Por Leandro Nogueira Coppi
Fotos: Andre Santos
Finalmente, o talentoso vocalista americano Danny Vaughn, que ganhou destaque no cenário do hard rock na segunda metade dos anos 80 no Waysted, que era liderado pelo saudoso baixista Pete Way (UFO, Fastway e Ozzy Osbourne), fez sua estreia na cidade de São Paulo nos dias 19 e 20 de agosto. Vaughn é mais conhecido por ser o vocalista principal do Tyketto. Sua última visita ao Brasil havia sido em 2008, quando a banda se apresentou pela primeira vez no país como uma das atrações da segunda edição do festival “Hard in Rio”, que na ocasião também trouxe para o Rio de Janeiro a banda House of Lords e uma versão reformulada do White Lion.
Se você é um fã de hard rock, mas raramente menciona Tyketto quando discute o gênero com outras pessoas, ou se nunca ouviu falar da banda americana, há razões compreensíveis para ambas as situações. O fato de que o grupo chegou tarde ao cenário prejudicou significativamente sua popularidade e, consequentemente, limitou seu reconhecimento. O Tyketto foi formado em 1987, em Nova York, mas só lançou seu excelente primeiro álbum, Don’t Come Easy, por volta de meados de 1991, quase no momento em que os holofotes estavam começando a se afastar do hard rock. “Don’t Come Easy é um disco extremamente coeso. Todas as músicas se juntam perfeitamente, sem nenhuma apenas para completar. É o produto de dois anos de intenso trabalho e composição. Não há nenhuma parte fraca nele”, disse Vaughn em comunicado à imprensa antes de embarcar para o Brasil. E por falar em Don’t Come Easy, nessa sua segunda passagem pelo país, que começou por Curitiba, no dia 18, Danny preparou um set list formado pela íntegra do disco e mais algumas músicas de Strenght in Numbers (1994) e de Reach (2016). O único disco deixado de fora do repertório foi Dig in Deep, de 2012, que marcou seu retorno ao Tyketto – Vaughn deixou a banda em 1994 para cuidar da esposa com câncer e indicou Steve Augeri, então futuro Journey, para gravar o álbum Shine (1995).
Para o show de sábado, todos os ingressos se esgotaram. Então, Vaughn lançou mão de um show extra na capital paulistana para o dia seguinte. E foi para esse que rumamos. Pontualmente às 20h, Vaughn, que de uns tempos para cá resolveu assumir o grisalho em suas longas madeixas, surgiu no palco do Legends Music & Bar acompanhado pelos brazucas Bruno Luiz (guitarra – Command6, Stormsons, Supla, Código Clone), Bruno Sá (teclado – Geoff Tate, Allegro, Joe Lynn Turner), Bento Mello (baixo – Sioux 66, Nite Stinger, Tales From the Porn) e Gabriel Haddad (Sioux 66). O início do show foi com Reach, faixa que dá nome ao mencionado quinto álbum de estúdio do Tyketto, de 2016. Por ser um álbum não tão conhecido quanto os dois primeiros do grupo, o clima ficou melhor a partir da música seguinte, Wings, que deu início à íntegra de Don’t Come Easy. Nessa sim, a ovação foi geral. Aliás, todos que marcaram presença no show, a maioria notoriamente acima dos 30 anos de idade, mostravam ser fãs de carteirinha do Tyketto, pois cantavam todas as músicas. E por falar em cantar, nesses tempos em que observamos vários de nossos cantores favoritos envelhecendo mal em termos de voz, muitos apelando para ‘backing tracks’ ou cantando em cima de afinações mais baixas, foi um bálsamo para os ouvidos notar o quanto Danny Vaughn ainda tem pleno domínio de sua voz. Minha nossa, o que está cantando esse jovem e carismático senhor de 62 anos não é brincadeira!
As duas músicas seguintes mantiveram a empolgação em alto nível, a emocionante Burning Down Inside e a explosiva Walk on Fire. Apesar de ter tocado Don’t Come Easy na íntegra, Vaughn não se prendeu à mesma ordem da tracklist do disco e nem viu problemas em intercalar músicas que não eram desse disco. Isso foi bem legal, pois assim o cantor evitou qualquer previsibilidade. Para a sequência, Vaughn escolheu a suingada Strenght in Numbers, música homônima do não menos ótimo segundo álbum do Tyketto.
Cabe aqui elogiar os músicos que acompanharam Danny Vaughn nessa turnê. Bento, Gabriel e os Brunos fizeram bonito e tiraram com maestria cada arranjo, cada mínimo detalhe e solos das músicas. Vaughn, com a simpatia que lhe é de praxe, fez questão de elogiar o quarteto não apenas no show, mas também em suas redes sociais. Aliás, tudo parecia funcionar perfeitamente nesta apresentação – exceto por um dos canhões de luzes, que “estourava” no rosto do vocalista -; a própria qualidade de som no Legends Music & Bar estava simplesmente impecável. Quando Vaughn assumia o violão, por exemplo, dava para ouvir nitidamente o instrumento, sem que ele fosse coberto pelo peso da guitarra e nem pelo grave do baixo. Com todos esses fatores a favor, Danny performou com segurança, sentindo-se totalmente tranquilo e animado no palco. Ponto para os profissionais brasileiros!
