DARYL HALL & JOHN OATES – 11 de junho de 2019, São Paulo/SP

Você deve estar se perguntado: “O que raios um show de Daryl Hall & John Oates está fazendo no Live Evil da ROADIE CREW?”. Devo então lhe informar que, apesar da estampa pop, o som da dupla norte-americana também sempre caiu nas graças de muita gente que curte AOR, rock progressivo e classic rock – e também da turma da soul music, embora Hall deteste o termo ‘blue eyed soul’, que alguns usam ao se referirem à eles. Não à toa, há quem rotule o som do duo como ‘soft rock’. Até mesmo o Sepultura, por exemplo, há algum tempo vem se despedindo de seu público nos shows com You Make My Dreams rolando no som mecânico. E tem outra, Daryl Hall não apenas serviu de inspiração para Eddie Van Halen compor o mega hit Jump, como o guitarrista cogitou chamá-lo para assumir o posto de vocalista deixado por David Lee Roth no Van Halen. O próprio Daryl Hall confirmou essa história em 2015, em entrevista para o programa “Live at Daryl’s House”, conduzida por ninguém menos do que Sammy Hagar, convidado do episódio 69 da série de Hall no You Tube, e que foi quem acabou sendo o sucessor de Diamond Dave no Van Halen. Quanto a recente turnê de Daryl Hall & John Oates, inacreditavelmente foi preciso que a América do Sul esperasse mais de quarenta anos para, enfim, recebê-los. Eles passaram primeiro por Buenos Aires (ARG) e Santiago (CHI), e depois vieram ao Brasil, onde no último dia 11 de junho tocaram em São Paulo.

Ávido para conferir a estreia dos dois músicos em solo tupiniquim, o público lotou o Espaço das Américas. Atualmente, eles não estão divulgando nenhum material inédito, tendo em vista que o último álbum, Home For Christmas, décimo oitavo da carreira e o primeiro com músicas natalinas, foi lançado em 2006. Então, inseriram ao repertório todos os seus grandes clássicos. E o mais bacana em ver o quanto os hits de Hall & Oates (que eles não saibam que os chamei assim, pois odeiam, preferem ser reconhecidos como indivíduos, não como unidade) impactaram o público daqui, foi notar a presença de gente de todas as idades, desde adolescentes até idosos. Também, pudera, nascidos no ano de 1949 e amigos desde a faculdade em 1968, os setentões formam a dupla que mais vendeu discos na história da música pop. Com mais de 40 milhões de cópias comercializadas, eles superam até mesmo o britânico Tears For Fears, de  Roland Orzabal e Curt Smith. Muitos casais também curtiram o oportuno show, que calhou de acontecer justo na véspera de Dia dos Namorados. O frisson da plateia foi instantâneo quando o enorme telão ao fundo do palco começou a projetar imagens que ilustravam os singles e compactos de sucesso de Daryl Hall & John Oates. Pra histeria geral, os dois entraram tocando o seu grande hino, presente no duplo platinado e dançante álbum H2O (1982): Maneater, single que vendeu dois milhões de cópias. Confesso que sou avesso à ideia de abrir show logo com a música mais aguardada pelos fãs. Mas, tudo bem, segue o jogo, pois hits não iriam faltar.

Na primeira pausa, Daryl comemorou: “Cara, eu amo estar aqui. É bom ver vocês todos”. E avisou: “Vamos tocar muitas músicas essa noite, as primeiras músicas, velhas músicas, todo tipo de música”, antes de dar início ao cover de Mike Oldfield para Family Man. Dois fatores colaboraram para que o público desfrutasse de um grande espetáculo: a qualidade de som cristalina, que possibilitava perceber cada arranjo, e o espetacular telão, que a cada música exibia imagens que embelezavam a experiência de olhar para os músicos no palco e sentir como se eles fizessem parte do cenário que era ilustrado. E por falar nos músicos, Hall (vocal, guitarra, teclado e piano) e Oates (guitarra e vocal) vieram acompanhados de um timaço formado por Shane Theriot (guitarra – Neville Brothers, Beyoncé, Willie Nelson, The Syn), que já ganhou alguns prêmios Grammy Awards como produtor, Klyde Jones (baixo – Average White Band), Eliot Lewis (teclado – Average White Band), Charlie Dechant (saxofone, flauta, percussão – Mick Jagger, The Temptations, Tina Turner, Billy Joel, Bonnie Raitt, The Average White Band), Porter Carrol Jr. (percussão – Atlantic Starr, Shania Twain, Spyro Gyra, Michael Bolton) e o baterista Brian Dunne, que usava uma camiseta da Seleção Brasileira de futebol, com o nome de seu grande ídolo Ronaldinho Gaúcho nas costas. Muitos deles são multi-instrumentistas e mantém carreira solo em paralelo. O octeto fez bonito e, instrumentalmente, desempenhou uma performance muito mais orgânica do que a que conhecemos das músicas em estúdio.

