Como acontece com todo novo endorser da Gibson, lendária e tradicional empresa americana de guitarras, Dave Mustaine, icônico ex-integrante do Metallica e criador do Megadeth, duas das mais respeitadas bandas da história do thrash metal, ganhou um documentário, da série Icons, sobre sua vida e carreira. Ele que por anos foi endorser de marcas como BC Rich, Jackson, ESP e Dean, em 2021 assinou seu primeiro contrato com a Gibson, entrando para um time estelar que reúne outros nomes de alto calibre, tais como Jimmy Page, Tony Iommi, Slash, Jerry Cantrell, Rick Nielsen, Kirk Hammett, Peter Frampton, Joe Perry, Orianthi, Frank Hannon e outros. A parceria entre Mustaine e Gibson pode ser acompanhada na “The Metal Tour of the Year”, que está rolando na América do Norte, tendo como atrações Megadeth, Lamb of God, Trivium e Hatebreed.
No documentário produzido pela Gibson, Dave Mustaine falou de diversos assuntos e recordou alguns duros episódios que enfrentou ao longo de sua carreira. Separamos alguns desses momentos relembrados por Mustaine e você os confere abaixo.
DIFICULDADES FINANCEIRAS PÓS-METALLICA
“Normalmente, encontrávamos alguns fãs (do Megadeth) que eram gentis o suficiente para nos dar um pouco de dinheiro para comida, porque aqueles primeiros anos foram realmente ruins. Teve um ponto em que paramos no Texas, e eu tive que ligar para a gravadora e dizer a eles que ficamos sem gasolina”.
Mustaine também relembrou o episódio ocorrido em um hotel.
“Estamos presos no hotel e não podemos fazer o check-in porque não temos dinheiro, e o cara me diz pelo telefone, ‘É melhor você conseguir um emprego diurno’. Pensei, ‘Você sabe que nós estamos em turnê, e você conhece meu temperamento, então por que de todas as pessoas você está fazendo isso justo comigo? Porque em algum momento você vai conseguir’”.
O novo endorser da Gibson também contou que a situação da banda, a sua condição de pobreza e um livro de Patti Smith o inspiraram a compor Peace Sells, faixa que se tornou hino em seu álbum de 1986, Peace Sells… But Who’s Buying?, segundo de estúdio do Megadeth.
“As letras de Peace Sells foram escritas com uma caneta de feltro bem grossa na parede dos estúdios de ensaio em Vernon, Califórnia. Eu morava lá porque éramos todos sem-teto, e estava morando no prédio de ensaios, o que era horrível. Não havia geladeira, nem comida, nem nada… Nem chuveiros! Um dia, havia uma revista na mesinha de centro da nossa sala, e era a Reader’s Digest, na qual tinha uma história de Patti Smith – Patti Smith é legal, certo? Então ela dizia sobre como ‘A paz vende, mas ninguém está comprando’, e eu disse, ‘Uau, essa é uma declaração muito legal. A paz vende, mas ninguém está comprando’”. Então, mudei para ‘a paz vende… mas quem está comprando?’”.
O SOFRIMENTO AO ASSUMIR A FUNÇÃO DE VOCALISTA DO MEGADETH
Nos primeiros dias de Megadeth, o grupo realizou algumas audições para escolher qual dos candidatos seria o seu vocalista. O que pouca gente sabe e eu vos conto agora, é que entre os cantores testados estava o brasileiro John Cyriis (nascido João Campos, na cidade de Santos/SP), que fora convidado pelos próprios Dave Mustaine e David Ellefson. Cyriis permaneceu por oito meses com o Megadeth, porém acabou pulando fora e pouco tempo depois se tornou frontman do Agent Steel, onde permaneceu de 1984 a 1988, e desde 2010 está de volta ao seu posto no grupo de power/speed/thrash metal. Estando os membros do Megadeth frustrados com o insucesso na escolha de um novo vocalista, decidiu-se que o próprio Mustaine se encarregaria dos vocais, além, é claro, de permanecer como guitarrista compositor da banda. Mustaine conta no documentário sobre o momento em que a função de vocalista do Megadeth foi definida.
“Por alguma razão, Gar (Samuelson, baterista) me indagou, ‘Por que você não tenta cantar?’. E eu, provavelmente, deveria ter dito: ‘Por que não?’. Mas não disse. Aproximei-me do microfone e cantei a primeira música. E doeu, na verdade foi muito doloroso para mim, porque eu não sabia como respirar direito, então eu estava gritando o tempo todo e tão rápido quanto eu conseguia inspirar novamente, tão rápido quanto eu conseguia expirar, porque não fui capaz de terminar o que estava dizendo, eu continuava a expirar, muito tempo depois era hora de começar a inspirar novamente. Então, estou tentando aprender a respirar enquanto canto, estou me sufocando ao mesmo tempo, estou meio que me afogando na minha própria respiração, e isso era para ser algo divertido. Quando a música acabou, eu disse: ‘Parece que acabei de ter um prego cravado no meu olho’”.
