contraste. Apesar disso, é preciso dizer que o som que a banda faz é tudo menos gelado, e tanto show como performance também foram quentes – não apenas pelo lado dos canadenses, mas as atrações brasileiras foram igualmente, ou até ainda mais, competentes, e o público mostrou fidelidade ao underground nacional.

Quase pontualmente às 18h, horário marcado para o início do evento, e já com bom público para os padrões de uma casa pequena como a Jai, a banda de Osasco (SP) Feitiço Oculto subiu ao palco apresentando um som que realmente faz jus ao nome: obscuro, pesado, tenso. Letras em português com temática antifascista fizeram a alegria do público, com direito a gritos de “fogo nos racistas”. O show de pouco mais de meia hora foi extremamente competente, e entregou o que se esperava, além de uma qualidade de som bem decente.

Mas na verdade o destaque da noite, devemos ser francos – não apenas entre as nacionais, mas no geral –, foi o Cemitério. Nome tradicional do underground paulista e presença notória nos eventos do Kool Metal, a banda apresenta exatamente o que se propõe: um death metal “paulada na cabeça”, e agora sim podemos confirmar que o evento estava no seu auge. Em momento algum alguém ficou parado, e os mosh pits eram constantes em quase todos os momentos. As músicas baseadas em riffs, junto a blast beats insanos, deram o peso da noite. Após cerca de quarenta minutos de apresentação, saíram do palco ovacionados!

Cemitério | Foto: Dani Moreira

Apenas o tempo de tomar um ar, conversar um pouco e pegar uma bebida foi suficiente para o Urutu entrar e, apresentando um heavy metal mais reto e direto, com uma boa veia de punk, animar o ambiente. Menos pesados que a banda anterior e mais rápidos que a primeira, fizeram bonito com a responsabilidade que lhes deram, e tivemos mais mosh pits que duraram a noite quase toda. Mais uma banda politicamente engajada que caiu como uma luva para o evento e não decepcionou. E também mais uma banda que faz jus ao quanto o underground nacional tem fama de rico musicalmente.

Urutu | Foto: Dani Moreira

Era chegada, então, a hora da atração internacional. Difícil colocar como “principal atração”, já que não é exatamente uma banda muito famosa. Na verdade, o Ice War, que divulga seu último álbum, o recém-lançado Feel the Steel, é um projeto solo de Joe Capitalcide acompanhado de músicos convidados. Mesmo sendo a única internacional da noite, não foram os últimos a tocar, o que gerou certa estranheza. De qualquer forma, Joe e seus comandados subiram ao palco pontuais, às 20h30, já com a casa totalmente cheia, fosse dentro ou amontoados na área de fumantes do lado de fora. Talvez fosse a banda que mais destoava da noite: sem guturais, com um som mais palatável e foco nos anos 80, o que ficava evidente inclusive no visual: de colete de couro e sem camisa por baixo, calças apertadas e tênis branco, Joe parecia realmente vindo diretamente da década de 80 para o palco da Jai. O show em si animou bastante o público, com setlist mais focado, claro, em seu novo trabalho, mesmo que uma parcela ali não fosse ligada ao hard’n’heavy.

Ice War | Foto: Dani Moreira

A banda de apoio era afiada e claramente bem ensaiada. Executaram à risca as músicas, e na verdade quem mais teve dificuldades foi o próprio Joe, que em algumas ocasiões se perdeu por conta da falta de retorno no palco. Por outro lado, foi o único show em que o bumbo da bateria estava realmente bem microfonado, o que ajudou a dar sensação de velocidade que as músicas exigem para seu speed metal.

Ice War | Foto: Dani Moreira

Carismático e simpático, Joe agradeceu bastante o público presente em sua primeira vinda ao país. Claro, podia-se ver que não estava acostumado àquele calor e antes do meio da apresentação já estava pingando de suor. Quarenta minutos de show acabaram sendo pouco, mas pelo que tivemos valeu a experiência. Esperamos a possibilidade de ver Joe novamente com o Ice War em uma outra ocasião, e que tenha a chance de fazer um set completo.

Ice War | Foto: Dani Moreira

Por fim, tivemos fechando a noite os cariocas do Farscape. Veteranos do thrash metal, podemos dizer que fecharam a noite com chave de ouro. Thrash sempre é um estilo que anima muito o público e funciona muito bem ao vivo. Foi exatamente o caso. A missão de encerrar essa grande noite era dura, mas de certa forma, creio que serem os últimos, mas não os “principais”, os deixou bem à vontade. Veteranos como são, sabem lidar com o público e têm noção exata do que devem tocar, tanto que até quem nunca os tinha ouvido estava lá entrando na roda e batendo cabeça. Ficou claro, também, o gosto que a banda tem em tocar em São Paulo. Relembraram dos tempos que tocaram as primeiras vezes na cidade, no “lendário” bar Cervejazul, um ponto importante em que muitas bandas iniciantes tocaram.

O saldo da noite foi positivo. Um verdadeiro evento underground, uma reunião de bandas, da qual todos acabam com sorriso no rosto ao fim. Mais que isso, serviu para mostrar que grupos internacionais e nacionais estão em pé de igualdade, e que aquele público sabe disso, curtindo todas igualmente, independente do gênero.

Se formos fazer uma comparação, podemos chamar de um “mini Kool Metal” e um ótimo aquecimento para os eventos da produtora que estão por vir. O horário, diga-se de passagem, ajudou bastante. Começando às 18h encerrou antes das 23h, permitindo que todos tivessem a chance de voltar para casa sem se apressar com a questão do transporte coletivo, e em um local próximo à estação de Metrô e terminal de ônibus – é exatamente o que queremos em eventos! Claro, podíamos ter shows mais longos e produção mais requintada, mas a falta desses elementos não tira a qualidade dentro da proposta.

Que tenhamos mais eventos assim, com todos prestigiando e curtindo cada uma das bandas igualmente.

 

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