Na sequência do set, muita gente cantou e dançou nas pistas e nos camarotes embaladas por dois grandes hits do altamente comercial Big Bam Boom (1984): Out of Touch, que teve uma paradinha em que a plateia acompanhou a banda de braços erguidos, movimentando-os de um lado a outro, e Method of Modern Love. E por falar na plateia, as centenas de vozes que a compunham e cantavam com a banda, surpreenderam em todas as músicas de tão afinadas. Continuando, Hall perguntou se todos estavam se divertindo e, com a projeção no telão dando um aspecto de teatro ao palco, anunciou Say it Isn’t So, música lançada em outubro de 1983 e que chegou ao segundo lugar da Billboard. Sob a imagem de um céu todo estrelado, veio outra de H2O, One on One, que contou com bela interpretação vocal de Hall. Falando em Hall, ele se mostrou ser bem mais comunicativo do que Oates, que, por sua vez, aparenta ser mais tímido. Ao menos, antes do cover do The Righteous Brothers para You’ve Lost That Lovin’ Feelin’, no qual fez um bonito duo vocal com o parceiro, ele falou: “é ótimo estar pela primeira vez em São Paulo, Brasil”. Ainda sobre Oates, era engraçado notar que ele parece pai do saudoso Prince, não só pela baixa estatura e por também tocar guitarra, mas também pelo corte de cabelo e estilo do seu inseparável bigode.

Tudo ia muito bem até aquele momento, porém, infelizmente, durante a execução de She’s Gone – música que quando lançada como single fora regravada por vários interpretes, entre eles Tavares e Lou Raws -, uma terrível chiadeira acabou prejudicando-a durante a maior parte do tempo. Uma pena acontecer isso justo nessa, que ganhou uma das imagens mais bonitas no telão, que mostrava uma velha lanchonete no meio do nada ao alvorecer, em referência à capa do segundo álbum Abandoned Luncheonette (1973). Sorte que nenhuma outra falha técnica aconteceu e o show prosseguiu com Hall ao piano em várias músicas. A primeira delas foi a peculiar balada Sara Smile. Pertencente ao álbum que leva o nome da dupla, lançado em 1976, essa música alcançou o quarto lugar na Billboard e foi dedicada, quando composta, à namorada de Hall, Sara Allen, sua parceira em muitos sucessos gravados por ele e seu amigo Oates. Como curiosidade sobre o citado álbum, vale informar que ele passou a ser chamado pejorativamente de “Gay Album”, devido à capa e ao encarte, que mostram Hall e Oates exageradamente maquiados. Por conta disso, eles passaram a ser taxados de gays. Em Is It A Star, de War Babies (1974), Oates, Lewis e Dechant deram um show à parte com seus respectivos solos de guitarra, teclado e sax. Aliás, Charlie Dechant, que começou a música na flauta e brilhou em vários momentos do show, é o mais antigo na banda de apoio, vem acompanhando a dupla desde 1976. Já na ótima I Can’t Go For That (No Can Do), de Private Eyes (1981), com a aurora boreal ao fundo, além de Dechant no sax e na flauta, Carroll também se destacou ao cantar trecho da música.

Uma das mais aguardadas da noite veio na volta para o bis. Falo de Rich Girl, R&B que levou o álbum Bigger Than Both of Us (1976) ao primeiro lugar da América e que deu à dupla o rótulo de rock’n’soul. Apesar de o título dessa música dar a ideia de que se trata de uma garota, a letra é uma crítica à um amigo da namorada de Daryl Hall, que se valia de uma vida de privilégios, sempre às custas da ajuda de outros. A trinca reservada para o final do show foi simplesmente sensacional. Trouxe Kiss on My List, número um da Billboard em 1981, Private Eyes, em que toda a banda foi apresentada, e a contagiante e derradeira You Make My Dreams, que fez muita gente novamente cair na dança. Estranhamente, Hall e Oates foram discretos ao se despedirem dos fãs. Eles deixaram o palco rapidamente. Apenas os demais músicos permaneceram no palco para receber a ovação da plateia. Agraciados aqueles que puderam conferir, in loco, a tão aguardada estreia de Daryl Hall & John Oates em nosso país. Quem compareceu, certamente saiu do Espaço das Américas de sorriso no rosto. Ao final do show, conversei com o simpático Charlie Dechant, que mostrou-se empolgado por ter tocado para o público brasileiro: “Foi ótimo! Curti bastante, foi um show incrível”. E finalizou comentando sobre um possível retorno ao país: “Iremos amar se pudermos voltar. Espero que possamos voltar o quanto antes”. Tomara mesmo que Daryl Hall & John Oates não demorem mais para virem ao Brasil. E que da próxima vez possam passar por outras cidades, além de São Paulo.

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