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DEFORMED SLUT: DNA DEATH METAL, AURA GORE

Por Thiago Prata

Seja com o Deformed Slut, nascido em 2006, ou com outros projetos e bandas, o vocalista e multi-instrumentista Alex Antunes sempre honrou o death metal, erguendo com orgulho a bandeira do estilo e produzindo material de qualidade ao longo dos anos. E foi para falar de mais um petardo com sua assinatura, o segundo álbum do Deformed Slut, At the Inhumane Cesspool (2022), além de outros momentos do grupo curitibano, que conversamos com Alexandre. E não se restrinja a ler este papo, vá logo conferir mais um discaço de death metal nacional.

Como se deu o início de trajetória do Deformed Slut, em 2006? O que mais o motivava àquela época para tocar death metal extremo com linguagem gore?

Alex Antunes: Saudações! O Deformed Slut iniciou todos os trabalhos em 2006 em Curitiba (PR), com o intuito de criar um som brutal, rápido, agressivo e com letras abordando temas gore e splatter. Antes disso, eu já tinha em mente formar uma banda com uma formação clássica em quarteto, pois as bandas que eu tinha na época como referência aqui da cidade, e outras internacionais, mostravam um som poderoso e denso com muito peso e dinamismo entre os integrantes, distribuindo suas funções aos instrumentos. Sempre gostei muito de som extremo, e nessa época eu já tocava no Lachrimatory (doom metal), que era uma banda com muita influência de death metal também, mas com outra pegada. O som era arrastado, lento, com músicas longas. Isso me motivou a buscar novos caminhos com outra identidade e musicalidade.

Cinco anos depois, era lançado o primeiro full-length, Stench of Carnage (2011). O quanto esse período de cinco anos ajudou na maturação de suas ideias, e de que forma você definiria o álbum de estreia?

Alex: Foi um longo período, principalmente para produzir o fundamental que era fazer música, independentemente dos contratempos. Nesse intervalo de tempo, houve importantes alicerces para a construção do trabalho, e eu pude fazer a composição de um grande número de músicas. Algumas muito boas, e outras, nem tanto. Foi aí que definitivamente surgiu o clássico primeiro álbum, Stench Of Carnage, lançado aqui no Brasil e distribuído nos Estados Unidos e na Europa com mil exemplares no total. Houve muitas mudanças na formação da banda, que, no início, era um quarteto e acabou se transformando em um duo. Independentemente disso, a música nunca parou. Sempre estive envolvido com outros projetos e outras bandas com diversos estilos sonoros, porém o Deformed Slut sempre foi um trabalho especial para mim pois eu soube desde o início que era algo que só dependia de mim mesmo pela praticidade na criação das músicas.

O Deformed Slut passou por um hiato de quase uma década sem lançamentos. O que foi crucial para esse momento de “inatividade”, se é que possamos dizer assim, e o que foi fundamental para esse “retorno” triunfal com o EP Ruthless Malignancy (2020) e agora o segundo full, At the Inhumane Cesspool (2022)?

Alex: Então, realmente foi um longo período em que estive envolvido com outras bandas que necessitavam de uma grande dedicação minha. Foram elas: Lachrimatory, quando gravei as guitarras do segundo álbum, Transient (2011); na sequência com o Imperious Malevolence, em que gravei vocais e baixos no quarto álbum, Doomwitness (2013); e o Anmod, em que gravei guitarras no segundo álbum Inner Upheavals (2016). Daí em diante, consegui reativar o Deformed Slut com alguns amigos que completaram a formação para alguns ensaios, e pudemos realizar shows ao vivo. Etapa que com certeza considero fundamental para reacender e estimular minha vontade em produzir mais brutalidade. O novo EP já estava sendo moldado com uma música nova, Ruthless Malignancy, que também é título do EP, e uma música mais antiga, The Vilest Leech. Esses sons já seriam o rumo para gravar o novo álbum completo do Deformed Slut. O segundo álbum, At The Inhumane Cesspool, que eu chamo de “Na Fossa Desumana”, surgiu lá atrás, com algumas músicas da época do Stench Of Carnage e, claro, músicas novas, com influências mais atuais. São nove músicas que formam uma sequência perfeita como continuidade do que foi iniciado no primeiro álbum.

Você é responsável por todos os instrumentos e vocais, além do conteúdo lírico, o que é comumente definido como “one-man-band”. Como funciona essa dinâmica para você, no sentido de liberdade na hora de compor e também o feedback recebido?