O AVISO PARA SCOTT WEILAND (STONE TEMPLE PILOTS) SE MANTER LONGE DA HEROÍNA NA TURNÊ DE COUNTDOWN TO EXTINCTION
Avançando no tempo, especificamente para o ano de 1993, Dave Mustaine se lembrou da época em que o Megadeth teve o Stone Temple Pilots, um dos expoentes do rock alternativo, como banda de apoio na perna norte-americana da turnê de seu bem sucedido quinto álbum de estúdio, Countdown to Extinction, lançado no ano anterior. Após alguns shows, a turnê acabou sendo cancelada por motivos de saúde. Segundo Dave Mustaine recordou no documentário, ele alertou o falecido vocalista do Stone Temple Pilots, Scott Weiland, para não se envolver com heroína. Dave, porém, acredita que a recomendação acabou servindo como gatilho, soou mais atraente para Scott, que começou a usar a substância durante os shows. Dave assume que havia muito uso de drogas durante a turnê, e que também teve uma recaída. No entanto, revela que houve um ponto em que ele ficou tão frustrado que queria voltar para casa, inclusive a pedido de sua esposa, Pam Mustaine, que lhe pediu para desistir da turnê.
“Por mais que eu odeie dizer isso, a turnê de Countdown to Extinction foi cancelada por motivos de saúde, e nós tínhamos saído em turnê com o Stone Temple Pilots, e eu disse a esses caras como eu achava que eles eram ótimos, e falei para Weiland: “Faça o que quiser, fique longe da heroína”. Eu deveria ter ficado de boca fechada, porque acho que fiz parecer atraente ao dizer isso e, naquela turnê, havia muito uso de drogas acontecendo, e eu basicamente tive uma recaída muito forte e só queria ir para casa, não queria mais estar na estrada, não queria tocar… Assisti ao Stone Temple Pilots, ao mesmo tempo em que Coutdown… foi lançado. Acho que quando Countdown… foi lançado, era o n° 2. Fiquei furioso porque Billy Ray Cyrus tinha o álbum n° 1 e não conseguimos abalá-lo”.
Mustaine afirma: “Fiquei muito feliz por eles, mas sabia que era hora de voltar para casa. Minha esposa desceu na estrada e me disse, ‘Você está indo para casa agora!’. E eu fui embora. Fui para casa, fiquei limpo e aqueles caras fizeram grandes coisas. Aprendi muito sobre mim naquele momento, porque havia, obviamente, algum tipo de sentimento de inveja, mas era por alguém que eu realmente não conhecia, então eu não tinha ideia de onde estava vindo. Em suma, o que parecia ser realmente uma coisa ruim acabou sendo ótimo, porque me ajudou a ter uma maneira mais introspectiva de olhar para mim mesmo”.
O DIA EM QUE DAVE MUSTAINE FOI DECLARADO MORTO
Depois da frustrada turnê com o Stone Temple Pilots, Dave Mustaine se mandou para um lugarejo no Arizona, onde teve um desmaio. Diz ele não se lembrar de nada sobre aquele momento. Ao acordar alguns dias depois, Mustaine não tinha ideia de onde estava. O sessentão diz que primeiramente pensou ter sido sequestrado, porém percebeu que estava em um hospital. Bem, na verdade, ele afirma que, por um momento, passou para o outro lado…
“Quando fui para um lugar no Arizona, Wickenburg, eu já tinha voltado para casa da turnê Megadeth/STP e estava pronto para me limpar… Eu fui para um lugar no Arizona, e foi onde eu realmente morri. Não me lembro de nada. Não havia luz azul, não havia luz branca, não havia caleidoscópio, não havia placar de futebol, não havia nada. Eu tinha ido lá e acordei alguns dias depois, olhei pela janela e não sabia onde estava, não tinha ideia. Imagine, a última coisa de que você se lembra é que estava em turnê com o Stone Temple Pilots e, em seguida, um borrão o atinge por cerca de uma semana, e então você acaba olhando pela janela em um deserto, um cacto. A princípio, pensei que tinha sido sequestrado e estava no México, mas então a enfermeira entrou e disse: ‘Achamos que tínhamos perdido você’. O cara que era o diretor do programa do hospital era um amigo meu e de minha esposa, e ele entrou e disse à Pam: ‘Ele está morto, você precisa vir para cá’. Então, ela saiu dirigindo do apartamento que ela estava para o hospital. Eles me ressuscitaram nesse ínterim, quer dizer, eu não estava pronto para morrer, não estou pronto para partir. Eu não fiz isso de bom grado. Fiz isso porque estava sob influência (de drogas)”.
Assista agora ao documentário completo, com essas e outras histórias contadas por Dave Mustaine:
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