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DISTURBED

A coletânea de lados B e faixas retiradas de várias lançamentos do Disturbed, chamada The Lost Children (2011), pode vir a ser o último álbum que ouviremos do quarteto de Chicago. Eles não participarão da turnê conjunta “Music As A Weapon” de 2012 e, de acordo com o vocalista David Draiman, “tudo que posso dizer é que vamos ficar longe por um bom tempo.” Se era isso que estava na cabeça de Don Donegan enquanto dava essa entrevista, com certeza não transpareceu. Donegan falou muito sobre as faixas desse disco e  traçou todos os pormenores de várias músicas da coletânea como num mapa virtual da história da banda, começando pelo álbum The Sickness e indo até Asylum (2010). Ele não era nada menos que um apaixonado pela música que fez e isso ficou evidente em todas as suas respostas apaixonadas e esclarecedoras.  Se o Disturbed vai voltar a se reunir, não se sabe. Enquanto isso, Dan nos coloca numa máquina do tempo e nos leva de volta aos primeiros dias da banda nessa conversa íntima e animada.

Se olharmos para as músicas como degraus, para onde A Welcome Burden,  do The Sickness levou vocês?
Don Donegan:
A Welcome Burden é uma das músicas mais antigas que escrevemos, ainda como uma banda amadora. David Draiman se juntou a nós em 96 e uma vez que começamos a trabalhar com ele e nos descobrirmos como banda, qual era a nossa identidade, nós simplesmente começamos a experimentar. A Welcome Burden foi provavelmente a primeira faixa na qual eu mostrei um riff quebrado, com um tempo diferente para ele para meio que testá-lo e ver se conseguia compor em cima de algo daquela forma. Foi meio que um desafio, não eram simplesmente os acordes para se cantar em cima. Eu não gosto de usar o termo ‘Math Rock’, mas sempre gostei muito do estilo e respeito muito bandas que fazem isso de uma forma legal, como Meshuggah, Mudvayne ou qualquer grupo que faça isso bem. Então, essa foi minha tentativa de jogar uma casca de banana no caminho dele para ver como ele se virava (risos).

O que você acha da última música?
Don:
Saiu bem legal e é isso, uma música bem animada e legal. Nós a tocávamos nos shows amadores, bem antes de sermos contratado, e sempre tínhamos uma boa resposta do público. Foi uma transformação bem legal a nossa. Éramos uma banda que tocava em um set metade de covers e metade músicas próprias, mas começar a tirar os covers e tocar a maior parte de músicas nossas. E naquele período de transição víamos que as pessoas nos locais em que tocávamos queriam ouvir mais as nossas do que os covers.

Outra música do álbum The Sickness era God Of The Mind. Quando ela foi composta?
Don:
Na mesma época que A Welcome Burden. Foram ambas compostas provavelmente no mesmo ano, talvez com seis meses de diferença entre uma e outra. Foi uma tentativa de fazer algo diferente.Ela começa com um riff de baixo e os elementos eletrônicos eram algo que estávamos começando a usar um pouco mais. Foi algo experimental.

Vocês não tinham intenção de usar elementos eletrônicos desde o início?
Don:
Na época, tocávamos covers no nosso set e isso apareceu por acidente. Eu sempre gostei do uso de eletrônicos do Nine Inch Nails e de coisas mais industriais e naquela época não tínhamos técnicos de guitarra ou qualquer tipo de equipe. Então, nesses primeiros shows eu odiava não ter ninguém para me ajudar a trocar de guitarra ou algo assim. Nós queríamos tentar tirar o foco do público quando precisávamos afinar os instrumentos, então começamos a fazer umas sequências eletrônicas e alguns loops para tocarem no PA. Daí, começamos a colocar isso nas músicas. Nós tocávamos algumas coisas do Nine Inch Nails e do White Zombie que tinham elementos eletrônicos e então começamos a colocá-las no set. Depois, decidimos fazer umas experiências e incluir esses elementos nas nossas músicas para ver se funcionava. Essa é uma das primeiras músicas em que fizemos essa experiência.

