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DEATH TO ALL – São Paulo/SP

23 de março de 2024 – Carioca Club

Por Samuel Souza

Fotos: Belmilson dos Santos

Na noite chuvosa do dia 23 (sábado), o Carioca Club em São Paulo se rendeu à fúria do Death To All, um tributo de responsa à lendária banda Death, personificada na pessoa de Chuck Schuldiner, falecido em 2001, prematuramente aos 33 anos de idade. A turnê Muerte Por Vida – Muerte Por Todo Tour 2024 reuniu um significativo número de fãs, que praticamente lotou a casa, insanamente empolgados para presenciar um espetáculo memorável.

A veloz “Open Basket”, uma música lado B do álbum “Leprosy”, deu início ao frenesi contagiante, abrindo caminho para diversos clássicos. “The Philosopher” colocou o local abaixo, cantada em uníssono. Um clima saudável de saudosismo e emoção bateu forte com pescoços quebrando todos os cantos e várias pequenas rodas também. “Suicide Machine” e “Living Monstrosity” vieram para elevar todos esses pormenores de forma pesada e brutal.

O quarteto formado por figuras conhecidas da cena, com Max Phelps (vocal e guitarra), Steve DiGiorgio (baixo), Bobby Koelble (guitarra) e Gene Hoglan (bateria) dominaram o palco com maestria, percorrendo a árdua discografia do Death em uma jornada sonora comovente. E sim, o calado Max Phelps emula Schuldiner de forma surpreendente, lembrando as vestimentas, o vento nos cabelos com ajuda ali do ventilador ao lado dos monitores… Só faltou mesmo a guitarra B.C. Rich modelo Stealth com captação humbucker único na ponte para igualar o figurino, mas, certamente os fãs estavam mais preocupados com a parte técnica e as linhas vocais, e isso Phelps entregou com precisão.

Antes de iniciar a próxima canção, o figuraça Steve DiGiorgio, uma espécie de hippie headbanger, fez as primeiras conversas com o público, o que se repetiu várias vezes, deixando até a coisa meio xarope. Apesar de ter uma lata de mala-sem-alça, DiGiorgio é um monstro cirúrgico e sua forma de tocar é algo que no mínimo beira a perfeição. Bonachão, tocou corajosamente descalço e corretamente agradeceu a presença do público e reforçou o propósito do tributo: celebrar o legado de Chuck Schuldiner. Se o clima lá fora da casa reservava um certo frio, dentro o caldeirão infernal entornou de vez com a execução de “Symbolic”, com o público deixando os pulmões na pista. É meus amigos, isso aqui foi lindo e ao meio de tantos socos e pontapés, a leve pausa deu espaço para muitos marmanjos abraçando uns aos outros.

A pancadaria continuou com “Infernal Death” e “Scavenger Of Human Sorrow”, evidenciando toda a complexidade e contratempos que a música do Death emergia, ainda assim, ao vivo, sintetiza pura destruição. E foi justamente nessa canção que o octopoda-humano Gene Hoglan liquidou a caixa de sua bateria. Coitadinha! Ainda que violento, Hoglan toca com uma leveza, digamos, bruta, esculpida por uma técnica que transparece carisma. Por várias e várias vezes ao longo do set, levantava, fazia horns-up para a audiência e juntava as baquetas para formar uma cruz de ponta-cabeça.

Mais complexidade veio com a progressiva “Overactive Imagination”, reiterando a sintonia fina entre DiGiorgio e Hoglan, afinal de contas, eles estavam lá em “Individual Thought Patterns”, logo, imagino o quão foi divertido “tirar” uma música desse calibre e trazer para o palco. Ao longo do espetáculo, ainda que seja redundante escrever aqui, a técnica impecável e a brutalidade inata do Death se manifestaram em cada som, com reverência a todo encadeamento musical que Schuldiner esculpiu. “Within The Mind” e “Baptized In Blood”, incendiariam ainda mais a plateia, enquanto “Flesh And Power It Holds” trouxe de volta a complexidade contracenando com peso e violência. É até engraçado citar, mas o fato dos fãs responderem as partes melódicas com solfeggios no melhor “ô ô ô ô” à brasileira, é impagável.

Mais uma vez DiGiorgio se volta para frente do palco e manda um solo econômico com seu fretless (contrabaixo sem trastes), dando a deixa para a melódica e não por menos cheia de contratempos “Lack of Comprehension”, tal qual tem semelhante abordagem em “Crystal Mountain”. São canções menos brutas que serviram para uma leve hidratação, uma trégua nos moshes e o combinado instantâneo para o chamado encore. Antes, porém, ainda tivemos um “parabéns pra você” a Max Phelps, que aniversariava um dia antes.

Energias recarregadas rapidamente, uma mini-jam meio que improvisada precederam o caos absoluto para “Zombie Ritual”. Um belo e destinado redemoinho voltou a tomar conta do Carioca Club. O quarteto, visivelmente se divertindo, brincaram com um trecho para “Ace of Spades”, para aniquilar tudo com a impagável “Spirit Crusher”, uma pérola legítima em termos de Death Metal. Novamente os fãs vomitaram os pulmões, urrando o agudo perturbador que leva o nome da canção. “Crusherrrrrrrr!!!” ecoava matadoramente!

E antes de encerrar por aqui, vale uma menção ao também discreto Bobby Koelble. Exato e correto, é agradável ver um guitarrista técnico sem firulas, entregando mais do que o necessário sem soar pedante. Ele que gravou “Symbolic” ao lado de Hoglan, se sentia também em casa e não um mero passageiro. Poderosa e presente no imaginário de cada fã, “Pull the Plug” soltou dos falantes para encerrar essa noite, por mais que o termo possa ser ufanista, foi realmente mágico.

O tributo realizado pelo Death To All foi genuíno. Confesso que não esperava tanto, embora reconheça a excelência dos músicos envolvidos e a importância de fazerem seu trabalho com dedicação. Não sei dizer se a nostalgia se misturou à emoção de relembrar tantos clássicos. O fato de Chuck Schuldiner nunca ter tocado no Brasil também pode ter contribuído para o impacto deste momento. Essa noite no Carioca Club permanecerá eternamente no coração de todo fã verdadeiro. A presença maciça da plateia, vibrando a cada nota, cantando todas as músicas, é um testemunho do reconhecimento à bela homenagem prestada pela banda.

E bate uma certa tristeza em lembrar que lá na década de 80, a Combat Records chegou a oferecer shows do Death para Walcir Chalas da Woodstock Discos, que declinou em virtude de outras prioridades. Inevitavelmente vem à mente uma citação do poeta libanês Khalil Gibran que parece ressoar com a essência etérea de Chuck Schuldiner: “A música é a linguagem dos espíritos”. Mesmo no mundo do show business, onde o brilho muitas vezes ofusca a verdadeira essência artística, a marca deixada por Chuck permanece imponente.

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