Alex: Essa foi a solução que encontrei em meio à escassez de músicos que queiram ou que estejam comprometidos em fazer acontecer e, por que não dizer, encarar essa empreitada. Sei que esse é um grande problema para muitas bandas pois já passei por isso, essa dificuldade em achar as pessoas certas para um determinado tipo de som. E quando algum músico decide “pular fora”, essa banda precisa logo substituir por outro integrante. No meu caso, o foco principal sempre foi a música: compor, gravar e fazer o possível para mostrar um resultado muito próximo do impecável dentro dos meus limites. O feedback sempre foi bem receptivo por parte dos verdadeiros apoiadores. Para muitos pode parecer algo estranho ou confuso um cara apenas fazendo todo o barulho com os instrumentos ao mesmo tempo, em vez de estar em uma banda completa e já formada para isso. Mas, na verdade, estou fazendo algo produtivo. Posso dizer que acabo ganhando tempo em vez de perder. Trabalhar sozinho é bem melhor pois a autonomia de fazer o trabalho como eu quero fazer é uma grande liberdade, sem dúvida.

Duas faixas de Ruthless Malignancy estão presentes no novo play, e elas se encaixam perfeitamente ao conteúdo sonoro do disco. Quando teve a ideia de levar The Vilest Leech e Ruthless Malignancy, a música, para At the Inhumane Cesspool e o que poderia falar a respeito dessas duas composições?

Alex: Essas duas músicas já estariam no próximo álbum completo mesmo se eu não tivesse feito o EP antes. Ruthless Malignancy era para ser o título do segundo álbum, mas resolvi mudar e escolher outro nome. A letra é de certa forma uma metáfora sobre a maldade ou crueldade das ações do ser humano de uma forma geral: nas notícias do cotidiano, do dia a dia, em tudo o que vemos e achamos normal, com o que nos acostumamos e que não deveríamos; em resumo, é isso. The Vilest Leech ou “O mais vil sanguessuga-verme” segue na mesma linha da Ruthless, porém essa é sobre o indivíduo que não demonstra nenhuma compaixão às pessoas próximas a ele, o ser perverso, egoísta e narcisista, que encara a vida como se não tivesse alma ou sentimentos. Um ser “morto-vivo” vivendo apenas em benefício próprio e nutrindo-se de caminhos mesquinhos.

E falando em composições, o que dizer do cartão de visitas do novo álbum, o petardo Asphyxiated and Beheaded?

Alex: Essa música surgiu em 2009, na mesma época em que comecei a gravar o Stench Of Carnage, mas ficou fora. Por isso decidi colocá-la no início do segundo álbum. É uma música longa, porém extremamente poderosa. E basicamente é sobre como seria a perspectiva de um assassino que asfixiou e decapitou sua vítima.

Outra faixa que gostaria de destacar é Forced to Puncture, com suas alternâncias de cadências e ritmo acelerado. Qual o “X da questão” para equilibrar essas velocidades e soar técnico e brutal? Ah, sem contar no solo inspirado que ela possui, claro.

Alex: Outra faixa com uma temática forte, refrão marcante e um solo que deu bastante destaque para essa música. Bom, o equilíbrio nessa e nas outras composições acontece naturalmente. Você pode criar álbum ano após ano com dez, vinte, trinta músicas parecidas umas com as outras. Ou pode levar um pouco mais de tempo para formar um álbum completo, criar músicas impactantes que vão ficar na sua cabeça por dias, e vai continuar lembrando delas. Eu sempre preferi a segunda opção.

Embora seja uma “one-man-band” em estúdio, quais os planos do Deformed Slut para sair ao vivo com outros músicos?

Alex: Minha ideia é fazer como muitas bandas fora do Brasil fazem há muito tempo, que é contratar músicos por temporada. Os fundadores e membros principais das grandes bandas sempre estão lá, mas com algum ou outro músico de apoio, digamos. Acho que dessa forma não existem amarras, a banda não fica refém de um músico que está sempre ocupado com sua vida pessoal, e é uma chance de trabalhar com um número maior de músicos. No caso, se um músico não puder tocar bateria naquele determinado evento, já vou ter outra opção para ocupar o lugar dele. Um sai, e outro entra. O músico é pago e segue sua vida ou vai continuar na empreitada. Essa dinâmica para mim parece ser a melhor e mais salutar opção para todos.

Com essa volta dos lançamentos do Deformed Slut, com um EP e um álbum lançados em dois anos, existe uma expectativa pelo que vem pela frente. Já há algumas ideias em mente ou mesmo composições em andamento para futuros lançamentos?

Alex: Eu já estou criando músicas novas, ainda não sei se irei gravar um single, demo, EP ou um álbum completo no futuro, só sei que não vou parar. Essa é e sempre foi minha prioridade. Gravar bons materiais com destaque para a arte visual e com um cuidado especial na qualidade sonora.

Por fim, uma curiosidade. Se você fosse apresentar a um leigo o gênero death metal, qual disco mostraria?

Alex: Eu poderia citar algum álbum clássico do Morbid Angel, Deicide, Cannibal Corpse ou até mesmo do Possessed. Mas eu mostraria para um iniciante o álbum que estou ouvindo neste momento: Individual Thought Patterns (1993), do Death, que para mim é uma obra-prima do começo ao fim. Uma mescla de técnica, melodia e peso musical na medida certa. Esse seria um álbum perfeito para um leigo descobrir o que é death metal.

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