Foi um dos dias mais quentes em Campinas nos últimos meses. Só que o negócio ia esquentar muito mais à noite, quando o Dr. Sin se apresentaria diante de um Sebastian Bar lotado e extremamente receptivo.
Quem deu início aos trabalhos foi o Black Betty, banda que vem crescendo a olhos vistos no cenário da região graças aos shows precisos e extremamente agradáveis, privilegiando covers bem sacados do Rock Clássico desde os anos 60 até os dias atuais. Como a noite era de Heavy Metal, Johny Beck (vocais), Eddie Stanley (guitarra e vocais), Ettamyr Catelli (guitarra e vocais), Fábio Ferrucio (baixo) e Gabriel Vacari (bateria) escolheram um repertório mais pesado, com temas de Iron Maiden, Kiss, Van Halen e Black Sabbath, além de apresentarem a primeira composição autoral da banda, “Mulher Canibal”, que contou com a vocalista convidada Ana Cuelbas. Foi um show perfeito para esquentar ainda mais uma noite que entraria em ebulição.
O Dr. Sin entrou em cena esbanjando simpatia e com o público nas mãos. O show marcava o lançamento do novo disco, “Intactus”, e foi com uma de suas faixas, “How Long”, que Andria Busic (baixo e vocal), Ivan Busic (bateria e vocal) e Edu Ardanuy (guitarra) abriram o show. Por essa amostra (e pelas outras do novo disco que fizeram parte do show) deu pra ver que vem uma pedrada por aí, inclusive com Andria lançando mão de um vocal bem mais agressivo do que o habitual.
O calor que já era grande só fez aumentar com a casa absolutamente repleta, obrigando o ar condicionado a trabalhar em regime intensivo. Enquanto isso, no palco a banda mostrava a que veio. Normalmente, um show de uma banda com a competência técnica do Dr. Sin é bem mais introspectivo, com os músicos completamente concentrados em seus instrumentos. Só que no caso do trio paulistano isso é algo completamente distante da realidade. Os músicos interagem o tempo todo com a plateia, brincam com o público e entre si, fazem comentários espirituosos e distribuem baquetas e palhetas em pleno show – e tudo com um sorrisão na cara. Só que na hora em que Ivan conta até quatro e a pancadaria começa o que se vê são temas de enorme complexidade ser executados como se fossem músicas de dois ou três acordes. Por exemplo, a habilidade de Andria para cantar e, ao mesmo tempo, executar linhas repletas de notas no baixo é algo que desafia a lógica. Edu continua mostrando que é o melhor guitarrista de Rock pesado do Brasil e Ivan, além de ser o brincalhão da turma, é extremamente criativo nas linhas que produz – além de descer a marreta sem dó no instrumento.
O show abriu espaço para temas de todas as fases da carreira da banda, como “Fire” (do disco “Brutal”, de 1995), “Fly Away” (de “Dr. Sin II”, 2000) e “Lady Lust” (“Animal”, 2011). Atendendo a pedidos da galera, a banda mudou o set e incluiu “Heroes”, também de “Animal”, e teve um belo apoio por parte da plateia. Ainda houve espaço para mais temas do novo disco, como a excelente “Saturday Night”.
Após uma rápida pausa, apenas o suficiente para a galera bradar o nome da banda, o grupo voltou reforçado pelo roadie Luan na bateria e com Ivan nos vocais para fazer uma versão bem interessante de “Sweet Leaf” (Black Sabbath).
Novamente no formato trio, a banda encerrou o show com “Animal” (do disco homônimo) e a sempre bem-vinda “Futebol, Mulher & Rock’n’Roll” (de “Insinity”, de 1997). Numa longa versão, a música abriu espaço para muita interação com a plateia e para alguns ‘inserts’, como “Breaking All The Rules” (Peter Frampton) e, após Andria perguntar se ninguém ia pedir “toca Raul!”, “Metamorfose Ambulante”, com Ivan no vocal.
Ao final, com todos devidamente suados pelo calor e pela energia que veio do palco, Andria, Ivan e Edu ainda ficaram um bom tempo conversando com a galera, tirando fotos e dando autógrafos. E assim foi todo mundo embora pra casa, feliz por ter tido a oportunidade de assistir a um verdadeiro show de Rock. E como comentou a fotógrafa Cristina Mochetti: “E eles só precisam de três pessoas pra fazer tudo isso…”