Andy Wallace, que trabalhou com todo mundo de Paul McCartney a A Perfect Circle, mixou The Sickness. Ele contribuiu muito para a sonoridade daquele disco?
Don:
Andy é fantástico, ele é um ícone! Como você esmo disse, o cara fez muitas coisas brilhantes de Beastie Boys a Slayer, e tudo mais. É um ótimo cara para se trabalhar e sabe como fazer as coisas soarem grandiosas. Era um processo muito diferente para nós, que só gravávamos demos. Ele é muito aberto. Ficávamos no estúdio eu e Johnny K, nosso produtor, fazendo as mixagens e ele ouve você. Nós o deixamos fazer do jeito dele porque há uma razão para ele ser quem ele é. Ele mostrava a mixagem, nós ouvíamos e dávamos uma opinião sobre o que queríamos. Foi ótimo trabalhar com ele nos dois primeiros álbuns.

Na época que vocês lançaram o segundo álbum, Believe, que tinha uma música como Dehumanized, vocês haviam se tornado mais ousados como banda?
Don:
Um pouco. Depois de ficar em turnê por mais de dois anos com The Sickness e experimentar seu sucesso, o que nos fez muito bem, ficamos muito animados para voltar ao estúdio porque só tínhamos aquelas músicas para tocar. Não apenas durante aqueles anos de turnê, mas desde 96, quando ainda éramos amadores. Não estávamos cansados daquelas músicas, mas queríamos mais opções ao vivo, portanto estávamos muito animados por voltar ao estúdio e compor material novo. Nós não queríamos fazer outro The Sickness, também. Um álbum tão grande com aquele, não achamos certo tentar fazê-lo novamente. Estaríamos nos vendendo se fizéssemos isso.

Vocês tentaram mesmo inovar em Believe?
Don:
Na minha opinião, é o álbum mais diferente que a gente já fez. Tinha uma vibração diferente, era bem mais melódico e serviu a seu propósito.Todo mundo tem seu próprio álbum favorito e alguns irão amar um e odiar outro. Você sempre terá aquele favorito que te levará para uma época da sua vida que em que fez ter uma ligação qualquer com ele. Nós compusemos treze músicas e a única que virou um lado B foi Dehumanized. Ela era simplesmente diferente e a tocamos ao vivo algumas vezes, no lançamento do CD e no DVD Music As A Weapon. Então, ela só existia em versão ao vivo, esta é a primeira vez que sai a versão de estúdio.

Believe estreou em primeiro lugar no Top 200 da Billboard. Isso deve ter lhes dado a impressão de que os fãs aprovavam essa nova direção.
Don:
Sim, foi demais. Nós sabíamos disso devido ao tanto de shows que fizemos naqueles anos e as grandes oportunidades que nós tivemos até aquele momento como tocar duas vezes no ‘Ozzfest’, que foi um grande degrau na nossa carreira. Nós tocamos com grandes bandas lá e depois fizemos turnês de abertura para Stone Temple Pilots e Marilyn Mason, o que nos colocou frente a públicos enormes. Nós correspondemos e fizemos o que fazemos, nos ligamos aos fãs e construímos uma base sólida. Foi chocante para nós que tenha estreado em primeiro lugar. Nós sequer achávamos que uma banda como a nossa tocaria no rádio e que seria aceita, quanto mais ter um álbum no topo das paradas. Então, quando o álbum saiu só sabíamos que devido ao trabalho de base que fizemos, essa ligação com os fãs e o fato de sempre correspondermos ao vivo, que estávamos construindo algo e os fãs eram dedicados.

Hell, do álbum Ten Thousand Fists, possui uma linha legal de sintetizador e guitarras bem claras. O baixista, Steve Kmak, havia sido substituído por John Moyer. Ele trouxe algo diferente para esse terceiro álbum?
Don:
Foi por isso que demos um tempo. Houve um certo intervalo entre esses dois álbuns (Believe saiu em 2002 e Ten Thousand Fists, em 2005). Nós estávamos substituindo nosso baixista original e não tínhamos pressa para fazer isso. Queríamos nos certificar de que quando fizéssemos a mudança e achássemos a pessoa, tivéssemos certeza de que era a pessoa ideal. Não queremos uma porta giratória de músicos, com baixistas entrando e saindo. Então, queríamos fazer o anúncio e deixar o material pronto para uma mudança como essa. Foi a maior quantidade de músicas que já escrevemos de uma vez só. Gravamos dezenove faixas. Tivemos umas 21 ou 22 ideias, mas só dezenove estavam prontas para ser gravadas.

