Poucos dias após ter dividido o palco da décima primeira edição da Virada Cultural com diversas outras bandas, e, ao contrário do calor do meio-dia a que se submeteu no evento em questão, o Dr. Sin recebeu seus fãs que compareceram em bom número na fria noite de sexta-feira, 26 de junho, para um show só seu no Via Matarazzo, seguindo a turnê do bem recebido álbum “Intactus”.
Para a abertura foi escalada a banda Nem Liminha Ouviu, que surgiu há alguns anos a partir de um estalo na mente do radialista, apresentador e ex-vocalista do Não Religião, Tatola Godas, ou, simplesmente Tatola, que reuniu outros músicos, criando-a com o intuito de mostrar a nova geração, ou mesmo matar a saudade daqueles com idade acima dos 30 anos, músicas compostas por bandas “marginais” dos anos 80 que, como ele mesmo explica, trabalhavam pelo direito a liberdade de expressão, sofrendo preconceito familiar e repressão militar, o que ocasionou o fim de muitas delas, sendo que poucas conseguiram reconhecimento.
Completado pelos guitarristas Wecko (Threat) e Gabriel Weinberg e mais o baixista Marcão Martines e o baterista Jacaré, o grupo entrou em cena a 0h15 tocando a sua versão para a música “A Face De Deus” do Inocentes. Daí por diante, o público recebeu um set de uma hora com releituras de bandas como Violeta De Outono, Escola De Escândalos, Fellini e Finis Africae. Apesar de ter feito uma apresentação correta e ter disposto de boa qualidade de som, Tatola fez com que o show se tornasse repetitivo a partir do momento que pediu durante quase todas as músicas que a banda as tocasse na manha para ele poder fazer seus discursos. Apesar de muitas coisas ditas serem realmente de suma importância, principalmente em relação a política no Brasil, outras se fizeram desnecessárias, já que soaram cansativas ao público que se empolgou mesmo nas clássicas “Até Quando Esperar” da Plebe Rude e “Surfista Calhorda” dos Replicantes.
Após quarenta e cinco minutos, eis que o Dr. Sin, reconhecido como o maior representante do Hard Rock brasileiro, surgiu no palco do Via Matarazzo. Andria Busic (vocal e baixo), Edu Ardanuy (guitarra) e Ivan Busic (bateria e vocal) chegaram apresentando o novo álbum através da música “How Long”, sendo devidamente ovacionados. Na sequência, o trio mandou um instrumental de cair o queixo que serviu como introdução para “Fly Away” que foi seguida pela “sabbathica” “Lady Lust” do penúltimo álbum, “Animal” (2011).
Andria disse que a noite estava fria e era hora de esquentá-la. Foi a deixa perfeita para “Fire” do clássico “Brutal” (1995). Quando Ardanuy puxou o riff de “Time After Time”, incendiou o público que cantou junto com a banda. Ao final dessa, Ivan que sempre se comunica bastante com o público, apresentou o álbum “Intactus” e disse que fariam uma homenagem ao famoso ilusionista Harry Houdini e então anunciou a excelente “The Great Houdini”, uma das melhores músicas da carreira do Dr. Sin. O instrumental dela é muito legal.
Um momento bacana do show foi quando o tecladista Marcelo Souss foi chamado ao palco. O músico já fez inúmeras participações ao vivo e em estúdio não só com o Dr. Sin, mas também ao lado dos irmãos Busic, desde os tempos em que os três integraram o Taffo, do saudoso guitarrista Wander Taffo. E para relembrar o grupo, cantaram a capela um trecho da música “Me Dê Sua Mão” que na época foi bastante executada no rádio e também através do seu videoclipe. O mais surpreendente foi que muita gente que estava na plateia nem era nascida na época e mesmo assim cantou junto! Após “Isolated”, Ivan Busic apresentou a banda que novamente teve a participação da plateia, dessa vez cantando em alto e bom som o refrão de “Revolution” do álbum “Insinity” (1997), principalmente na paradinha feita exatamente para essa conexão entre banda e público.
Hora de apresentar mais um pouco de “Intactus” e assim se fez com a dobradinha formada pela balada “This Is The Time” e a festiva “Saturday Night”. Algo que sempre vale a pena ser citado é o talento individual de cada um dos músicos do Dr. Sin. Edu Ardanuy não é considerado um dos melhores guitarristas do país à toa, pois ele simplesmente não “pára quieto” um instante sequer. É improviso para lá, solos e licks para cá e quem deveria pagar o pato é Andria Busic. Mas não, pois a segurança e os arranjos que o baixista proporciona dão toda essa liberdade para o guitarrista. Em relação a Ivan, o músico vem ganhando mais espaço em termos vocais, tanto que atualmente ele tem seu momento de ir a frente do palco assumir o vocal principal, assim como fez após o bis em “The Love I Never Had”, música do seu álbum solo “Rock And Road” (2013), que ele começou tocando-a na guitarra, e também no cover do The Kinks para “You Really Got Me” que contou com o seu roadie Luan Medeiros na bateria.
O fim do show se aproximava quando Andria agradeceu o público e diversas outras pessoas presentes, mas antes das músicas derradeiras a banda realizou o sorteio de uma guitarra autografada e devidamente testada no palco por Edu, tendo sido Daniela Romão a felizarda a ganhar o instrumento. Então, a banda voltou no tempo na época de seu homônimo álbum de estreia lançado em 1993 e tocou o cover de “Have You Ever Seen The Rain” do Creedence Clearwater Revival e se despediu com o primeiro hit “Emotional Catastrophe”. Enfim, os fãs saíram felizes do Via Matarazzo após conferirem outro grande show do Dr. Sin que ao vivo nunca decepciona.
DR. SIN – Set list:
How Long
Fly Away
Lady Lust
Fire
Time After Time
The Great Houdini
Isolated
Revolution
This Is The Time
Saturday Night
May The Force Be With You
Miracles
Zero
Down In The Trenches
The Love I Never Had
You Really Got Me (Cover do The Kinks)
Have You Ever Seen The Rain (Cover do Creedence Clearwater Revival)
Emotional Catastrophe
NEM LIMINHA OUVIU – Set list:
A Face De Deus (Inocentes)
Luzes (Escola De Escandalos)
Rock Europeu (Fellini)
Outono (Violeta De Outono)
Este Ano (Plebe Rude)
Pátria Amada (Inocentes)
Armadilha (Finis Africae)
Até Quando Esperar (Plebe Rude)
Surfista Calhorda (Os Replicantes)
Nicotina (Os Replicantes)