O avanço da inteligência artificial tem gerado intensos debates sobre seu impacto na sociedade. Enquanto muitos enxergam seu potencial para inovação, automação e otimização de processos, outros alertam para os riscos como a perda de empregos, questões éticas e o uso indevido da tecnologia. No mundo da música, a IA também provoca discussões sobre criatividade, autenticidade e o futuro da arte na era digital. Na nova edição da revista ROADIE CREW, a italiana Cristina Scabbia reflete sobre como a IA pode ser tanto uma aliada quanto uma ameaça – tema presente no novo álbum do Lacuna Coil, Sleepless Empire.
Cristina abordou o tema em reposta ao repórter Daniel Dutra, que, ao comentar a forma como Andrea Ferro, também vocalista do Lacuna Coil, descreveu Sleepless Empire como “nosso som é obscuro porque reflete a sociedade em que vivemos”, observou que o álbum não trata de polarização política ou das guerras em Gaza, Ucrânia ou Síria, mas que poderia ser a trilha sonora para esses eventos.
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“Não é mesmo, mas você fez uma boa colocação. O título do novo disco surgiu quando fizemos uma reflexão sobre como chegamos a esse momento, porque vimos muitas mudanças ao longo dos anos na nossa carreira. A música passou do disquete para o streaming, e agora tudo mudou com a tecnologia. Quer dizer, temos uma grande ajuda quando precisamos fazer um álbum, afinal, é mais fácil gravar, é mais fácil fazer a pré-produção… As coisas mudaram de uma maneira muito rápida! Sleepless Empire é a nossa reflexão sobre essa evolução total e como estamos, especialmente nos dias de hoje, mais conectados do que nunca com o resto do mundo, ao mesmo tempo em que estamos mais distantes da realidade do que nunca! Atualmente, só vemos as coisas através de algum filtro, vemos a vida de outras pessoas do jeito que elas podem não ser, temos a tendência de nos comparar com os outros e às vezes pensar que somos melhores ou não somos bons o suficiente porque vemos as coisas que não nos são oferecidas. E tudo isso acontece através de algo muito fácil de gerenciar: um smartphone. É complicado especialmente para as novas gerações, que não viram desde lá de trás as coisas evoluírem para o que são hoje. Eles acreditam que isso é a realidade, eles realmente não conhecem o mundo real porque não têm uma maneira de equilibrar tudo. Saber que era diferente naquela época e poder saber
ao que dar importância, e eu posso até soar muito da velha guarda, como uma senhora dizendo a você ‘Oh, era muito melhor no passado’, mas a verdade é que agora as coisas acontecem rápido demais! E como o uso que fazemos dessas coisas também é muito rápido, não acredito que haja o devido respeito pela música. Muitas pessoas sequer entendem que estamos o tempo todo cercados por música, e, mais uma vez, elas não dão importância a isso. Há uma geração que acha que a música pode ser criada em um segundo porque agora existe a Inteligência Artificial, então essa geração realmente acredita que a música é algo que ela pode potencialmente criar em um segundo, e onde está o valor nisso?
Nesse contexto, perguntada onde está a criatividade humana nisso, visto que há emoções envolvidas, sentimentos, coisas não encontradas na Inteligência Artificial, Cristina disse:
“A criatividade humana está envolvida até certo ponto, porque mesmo a IA traz ideias de humanos ao redor do mundo. Porém, isso é algo que eu não gosto quando é aplicado à música ou a algo artístico. A IA pode ser útil em muitas coisas, e todos nós estamos tirando vantagem dela, mesmo que não seja chamada de Inteligência Artificial. Quando estamos procurando por uma informação, estamos usando IA, porque é uma resposta gerada, e ela pode ser útil se a estivermos usando para tarefas simples, que sejam muito mecânicas e que talvez estejam tirando muitas horas do nosso dia para algo que não é criativo. Entendo quando isso pode ajudar na fase de uma pesquisa, porque você pode extrair todas as informações em alguns segundos em vez de ler um milhão de livros ou um dicionário, como costumávamos fazer no passado. Se estou procurando por um sinônimo para substituir uma palavra numa música, é mais fácil para mim ir ao Google e simplesmente dizer ‘Ok, estou procurando outra palavra em vez desta’. Isso pode ser útil, mas criar uma música artificialmente nunca será a mesma coisa, porque os humanos precisam daquela coisa “defeituosa” que só é dada pelo inesperado, e a IA sempre tentará ser perfeita. E eu tentei. Pedi à IA para escrever algumas letras da maneira como eu faço no Lacuna Coil, só que não me vi em nenhuma delas!”
A entrevista completa com Lacuna Coil você confere na nova edição da revista ROADIE CREW, #284.
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