Você se lembra dessas primeiras sessões com John Moyer?
Don:
Ele veio do Texas para ficar na minha casa por um tempo e nós começamos a fazer algumas jams. Eu estava mostrando a ele alguns riffs que acabara de criar e tinha vários outros que já tinham avançado musicalmente, feitos por mim e Mike Wengren. Ele veio para tocar e para sentirmos como ele era como pessoa, como as coisas se acertariam. Foi um pouco diferente, porque eu não sabia como eu iria me sair com alguém que toca com palheta, já que Fuzz (Kmak, baixista anterior) tocava com o dedo. Mas eu gostei e John trouxe algo diferente. Acho que sua abordagem agressiva, o ritmo mais sincopado e a precisão foram algo a mais para nós.

Monster é uma música que traz alguns licks mais melódicos. Você não solou muito nos primeiros dois álbuns, então estava feliz ou nervoso quando foi gravá-lo?
Don:
O pessoal da banda estava sempre exigindo de mim. O interessante é que quando nós tocávamos nos anos 90, ainda antes de David, sempre havia um solo. Nós éramos influenciadas por todas essas bandas de Metal clássico, então eu sabia fazer solos. Depois que David entrou na banda, e estávamos buscando uma identidade, não foi decisão de ninguém a não ser minha de deixar a voz dele ter mais espaço porque ela tinha muita personalidade. Fiquei impressionado com o que ele podia nos dar que passei a fazer mais pontes com riffs que lhe davam oportunidade de se sentir a vontade e fazer coisas diferentes com a voz.

Você queria se concentrar mais nos arranjos e deixar o vocal aparecer mais em vez de se preocupar com seus solos?
Don:
Sim. Ou como em The Game, em que há uma linguagem sem nexo e ele vai a música toda fazendo isso. Eu não queria atrapalhar isso, então deixei tudo bem aberto. Eu sei que fui mal interpretado e muitos dos que nos odeiam postam por aí que eu quis trazer os solos de guitarra de volta (risos). Para deixar isso bem claro, eu nunca quis ser isso. Eu trouxe os solos de volta para essa banda. Eles já existiam antes, nos anos 90, e nós os deixamos de lado porque estávamos seguindo um novo caminho. E aí eu os trouxe para dentro dessa banda, não para o Metal em geral. Sempre houve grandes guitarristas solo. Mike e David é que sempre insistiam para que eu recuperasse isso nas nossas músicas.

Então, Monster clamava por um solo?
Don:
Monster foi apenas uma dessas músicas que foi divertido para eu me soltar como guitarrista. Eles sempre me encorajaram e foi divertido de fazer. Estou feliz por trazermos isso de volta para a nossa música.

Two Worlds foi outra música com um solo legal, com alavanca e tudo mais. Qual a origem dela?
Don:
Há tanta coisa ali… Como eu disse, tínhamos ideias de garotos de 20 e poucos anos e de todas as músicas que gravamos, essa era a única um pouco diferente. A versão já estava pronta, mas depois de gravarmos a bateria eu mudei um pouco o riff do verso e adorei. Eu adoro tocar aquela parte, tem algo de especial nela. E o solo não é nada complicado, é só um tanto melódico. Eu tento fazer coisas que sejam de bom gosto de acordo com o meu próprio, e sempre gostei de guitarristas como Jerry Cantrell, do Alice In Chains. O importante não é tentar tocar o mais rápido e com a maior quantidade de notas possível. É sobre ter bom gosto e fazer algo que tenha melodia e prenda quem está ouvindo. Eu vejo grandes guitarristas por aí que conseguem debulhar e detonar. Parte de mim bem que gostaria tocar tão bem e rápido quanto alguns deles, mas tenho que trabalhar com o que consigo fazer e gosto do fato de criar um solo que as pessoas vão lembrar da melodia após ouvir. Eu quero que a pessoa se prenda tanto ao solo como aos vocais e ao refrão.