Prosseguindo, Vaughn e Cia. mandaram uma sequência arrasadora de Don’t Come Easy com Strip Me Down (com o vocalista detonando na gaita que dá início à música, assim como no disco), Seasons, Nothing But Love e Lay Your Body Down. Que rajada! Bem, lembre-se que estamos falando de um álbum que mais parece um ‘greatest hits’ do hard rock, visto que todas as músicas que o compõem são de um bom gosto e qualidade impressionantes.
Voltando a revisitar Strenght in Numbers, veio aquela que considero não só a melhor música do disco como uma das melhores da carreira de Vaughn: Rescue Me. É impossível ouvi-la e não se sentir atraído principalmente pelo refrão. E olha que essa é só mais um exemplo de que Danny Vaughn não é apenas um cara de voz bonita e poderosa, mas também um mestre quando se trata de criar linhas vocais que grudam de imediato e ficam martelando na mente.
Depois de tantas músicas eletrizantes, era chegada a hora de um pouco de calmaria. Então, com Danny ao violão, veio a bela balada Standing Alone. Curiosamente, essa faixa de Don’t Come Easy reapareceu em Strenght in Numbers, em uma versão que ganhou nova mixagem. Falando em Strenght…, outra dele veio a seguir, a agradável Catch My Fall, que precedeu outra de Don’t Come Easy, a pesada Sail Away, faixa que encerra o disco e que finalizou a primeira parte do show do cantor de nome marcado também por seus trabalhos solo e com as bandas Flesh & Blood, From the Inside, The Illegal Eagles, Burning Kingdom e Snake Oil & Harmony (Dan Reed).
Como prometido para essa mini-turnê brasileira, na volta do bis Vaughn relembrou seus tempos de Waysted mandando nada menos do que o grande hit da banda, Heaven Tonight. Para essa, ele contou com a participação de outro talentoso músico brasileiro, BJ, vocalista do Spektra, do Tempestt e músico da banda solo do também vocalista americano Jeff Scott Soto. Quando da execução de Heaven Tonight, quem ali estava e viveu o hard rock no auge do gênero, certamente se lembrou dos lendários e marcantes comerciais de TV do cigarro Hollywood (o do bordão “Hollywood, o sucesso!”), que sempre usava músicas do estilo como trilha sonora e que acabavam se tornando sucesso imediato para os amantes da boa música.
Já se aproximando do fim de seu último show no país, Danny Vaughn chamou o jovem baterista Gabriel Haddad à frente do palco e o mesmo o acompanhou no pandeiro durante a ‘cowboy song’ The Last Sunset. Durante vários momentos do show, Danny falou bastante com o público. Ele demonstrou sua felicidade por estar voltando ao Brasil e por estar tocando pela primeira vez nas cidades por onde passou. O músico também agradeceu o público pelo carinho recebido e pela fidelidade, e também agradeceu e elogiou todos os envolvidos em sua vinda, além dos músicos e da equipe técnica.
Ainda faltava uma de Don’t Come Easy. Vaughn então indagou o público a respeito e anunciou o maior e mais esperado hit do disco, o carro-chefe Forever Young. Obviamente, assim como as outras do disco, essa também foi cantada em uníssono. Passados alguns minutos do término do show, Danny Vaughn fez questão de aparecer na pista para tirar fotos e dar autógrafos para os fãs, além de trocar uma ideia com alguns deles.
Que ótima noite, que bela apresentação e que bom que São Paulo e Danny Vaughn finalmente tiveram a chance de se conhecerem. Quanto ao Tyketto, apesar de dessa vez Danny Vaughn ter vindo sozinho ao Brasil, ele garantiu a este que vos escreve que o grupo segue ativo e confirmou a entrada do baterista Johnny Dee, músico que há anos integra a banda de Doro Pesch, que é membro da formação original do Britny Fox e que tocou com o vocalista no Waysted. Fica a torcida para que a partir de agora aconteça com Danny Vaughn o que aconteceu, por exemplo, com o mencionado Jeff Scott Soto, que também demorou a estrear em São Paulo, mas que depois da primeira vez passou a bater cartão na terra da garoa.
Set list:
- Reach
- Wings
- Burning Down Inside
- Walk on Fire
- Strenght in Numbers
- Strip Me Down
- Seasons
- Nothing But Love
- Lay Your Body Down
- Rescue Me
- Standing Alone
- Catch My Fall
- Sail Away
- Heaven Tonight (WAYSTED)
- Last Sunset
- Forever Young