Falando em guitarristas, você dedicou Ten Thousand Fists a Dimebag Darrell. Ele era seu amigo?
Don:
O Pantera tocou conosco em 2000 no ‘Ozzfest’. Nós éramos grandes fãs de Pantera, como qualquer um no meio do Heavy Metal. Estávamos um pouco temerosos porque era tudo tão novo para gente, era nossa primeira grande turnê e não sabíamos onde podíamos entrar, com quem podíamos falar, esse tipo de coisa. Você fica meio paranoico porque está numa grande turnê e não quer estragar essa grande oportunidade. Mas, vou te falar uma coisa: Dime e Vinnie (Paul, baterista do Pantera e irmão de Dimebag) são os caras mais legais que conheci. Eles faziam umas festas após os shows e eles te puxavam pra dentro do camarim deles. Eles te tratavam como se você fosse amigo deles desde criança. Nós nos divertimos muito, foi demais. Acho que devo ter esquecido várias coisas porque eles me deixavam tão bêbado que eu voltava rastejando para o nosso tour bus.

Você deve ter se sentido péssimo quando soube da morte de Darrell.
Don:
Nunca vou esquecer quando recebemos a notícia dos tiros. Na verdade, era o primeiro dia em que John Moyer estava na minha casa e nosso produtor, Johnny K foi até lá para iniciarmos a pré-produção com a banda toda. Estávamos em casa, sentados na sala de ensaios, prestes a ouvir as ideias para Ten Thousand Strong, e os telefones de cada um de nós começaram a tocar a cada minuto. E aí as notícias começaram a chegar. Foi inesquecível, porque ficamos todos em choque.

Sickened foi outra música pesada com um grande solo com uso de wah-wah. Por que músicas como ela, Monster e Two Worlds não entraram em Ten Thousand Strong ?
Don:
Não é que gostássemos mais das outras músicas, obviamente todas são muito importantes para nós. É por isso que sempre nos referimos a elas como ‘crianças’ e é por isso que esse novo CD se chama The Lost Children (“as crianças perdidas), porque essas foram aquelas que ficaram perdidas e nunca viram a luz do dia até agora. Tenho certeza que toda banda se sente assim sobre o material, então não quero aqui passar a impressão de ser arrogante e dizer que todas as músicas são ótimas. Mas para nós são (risos) e temos opiniões bem definidas sobre elas. É uma decisão dura de se tomar, deixar qualquer música de fora de um álbum, mas tem mais a ver com o ritmo do álbum. E tem algumas nesse novo álbum que temos certeza que seriam ótimas candidatas a single. Havia pessoas na gravadora que estavam insistindo para certas músicas serem o single principal do disco, mas nós dissemos que queríamos aquelas como lados B, que sequer estariam no álbum. Então, havia essas discussões e é engraçado porque nós sempre ganhamos esse tipo de debate, mas não para chegar ao ponto de jogar essas músicas fora. Nós sabíamos que uma hora elas veriam a luz do dia. E essa era toda a questão por trás disso. Nós imaginamos que poderiam acabar numa trilha sonora ou em algum evento esportivo. E qualquer que seja o caso, sabíamos que não queríamos  nos livrar delas, na esperança de lançá-las para os fãs em algum momento e que eles gostariam delas tanto quanto nós.

Indestructible tem músicas como Run e Parasite e foi o primeiro álbum que você produziu. Como foi isso?
Don:
Para ser bem honesto, foi uma transição bem fácil. A única diferença é que não tínhamos uma referência mais experiente entre nós. Johnny K foi um grande produtor e amigo, aprendemos muito com ele. Ele foi o professor e eu o aluno. Nós sempre funcionamos bem sob pressão e eu sempre gostei da responsabilidade de ter um certo peso nos ombros e de saber que dependia apenas de nós para corresponder. Nós sabíamos que estávamos prontos para isso. Eu analiso demais as coisas e os outros membros riam de mim porque eu sempre achava que estava bom, mas não o bastante. E eu ficava lá sentado por horas durante a gravação, fazendo ‘overdubs’ de guitarra ou qualquer coisa do gênero, e sempre mudava alguma coisa muito sutil, sobre o timbre ou qualquer outra coisa, pequenas nuanças. Eu me comporto como um nerd mesmo e provavelmente exagero, mas tento ser perfeccionista. Sei o que quero e tento alcançar isso. O pessoal da banda faz piada com isso e me enche a paciência por eu ser assim, mas respeitam, também.

Então, você gostou mesmo de produzir o Disturbed?
Don:
Foi demais ir para o estúdio e saber que todos estavam preparados e acertando suas partes. Foi uma ótima experiência. Tadpole, que era um engenheiro de som que já havia trabalhado conosco anteriormente em alguns álbuns, também atou em Indestructable. Foi muito bom tê-lo junto de nós para nos estimular, também.

David Drainman disse que queria tentar criar sons mais sinistros para o álbum Indestructable. Você ouvia esses comentários e tentava obter uns timbres mais pesados de guitarra ou algo assim?
Don:
Não, é sempre difícil dizer a cada vez que lançamos um álbum se ele é mais sinistro ou pesado que o último. Cada música terá climas e momentos diferentes. Depende realmente só do que sai de nós durante o processo de composição. Portanto, sim, há músicas mais pesadas e outras mais melódicas. Tentamos equilibrar essas coisas quando estamos formatando um álbum. Tentamos ter certeza de que há uma boa mistura de todos os elementos que deram forma a banda. Depende do que estamos fazendo no momento. Nós sabemos o que queremos mas não iremos dizer que o álbum será mais pesado ou sinistro.

Você fala sobre ser um nerd para obter sons e outras coisas nos álbuns. Você fica mexendo constantemente num riff antes de apresentá-lo à banda? Ele muda depois que a banda o ouve?
Don:
Não muito. Eu diria que em 98% ou 99% das vezes ele acaba do jeito que está. Eu tenho sorte porque há uma boa química aqui. Para tudo que eu mostro para David ele consegue compor algo bem legal em cima.  única coisa que muda é a duração. Às vezes queremos alongar umas partes, mas o riff só dá para aquilo. Eu tenho versões demo, coisas gravadas em casa, de quando apareci com as ideias e elas são idênticas ao que está no disco. Só há uma melhora em timbre e performance. Há muita confiança de que, uma vez que todos puserem suas marcas, soará como Disturbed.

Old Friend foi uma música composta para o álbum mais recente, Asylum, mas não entrou nele.
Don:
Compusemos muito inspirados pelo seriado ‘Dexter’, somos grandes fãs dele. Muitas vezes, liricamente, tratamos de algo pessoal ou de algum problema de relacionamento com que todos podem se identificar, porque todos nós temos muitos altos e baixos em relacionamentos. Ou são questões políticas, do mundo ou coisa do tipo. No final das contas, é sempre algo pessoal. Old Friend foi uma música inspirada por algo de fora da banda e traz todo aquele conceito de o quão legal esse justiceiro serial killer é. Você conhece?

Sou totalmente viciado em ‘Dexter’…
Don:
Eu amo esse seriado. Somos fanáticos. Dave era fã antes, eu só sabia da existência. Ele vivia insistindo para eu assistir. Fiquei viciado, após o primeiro episódio eu queria cada vez mais. Então, foi inspirado por isso e nós ficamos na esperança de um dia a eles e ver se podem usar no programa. Como eu disse, sempre deixamos alguma música de fora pensando que algum dia possa ser usada em algum outro lugar.

Você faz outro grande solo em Leave It Alone. É bem inesperado, dá várias voltas e deixa seu estilo de tocar único.
Don:
Muito dele foi feito no improviso, mas nunca entramos no estúdio até acharmos que estamos prontos para gravar as músicas. Se na hora acontece algo mágico e aí vem alguma coisa criativa, que muda a música, ótimo. Nós analisamos demais as coisas e as colocamos sob um microscópio: toda música, toda parte, cada batida, cada parte do bumbo, caixa e nota da guitarra, é tudo analisado o máximo possível antes. Não entramos no estúdio para perder tempo ou desperdiçar dinheiro brincando. Vamos lá para trabalhar, para ver essas músicas nascerem de uma simples ideia até amadurecerem e virarem temas completos com o toque de todos nela – e eu adoro esse processo. Adoro ter aquela primeira ideia, o primeiro riff, até chegar ao ponto em que me sinto confiante o bastante para mostrá-lo aos meus colegas. E depois ouvi-los colocar seu toque nela e vê-la se transformar de uma simples demo de um take em uma música completa, é sempre uma ótima sensação para nós. Nós começamos achando que é uma música legal e acaba se tornando uma música ótima. E, às vezes, acontece de haver uma música ou duas que nos surpreendem e acabam melhor do que esperávamos.

Há algo de político em Mine?
Don:
Sim, claro. Foi uma coisa bem legal e experimental. Às vezes, o poço seca e não tenho um bom dia para criar na guitarra. E não dá pra forçar, simplesmente não acontece. Ou você está com a criatividade fluindo ou não. Nesse dia fiquei mexendo com umas coisas eletrônicas e comecei a entrar num clima meio Nine Inch Nails. Sou um grande fã de Trent Reznor. Fui fazendo umas coisas e isso inspirou a música em seguida. Quando estava gravando, David me deu uma sugestão em termos de assunto a ser tratado, eu comecei a procurar umas notícias sobre política e a joguei-os sobre a introdução eletrônica. Foi um desafio bem legal ter uma abordagem diferente e tentar algo não previsível.

3 foi uma música política composta para o West Memphis Three (N.T.: caso acontecido em 1993 nos EUA, no qual três adolescentes foram acusados de assassinar três crianças num suposto ritual satânico)?
Don:
Essa música apareceu no final do processo de composição para Asylum. Eu a compus e gostei de como ela se desenvolvia, era algo bem corajoso e com um riff marcante. Na verdade, na época nem tínhamos certeza se íamos usá-la porque David não tinha nenhuma ideia melódica ou lírica para aquilo e já tínhamos começado a gravar o resto do álbum. Eu comecei a insistir, dizendo que gostava da direção para onde a música estava indo. Tem um clima meio diferente, mas começa com esse riff violento e a bateria conduzindo tudo.

Então, ela não foi composta especificamente para o West Memphis Three?
Don:
Eu estava conversando sobre isso no estúdio com David e perguntei o quão familiarizado ele estava com a história do West Memphis Three. E sabia que isso já existia desde o início dos anos 90, ele sabia das coisas e do documentário. E claro, na época houve um envolvimento grande de pessoas como Eddie Vedder e Johnny Depp. Minha esposa era grande fã de Pearl Jam e me mostrou o documentário em 2001, por aí. Então, eu sempre queria me atualizar sobre o caso e como andavam as coisas, quando de repente pareceu que eles poderiam ter uma chance de um novo julgamento. Então, o timing foi uma coincidência. David começou a escrever as letras e a melodia, e por causa do tal timing nós pensamos em deixar a música de fora e pedir para a gravadora se podíamos liberá-la de graça para ajudar na defesa. Todos os lucros foram para a defesa e nós queríamos contribuir assim e também apenas conscientizando as pessoas do que acontecia. Não vamos às passeatas nem estamos presentes nos tribunais, mas queríamos alertar a todos sobre os problemas.

Eles acabaram presos?
Don:
Eram três. Dois pegariam prisão perpétua e um seria condenado à morte. E por quê? Não havia nenhuma evidência ou prova de que eles tinham qualquer ligação com os assassinatos, mas eles eram vistos como errados pois eram as ovelhas negras do bairro. Eles viviam no Bible Belt, usavam longos casacos pretos e ouviam Heavy Metal. Então, a cidade em que eles viviam estava feliz, porque não havia um assassino à espreita, deviam ser aqueles três garotos, mesmo. Isso meio que nos enfureceu, assim como a todos que conheçam um pouco do caso. Então, sentimos vontade de ajudar e contribuir de alguma forma, como angariando alguns trocados para ver se eles conseguiam um outro julgamento, um julgamento justo. O timing foi certo, por sorte eles conseguiram virar o caso e se livraram.

Midlife Crisis é um cover do Faith No More que deveria ter saído no álbum Covered, A Revolution In Sound.
Don:
Engraçado, eu tinha até esquecido disso até você falar. Na verdade, gravamos essa música porque lá por 2000 ou 2001, quando estávamos na turnê de The Sickness, ficamos sabendo que alguém estava organizando um álbum em tributo ao Faith No More. Eu e David fomos criados como grandes fãs da banda, mas estávamos tão ocupados com a turnê que não sabíamos se teríamos oportunidade de gravar. Tivemos um dia de folga e fomos ao estúdio gravá-la. Amamos essa música e a banda, só que gravamos sem ter certeza se o tributo realmente sairia – mas se saísse, teríamos nossa participação. Daí, o tributo não saiu e essa música ficou guardada por anos. Então, quando gravávamos Indestructable eu acabei ouvindo-a de novo e adorei a performance de David. Ela foi gravada pelo nosso baixista antigo e pensei em regravar com nosso baixista novo, mas mantendo os vocais. O clima foi ótimo, voltamos ao estúdio e regravamos tudo, mantendo só os vocais e alterando um pouco o final. Daí, mais uma vez a deixamos guardada até que aparecesse uma oportunidade para usá-la. Foi uma coisa feita por respeito a uma banda da qual somos fãs. Agora, temos a oportunidade de lançá-la como tributo a eles.

Vocês também fizeram um cover de Living After Midnight do Judas Priest.
Don:
Nós não queríamos inventar moda e mudar a música deforma drástica. Pediram-nos para gravar essa música quando estávamos fazendo Asylum e o timing foi excelente para nós. Disseram que iria sair um tributo ao Judas Priest em comemoração aos trinta anos do álbum British Steel e perguntaram se estaríamos interessados em participar com alguma música, já que somos grandes fãs da banda. Achamos que Living After Midnight seria uma escolha inesperada e imprevisível vinda de nós. Mais uma vez, era uma banda que respeitamos, portanto não queríamos mudar nada musicalmente. Há algumas mudanças bem sutis no ritmo ou algum ‘overdub’ a mais, mas queríamos manter a forma. Só mudamos um pouco o final, no qual eu faço um solo e David dá aquele agudo, algo que não fazemos normalmente. Foi muito legal fazer algo diferente.

Essas são, obviamente, bandas com duas guitarras. Você queria, quando começou o Distured, ser o único guitarrista ?
Don:
Não. Na verdade, no início eu queria um segundo guitarrista. Todas as bandas em que toquei antes tinham duas guitarras. Eu amo Iron Maiden e Judas Priest, sempre adorei as harmonias e os duelos de guitarras que eles faziam. Nossa intenção no começo era ser uma banda com cinco integrantes. Antes de contarmos com David, eu tinha saído da minha banda e me juntei a Mike na bateria e ao baixista original, Fuzz, que também era guitarrista. Então, o plano inicial era nós dois sermos os guitarristas e irmos atrás de um baixista. Nessa época, íamos começar umas jams com um vocalista e o engraçado é que alguém tinha que tocar o baixo e a ideia era que eu ou o Fuzz tocássemos, já que não podíamos deixar o vocalista esperando. Depois a gente acharia um baixista.

E como vocês decidiram quem tocaria o baixo?
Don:
Num jogo de basquete um contra um! Quem ganhasse tocava guitarra. Graças a Deus eu ganhei!

Então você quase acabou como baixista…
Don:
Poderia ter acontecido. Mas eu não desisto fácil. Eu ia inventar alguma desculpa. E, olha, ele fez falta em mim no último lance (risos). Eu gosto de pensar que se tivesse sido de outra forma, nós não seríamos o Disturbed. Mas foi legal ter acontecido assim, porque logo que Fuzz se tornou baixista e começamos os ensaios com o vocalista, tudo começou a soar bem e as peças se juntaram. Aí percebemos que estava bom como quarteto. Portanto, não foi intencional, simplesmente aconteceu assim.

Vocês na verdade trabalharam com Eric Awalt nos vocais antes de acharem David Darinamn, certo?
Don:
Nós meio que fomos rolando com a enxurrada e ensaiando com outro vocalista por um ano. Sabíamos que precisávamos de alguém com mais identidade. Ele era bom, mas não o que queríamos, que era alguém com sua própria voz e personalidade, não alguém que tentasse soar como outra pessoa. Nós passamos por todo o processo de audição de novo até que em agosto de 96 David apareceu. Finalmente, aparecera um cara que soava como ele mesmo e não tentava ser Bruce Dickinson, Phil Anselmo ou Rob Halford.

Em 2007, Transformers: The Album foi lançado e a música This Moment de vocês estava nele. Ela foi composta especialmente para o filme?
Don:
Não. Essa é a música da qual eu estava falando, que o pessoal da gravadora queria que fosse o single do álbum Ten Thousand Fists. E nós batemos o pé e não só não aceitamos que fosse o single, como dissemos que seria um lado B, nem entraria no álbum. Adorávamos a música, mas ela não se encaixava com o clima do resto do disco, então preferimos guardá-la para uma outra ocasião. Aí surgiu o filme ‘Transformers’ e pudemos colocá-la na trilha.

Há muito falatório sobre o futuro do Disturbed. Como anda a banda no momento?
Don:
Durante toda nossa carreira, nós sempre planejamos o que estava na nossa frente como quando queríamos compor ou quando começaríamos sequer a pensar em compor. Não é automático, tudo é pensado. Quando íamos nos juntar para trocar ideias, quando queríamos entrar no estúdio, se sairíamos em turnê no verão seguinte, o que queríamos fazer. Sempre houve um plano. E essa é a primeira vez – o que é incrível, já que estamos nessa há tanto tempo – em que tivemos vontade de dar um tempo, de guardar as malas, descansar e ver quando estaremos dispostos novamente. Tomara que esse dia chegue.

Você quer que o Disturbed continue?
Don:
Não quero ficar cheio do Disturbed. Ainda acho que temos criatividade e muita química quando estamos juntos. Só quisemos ir pra casa. Há algumas coisas que não ficaram claras em entrevistas anteriores. Eu sei que David falou algumas coisas também, mas, falando por mim, minha visão de tudo isso é a seguinte: eu não vou parar para ir atrás de outras coisas, estou satisfeito com o Disturbed. Então, se eu ou qualquer um de nós escolher fazer outras coisas ou tocar com outras bandas, é porque estamos em casa sem fazer nada e temos tempo para fazê-lo. Não vejo nenhum de nós parados em casa, de saco cheio e sem fazer nada. Eu queria vir pra casa e já comecei a fazer outras coisas musicalmente. Voltei a fazer aulas de piano e quero tocar com alguns amigos guitarristas, só para fazer uns rifs e aprender algumas coisas com eles, não para formar uma banda necessariamente, mas para me desenvolver como músico e também em outras áreas que eu possa usar no Disturbed quando chegar a hora. Se essa hora chegar.

Você quer experimentar coisas novas?
Don:
Particularmente, tenho ido a muitos shows e tenho ficado no meio do público. Eu quero ficar lá no meio e voltar a ter aquela sensação que eu tinha quando era garoto. Assistir a banda e ficar com vontade de estar lá, fazendo aquilo que eles estão fazendo. Tivemos o luxo nesses últimos anos de ser essa banda no palco ou de assistir as outras bandas ao lado do palco.

Você quer voltar a ter aquela sensação simples de ir a um show antes de fazer parte do Disturbed?
Don:
Eu vou na galera agora. Já venho fazendo isso há alguns anos e gosto da sensação de estar lá sentindo toda aquela paixão e energia na primeira fila. Espero que todos nós possamos chegar ao ponto de sentir muita falta disso. Ou então nos sentirmos criativos de novo e querermos mostrar ideias uns para os outros. Está no ar, mesmo. Teremos que esperar até alguém pegar o telefone e ver o que os outros querem fazer.

Obviamente, há muita música no Disturbed e tem-se a sensação que ainda vamos ouvir falar de vocês.
Don:
Espero que sim. Nós construímos uma base sólida de fãs e eu quero que isso aconteça tanto quanto eles. Eu preciso disso, é uma droga para nós. É nisso que somos viciados (risos). Se ficamos muito tempo afastados, temos recaídas e crises de abstinência. Por mais que fique feliz ao ver outras bandas tocando, vai chegar uma hora em que vou querer a guitarra para que seja eu tocando no palco. Veremos, mas eu não sei. Tenho certeza que todos têm bastantes afazeres em suas vidas pessoais. Como eu disse, é a primeira vez em que não estamos vivendo em função de uma mala. Todos nós casamos – David se casou no mês passado – e temos filhos. Gosto de ficar um tempo em casa, fazer as tarefas domésticas e ser pai em tempo integral o máximo que puder. Vou aproveitar essa parte da vida e daí veremos. Não sei se o telefone vai tocar nesse ou em cinco ou dez anos. Vamos ver o que acontece.

 

 

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